WALY SALOMÃO
SALOMÃO, Waly. Babilaques: alguns cristais clivados. Textos de Antonio Cícero, Armando Freitas Filho, Arnaldo Antunes, Arto Lindsay, Eric Pires, Luciano Figueiredo, Stephen Berg e Waly Salomão. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Kabuki Produções Culturais, 2007. 144 p. ilus. color, 195,x25,5 cm. ISBN 978-85-7740-025-6 Textos em português e inglês. Capa dura. “ Waly Salomão “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Eu quero uma outra língua. Eu quero outra.
Eu
crio outra. Walyngua. Eu desfaço refaço.
“Waly estabelece, com razão, um diferencial em relação à chamada poesia visual, categoria estanque e variante da arte conceitual, que tentava, na mesma década em que os Babilaques foram feitos, superar conflitos das vanguardas modernistas, por intermédio de desdobramentos em minimal art, performance art, body art, earth works e land art, entre outras manifestações.
CREIO QUE, PARA ENTENDER MAIS DETALHADAMENTE esse viés da obra de Waly Salomão, é preciso lembrar de alguns momentos de sua trajetória como poeta, entre os quais a formação no calor das vanguardas baianas no início dos anos 1960 e seus primeiros textos após a mudança para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Durante os anos em que viveu na Bahia, como estudante de direito e teatro, inserido no movimento político estudantil, Waly participou de excepcional período cultural e da modernização institucional das artes e ciências do país. De 1958 a 1964, as vanguardas, presentes nas artes plásticas, na música experimental, na dança, no teatro, no cinema, na museologia, na antropologia e na educação, não só formaram um núcleo de possibilidades de interação entre as artes, como também iniciaram uma experiência pioneira de descentralização cultural ante a força hegemónica do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Isso certamente marcou profundamente talentos formados na província, como Waly Salomão, servindo de base para a articulação de novas ideias e posições culturais, que, nos anos seguintes, enfrentariam o gravíssimo conflito social decorrente dos desafios de sobrevida da livre expressão, amplamente cerceada após a tomada do poder pelos militares.
Dito de outro modo, a partir de 1970, a vida cultural no Brasil se constitui de uma riquíssima e bastante complicada malha de valores, que, de maneira ambígua, limita e enriquece o legado das grandes realizações artísticas e ideológicas ocorridas nas décadas de 1950 e 1960. Essas realizações estiveram, quase uma a uma, diretamente ligadas ao balizamento das esquerdas políticas e culturais que lideraram, sobretudo na capital brasileira e nos estados vizinhos, as principais instituições culturais do país, entre as quais universidades, museus, jornais e editoras.
Um dos mais importantes exemplos desse balizamento foi o Movimento Neoconcreto (1959-1960), cujos artistas não eram, nem tinha sido militantes de esquerda, mas tiveram seu projeto apoiado e difundido pelo melhor das esquerdas culturais na época.
Esse apoio e difusão foram tão marcantes que, hoje, é válido indagar se o destino desses artistas teria sido o mesmo, se desacompanhado da participação, sem precedentes na história da imprensa brasileira, do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil.”
LUCIANO FIGUEIREDO
“CONHEÇO O RIO DE JANEIRO
COMO A PALMA DE MINHA MÃO
CUJOS TRAÇOS DESCONHEÇO”.
Fotografia de Bina Foniat (1992)
TORPEDO SUICIDA
Nova York, 1975
SANTO GRAÁLFICO,
esferográfica e hidrográfica sobre papel
Rio de Janeiro, 1977
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