WILSON BUENO
(Jaguapitã, 13 de março de 1949 - Curitiba, 31 de maio de 2010) foi escritor, cronista e poeta paranaense. Nasceu em Jaguapitã e ainda criança se mudou para Curitiba, onde descobriu a sua vocação literária. Ao longo de sua vida construiu duas obras: a sua literatura - reconhecida como uma das mais interessantes e importantes entre os escritores brasileiros dos últimos 40 anos, que lhe rendeu 16 livros - e o jornalismo - como editor de O Nicolau e colaborador em vários jornais conceituados do país. Faleceu no dia 30 de maio de 2010, na cidade de Curitiba, onde vivia desde a década de 1970.
TEXTO EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
SILÊNCIOS
Para Fernando Paixão
1
há um Deus de luto
no demasiado rútilo
que se liquida ao norte
por uma estrela-de-gelo
e a lua simples nos olmos
carrega em impuro siena
pelas mãos do Deus abrupto
acre oficina de sustos
2
há um Deus bem gaio
na sarabanda do outono
que daqui se vê todo ano
o mesmíssimo outono
de há quatro mil anos
com Deus pelos cantos
pondo branco no agapanto
e amanhecendo paineiras
3
há um Deus silente
na tinta incendiada
de sonetos e poentes
manhã de ouro encardida
cincerros da madrugada
sussuro de Deus com pluma
no andado quase ar voante
de chá e voal o vento
4
diante de tanto quanto Deus
dá-me que entenda
pelo juízo da veia
a via tácita ou láctea
de víscera expectante
pelo que Deus põe de tarde
numa abelha azul-da-prússia
e vos faz de céu e senha
SILENCIOS
1
hay un Dios de luto
en lo demasiado rútilo
que se liquida al norte
por una estrella-de-hielo
y luna simple en los olmos
arrastra en impuro siena
por las manos del Dios abrupto
acre oficina de sustos
2
hay un Dios bien gallo
en la zarabanda del otoño
que de aqui se ve todo el año
el mismísimo otoño
de hace cuatro mil años
con Dios por los cantos
poniendo Blanco
en el agapanto
y amaneciendo paineras
3
hay un Dios silente
en la tinta incendiada
de sonetos y ponientes
mañana de oro desgastada
cencerros de la madrugada
susurro de Dios con pluma
en lo andado casi aire volante
de te y voal el viento
4
delante de tanto cuanto Dios
dame que entienda
por el juicio de la vena
la via tácita o láctea
de víscera expectante
por lo que Dios pone de tarde
en una abeja azul-de-prusia
y te hace de cielo la seña
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Painera: Gran árbol de la família de las bombacáceas
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FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013. Organização Ricardo Corona. Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 2013. 43 cartões com imagens aéreas de Curitiba e, no reverso, versos de poetas paranaenses. Projeto gráfico Medusa. Obra inconsútil. ISBN 978-85-64029-08-8 Inclui os poetas: Josely Vianna Batista, Lindsey R. Lagni, Ademir Demarchi, Luci Collin, Fernando José Karl, Roberto Prado, Sabrina Lopes, Bruno Costa, Amarildo Anzolin, Carlos Careqa, Roosevelt Rocha, Camila Vardarac, Marcelo Sandmann, Vanessa C. Rodrigues, Anisio Homem, Greta Benitez, Ivan Justen Santana, Mario Domingues, Marcos Prado, Bianca Lafroy, Estrela Ruiz Leminski, Sérgio Viralobos, Alexandre França, Helena Kolody, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Zeca Corrêa Leite, Édson De Vulcanis, Afonso José Afonso, Homero Gomes, Leonardo Glück, Hamilton Faria, Emerson Pereti, Andréia Carvalho, Ricardo Pedrosa Alves, Priscila Merizzio, Marcelo De Angelis, Adalberto Müller, Cristiane Bouger.
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COYOTE – REVISTA DE LITERATURA E ARTE. No. 21. Curitiba, PR: KAN EDITORA, 2010. Editores: Ademir Assunção, Marcos Lesnak, Editores: Ademir Assunção, Marcos Lesnak, Rodrigo Garcia Lopes. Editores: Ademir Assunção, Marcos Lesnak, Rodrigo Garcia Lopes. Rodrigo Garcia Lopes. Ex. bibl. Antonio Miranda
De 35 Poemas de Amor
[livro inédito até a sua morte em 2010]
4
De Amor o soluçante Enlevo
Perguntou pelo Segredo.
Enleado às suas dobras
Segredo responde pronto
Que de amor andava às tontas
Cada noite
Cada dia
Dia e noite.
Enlevo dobrando a esquina
Voou seus ventos com pressa
Tocando ao de leve a pálpebra
De novo Amor, sua flauta.
Segredo encolheu-se escuro —
Uma sombra contara o muro.
6
Antes de tudo, o começo
Eva, fenda, pássara obscura,
Os teus sexos de menina, AMOR
De mulher cinge a curva dos seios
Gozo e glosa, chana e chana.
Chama ao relento a lágrima nua
Esquece nos ombros lentos lábios e dentes
Ao relento de si os caminhos do umbigo
Coxas e clitóris, pêlo contra pêlo
Amor, de tão cortês, é um algodoal de líquens
E plana, suspenso, entre o sonho e o sonho.
21
Ao grande amor, a luz
Do Amor imenso, sem trégua
Puro Espírito todo brotado de flores
Nem a sombra de Agosto capaz destrua
Do grande Amor a ternura, o gume, o azougue.
Anda o Ser à busca tanta
Do grande Amor as suas quinas
Amor de âmbar, irresistível pedra
Grudada de conchas e de limo.
Do grande Amor, o rasgo da epifania,
O raso onde Amor Demais definha.
22
Tão grande o Amor que nos abraça
O tempo, a infância, prados e pinheiros,
Agora em que sei que estás morrendo
E morrem contigo as gastas ilusões,
O irmão já morto, vosso útero,
E de mim os sonhos loucos,
Tudo é a antevisão do silêncio longo
Que há, meu Deus!, de separar-nos.
Dissolução da ausência, do corpo, da casa
Morrem bromélias, alamandas e os cactos
De vosso jardim, amor, Mãe, tão casto,
Aqui onde cato de mim caco a caco.
28
Cai-me ao colo Amor de súbito
Um susto, um esgar, um bramido.
Estertor de tudo — desamor Amor ao avesso?
Quero-vos lúmpen, maltrapilha, campesina
Quero-vos riacho e mando açude.
Amor, entanto, vocifera pontiagudo
Mural de rochas e lascas e espelho e cardumes
A fingir do Amor — casta figura? —
O Desamor em pêlo, às turras,
Aos vozeio, facas, murros, unhas
A alvoroçar o silêncios da agulha.
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Página ampliada e republicada em abril de 20231
Página publicada em março de 2010
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