CASSIANO NUNES, pintura na parede da sede da Thesaurus Editora, em Brasília.
TEXTOS EN ESPAÑOL
ANIVERSARIO
Trad. De Felipe Trimboli e Eduardo Dalter
Un viejo en el espejo,
curioso, me contempla.
Creo que me interroga
del árbol del tiempo.
La botánica lunar
genera tales vegetales:
¿la textura bizarra
de chatarra y cristales?
Cierro los ojos, un amargor...
Y me zambullo en las espumas
de los ríos navegables
que son mis arrugas...
Extraído de CUADERNO CARMIN DE POESIA 13, 1999, P. 11
Revista dirigida por el poeta Eduardo Dalter, Buenos Aires.
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Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. y Trad. Xosé Lois García
Edicións Laiovento
Santiago de Compostela, 2001
BLUE
Versos, como los que escribí,
otros escribirán.
Canciones, como las que cante,
otros cantarán.
Ya me sustituyó
(artesano más hábil)
en mí trabajo.
Otras bocas te revelarán
mayores deleites.
Todo lo que muera conmigo
en más bella forma
el mundo verá.
Perdónenme
por la parte mínima
—aún que única—
que no se repetirá.
HARLEM BLUE
ίOh ! Noches de Harlem,
ίcon las brisas de abril!
¿Qué busco en ti?
¿El sabor de Brasil?
¿El cariño más cálido
en la promesa del calor
lo que Camões llamaba
la “negrura del amor”?
El saxofón habla
de un alma hereida
y lanzada al Arroyo
como mi propia vida.
ίSueño rojo de la infância
que en cenizas se deshace!
En la avenida de Harlem,
mis ojos lloran jazz.
NOCTURNO N. 1
Nunca me siento pobre,
al contemplar las estrellas.
Cualquier demente
(yo)
posee
el latifundio del cielo.
Aguardiente negra y gratuita
la noche me embriaga.
Sueño mejor
despierto.
LA MONEDA
Mendigo nocturno,
no fué inútil,
tu caminada.
De madrugada,
exausto,
te tiras al catre.
Pero, en el fondo de tu bolsillo,
se esconde,
moneda resplandeciente,
el poema.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTS IN ENGLISH
NUNES, Cassiano. 30 poemas/poems. Traduzidos por/ Translated by Mark Ridd. Brasília, DF: Universidade de Brasília, Oficina Editorial do Instituto de Letras , 1998 p. 81 p. 14x21 cm. “ Cassiano Nunes “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Sou de Santos
Depois de ler "Where a Poet´s From”
de Archibald McLeish
Nasci perto do mar
como Ribeiro Couto.
Como ele, cantei
o cais de Paquetá,
cheio de marinheiros,
estrangeiros,
aventureiros.
Apitos roucos de navios
me atraíam para outras terras,
propostas sedutoras.
Corri mundo.
Vim parar no Planalto Central
onde, solitário entre livros,
contemplo os últimos anos.
Às vezes, à noite,
me encaminho para o lado do Eixo
e me detenho ante os terrenos baldios
(amplidão) da Asa Sul.
Ao longe,
os guindastes das construções
sugerem um cenário de cais ...
E o vento me traz com o cheiro de sal
o inútil apelo do mar.
I'm from Santos
On reading Archibald McLeish's
"Where a Poet's From"
I was born by the sea
like Ribeiro Couto.
Like him, I sang
the docks of Paquetá,
aswarm with sailors,
foreigners,
rovers.
The shrill whistle of ships
lured me to distant lands,
seductive proposals.
I roamed the world.
I've washed up on this plateau
where, alone among books,
I tend my ebbtide years.
Sometimes at night
I wander down to the Expressway
and linger by the vacant lots
(amplitude) of Brasilia's South Wing.
In the distance,
the construction cranes
are redolent of the docks ...
And the salty breeze
wafts home the fatuous call of the sea.
Poema do Aeroporto
Que ficou de mim nos quartos de hotel?
No verde quintal da infância?
Nas cidades estrangeiras,
testemunhas da solidão?
Ah! a indiferença ofensiva das coisas!
A desmemoria natural dos homens!
O ataque ininterrupto do Tempo!
Por que não sou como os marinheiros
que bebem esquecimento?
Antes pertenço
à espécie dos pássaros,
que se embriagam de amplidões,
sem que lhes amorteça
o instinto do ninho.
Airport Poem
How much of me has rubbed off on hotel rooms?
On the garden green of childhood?
On foreign cities,
impassive witnesses to loneliness?
Oh! the offensive indifference of things!
Men's natural dis-memory!
The relentless assault of time!
Why am I not like sailors
who drink oblivion?
Instead, I belong
to that breed of bird.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista da Biblioteca Nacional do RJ. Ano 3 – Número 5 – Fevereiro 1995. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda
Washington Square
Early in the morning
I walk across the
deserted park.
It has become
my private
property.
Even the mist
belongs to me.
The star
is my own invention.
Translated by Jean R. Longland
Requiem
Fifty year of strife
and surely of frustration,
restlessness,
and enormous solitude
that justifies all or almost)
and then the falling with a smack,
the shameful falling.
The last time I saw you was
on a carnival afternoon
in na erotic bar,
drinking your own despair.
Now you despair no more.
You have conquered peace —
definitive peace.
There is no hell
for martyrs.
Translated by Jean R. Longland
Cassiano Nunes, seis poemas e alguns temas
Maria de Jesus Evangelista
Esta é amostragem de quatro livros de Cassiano Nunes (Santos,SP 1923 - 2007) reunidos na 2.ª edição de Jornada Lírica (Antologia Poética), Thesaurus, 1992 com acréscimos à edição de 1984, de igual título na “Série Planalto” da mesma Editora.
Esses temas são constantes na poética cassianiana, marcadamente o da solidão, o do erotismo, numa busca incessante de viageiro incansável de ver, conhecer e fazer amigos. Esses temas caros ao romantismo canônico desde J.J. Rouseau (Les rêveries du promeneur solitaire, 1782), e que de certa forma renascem nos poemas de Cassiano, como lirismo ou neo-romantismo, presentes na poesia do modernismo, e do pós-modernismo onde se insere nosso poeta. Essa modalidade, que considero recorrente na Poesia brasileira, nele se faz enriquecida das conquistas modernistas pós-45, das quais ele participa, ainda jovem, com Mário de Andrade e demais “teóricos”, conforme a ordem: “cria o teu verso” livre e original, autêntico, como se encontra na poética de Cassiano Nunes.
Nessa direção, nessa busca e com essa formação, Cassiano Nunes se encontra com a grande poesia brasileira e francesa dos fins do século 19 e primeira metade do século 20, com os decadentes e simbolistas, que lhe mereceram, aliás, maturadas reflexões e sérias análises, pois que Cassiano é também crítico literário e historiador de literatura brasileira. Sobre isso, permito citar meu livro Cassiano Nunes, poesia e artes plásticas, 2005, onde me refiro ao escritor completo que é, e à sua original poesia, à qual não falta acentuado simbolismo, um simbolismo mais a Paul Verlaine que a Rimbaud ou Charles Baudelaire. Sem maiores comentários, refiro-me a certos aspectos desses poemas.
Em “Assassinato do Menino” símbolos e metáforas estruturam o tema de restrições na poesia cassianiana. Versos livres oferecem ritmo propício a contidas reflexões psicológicas e filosóficas eu lírico.
No poema “Contemplando o Porto de Nova Iorque”, o ritmo das três quadras incide na musicalidade do sistema de rimas paralelas 1, 2, 3, 2, não tão comum nos seus versos. Isso expressa algo de muito forte na temática da poesia de Cassiano, tanto autobiográfica quanto lírica.
O poema “Alta noite” distingue o poder do verso livre, acentuando-o com a pontuação incisiva. Exacerba-se o tema da solidão, mas com a possibilidade de salvação pela magia da poesia e da música.
No poema “Le dîneur sur l’herbe” ressalte-se a presença do noturno. Vê-se que o tema da solidão é recorrente. Sem opção, o ser se entrega a ocasionais encontros com desconhecidos. O título analógico com a tela “Déjeuner sur l’herbe” de Claude Monet (Paris, 1840, Giverny Eure, 1926) defrontando a cena poética com a burguesa cena da tela de Monet agutiza a distinção entre os desvalidos e os privilegiados.
“Cuiabá” é uma composição inteiriça sobre um Brasil expandindo-se para Oeste, tema caro ao poeta, participando, porém, da mesma atmosfera de fechamento e noturnidade da poética de Cassiano. Observa-se a presença do traço do “caminhante solitário” e solidário.
“Sacrário” – Nesta composição fundem-se dois temas que, por si mesmo, justificam o simbolismo estético de Cassiano Nunes: a metapoesia e a espiritualidade, a que não falta o traço estilístico de gran finale, chave de ouro de sua poética.
Esses poemas se encaixam justamente na citação do crítico e também poeta Antônio Roberval Miketen com que concluo esses parcos comentários: “Há desses poetas que a eles sempre retornamos, e a cada retorno temos a mesma sensação de que estamos lendo pela primeira vez versos que há muito entoam suaves cantilenas em nossa alma”.
Cassiano Nunes e Antonio Miranda no vernissage da obra |
CASSIANO NUNES LANÇA
"LITERATURA E VIDA"
Cassiano Nunes é uma figura popular nas letras e na cultura da Capital Federal. Lecionou na Universidade de Brasília de 1966 a 1991, no Departamento de Letras, participando da formação de toda uma geração de profissionais que hoje atuam nos mais variados setores capitalinos e que o reconhecem como O Mestre.Nasceu em Santos, filho de imigrantes portugueses, a 27 de abril de 1921 e iniciou uma brilhante carreira até os dias de hoje, com uma produção refinada e criativa. Foi secretário-executivo da Câmara Brasileira do Livro, a partir de 1947, quando a entidade iniciava suas atividades em prol da difusão do livro no país. Estudou literatura norte-americana em Ohio, depois trabalhou na célebre editora Saraiva, foi para a Alemanha estudar na Universidade de Heildelberg onde também lecionou literatura brasileira. Foi visiting professor na New York University e, por último, ingressou na Universidade de Brasília para uma longa temporada de ensino e aprendizagem. Tornou-se um estudioso da obra de Monteiro Lobato. Poeta, crítico literário, conferencista. Uma figura extraordinária.
A Universidade de Brasília acaba de lançar (em maio de 2004) o livro "Literatura e Vida"- uma coletânea de artigos que "revela a relação estreita que uma série de escritores mantém com a realidade social, desmistificando a figura do intelectual como cidadão condenado à alienação em torres de marfim", conforme consta da apresentação da obra.
Cassiano Nunes e Antonio Miranda são amigos de mais de duas décadas e a foto de nossa Galeria mostra o encontro dos escritores no vernissage da obra.
Página ampliada e republicada em dezembro de 2017 |