Cartão postal antigo; bilhete postal – old postcard – tarjeta postalantigua –
Editor/publisher M. OROZCO, Rio de Janeiro circa 1904) |
MUNIZ BARRETO
Francisco MUNIZ BARRETO - Reputado o melhor poeta, repentista do Brasil. Nasceu
na vila de Jaguaripe, Bahia, a 10 de março de 1804, e faleceu em Salvador a 2 de junho
de 1868. Abraçou a carreira militar, chegando a segundo tenente, em cujo posto pediu demissão. Ocupou depois o lugar de escriturário da Alfândega da Bahia, aposentando-se em 1862.
CHRISTO NO GOLGOTHA
Ao martyrio da Cruz, de bens fecundo,
De Deus caminha o placido Cordeiro!
Em denso véu de trevas o luzeiro
Do dia se retrae com dó profundo.
Ao vozear do bando furibundo,
Treme do Golgotha o sagrado outeiro;
Dos rebatidos cravos do madeiro
Brotam faiscas, que dão luz ao mundo.
Alli, de sangue lagrimas vertendo,
Da Virgens a superna Magestade
Ao supplicio do Filho assiste horrendo!...
Cumprfe-se a pharisaica atrocidade:
Aos seus algozes o perdão dizendo,
Morre o Christo... e renasce a humanidade.
(Obs. Conservamos a ortografia original, tal como aparece no cartão).
Este exemplar faz parte de uma coleção de 16 “bilhetes postais” da coleção particular de Antonio Miranda registrada no texto Poesia em Cartão Postal Antigo.
ESQUECI-ME DE MIM, PENSANDO NELA
Urna noite, em que a lua em céu de estio,
Meiga e serena, prateava o mundo,
Para dar pasto à minha dor, no fundo
De um vale me entranhei, triste e sombrio.
De aves noturnas lamentoso pio
O tormento dobrava-me profundo;
Como de acinte, em murmurar jucundo,
Ali de amores me falava um rio.
Eis perto ouço um canto magoado...
Olho — era ele de gentil donzela —;
Mas, quando ia a seus pés prostrar-me, oh fado !...
Desdenhosa fugiu-me a ninfa bela...
E eu — desde esse instante infortunado —
Esqueci-me de mim, pensando nela.
VARÓN CADENA, Nielson. Festas populares da Bahia: Fé e folia. Salvador, Habnia: Edição do Autor, 2015. 304 p. Capa, projeto gráfico e ilustrações: Mauro Y. Barros. Ex. Bibl. Antonio Miranda
HINO DOS ZUAVOS BAIANOS
Autor: Francisco Moniz Barreto
Sou Crioulo da guerra, na crisma
Por Zuavo o meu nome troquei
Tenho sede de sangue inimigo
Por bebê-lo o meu sangue darei
D. Henrique Dias
Neto esforçado
Vou a teu brado
Pátria gentil
Mais que o da França
Ligeiro e bravo
Seja o Zuavo
Cá do Brasil
Para medo infundir
aos contrários
Tem meu rosto das trevas a cor
Para vidas crestar de tiranos
Tem meu peito do sol o ardor
Como penas as armas manejo,
Corro, como o veado, veloz
Quando estranhos me
assanham, me pisam
Sou jibóia, sou onça feroz
Contra a hiena cruenta do prata
Contra o monstro
voraz D' Assunção
Raio ardente há de
ser o meu braço
Minha voz temeroso trovão
Como a cor, que o
semblante me tinge
Tenho negra minha
alma, a raiuvar
Oh preciso da luz das vitórias
Para clara minha alma, tornar
Mata, rouba, incêndio, devasta
Corostiaga, covarde e cruel
Tu a pena, terás de teus crimes
Nós teremos, da glória o laurel
De Gonçalves, o
bravo de outrora
Nas refregas de meu Pirajá
Abradarme.que
morra. Oh triunfo
Dentro d'alma a
memória me está
Sou crioulo, Zuavo me chamo
De Zuavo, o apelido honrarei
Do meu ferro, nas lides vibrada
Paraguiaoseblancos tremei.
(*)FonteOAIabama,31deagostodel86A - Os Zuavos representavam o batalhão de soldados alistados na Guerra do Paraguai eque usava um figurino característico semelhante aos Argelinos.
SONETOS. v.2. Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d. 151 - 310 p. 16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 171 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses. Ex. bibl. Antonio Miranda
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SE NOS OLHOS DA BELA...
Se nos olhos da bela Eleonora
Não abrasasse o coração e a mente,
Poeta-rei da italiana gentel,
Tasso, o mártir do amor, certo não fora.
Se é fiel Catarina encantadora
Não votasse Camões amor ardente,
Não soara ainda hoje a tuba ingente
Das lusitanas glórias redentora.
Poeta, dar-te o cetro da harmonia
Só podem mago colo de alabastro,
Boca que te abra o céu, quando se ria.
Ama, qual amou Pedro a linda Castro;
Amor é lume santo da poesia,
Poeta sem amor é céu sem astro.
MORRE UMA FLORA NO PRADO...
Morre uma flor no prado; a ave nos ares
Ao tiro morre de arcabuz certeiro;
Morre do dia o esplêndido luzeiro,
Morrem as vagas nos quietos mares.
Morrem os gostos, morrem os pesares;
Morre oculto na terra o vil dinheiro;
D´encontro ao peito, que as apara inteiro,
Morrem as setas dos cruéis azares.
Morre a luz,; morre o amor; morre a beldade;
Na virgem morre a cândida inocência;
Morre a pompa, o poder; morre a amizade.
É da morte sinônimo a existência;
No mundo é só perene a sã verdade;
Só não morre a virtude, a inteligência.
LIVRO DOS POEMAS. LIVRO DOS SONETOS. LIVRO DO CORPO. LIVRO DOS DESAFOROS. LIVRO DAS CORTESÃES. LIVRO DOS BICHOS.. Org. Sergio Faraco. Porto Alegre: L.P. & M., 2009. 624 p ISBN 978-85-254-1839-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
O presente poema está incluído na seção do Livro dos desaforos.
BAHIA
À religião, às leis nenhum respeito;
ufano o vício, o mérito escondido;
favoneado o crime, e não punido;
muitas sociedades sem proveito.
para cabalas cada vez mais jeito;
em juiz qualquer zote convertido;
austero e violento o corrompido
nos mais notando o mínimo defeito;
por aqui, por ali, casas roubadas;
carne muito barata em teoria;
todas as coisas úteis malparadas;
ruim prosa nos jornais, ruim poesia;
francesas contradanças já cansadas:
"eis aqui a cidade da Bahia."*
*Remissão no último verso do soneto em que
Gregório de Matos escarnece da mesma cidade.
*
VEJA e LEIA outros poetas da BAHIA em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/portugal/portugal.html
Página publicada em agosto de 2022
Página ampliada em dezembro de 2019 |