Cartão postal antigo; bilhete postal – old postcard – tarjeta postalantigua –
Editor/publisher M. OROZCO, Rio de Janeiro circa 1904) |
RAYMUNDO CORREA
(1859-1911)
RAIMUNDO da Mota de Azevedo CORREA ( RAIMUNDO CORREIA ) , magistrado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris, França, em 13 de setembro de 1911.
Ver também outra página do poeta em: RAIMUNDO CORREIRA -Maranhão
Ver também>>> UM SONETO DE RAIMUNDO CORREIA por ALEXEI BUENO – ENSAIOS
“Doire a Poesia a escura realidade
E a mim encubra”!
RAIMUNDO CORREIA
MAL SECRETO
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N´alma e destróe cada illusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através a mascara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, comsigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisivel chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez, existe
Cuja ventura unica consiste,
Em parecer aos outros venturosa!
(Obs. Conservamos a ortografia original, tal como aparece no cartão).
Este exemplar faz parte de uma coleção de 16 “bilhetes postais” da coleção particular de Antonio Miranda registrada no texto Poesia em Cartão Postal Antigo.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EM ESPAÑOL
TEXTOS EN ITALIANO
POÈMES EN FRANÇAIS
TEXTS IN ENGLISH
POETS OF BRAZIL - A bilingual selection. POETAS DO BRASIL - uma seleção bilingüe. Trad. Frederick G. Williams. New York: Luso-Brazilian Books, 2004. 430 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Raimundo Correia was born just off the coast near São Luis, Brazil, on board a ship that was carrying his parents back to their home state of Maranhão. Always of delicate health, he nevertheless live a full and active life.
He graduated from law school in São Paulo in 1882 and was included in the campaign for the abolition of slavery and the establishment of the Republica. Early in his career, he was one of the teachers and the vice-president of a school. He also serve for a time as secretary of the diplomat legation in Lisbon, Portugal. Most of his professional life, however, was spent as a federal judge.
Although he was influenced by the work of Portuguese realist poet
Antero de Quental and by some later decadent-symbolist writers, Raimundo Correia was principally associated with an closely observant of the tenets of the Parnasian school of poetry. His themes were often pholosopshical, his poemas wer sometimes lengthys; and his language was always formals, correct, and precise.
TRISTEZA DE MOMO
Pela primeira vez, ímpias risadas
Susta em prantos o deus da zombaria;
Chora; e vingam-se dele, nesse dia,
Os silvanos e as ninfas ultrajadas.
Trovejam bocas mil escancaradas,
Rindo; arrombam-se os diques de alegria;
E estoura descomposta vozeria
Por toda a selva, e apupos se pedradas.
Fauno o indigita; a Náiade o caçoa;
Sátiros vis, da mais indigna laia,
Zombam. Não há quem dele se condoa!
E Eco propaga a formidável vaia,
Que além, por fundos boqueirões reboa
E, como um largo mar, rola e se espraia.
MUMMERY´S SADNESS
An impious laughter, for the first rings
Which to the god of mirth a teardrop brings;
He cries; revenge they take on him that day,
The nymphs and sylvans whom he did betray;
A thousand thunderous mouths are opened wide,
They laugh; the dickes have burst from joy´s abode;
With discomposure voices now explode
Throughout the glen, while jeers and rocks deride…
Fauna points; and Naiad mocks a bow;
Vile Satyrs, with a most disgusting sneer,
Poke fun. There´s no one who´ll defend him now!
Then Eco propagates the awesome jeer,
Which over vale, deep canyon, hilltop brow
Resounds, like rolling water, spreading cheer…
AS POMBAS…
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
THE DOVES...
The first awakened dove just flew away...
There goes another… others… dozens make
Their way leaving the roost, just as the break
Of down, blood red and fresh, a newborn day…
At evening, when the rigid northerlies
Are blowing, to their dovecotes they, serenely,
With wings aflutter, feathers ruffled preenly,
Return in bands and flocks to take their case…
Now likewise from the heart where they hold sway,
Our dreams fly swiftly, one by one, away,
As do the doves from roosts as each departs;
With young wings skyward spread, they make their way,
And fly… The doves return to roost each day,
But dreams do not come back into our hearts…
*
VEJA e LEIA outros poetas brasileiros em INGLÊS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_ingles/brazilian_poetry_index.html
Página publicada em maio de 2023
SER MOÇA E BELA SER
Ser moça e bela ser, por que é que lhe não basta?
Porque tudo o que tem de fresco e virgem gasta
E destrói? Porque atrás de uma vaga esperança
Fátua, aérea e fugaz, frenética se lança
A voar, a voar?...
Também a borboleta,
Mal rompe a ninfa, o estojo abrindo, ávida e inquieta,
As antenas agita, ensaia o vôo, adeja;
O finíssimo pó das asas espaneja;
Pouco habituada à luz, a luz logo a embriaga;
Bóia do sol na morna e rutilante vaga;
Em grandes doses bebe o azul; tonta, espairece
No éter; voa em redor, vai e vem; sobe e desce;
Torna a subir e torna a descer; e ora gira
Contra as correntes do ar, ora, incauta, se atira
Contra o tojo e os sarcais; nas puas lancinantes
Em pedaços faz logo às asas cintilantes;
Da tênue escama de ouro os resquícios mesquinhos
Presos lhe vão ficando à ponta dos espinhos;
Uma porção de si deixa por onde passa,
E, enquanto há vida ainda, esvoaça, esvoaça,
Como um leve papel solto à mercê do vento;
Pousa aqui, voa além, até vir o momento
Em que de todo, enfim, se rasga e dilacera.
ó borboleta, pára! ó mocidade, espera!
As Pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.
AS POMBAS, vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=wQqkeW3gmGI
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CORRêA, Raymundo. Poesias (Seleção portugueza). Prólogo de D. João da Camara. 3ª. edição correcta e augmentada. Lisboa Parceria Antonio Maria Pereira Livraria Editora, 1910. 224 p. 14x21 cm. capa dura - foto do poeta em frontispício. Col. A.M.
(conservando a ortografia original)
NUVEM BRANCA
Dizei-me: é ella a noiva casta e pura,
Que no alvor d'essa nuvem rutilante,
Passa agora ? Dizei-me, neste instante,
Turbilhões de translúcida brancura;
Collar, broches de pérolas e opalas;
Gaza que, em niveos floccos, por formosas,
Rijas pomas de mármore, ondulosas
Curvas e espáduas de marfim, resvalas. . .
Dizei-me, branca, virginal capella ;
Nitida espuma de nevadas rendas ;
Alvos botões de laranjeira ; prendas
Symbolicas do amor; dizei-me : é ella ?
E' ella a noiva ? E' mesto, ou prazenteiro,
Seu doce olhar ? Sorri alegre, ou chora,
Seu semblante gentil occulto agora
Do espesso véu no alvissimo nevoeiro ?
E' ella, sim! Su'alma, entre os fulgores
Das claras tochas cândidas e ardentes,
Nas cherubicas azas transparentes,
Voa, festiva, a um thalamo de flores...
Mysterios nupciaes, só vos devassa
Um louco amante! Ao seu olhar ancioso
Velaes debalde archanjo, o astro radioso
Que, dentro d'essa nuvem branca, passa...
PLENA NUDEZ
Eu amo os gregos typos de esculptura :
Pagans nuas no mármore entalhadas ;
Não essas producções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfeza las.
Quero em pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres ; da carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas ...
Não quero, a Vênus opulenta e bella
De luxuriantes formas, entrevel-a
Da transparente tunica atravez :
Quero vel-a, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus... toda nua, da cabeça aos pés !
CORRÊA, Raymundo. Poesias. 4ª edição. Rio de Janeiro: Annuario do Brasil; Lisboa: Seara Nova; Porto: Renascença Portuguesa, 1922. 318 p. 12,5x18,5 cm. Foto do poeta no frontispício. exemplar encadernado. Col. A.M.
ANOITECER
A Adelino Fontoura
ESBRAZEA o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de oiro e de purpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
Delineam-se, além, da serrania
Os vértices de chamma aureolados,
E em rudo, em torno, esbatem derramados
uns tons suaves de melancholia...
Um mundo de vapores no ar fluctua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra á proporção que a luz recua...
A natureza apathica esmaece...
Pouco a pouco, entre as arvores, a lua
Surge tremula, tremula... Anoitece.
RIMA
Imaginando mil coisas
Meditando sozinho
Até a madrugada
Isto tudo é tão contrário
Medo e coragem
Amor e ódio
Revolta e compreensão
Mas nada rima nesse mundo
Apenas eu e você restávamos
Resto do que o mundo já foi
Intensamente, imensamente, eternamente
Até mesmo nós sucumbimos
Reavaliamos nossa condição
Indiferentes, deixamos de rimar
Menos um casal no mundo
Agora ando sozinho
Meditando noite adentro
Imaginando e esquecendo mil e uma coisas
Rondando até a madrugada
Video com o poema “Rima” de Raimundo Correia:
http://www.youtube.com/watch?v=ff4R4zaIbqQ
AS POMBAS, vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=wQqkeW3gmGI
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de ÁNGEL CRESPO
publicada originalmente en la REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA,
n. 17 Junio 1966 – Editada por la Embajada del Brasil en Madrid, España.
LAS PALOMAS
La primera paloma despertada
Vase... otra más... luego outra... em fin decenas
Dejan los palomares, cuando apenas
Raya sanguinea y fresca la alborada...
Y cuando cae la tarde, maltratada
Del viento norte, al palomar, serenas,
Alas y plumas tremulando amenas,
Vuelven todas en bando y revelada...
También del corazón donde florecen,
Los sueños alzan vuelo y estremecen
Al aire como aquellas al volar;
Bogan por un azul de años floridos...
Mas las palomas vuelven a sus nidos
Y ellos al corazón no han de tornar..
PLENA DESNUDEZ
Amo los tipos griegos de escultura:
Desnudeces paganas cinceladas,
Y no las flores de la estufa oscura
De la moda, raquíticas y ajadas.
Quiero en pleno esplendor, vicio y frescura
Cuerpos desnudos; líneas onduladas
Libres: de carne exuberante y pura
Todas las prominencias destacadas...
No quiero a Vénus opulenta, hermosa,
Entrever, en su forma esplendorosa,
De transparente túnica a través:
Sin rubor quiero verla, sin asombros,
Dorso desnudo, senos nudos y hombros...
¡ Desnuda del cabello hasta los pies!
SER MOZA Y BELLA SER
Ser moza y bella ser ¿por qué eso no le basta?
¿ Por qué cuanto ella tiene de fresco y virgen gasta
Y destruye? ¿Por quê trás de vaga esperanza,
Fátua, aérea y fugaz, frenética se lanza
A volar, a volar?...
Tambíén la mariposa
Recién rota la ninfa, abre el estuche, airosa,
Las antenas agita, vuela y revolotea;
El finísimo polvo de las alas menea;
Poco hecha a la luz, la luz la embriaga luego;
Boya es dei sol en la ola de su entibiado fuego;
A grandes tragos bebe el azul; se distrae
En el éter; revuela, vá y viene, sube y cae,
Vuelve a subir y vuelve a caer; y ora gira
Contra el curso del aire, ora incauta se tira
Contra tojos y zarzas; y en las puntas hirientes
En pedazos deshace las alas relucíentes;
De la escamita de oro los átomos mezquinos
Se van quedando presos en Ias puas de espinos;
Una porción de sí deja por donde va
Y, mientras tiene vida, volotea y es ya
Cual un leve papel suelto a merced del viento;
Se posa aquí, va allá y vuela hasta el momento
En que dei todo, en fin, se rasga y dilacera...
¡ Oh mariposa, para! ¡ Oh juventud, espera!
LA ISLA Y EL MAR
En el mar solitario se yergue entre la bruma
Una isla aislada como un dorso de ballena,
Donde la ola, bramando, la blanca flor de espuma
Deshoja reventando en la luciente arena.
En la estéril quietud del piélago en el centro
La isla duerme... e hirviendo, rasgándola por dentro,
Orgullosa, arrullada por marítimo salmo,
Conquista el oceano su tierra palmo a palmo.
Sobre su faz revienta la oleada frecuente,
La arena diluyendo, derribando las fraguas,
Y por fin se sumerje la isla completamente
Bajo el frio envoltorio de ilimitadas aguas...
Tal del seno dei pueblo altivo se levanta
Como una isla maldita el trono del tirano,
Y, oprimido, bramando, va royendo su planta
El Pueblo en tomo suyo igual que un oceano.
Pero un día por fin, en la alborada, cuando
De pensamiento nuevo el globo irradiar ha,
La onda popular, tronos despedazando,
Ha de envolverlo todo, ¡ todo Pueblo será!
TEXTOS EN ITALIANO
Extraído de
MIRAGLIA, Tolentino. Piccola Antologia poetica brasiliana. Versioni. São Paulo: Livraria Nobel, 1955. 164 p.
LE COLOMBE
E se ne va la prima risvegliata,
Poi un'altra ed un'altra e, senza lena,
Dal colombaio, se, ne vanno, appena
Rosea e fresca vien la mattinata.
Quando, di sera, soffia la ventata,
La colomba, già placida e serena,
Quella, vivacità del volo affrena
E, con lo stormo, torna ristorata.
Pure dal cuor, ove nascon ridenti
I sogni, ad uno ad uno, se ne vanno,
Quali colombe al mattinai chiarore.
Spiccano il volo le ali adolescenti;
Al nido le colombe torneranno,
Ma non tornano i sogni al nostro cuore.
MAL SEGRETO
Se la colLera che ruge o il dolore!
Che c'è nell'alma e uccide ogni illusione;
Tutto quello che punge il nostro cuore
Nel volto ci mostrasse, l'impressione:
O di chi, dello spirito, il timore,
Attraverso la maschera frappone;
Qunta gente che invidia, per errore,
Ci causa, ci farebbe, compassione !
Quanita gente che ride o fa che gode,
Mentre ha con sè un nemicico che la rode,
Come una piaga occulta, cancerosa;
Quanta gente che ride forse esiste
La cui ventura unica consiste,
Nell'apparire agli altri venturosa !
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POÈMES EN FRANÇAIS
LES COLOMBES
La première, au réveil, prend son vol. Et d´instinct,
Une autre, puis une autre… Enfin, c´est par dizaines
Que les colombes fuient les colombiers, à peine
Le soleil brille-t-il, sang frais dans le matin.
Le soir, sur l´âpre vent du nord qui siffle e geint,
Les voilà de nouveau, les colombes sereines,
Dans l´ébouriffement, la vibration des pennes,
Rentrant toutes par bande en um vol souverain.
Ainsi s´enfuient du coeur — leur creche originelle —
Nos rêves, un par un, em preste ribambelle,
Comme du colombier ces oiseaux bien-aimés...
Au bleu de la jeunesse ouvrant leurs grandes ailes
Les colombes s´enfuient pour revenir, fidèles.
Mais les rêves, au coeur, ne reviendont jamais.
Trad. de LORRAINE, Bernard. Poèmes du Brésil choisis, traduits et présentés par Bernard Lorraine. Paris: Les Editions Ouvrières Dessain et Tolra, 1985.187 p. (Enfance Hereuse des paus du monde) 13x21,5 cm. Ex. Bibl. Nacional de Brasília.
Página ampliada e republicada em dezembro de 2008. ampliada e republicada em setembro de 2013, ampliada em dezembro de 2015. Ampliada em agosto de 2016.
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