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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


WALY SALOMÃO
(1944-2003)

Baiano de Jequié, Wally esteve ligado aos Tropicalistas Caetano Velloso, Torquato Neto, Gilberto Gil, Gal Costa mas não se considerava do grupo.

 

O primeiro livro de poemas, Me segura que eu vou dar um troço, foi lançado em 1971. Os poemas presentes no livro de estréia foram escritos durante a temporada na prisão. Outros livros do autor: Gigolô de Bibelôs, Surrupiador de Souvenirs, Algaravias, Lábia e Tarifa de Embarque, e a coletânea O Mel do Melhor.

 

Além de poeta, Waly Salomão também era letrista e produtor cultural. Muito irreverente, declamava poemas em programa da TVE e participava de filmes.  Como letrista, colaborou com muitos  artistas, como Caetano Veloso (Talismã), Lulu Santos (Assaltaram a Gramática, sucesso com os Paralamas do Sucesso), Adriana Calcanhotto (Pista de Dança), entre outros. 

 

Era muito divertido e sagaz. Estive com ele pouco antes de sua morte, quando ocupava um cargo de direção no Ministério da Cultura do Ministro Gilberto Gil e discutíamos projetos de divulgação do livro e da leitura. Na oportunidade escreveu uma dedicatória num de seus livros em que me chamava de “caótico neoconcreto”... A partir daí assumi a minha oximoridade...     Antonio Miranda

 

 

"The guiding word interfaces is also a homage to a unique creative writer and prematurely departed cultural agitator, Waly Salomão (1943-2003), who bridged the counterculture of the early i970s and the artistically polymorphous initial years of the new millennium. In one of the poems of his last (posthumous) book, entitled "Interfaces," he links our classical heritage to the age of hypertext and Web portals, alliteratively designating himself as "o demiurgo / o domador / o designer / o diagramador" (Pescados vivos, 27) [the demiurge / tamer-trainer / designer / layout artist]. The concluding three-item flourish of the book in which Salomão´s short lyric appears represents the hemispheric spirit underlying the present criticai study. On facing pages (74-75) the Brazilian poet reproduces a marked-up paragraph from Ralph Waldo Emerson´s essay "The Poet" and the most celebrated universal linguistic truth at the center of that piece: "Language is fossil poetry." The second item is a translation from the Spanish of a celestial-toned text by Chilean avant-garde poet Vicente Huidobro, which ends in "silence." The third item, on the final page (79) of Salomão´s last book, is a translation of Walt Whitman´s "Once I Passed through a Populous City," which celebrates togetherness, memory, and wordless farewell. Emotion, engagement, and multilingual geography remain as an open message in a lyrical design left by an ecumenical artist who at the time of his death was working for the pop-star minister of culture, Afro-Brazilian singer-songwriter and community activist Gilberto Gil, in the capacity of national secretary of books and reading."

From:   PERRONE, Charles A.  Brazil, Lyric, and the Americas.  Gainesville, Fl.: University Press of  Florida, 2010.   250 p      ISBN 978-0-813903421-8

 

Ver também: WALY SALOMÃO – Poesia Visual

 

VIDEO: WALY SALOMÃO E PAULO LEMINSKI ENTREVISTADOS... Loucura!

https://www.youtube.com/watch?v=YeZxKd0t6NA

 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS     /     TEXTOS EN ESPAÑOL


TEXT EN FRANÇAIS



NOSSO AMOR RIDÍCULO SE ENQUADRA
NA MOLDURA DOS SÉCULOS

 

NOSSO AMOR RIDÍCULO SE ENQUADRA NA MOLDURA DOS SÉCULOS

SUGO ESPIRAIS DAS NUVENS DE CIGARRO QUE FUMO

SOFRO BAFORADAS-CARAMUJO POR ENTRE VOLUTAS DO UNIVERSO

EU, PEQUENINO GRÃO DE AREIA-POETA, PLASMO RIMA ALITERAÇÃO

                                                                             METÁFORA OXIMORO VERSO

PASTO PALAVRA: QUINQUILHARIA NINHARIA PALÁCIO DO NENHURES

                                                                                                            Ó CASTELO

DE VENTO

                           PASTEL DE BRISA

                                                                              MONTE DE GANGA BRUTA

ESTUÁRIO DE BUGINGANGA                            NONADA

EM CONFRONTO COM MANADAS MIRÍADES D´ESTRELAS ESPOUCADAS

SOBRE OS SETE DIFERENTES MARES QUE SETE ESPELHOS SÃO PARA

                                                                                                            ALGUM MAR

ABSOLUTO

(ROMA E BAALBECK E BAGDAD E BABILÔNIA E BABEL SIDERAL)

E É NOSSO AMOR TÃO DIMINUTO

                       LAMPEJO DE SEGUNDO

                                                                      RELÂMPAGO DISSOLUTO

FILETE DUM RIO MINÚSCULO

MICROSCÓPIO LEITO

AMOR .....................................................NOSSO SÉCULO:

BURACO NEGRO SORVEDOURO DE VULTO AROMA LUZ

BAGAÇOS DE ROLHA BOLHA BORRA PORRA PÓ

BEBO VINHO PRECIOSO COM MOSQUITOS DENTRO

                                                                  MURIÇOCA MARUIM POTÓ

 

(de Gigolô de bibelôs)


    ARS POÉTICA /OPERAÇÃO LIMPEZA

 

Assi me tem repartido extremos, que não entendo...

                                                         (Sá de Miranda)

 

I-

SAUDADE é uma palavra

Da língua portuguesa

A cujo enxurro

Sou sempre avesso

SAUDADE é uma palavra

A ser banida

Do uso corrente

Da expressão coloquial

Da assembléia constituinte

Do dicionário

Da onomástica

Do epistolário

Da inscrição tumular

Da carta geográfica

Da canção popular

Da fantasmática do corpo

Do mapa da afeição

Da praia do poema

Pra não depositar

Aluvião

Aqui nesta ribeira.

 

II-

Súbito

Sub-reptícia sucurijuba

A reprimida resplandece

Se meta-formoseia

Se mata

O q parecia pau de braúna

Quiçá pedra de breu

Quiçá pedra de breu

                                     CINTILA

Re-nova cobra rompe o ovo

Da casca velha

                                              SIBILA

 

III-

SAUDADE é uma palavra

O sol da idade e o sal das lágrima

 

(da Revista Imã)



O CÓLERA E A FEBRE
(PASTICHE PÁLIDO E MAL CESURADO DE CESARIO VERDE)

 

UM BODE IMUNDO IRROMPE

(ÍGNEA FLECHA? DARDO EM FOGO? BÓLIDE NO LUSCO-FUSCO?)

EM MÓRBIDA TROPELIA EM DESABRIDA CORRERIA

E PERANTE MINHA PESSOA             A FERA

                                                                                ESTACA

JÁ DENTRO DE MIM SE ESMERA

NUM ENRODILHADO TORCIDO E IGNOTO JOGO MALABAR.

PRAIA FÉERIE COOPER JOGGING CORPO AO SOL TORSO AO MAR;

MINHA PORÇÃO NA PARTILHA:

LYCOPODIUM TÉDIO PORRE TOSSE TORPOR

HOMEOPÁTICO E PLUVIOSO HORROR.

 

Nas nossas ruas,

ao anoitecer.

 

(De Armarinho de miudezas)


EXTERIOR

 

Por que a poesia tem que se confinar

às paredes de dentro da vulva do poema?

Por que proibir à poesia

estourar os limites do grelo

                              da greta

                              da gruta

e se espraiar em pleno grude

                      além da grade

do sol nascido quadrado?

 

Por que a poesia tem que se sustentar

de pé, cartesiana milícia enfileirada,

obediente filha da pauta?

 

Por que a poesia não pode ficar de quatro

e se agachar e se esgueirar

para gozar

-CARPE DIEM!-

fora da zona da página?

 

Por que a poesia de rabo preso

sem poder se operar

e, operada,

                   polimórfica e perversa,

não poder travestir-se

                   com os clitóris e os balangandãs da lira?

 

(Líbia)


    AMANTE DA ALGAZARRA

 

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.

É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.

É ela!!

Todo mundo sabe, sou um lisa flor de pessoa,

Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.

 

Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro.

Vixe!!

Enquanto caminha a pé, pedestre – peregrino atônito até a morte.

Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.

É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto

E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.

 

Quem corre desabrida

Sem ceder a concha do ouvido

A ninguém que dela discorde

É esta

Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.

 

(De Tarifa de Embarque)

 

ARENGA DA AGONIA

             para Duncan Lindsay

 

você não possui casa alguma de onde sair,
você não pode voltar para casa nenhuma,
o prólogo acabou e a mácula timbra a imagística:
                            o beco sem saída não constitui mais
                            mera figura de retórica.
você é o beco sem saída completo:
                                                        corpóreo,
encorpado, e, incorporado.

você não acha mais bainha onde encaixar sua faca.

acabou-se o que era doce, o confete foi-se,
está findo o efeito placebo.
queimado o filme e desmoronada a encosta
e esgotada a pilha da prosopopéia.

eia, pois, advogada nossa,
quando esse atrapalho doloroso vai passar?
no dia da eterna noite escura de são nunca.

                                      
(Extraído de LÁBIA, 1998


LIVRO DE CONTOS
(ALMA LÍRICA PAQUIDÉRMICA)

Alma emputecida
Sombra esquisita
Se esquiva
Entre
Laços de Família

         De Gigolô de bibelôs (1983)


SALA SUNYATA

Ó, tabula rasa.
Nada vezes nada, noves fora nada.
Sol nulo dos dias vãos. Lua nula das noites vãs.

Eis que atingi o ponto Nadir.
Se todas as coisas nos reduzem a
                                               ZERO
é daí do
                                               ZERO

                                               que temos que partir.

         De Lábia (1998)

 

SALOMÃO, Waly.  Pescados vivos. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 2004.  79 p.  16x23 cm.  ilus.      ISBN 85-325-1652-1  Capa: foto com Waly em Arwad, Síria.  “ Waly Salomão “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

SAQUES

 

Ainda há focos de incêndio no pavilhão

E a laje ameaça desabar.

Um cruzado mané-ninguém surta em majestade

Rompe o encouraçado cordão de isolamento

Escala a pilha de escombros
Alça os braços aos sete céus e clama:

—Assim me falou o Rei Invisível:

"Sois a alma do universo".

Convoca falanges, coortes de legionários desembestados,

Uma gentinha que aplica lances e golpes e vive de expedientes,

Famílias famélicas

E sua prole prolífica

Gatinham no garimpo do galpão em chamas.

O homem do riquixá garante seu espólio:

Comidas, freezers, aparelhos de ar condicionado,

Blusões e ténis enfarruscados.

Dois homens colocam outro freezer numa carroça

E saem em disparada no foco da fotografia.

Três mulheres de Tatuapé carregam sabonetes sem marcas,

Mesas e cadeiras de ferro.

Um Raimundo empurra um carrinho de pedreiro lotado de britas,

Pedaços de concreto, sacos de arroz, de feijão

"Nunca comi esse tal de atum, agora vou experimentar"—

Testemunha a desempregada de nascença Josete Joselice, 56,

Mostrando para a câmara da TV uma latinha chamuscada.

Lá nas alturas do monte,

Uma moça banguela ergue no pódio seu troféu de pacotes de
                                                                               mozarelas.

 

Como os valentes, finca teu estandarte

No meio do deserto.

 

 

SALOMÃO, Waly.  Poesia Total.  São Paulo: Companhia das Letras, 2014.  549 p.  13,5x21 cm.   ISBN  978-85-359-2400-8   Capa e projeto gráfico: Elisa von Randow.  Foto da capa: Marcia Ramalho.  Antologia com toda a obra poética do autor, em ordem cronológica. Inclui também uma fortuna crítica ao final.  Col. Bibl. Antonio Miranda

Faminto e sedento, Waly busca abolir fronteiras e confrontar-se com os limites — entre o eu e o outro, entre a prosa e a lírica, entre a arte e a vida.” (Texto na orelha do livro).

 

B.O.

BOLETIM DE OCORRÊNCIA

 

          para Fernando Loszto

 

Corpo do motoboy retirado sem vida do Canal do Leblon.

Indivíduo jovem de coloração branco-duvidosa.

No seu capacete estava escrito assim:

100 JUÍZO NEM 1.

Et cetera, et cetera, et cetera.

 

Em éter e cápsula radioativa dissolve-se a poesia.

As existências da terra são cinzas de mortas estrelas.

Ouro, urânio, hélio, carbono, oxigénio.

A poesia é um meteoro.

A poesia é uma chuva de meteoros.

E uma estrela

                    — alta, fria, brilhante, viva ou morta —

É mais simples

Menos complexa do que qualquer inseto

Logo mais fácil de entender

Do que o modelo aerodinâmico

Do besouro.

 

   ( Do livro Pescados Vivos, 2004)

 

 

ASSALTARAM A GRAMÁTICA

 

(Assaltaram a gramática

Assassinaram a lógica

Meteram poesia

na bagunça do dia a dia

Sequestraram a fonética

Violentaram a métrica

Meteram poesia

onde devia e não devia

Lá vem o poeta

com sua coroa de louro,

Agrião, pimentão, boldo

O poeta é a pimenta

do planeta!

(Malagueta!)

 

Musicada por Lulu Santos em 1984.

(Extraído do livro  Mais Algumas Canções)

 

 

 

 




Lina Bo Bardi


FÁBRICA DO POEMA

              In memoria de Donna Lina Bo Bardi       

sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa palavra por
palavra,
tornei-me perito em extrair faíscas das britas
e leite das pedras.
acordo.
e o poema todo se esfarrapa, fiapo a fiapo.
acordo.
o prédio, pedra e cal, esvoaça
como um leve papel solto à mercê do vento
e evola-se, cinza de um corpo esvaído
de qualquer sentido.
acordo,
e o poema-miragem se desfaz
desconstruído como se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbado
pelo mingau de almas e os ouvidos moucos,
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-se os dedos estarrecidos.
sinédoques, catacreses,
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa
permanecer à espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de se afunda no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é
sob que máscara retornará o recalcado?

(mas eu figuro meu vulto
caminhando até a escrivaninha
e abrindo o caderno de rascunho
onde já se encontra escrito
que a palavra “recalcado” é uma expressão
por demais definia, de sintomatologia cerrada:
assim numa operação de supressão mágica
vou rasurá-la daqui do poema.)

pois a questão-chave é:
       sob que máscara retornará?
                                                           
1994
                   Musicada e cantada por Adriana Calcanhotto.

 

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TEXTOS EN ESPAÑOL
Tradução de Adolfo Montejo Navas

 

LIBRO DE CUENTOS

(ALMA LÍRICA PAQUIDÉRMICA)

 

Alma encabronada

Sombra miserable

Se esquiva

Entre

Lazos de Familia

 

De Gigolô de bibelôs (1983)

 

 

ARS POÉTICA

OPERACIÓN LIMPIEZA

 

         “Así me vienen repartiendo extremos, que no entiendo...»

                                               Sá de Miranda

 

I - SAUDADE es una palabra

De la lengua portuguesa

A cuya abundancia

Soy siempre adverso

SAUDADE es una palabra

A ser borrada

Del uso corriente

De la expresión coloquial

De la asamblea constituyente

Del diccionario

De la onomástica

Del epistolario

De la inscripción lapidaria

De la carta geográfica

De la canción popular

De la fantasmagoría del cuerpo

 

Del mapa de la afectación

De la playa del poema

Para no depositar

Aluvión

Aquí

En esta ribera.

 

II - De repente

Subrepticia cobra sucuri*

La reprimida resplandece

Se metamorfosea

Se mata

Lo que parecía palo de brauna**

Quizá piedra de oscuro

Quizá piedra de oscuro

                            CENTELLEA

Re-nueva cobra rompe el huevo

De la cascara vieja

                            SIBILA

 

III - SAUDADE es una palabra

El sol de la edad y la sal de las lágrimas.

 

De Armarínho de miudezas (1993)

 

 

* Variedad de cobra gigante del Brasil.

** Árbol leguminoso del Brasil.

 

 

SALA SUNYATA

 

Oh, tábula rasa.

Nada veces nada, nueves fueran nada.

Sol nulo de los días vanos. Luna nula de las noches vanas.

 

He aquí que alcancé el punto Nadir.

Si todas las cosas nos reducen a

                                               CERO

es de ahí del

                                               CERO

 

                                               que tenemos que partir.

 

         De Lábia (1998)

 

*De Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas.  Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Culta do Brasil.

 

*Nota: o tradutor Adolfo Montejo Navas é amigo comum nosso com Wagner Barja, e o convidamos a participar da exposição OBRANOME 2 no Museu Nacional de Brasília, durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília 2009. Montejo Navas prometeu-nos suas traduções ao castelhano e só na Espanha, em viagem, é que conseguimos os originais que estamos divulgando parcialmente no nosso Portal de Poesia Ibeoramericana, com os agradecimentos.

 

 

ASSALTARAM A GRAMÁTICA

Jovens e vivazes, provocadores e inovadores... Alice Ruiz... todos jovenzinhos..., Chacal e Chico Alvim,  Cristina César, Paulo Leminski, Wally Salomão... e outros mais, num video imperdível, memorável, enviado por Edson Cruz, do Sambaquis, que recebeu do Giuseppe Zani, via Ricardo Aleixo, que...  agora passamos adiante.   Vejam e repassem....

DESCULPEM... participaram de sua realização. Respondemos afirmativamente quando decidimos republicar e difundi-lo em nosso Portal. Mas logo a produtor tirou do ar e fica aqui, sem possibilidade de acessá-lo, como protesto pela decisão de impedir a sua difusão, contrária à vontade dos protagonistas. Lamentável não permitir o acesso a esta peça importante da história de nossa poesia contemporânea.

Página ampliada e republicada em junho de 2009; ampliada e republicada em fevereiro de 2011; ampliada em agosto e em setembro de 2014.

HÁ VAGAS para texto e traço. No. 2.    Brasília: 1983-     Revista. Capa: Chico Leite / Félix Valois.  Com o apoio do Decanato de Assuntos Comunitários da UnB.  Sul América Seguros. EMILIBRA – Empresa Litográfica Brasileira Ltda.   Ex. bibl. Antonio Miranda


 


SALOMÃO, Waly.  Gigolô de bibelôs ou surrupiador de souvenirs ou defeito de fábrica.  Rio de Janeiro: Editora Brasiliense, 1983.  192 p.  14x21 cm.  Foto da capa:         Maria Braga.  Produção gráfica: José Luiz de Sousa.

Ex. bibl. Antonio Miranda

 

MOTIVOS REAIS BANAIS

 

FINJO
finjo
finjo
erro minto
minto mas sei sinto
sinto sou sincero leal natural
talqual antena
                     duma
fera animal
guardo sempre o traço
jovem nobre bravo
dum farejador amoroso
pra quem o longe é sempre perto
que nunca esquecerei
cordão umbilical que me alucina
delírio de tornar a ser
                                      girino pirilampo
                                peixe pássaro relâmpago
outra vez na clareira acordar
andarilhar através de todo ar
                                          de toda água que há
num voo mergulho mergulho voo
sem cura sem medo sem culpa
pelo buraquinho de peneira poder passar
quando barravento forte assoprar
no meio dum redimunho irei rodopiar
que nem pipa pião também quer peneirar
sorrio gargalho zombo
conforme um fio
de horizontal rio
que de tombo em tombo
se ergue até oceano
                              vertical
                                         mar

 

 

ALTO-AUTO-ACALANTO

               BERCEUSE CRIOLLE   

 

Llanto
Ui         Ui      Ui
De noite de motin noite
Faz escuro mas eu.............abro no berreiro
Ai aiiiii ÂE ÂE ÃE ai ai ai mãinha
Me leva pro vão do terreiro
Pindura a saia no galho na galha da cama de tudo q é folha no chão
Fica nuinha em pêlo

(Espelho de dentro da lagoinha)

                                                                  o sete estrêlo saliente
                                                                  a gruta abrupta
                                                                  a aresta da greta
                                                                  a eletrical falésia
                                                                  o grelo em pêlo
Hasteamento da bandeira sobre o pico do sétimo céu
 A P E X        D O           Á P I C E

Me embrulho no manto do meu próprio canto
Canto da minha costela de Adão Segundo
AVE          EVA            AHH        VIADÃO
Cá em riba da cama do chão
Lá debaixo do céu do terreiro

Solitude                   recife                   estelário
Bussanha-pica-cu-caralho
CELESTE         IMPÉRIO           sopro sobre o barro
                                                                          SIDÉRIO


 

Itapuã on my mind  1983 - RIO

 

POÉSIE BRÉSILIENNE EN FRANÇAIS

 

FAX, FAC SIMILE

ça va chauffer, maintenant
ici, dans ce pays
où de distances infinies
comme les espaces interplanétaires
séparent les gens
les uns des autres
les uns et les autres
les portes et les fenêtres
sont fermées
le chateau entier est bouclé
mais ils sont déjà vênus, les casseurs
partout ils sons sortis de leurs trous
tout ou rien, sûrement, tout va bien
cepandant
c´est facile, fax, fac-símile
la vie en rose c´est un micro d´idées reçues
et je suis et tu es et nous sommes tous
un três sympathique ordinateur de sottises
ça va chauffer
ça va chauffer
parce que Sade et Théophile Gautier et Baudelaire et Rimbaud

et Lautréamont et Saint Genet comédien et martyr
et Apollinaire et Antonin Artaud
sont morts
mais sûrement Bouvard et Pécuchet,
et Joseph-Arthur de Gobineau
et Pétain et Le Pen
sont encore vivants
ça va chauffer
dans ce pays
ici, là-bas, où? où? partout
bah! Tant pis

                       Montreux / Tübingen, c. 1993

 

CORPO ESTRANHO. REVISTA DE CRIAÇÃO  3 .  Coordenação editorial Julio Plaza & Régis Bonvicino.   São Paulo: Editora Alternativa, janeiro-junho 1982.       Ex. bibl. Antonio Miranda


UNS
&

OUTROS

Onde ouro e palmeiral, paisagens, mesas de altos manjares
Onde solares e ilusão, fazendas, castelos, pastagens
Onde braceletes, carrões, piscinas azul-turquesa
Nada melhor de se mirar
Neste rico mundo — para uns.
Onde, para mim, é conjugar contigo o verbo AMAR,
MARTA,
E, os dois, incarnar as pessoas, os tempos e os modos deste verbo.
Em contente união.
Uns
Outros
Tenho dito a mim mesmo repetidas vezes:
"E foi para isso que tu, ó Poeta, ouviste os profetas
Do Oriente e os hinos dos Gregos
E ainda há pouco o roncar dos trovões, para colocares
O Espírito em uso servil e ultrapassares em escárnio
A presença do bom, e negares o simples,
Sem coração e em jogo mercenário
Tangê-lo como animal cativo?"
Tenho dito.
E foi para isso que aprendes de cor e salteado, que decoraste
Que gravaste no coração as baladas de Villon, o Vagabundo
E pregaste nas paredes as canções de amor de Safo?
Tenho dito.
Tenho dito e aqui repito.
Que sou nefelibata nato.
Que antanho me supus uma máscara inscrita:"GIGOLÔ DE BIBELÔS".
Que sempre serei surrupiador de souvenirs.
E é assim, Poeta, que te indefines?
Assim te desenrolas das peçonhas e as malha de lei não podem te
pescar.
Quem és, afinal?  A qual espécie de peixe pertences?
Um mero embaralhador de cartas.
Um mero embaralhador de cartas pousadas sobre o veludo da mesa
deste profuso cassino.


 ASSIM SE VAI AOS ASTROS

QUEM?
Quem é esse QUEM que dentro de mim fez ninho e é amigo
E é avião fora de rota ou corpo celeste doido essa ave
E me alevanta e seu bico aponta
Para as margens da exuberância?
D
e
s
ç
o
Em que região do mundo aportei?
Por ora aterrissado estou num chão batido
Vagabundeio
E a cana furada da minha flauta neutras palavras serpenteia
Elas se ouriçam imantáveis najas
Ao poder do chama-de-alçapão
Deste meu sopro
Sincopável
Agarrado a esta escada de éteres e guindado por algum Deus
Outrora amanhã agora intento sempre escalar os céus
Tateio quase descambo
Inda não vi nada, meu Deus, inda não vi nada
O que nos longes se vislumbra seta e alvo será meu talhado
desígnio?
Teimo em restar aqui no mirante deserto
Muezim mugindo à-toa
Mas já a luz se mostra demasiada duvidosa
Divulgado fogo-de-santelmo ou talvez vulto de miragem
Aquela língua de chama azulada
Com estrias de jade
Lambendo lastros e mastros dos navios?
Mesmo uma cidade inteira diviso exterior ao terreno plano da vista
Estampado TAO de porcelana chinesa
Oásis que mana oásis à só menção de palavra OÁSIS
E eu subo
Pela teia acima marinhando
Taliqual a aranha
D
e
s
ç
o
Subo
Subo ao som da vontade
Até que a dura tesoura ou a afiada cimitarra corte os fios
Sedas
Dos meus dias
SI ITUR AD ASTRA
 

 


 

DIMENSÃO. Revista Internacional de Poesia.  Ano XVIII  No. 27.  1998Editor:  Guido Bilharinho.  Uberaba, MG: 1998.  192 p.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda



CARTA ABERTA A JOHN ASHBERRY

 A memória é uma ilha de edição — um qualquer
passante diz, em um estilo nonchalant, 
e imediatamente apaga a tecla e também
o sentido do que queria dizer.

Esgotado o eu, resta o espanto do mundo
não ser levado junto de roldão.
Onde e como armazenar a cor de cada instante?
Que traço reter da translúcida aurora?
Incinerar  o  lenho  seco  das  amizades
esturricadas?
O perfume, acaso, daquela rosa desbotada?

A vida não é uma tela e jamais adquire
o significado estrito
que se deseja imprimir nela.
Tampouco é uma estória em que cada minúcia
encerra uma moral.
Ela é recheada de locais de desova, presuntos,
liquidações, queimas de arquivos,
divisões de capturas,
apagamentos de trechos, sumiços de originais,
grupos de extermínios e fotogramas estourados.
Que importa se as cinzas restam frias
ou se ainda ardem quentes
se não é selecionada uma alguma adequada,
seja grega seja bárbara,
para depositá-las?

Antes que o amanhã desabe aqui,
ainda hoje será esquecido o que traz
a marca d´água d´hoje.

Hienas aguardam na tocaia da moita enquanto
os cães de fila do tempo fazem um arquipélago
de fiapos do terno da memória.
Ilhotas. Imagens em farrapos dos dias findos.
Numerosas crateras ozonais.
Os laços de família tornados lapsos.
Oco e cárie e cava e prótese,
assim o mundo vai parindo o defunto
de sua sinopse.
Sem nenhuma explosão final.

Nulla dies sine linea. Nenhum dia sem um traço.
Um, sem nome e com vontade aguada,
ergue este lema como uma barragem
anti-entropia.

E os dias sucedem-se e é firmada a intenção
de transmudar todo o veneno e ferrugem
em pedaço de paraíso. Ou vice-versa.
Ao prazer do bel-prazer,
como quem aperta um botão de mesa
de uma ilha de edição
e  um  deus  irrompe  afinal  para  resgatar  o
humano
fardo.                                                           

                                                        1995


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Página publicada em abril de 2024

 

 

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Página ampliada e republicada em novembro de 2022

 

 


 

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