LEONTINO FILHO
Cearense, mas residente no Rio Grande do Norte.
Raimundo Leontino Gondim Filho nasceu em Aracati, Ceará no dia 9 de maio de 1961. Fez licenciatura plena em Letras (Portugues e Ingles e as literaturas destas línguas,) na Fundação Regional do Rio Grande do Norte, em Mossor, Rio Grande do Norte.
Obra poética: Amor — Uma palavra de consolo (1982), Imagens (1984), Cidade ìntima (1987), Entressafras (1988), Sagrações ao Meio (1993).
Veja também: LEONTINO FILHO - Português e Espanhol
TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EN ESPAÑOL
ALMANAQUE CALENDÁRIO 2020 AGENDA POÉTICA.
Editor: Edson Guedes de Moraes. / Jaboatão, Pernambuco/: Editora Guararapes, 2020. 162 p. ilus. col. - -
Inclui o poema “ESPELHO”, de R. LEONTINO FILHO:
LEONTINO FILHO, R. Cidade íntima. Mossoró, RN :Queima-Bucha, 1987 Raimundo Leontino Leite Gondim Filho (R. Leontino Filho) Col. A.M. (EA)
HAI KAIS
borboleta abatida
flutua
tarda ausência tua
vontade fugaz
quis a doce volúpia
todo canto jazz
preso à aurora
o casulo
até a paixão devora
LEONTINO FILHO, R. Cinquenta Poemas. Jaboatão de Guararapes: Editora Guararapes EGM, 2011. 52 p. 15X20,5 cm. páginas encorpadas. Ex. col. Antonio Miranda
quadrante
sob o clorão
hesitei
estonteante crepúsculo
apanhei
sobre o círculo
soltei
inebriante mal
estranhei
o meu pródigo espanto
dobrei
a recíproco precaução
soltei
brando caricio
o nos desbotar
escuridão
panorama
morno
lá longe
lugares
léguas ligeiros
tristemente possam
tardezinha
e ainda nem choveu
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Extraídos de
ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA
Org. de Floriano Martins y José Geraldo Neres
Selección de Jaime B. Rosa
Valencia, España: Huerga & Fierro Editores, 2006
DENTRO DA NOITE, PENSO EM TI
Volta e meia
sigo rumo à ilha do amor
coisas antigas que ficaram
nau perdida no porto abandonado
barco sem vela
que persiste no desenho
formado pelas águas dos rios.
Volta e meia
o fluxo de imagens paira sobre as águas
e sigo devorando
a cauda dos sonhos
retornando ao chão descontínuo da ilusória
estrada do bem querer:
uma outra história.
Volta e meia
o amor perturba o sono descontente das estrelas
e o luar embaraçado
por tantos murmúrios
arma a provisória tenda da paixão:
o meu olhar de neblina
costurado na memória
tece a infância medieval
do teu corpo.
DENTRO DE LA NOCHE, PIENSO EN 77
De vez en cuando
sigo rumbo a la isla del amor
cosas antiguas que quedaron
nave perdida en el puerto abandonado
barco sin vela
que persiste en el diseño
formado por las aguas de los ríos.
De vez en cuando
el flujo de imágenes para sobre las aguas
y sigo devorando
Ia cauda de los sueños
retornando ai piso discontinuo de la ilusoria
carretera dli bien querer:
otra historia.
De vez en cuando
el amor perturba el sueño descontento de las estrellas
y el claro de luna embarazado
de tantos murmullos
arma la provisoria tienda de la pasión:
y mi mirada de neblina
cosida en la memoria
teje la infancia medieval
de tu cuerpo.
[Trad. Carlos Osório]
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TRISTEZA
as sombras ressecadas da noite
com a ágil visão do corpo
ou o aflito caminho inscrito na pedra
lembram
este exílio:
pergaminhos da alma
ao sol
nos loucos ofícios da vida
a palavra vence
e a morte do tempo
transborda neste azul feito de saudade:
o retraio da despedida
mais
um coração sem versos
vencido pelo cansaço do silêncio
exílios
do único corpo desossado
na taciturna neblina
da alma:
mãos que não suportam
a claridade dos céus
pensamentos
dos amantes enfurecidos
TRISTEZA
las sombras resecas de la noche
con la visión ágil del cuerpo
o el afligido camino inscrito en la piedra
recuerdan
este exílio:
pergaminos del alma
al sol
en los locos ofícios de la vida
la palabra vence
y la muerte del tiempo
transborda en este azul hecho de saudade;
el retrato de Ia despedida
más
un corazón sin versos
vencido por el cansancio dei silencio
exilios
dei único cuerpo deshuesado
en la taciturna neblina
dei alma;
manos que no soportan
la claridad de los cielos
pensamientos
de los amantes enfurecidos
[Trad. Carlos Osório]
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QUERER-TE
ouço a plástica dramaticidade do teu pavor
corte nostálgico meu contraponto
ouço o tranquilo efeito do teu susto
clássico bouquet meu contra-senso
aguento a tua ingenuidade — picante tristeza
dos nossos encontros oculta leveza
aguento a sensual intensidade do teu balo
fenece em mim o inteiro bálsamo
das nossas expressões laterais
desvendo ousadas saídas conheço vestígios
atravesso contigo imaginárias paixões
apago o candeeiro das breves mudanças
irreverências artifícios contrastes
como estímulos que partem errantes
QUERERTE
oigo el plástico dramatismo de tu pavor
corte nostálgico mi contrapunto
oigo el tranquilo efecto de tu susto
clásico bouquet mío contra-sentido
aguanto tu ingenuidad - picante tristeza
de nuestros encuentros oculta levedad
aguanto la sensual intensidad de tu halo
fenece en mi el entero bálsamo
de nuestras expresiones laterales
desvelo osadas salidas conozco vestígios
atravieso contigo imaginarias pasiones
borro el candelero de los breves cambios
irreverencias artifícios contrastes
como estímulos que parten errantes
alejo las novedades
frenado en mí
no niego
mi desequilibrio
es estar lleno de ti
(Trad. Floriano Martins)
Arte gráfica: Edson Guedes de Moraes
– Editora Guararapes – PE - 2016
LEONTINO FILHO, R. Cicatriz. Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2014 28 p. Edição artesanal, poucos exemplares. Ilus. col. 20x13 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda - Poesia brasileira
https://issuu.com/antoniomiranda/docs/r._leontino_filho
LEONTINO FILHO, R. Anatomia do ócio. Poemas 2018. Fortaleza, CE: ARC Edições; Mossoró, RN: Queima-Bucha, 2018. 144 p. 14x21 cm. Prefácio e ilustrações internas de Floriano Martins. Capa dura. ISBN 978-85-8112-171-O Ex. bibl. Antonio Miranda
Conforme Floriano Martins, no prefácio, do livro: “O avanço da tecnologia promoveu uma confusão entre expressão e recurso. “ ! “instalou na criação artística (...) a ruptura dos gêneros.” “Este poema, ao avançar na armação narrativa de sua poética, não seria suficientemente astuto caso fosse tratar de outro assunto que não a Fruição dos signos, título do quarto capítulo de Anatomia do ócio. Trata aqui o poeta de averiguar a intenção por trás dos salmos, das profecias, das frustrações expelidas à abeira do fogo, das penumbras dissonsantes, e o faz com sua relevante clareza: minha alma vai/ sem pressa / ao encontro da perdição”(...) “o que existe das coisas / é o percurso.”
PEDRA, AINDA CHÃO
(a Foed Castro Chamma)
III
Por detrás das máscaras, a multidão
em disparada — ira acesa.
Por detrás dos estigmas, o mistério
em peregrinação — simetria amorosa.
Dos contornos luminosos, clama
o herói, canto e perdição.
Por detrás das consciências, o veneno
da ciência, engrenagens sofisticadas da mentira.
Por detrás do tempo, a manhã
arrasta-se, pássaro sem céu.
ESTIO
a asa comprida das horas
fossiliza
o espanto inútil das coisas
o tempo incendiado pelo despudor
enferruja
o estio cativo da agonia
o olho tempo
(único deus
verbo imprevisto)
converte a asa desnuda da morte
maldosamente
na balada infecunda
do vazio
todo resto
é susto de deus
(chave perdida)
túnica branca
suspensa
no nunca que canta
todos os senões
entre brechas
o sermão do sim
além da porta
o sono espera
R O T A
um naco de amor segue, à vera, há que não negar, ir
há os que seguem o amor por luas, e não são felizes
há os que seguem o amor por corações, e sofrem
há os que seguem o amor por carnes, e cegam
há os que seguem o amor por medo, e enlouquecem
há os que seguem o amor por sina, e se perdem
há os que seguem o amor por desejos, e se aprisionam
há os que seguem o amor por razões, e sucumbem
há os que seguem o amor por ódios, e se desesperam
há os que seguem o amor por demência, e são
infernizados
há os que seguem o amor por marés, e são quase
inteiros
há os que seguem por seguir, e pulsam, esses sim
há os que negam o amor por obediência, e pouco amadurecem
há os que negam o amor por justiça, e sempre tropeçam
há os que negam o amor por castidade, e encalham
há os que negam o amor por frustração, e enrugam
há os que negam o amor por cisma, e não esmorecem
há os que negam o amor por ninharias, e engordam
há os que negam o amor por birra, e estremecem
há os que negam o amor por incoerência, e extrapolam
há os que negam o amor por boniteza, e se abismam
há os que negam o amor por pressa, e quase acertam
há os que negam por negar, e minguam, esses não
Comentário de Antonio Miranda para R. Leontino Filho:
Sim, é possível, e válido, produzir um poema, inteiramente!, com versos alheios. Construir um discurso poético com textos escolhidos de um autor, ou de vários autores. É o que se segue, a partir de fragmentos do provocativo e contundente livro “Anatomia do ócio”, do poeta R. Leontino Filho. Desencadeando sins nãos senões a partir de combinações aleatórias... Como o próprio poeta vaticinou: “Ócio criativo”!!!: “a não mais/ poder” / “regar paradigmas” e “copular abismos” e até “masturbar anjos”!!! Quem duvida. Vejam, então, o que resultou desse experimento com os versos de Leontino Filho:
“Abrasadas pelos rituais
hóstias escorrem goela abaixo.”
“(salmos porosos, somos)”:
“da carne que dura / no resto que sacia”
“e se consome, consumido”,
“em tudo que muda / importa nada
o que interessa.”
“o desejo a costurar infinitas falas
agonia esfacelada pelas falsas identidades”
— da pedra — tensa expressão do finito.”
“A pedra e o nada, eu vi
as eventualidades da matéria”
“— espelho exilado de mim.”
“será que foi o que é
ou
é assim
o que foi
em tudo que será?”
“enunciação de um céu precário
(relicário perpétuo” )...
“ser
quem sabe
só
como
de viés
a vida sabe ser”
“marejando lembranças aladas
eis o rio no cio
perene/vadio”
”—constelações de etcéteras”
“fenecida fé” “de . can . ta”
“cortejo alinhado de sinais”
“as sentenças entalhe assim”
“dimensão imaginária”:
“servir é quase comandar.”
“Pode a palavra
grafar futuros
pedir âncoras
abrir flancos
singrar mares
magnificar rios
apascentar cabras
grampear guerras
suportar mortes
tudo a ela
basta
poder”
...
LEONTINO FILHO, R. TOADA DO NAVEGANTE. “Anatomia do Ócio”.
Fortaleza, Ceará. ABC EDIÇÕES, 2018. s. p. ilus. col.
Ex. bibl. Antonio Miranda
*
Página ampliada e republicada em outubro de 2023.
Página publicada em setembro de 2010; ampliada e reeublicada em jan. 2013; ampliada em outubro de 2016. Ampliada em junho de 2018 |