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O POETA DE MEIA-TIGELA, vulgo Alves de Aquino
O Poeta de Meia-Tigela, vulgo Alves de Aquino... Uma inversão: o heterônimo no lugar do nome, que é chamado de “vulgo”. Sem problema, vamos aceitar o que o autor determina. Conheci-o durante uma Feira do Livro de Fortaleza, e ele ficou de mandar poemas para o nosso Portal de Poesia Iberoamericana. Custou, mas mandou: o livro MEMORIAL BÁRBARA DE ALENCAR & outros poemas (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2008. ISBN 978-85- 7563361-8. E já anunciou que está saindo outro..
Elegemos os 4 sonetos que contam a “História cosmológica do Boi” e um fragmento do “Memorial Bárbara de Alencar” que aparece reproduzido no marcador de página que acompanha o livro, pois se trata de um longo cordel. Sorte que o poeta aderiu ao Open access e permite a divulgação de sua obra, sem problemas de direitos autorais, logo, respeitando a autoria e notificando a fonte.
Veja também: POEMA DE ALEJANDRA PIZARNIK, TRADUÇÃO D´O POETA DE MEIA TIGELA – pseudônimo de ALVES DE AQUINO: aqui.
POETA DE MEIA-TIGELA. Fortaleza, CE: Expressão Gráfica e Editora, 2014. 76 p. ilus. 21x21 cm. ISBN 978-85-420-0500-4. Pseudônimo de Alves de Aquino. Ex. bibl. Antonio Miranda.
De O Poeta de Meia-Tijela CONCERTO No. 1NICO EM MIM MAIOR PARA PALAVA E ORQUESTRA POEMA Combinação de realidades puramente imaginárias. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2010. 344 p. ISBN 978-85-7563-483-4
4. M. O MONSTRENGO QUE SOU O sorriso amarelo Que por vezes me escapa Serve-me antes de selo Sobreposto à alma sapa. As palavras gentis Grunhidas, assopradas São ciladas, ardis, Pragas edulcoradas. (Se em delírios recaio Ao vislumbrá-la mudo Meu olhar de soslaio Nem só por isso mudo.) Estas mãos que desferem Uma à outra sobrossos Mais que afagar preferem Esganar um pescoço. Acaso me visitem Sonhos de redenção Outros que me suscitem O mal não faltarão. Porquanto me soergam Gozos insatisfeitos Os costados envergam Ao peso dos malfeitos. Meu corpo, marionete De engonços e de esgares, A mente , o Gabinete Do Doutor Caligari. A mim pouco interessa Amem-me ou me degolem. Levarei comigo essa Coisa... Vampiro ou Golem. Ínfima diferença Causar prazer ou dor! Eu, terminal doença, Calibã, Maldoror. *
Posso até não querer Porém nada que eu for Me fará já não ser O monstrengo que sou.
4. PARA CAMILO PESSANHA & A MORTEMAFOSE
O telefone, campainha? — Deve ter sido na vizinha. Alguém meu nome chama, blama? — Fantasmas debaixo da cama. Seguidas batidas na porta? — Aquela namorada morta. Mão que sobre meus ombros pousa? — Fugitiva da fria lousa. Um beijo? — Solfejo.
HISTÓRIA COSMOLÓGICA DO BOI
Para Rosemberg Cariry
O Boi - quem não viu,
Não sabe o que é bom.
Melhor que bombril,
Melhor que bombom.
l. O BOI ORIGINAL
No princípio dos tempos, Arimã
Não dominava tudo com Seu Mal.
Mas logo procurou difundir Caos
Matando o Homem Perfeito e à Terra sã.
Esse malvado amigo de Satã
Deu fim mesmo no Boi Original.
Nem grão de açúcar nem pedra de sal,
Ninguém restou, adeus linda manhã.
Opa, aguardem que o Bem já se revolta
Prometendo estar em breve de volta,
Do Boi salvando os restos, o cadáver.
Donde nascerão belas Terras outras
E homens bonitos como Jão Travolta,
Mulheres maravilhas, Avas Gardners.
2. O BOI DE MITRAS
Coisa que se mistura e expande é Mito.
Deu que na Roma Antiga existiu Mitras,
Deus da luz e do sol que sacrifica
O Boi para que deste surja muita
Coisa que se misture e expanda, mirtos,
Flores, brotos, Vida em todo milímetro.
Eis que Hades sobe ao mundo com Ministros
E instaura a Dor em dose tripla, aos litros.
Mitras e Hades farão guerra entre sis
E há de ser catastrófico o conflito,
Antecipadamente apocalíptico.
Um Touro virá como jamais vi
Para dar fim ao Reino do Sinistro,
Assegurando a Paz: com Chifre e Cetro.
3. O BOI-BUMBA
Todo o Universo cabe no Nordeste.
Se não fosse heresia, bem diria eu
Ser o Nordeste até maior que Deus
(Calo, pois temo qu'Este me moleste).
Também aqui o Boi, aquele Ancestre,
Avivou e depois desfaleceu.
Catirina pediu e o bom Mateo
O matou e trinchou. Ora, acontece
Que o dono protestou, fez escarcéu
Com razão (já que o Vitimo era seu).
A poder de orações, cantos e preces,
Bumba: a carne do Bicho revivesce
Virando o que era susto em grande festa.
Agora O relembramos sempre em êxtase.
4. O BOI MANSINHO
Estava me esquecendo de contar-lhes
O caso do Boi-Santo, o Boi Mansinho
Mandado de presente ao meu Padinho
Ciço e cuja presença era de talhe
Tal, que José Lourenço pôs-se a dar-lhe
Atenção devotada e aos bocadinhos
Foi-lhe enfeitando os chifres, o focinho,
O lombo, os bagos, sem deixar detalhe
Do Zebu descoberto de bentinhos,
Mais parecendo um nobre de Versalhes:
Tanto que antes que o culto mais se espalhe
Floro Bartolomeu manda cortar-lhe
O corpo em pedacinhos, finos talhes —
Mas Ele encarna em cada bezerrinho...
CARTÕES POSTAIS ILUSTRADOS
Textos extraídos do livro de Sonetos MIRAVILHA
A seguir, frente e verso dos postais: (formato original: 19x17 cm)
CARTÕES
5 cartões – formato 7x10 cm - com poemas no reverso;
A seguir, um exemplo, e uma dedicatória do POETA DE MEIA TIJELA para Antonio Miranda
[ AQUINO, Alves de ] O POETA DE MEIA-TIJELA. Girândola. Fortaleza, CE: Editora Substância, 2015. 120 p. ilus. 14x21 cm capa dura. ISBN 978-85-918725-3-4 “Alves de Aquino “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Um haicai
Meu sangue se esvai (e vão as gotas no chão compondo um haicai)
Meu haicai
Vai vai meu haicai: contido porém florido bom (como um bonsai)
iii/ barbara laage - o corpo ardente (1966)
Sou a pedra de gelo no topo
da pilha de copos de vidro emborcados.
A mulher afogada pintada de bruços
no azulejo do fundo da fonte.
A que coroa rei da pedra o filho o não-ainda-homem
o por-enquanto-indomado- menino.
Sou a fria laje, por fora. A da coisa ardente, por dentro.
Égua branca no cio à espera
de negro cavalo solto que a cubra.
Sou esse cavalo livre
MAJA
Vestida
As vestes leves aderem aos seus entornas e linhas de tal maneira parecem mais despi-la que vesti-la
Despida
Nívea sobre o leito a linda duquesa se me oferece por desnuda esteja ainda o meu desejo a reveste
MEIA TIGELA, O Poeta. Acidade / Carlos Nóbrega. Fortaleza, CE: Expressão Gráfica e Editrora, 2016. 156 p. ilus. 10,3x21 cm ISBN 978-85-420-0901-9 Ex. bibl. Antonio Miranda
MUTIRÃO # 2 – Maestro de Obras: O Poeta de Meia Tigela /pseudônimo de Alves de Aquino/. Fortaleza, CE: Expressão Gráfica e Editora, 2016. ISBN 978-85-420-0764-0
Homenagem de Alves de Aquino (O Poeta de Meia Tigela) ao artista plástico Zé Tarcísio:
ZÉ TARCÍSIO IMAGINÁRIO
Imagino o menino imaginoso na Casa dos Milagres dos ex-votos cada imagem um caso dadivoso e o menino espantado entre os devotos a ver
pernas e mãos e toscos torsos cabeças e pescoços troncos rotos tortos corpos — pedaços — tronchos dorsos
fitas faixas — esboços — fotos cotos
Imagino o menino Zé absorto ante o imaginar santo do povo uma questão coloco e lhes exorto a que responda Sim (e me comovo)
Poemas e esculturas não serão ex-votos pagos à imaginação?
Poeta DMT
Vejam uma entrevista do Poeta de Meia Tigela no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=0YRs9RfLhd8&list=PLw-MNvzxkq9scX6qGZNNStFxYs5RSJIqg
Página publicada em março de 2011,ampliada em novembro de 2015; ampliada em maio de 2016. |