Capa do livro
A Imagem do Som de Gilberto Gil
Concepção e curadoria de Felipe Taborda
GILBERTO GIL
Gil dispensa apresentação. Já é conhecido e admirado por (quase) todos os brasileiros. É bom lembrar que toda unanimidade é burra, como pregava o rabugento e genal Nelson Rodrigues. E, em sentido contrário, parafraseando aquela canção: “”Quem não gosta de Gil, bom sujeito não é, é ruim da cabeça...”
Eu o conheci pessoalmente quando ele era ministro da cultura, mas a admiração por ele vem dos primeiros tempos, quando ele apareceu com aquele inesquecível LP em que apresentava a música Procissão, que reproduzimos a seguir.
Antonio Miranda
Veja também: BATMACUMBA...
Refazenda
Abacateiro
Acataremos teu ato
Nos também somos do mato
Como o pato e o leão
Aguardaremos
Brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos
Teu amor, teu coração
Abacateiro
Teu recolhimento é justamente
0 significado
Da palavra temporão
Enquanto o tempo
Não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate
E anoitecerá mamão
Abacateiro
Sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem
0 seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro
Doce manga venha ser também
Abacateiro
Serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário
Da leveza pelo ar
Abacateiro
Saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba
Procissão
Olha lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão
As pessoas que nela vão passando
Acreditam nas coisas lá do céu
As mulheres cantando tiram versos
Os homens escutando tiram o chapéu
Eles vivem penando aqui na terra
Esperando o que Jesus prometeu
E Jesus prometeu vida melhor
Pra quem vive nesse mundo sem amor
Só depois de entregar o corpo ao chão
Só depois de morrer neste sertão
Eu também tô do lado de Jesus
Só que acho que ele se esqueceu
De dizer que na terra a gente tem
De arranjar um jeitinho pra viver
Muita gente se arvora a ser Deus
E promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido pra Maria
E promete um roçado pro João
Entra ano, sai ano, e nada vem
Meu sertão continua ao deus-dará
Mas se existe Jesus no firmamento
Cá na terra isto tem que se acabar
GIL, Giberto. Gilberto Gil em verso. Organização Manuel Jorge Marmelo. Apresentação Manuel Jorge Marmelo, Arnaldo Antunes. Vila Nova de Famalicão, Portugal: Edições Quase, 2006. ISBN 989-552-149-9 Col. A.M.
Livro com todas as letras de Gil até 2006... Aqui vai uma delas:
CHORORÔ
Tenho pena de quem chora
De quem chora tenho dó
Quando o choro de quem chora
Não é choro, é chororô
Quando uma pessoa chora seu choro baixinho
De lágrima a correr pelo cantinho do olhar
Não se pode duvidar
Da razão daquela dor
Não se pode atrapalhar
Sentindo seja o que for
Mas quando a pessoa chora o choro em desatino
Batendo pino como quem vai se arrebentar
Aí, penso que é melhor
Ajudar aquela dor
A encontrar o seu lugar
No meio do chororô
Chororô, chororô, chororô
É muita água, é mágoa, é jeito bobo de chorar
Chororô, chororô, chororô
É mágoa, é muita água, a gente pode se afogar
Chororô, chororô, chororô
É muita água, é mágoa, é jeito bobo de chorar
Chororô,chororô,chororô
É mágoa, é muita água, a gente pode se acabar
[1978]
FONTELES, Bené. GiLuminoso: a po.ética do Ser. Brasília: Editora Universidade de Brasília; São Paulo: SESC, 1999. 298 p. ilus. 25x25 cm. Inclui um CD. Fotos da capa: Mario Cravo Neto. Tiragem: 5000 exs. Fotolito e impressão: Imprensa Oficial do Estado (SP). Inclui fotos de Pierre Verger e ilustrações de Arnaldo Antunes, Bené Fonteles. “ Gilberto Gil “ Ex. na bibl. Antonio Miranda
Minha ideologia é o nascer de cada dia
E minha religião é a luz na escuridão
Ilustração de Bené Fonteles
Página publicada em setembro de 2009 |