MACHADO DE ASSIS
(1839-1908)
Joaquim Maria Machado de Assis nasce a 21 de junho de 1839 na cidade do Rio de Janeiro. Autor dos mais notáveis romances escritos em língua portuguesa no Brasil, entre as quais se destacam os clássicos A mão e a luva, Dom Casmurro, Memorial de Aires, Memória Póstuma de Brás Cubas e Quincas Borba. Suas Poesias Completas saem em 1901.
“Beirávamos o abismo, ambos teimando que
era um reflexo da cúpula celeste.”
MACHADO DE ASSIS
Leia também: SONETO DE NATAL, de Machado de Assis, poema visual.
Veja também: POEMS IN PORTUGUESE & ENGLISH
TEXTOS EN ITALIANO
POÈMES EN FRANÇAIS
EN ESPAÑOL
Versos de Machado de Assis em um muro do bairro
Cruzeiro Novo, em Brasília, DF (2015)
De
Machado de Assis
AMERICANAS
Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875. 210 p.
OS SEMEADORES
(SÉCULO XVI)
Eis ahi sahiu o que semea a semear.
MATH. XIII, 3
Vós os que hoje colheis, por esses campos largos,
O doce fructo e a flor,
Acaso esquecereis os asperos e amargos
Tempos do semeador?
Rude era o chão; agreste e longo aquelle dia:
Contudo, esse heroes
Souberam resistir na afanosa porfia
Aos temporaes e aos soes.
Poucos; mas a vontade os pouco multiplica,
E a fé, e as orações
Fizeram transforma a terra pobre em rica
E os centos em milhões
Nem somente o labor, mas o perigo, a fome,
O frio, a descalcez,
O morrer cada dia uma morte sem nome,
O morrel-a, talvez.
Entre barbaras mãos, como se fôra crime,
Como se fôra reu
Quem lhe ensinára aquella acção pura e sublime
De as levanta ao ceu!
O´ Paulus do sertão ! Que dia e que batalha !
Vencestel-a; e podeis
Entre as dobras dormir da secular mortalha;
Vivereis, vivereis!
MUSA CONSOLATRIX
Que a mão do tempo e o hálito dos homens
Murchem a flor das ilusões da vida,
Musa consoladora,
É no teu seio amigo e sossegado
Que o poeta respira o suave sono.
Não há, não há contigo,
Nem dor aguda, nem sombrios ermos;
Da tua voz os namorados cantos
Enchem, povoam tudo
De íntima paz, de vida e de conforto.
Ante esta voz que as dores adormece,
E muda o agudo espinho em flor cheirosa,
Que vales tu, desilusão dos homens?
Tu que podes, ó tempo?
A alma triste do poeta sobrenada
À enchente das angústias,
E. afrontando o rugido da tormenta,
Passa cantando, alcíone divina.
Musa consoladora,
Quando da minha fronte de mancebo
A última ilusão cair, bem como
Folha amarela e seca
Que ao chão atira a viração do outono,
Ah! No teu seio amigo
Acolhe-me, — e haverá minha alma aflita,
Em vez de algumas ilusões que teve,
A paz,o último bem, último e puro!
O DESFECHO
Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.
Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
Uns cingidos de luz, outros ensangüentados ...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.
Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.
Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabar o suplício e acabara o homem.
UMA CRIATURA
Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
Com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as suas forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.
SABINA
Sabina era mucama da fazenda;
Vinte anos tinha; e na província toda
Não havia mestiça mais à moda
Com suas roupas de cambraia e renda.
Cativa, não entrava na senzala,
Nem tinha mãos para o trabalho rude;
Desabrochava-lhe a sua juventude
Entre carinhos e afeições de sala.
Era cria da casa. A sinhá moça,
Que com ela brincou sendo menina,
Sobre todas amava esta Sabina,
Com esse ingênuo e puro amor da roça.
Dizem que à noite, a suspirar na cama,
Pensa nela o feitor; dizem que, um dia
Um hóspede que ali passado havia
Pôs um cordão no colo da mucama.
Mas que vale uma jóia no pescoço?
Não pôde haver o coração da bela.
Se alguém lhe acende os olhos de gazela,
É pessoa maior: é o senhor moço.
(...)
Página republicada em março de 2008
Metadados: Poesia negra; Negro na Poesia. Escravatura.
Recomendamos a leitura da obra: ASSIS, MACHADO DE, 1839-1908. MELHORES POEMAS/ MACHADO DE ASSIS; seleção de Alexei Bueno. São Paulo: Global, 2000. 153 p. (Os melhores poemas; 39) com uma excelente introdução do selecionador Alexei Bueno.
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De
Andrey do Amaral
O MÁXIMO E AS MÁXIMAS DE
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2008
ISBN 978-85-7393-719-0
A PALMEIRA
Ó palmeira, eu te saúdo,
Ó tronco valente e mudo,
Da natureza expressão!
Aqui te venho ofertar
Triste canto, que soltar
Vai meu triste coração.
Sim, bem triste, que pendida
Tenho a fonte amortecida,
Do pesar acabrunhada!
Sofro os rigores da sorte,
Das desgraças a mais forte
Nessa vida amargurada!
Extraído de: AMARAL, Andrey do. O máximo e as máximas de Machado de Assis (Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2008)
Nota, oficialmente, esta é primeira poesia conhecida de Machado de Assis, de 15 de janeiro de 1855, mas descobriu-se poema anterior do poeta e romancista Machado de Assis, publicado em 1854 em jornal. É o soneto seguinte, sem título:
À Ilma. Sra. D. P. J. A
Quem pode em um momento descrever
Tantas virtudes de que sois dotada
Que fazem dos viventes ser amada
Que mesmo em vida faz de amor morrer!
O gênio que vos faz enobrecer,
Virtude e graças de que sois c’roada;
Vos fazem do esposo ser amada –
(Quanto é doce no mundo tal viver!)
A natureza nessa obra primorosa
Obra que dentre todas mais, brilha
Ostenta-se brilhante e majestosa!
Extraído de: AMARAL, Andrey do. O máximo e as máximas de Machado de Assis (Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2008)
O VERME
Existe uma flor que encerra
Celeste orvalho e perfume.
Plantou-a em fecunda terra
Mão benéfica de um nume.
Um verme asqueroso e feio,
Gerado em lodo mortal,
Busca esta flor virginal
E vai dormir-lhe no seio.
Morde, sangra, rasga e mina,
Suga-lhe a vida e o alento;
A flor o cálix inclina;
As folhas, leva-as o vento,
Depois, me resta o perfume
Nos ares da solidão...
Esta flor é o coração,
Aquele verme o ciúme.
UMA CRIATURA
Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois essa criatura está em toda obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a vida.
SONETO DE NATAL
Um homem, – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço Nazareno, –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
J. M. M. Assis
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A mosca azul
Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão.
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada.
Em certa noite de verão.
E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua — melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol.
Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
— "Mosca, esse refulgir, que mais parece um sonho,
Dize, quem foi que te ensinou?"
Então ela, voando e revoando, disse:
— "Eu sou a vida, eu sou a flor
Das graças, o padrão da eterna meninice,
E mais a glória, e mais o amor".
E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo
E tranqüilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslembrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.
Entre as asas do inseto a voltear no espaço,
Uma coisa me pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço,
Eu vi um rosto que era o seu.
Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo nu
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de Vixnu.
Cem mulheres em flor, cem nairas superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo as suas graças finas,
E todo o amor que têm lhe dão.
Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios.
Voluptuosamente nus.
Vinha a glória depois; — quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e os parabéns unidos
Das coroas ocidentais.
Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpos os corações.
Então ele, estendendo a mão calosa e tosca.
Afeita a só carpintejar,
Com um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.
Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.
Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.
Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela,
Rota, baça, nojenta, vil
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.
Hoje quando ele aí cai, de áloe e cardamomo
Na cabeça, com ar taful
Dizem que ensandeceu e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul.
“Beirávamos o abismo, ambos teimando que
era um reflexo da cúpula celeste.”
MACHADO DE ASSIS
ANTOLOGÍA DE POETAS AMERICANOS congregados por Ernesto Morales. México, D.F.: Editora Latino Americana, s.d.
830 p. encadernado. Ex. bibl. de Antonio Miranda
TRADUCCIÓN AL ESPAÑOL por Ernesto Morales:
SUAVE MARI-MAGNO
Recuerdo que cierto día,
vi bajo el sol estival,
muriéndose envenenado
un pobre can.
Agonizando, ululaba
como un espúreo bufón,
vientre y piernas sacudía
la convulsión.
Y todos los que pasaban
se detenían a ver…
Como si les diese gozo
ver padecer.
EN ESPAÑOL
A Carolina
Soneto de Machado de Assis
Tradução de Pedro Sevylla de Juana
Querida, al pie del lecho postrero
En que descansas de esa larga vida,
Aquí vengo y vendré, pobre querida,
A traerte el corazón del compañero.
Le impulsa aquel afecto verdadero
Que, a despecho de toda liza humana,
Hizo nuestra existencia la anhelada
Y en un refugio puso un mundo entero.
Te traigo flores, – restos arrancados
De la tierra que nos vio pasar unidos
y ahora muertos nos deja y separados.
Que yo, si tengo en los ojos malheridos
Pensamientos de vida formulados,
Son pensamientos idos y vividos.
Traducido por PSdeJ, El Escorial 30 de marzo de 2017
Carolina
Soneto de Machado de Assis
Tradução de Pedro Sevylla de Juana
Minha querida, ao pé do leito recuado
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Impulsiona-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda liza humana,
Fez a nossa existência a almejada
E num abrigo pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da Terra que nos viu passar unidos
E agora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos feridos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introd., traducción y notas de Jaime Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983. 254 p Ex. bibl. Antonio Miranda
UNA CRIATURA
Sé de una criatura antigua y formidable.
Que se devora los miembros y las estrañas
Con la gula perenne de su hambre insaciable.
Habita por igual en valles y montañas
Y en el mar que se rasga a manera de abismo
Y se distiende en convulsiones extrañas
Trae impreso en la frente obsceno despotismo
Cada mirar que lanza, acerbo y generoso.
Parece una expansión de amor y de egoísmo.
Friamente contempla el desespero, el gozo;
Gusta del colibrí, gusta de la lombriz.
Y ciñe al corazón lo bello y lo monstruoso.
Son para ella inermes el chacal, la perdiz;
Y pasa por la tierra imperturbable, duro.
Cual vasto paquidermo sobre la arena gris.
En el árbol que nace va previendo el futuro.
Ve la hoja que lenta su forma final cobra.
Luego la flor, y aspira hasta el aromo puro.
Esta criatura siempre está en toda obra:
Despetala la flor le corrompe el fruto
Y para destruir tiene fuerza de sobra.
Por igual ama lo polutos y lo impoluto;
Comienza y recomienza la lid, lucha perdida.
Y sonriendo obedece al divino estatuto.
Tu dirás que es la Muerte: yo diré que es la Vida.
LA MOSCA AZUL
Era una mosca azul, alas de oro y granada,
De origen chino o indostano.
Que brotó entre las hojas de una rosa encarnada,
En cierta noche de verano.
Y zumbaba y volaba, y volaba y zumbaba
Refulgiendo a la luz del sol
Y de la luna — más bello no relumbraba
Un diamante del Gran Mogol.
Un paria que la vio, espantado y cenceño,
Este paria le preguntó:
— "Mosca, ese refulgir, que más parece un sueño,
Di: ¿quién fue quien te lo enseñó?"
Volando y revolando ella le dice, tierna:
—"Yo soy la vida, soy la flor
De la gracia, el modelo de la infancia etern,
Y de la gloria del amor".
Y se quedó entonces mirándola, callado
Y tranquilo, como un faquir.
Como alguien que estuviera ya de todo olvidado,
Sin comparar, sin inquirir.
Entre las frías alas girando en el espacio,
Una cosa le pareció
Que surgía con todo el brillo de un palacio,
Y su propia figura vio.
El rey de Cachemira era él. Deslumbrante
Ostentaba en el cuello arqueado
Un gran collar de ópalo y un precioso diamante
Del cuerpo de Vichnú, arrancado.
Cien mujeres en flor, cien doncellas divinas,
A sus pies tendidas están,
Exhibiendo sonrientes todas sus gracias finas
Y cuanto amor tienen, le dan.
Mudos, graves, erguidos, cien etíopes morenos
Cien gigantes de brazos rudos,
Con plumas abanican los aromados senos
Voluptuosamente desnudos.
Venía la gloria luego: — quinde reyes vencidos.
Después los tributos triunfales.
De trescientas naciones, parabienes unidos
De monarcas occidentales.
Mas lo mejor de todo es que en el rostro abierto
De mujeres y de varones,
Como en agua que deja el fondo descubierto
Limpio, veía los corazones.
Entonces, extendiendo la mano burda y tosca,
Habituada a ruda labor,
Capturó de un golpe la fulgurante mosca
Para examinarla mejor.
Quiso verla, saber la causa del misterio.
Guardada en l amano, sonrió
De contento, al pensar que allí tenía un imperio,
Y para casa se marchó.
Alborozado llega, examina, y parece
Dedicarse en su ocupación
Tan minuciosa como un hombre que quisiese
Disecar su propia ilusión.
Disécola a tal punto, y con tal arte, que ella,
Rota, sin brillo, exhausta, vil,
Sucumbió, y con esto desvanecióse aquella
Visión fantástica y sutil.
Hoy, cuando pasa, triste, cargado de maderas
Y con su aire gandul,
Dicen que enloqueció, y no sabe siquiera
Como perdió su mosca azul.
|
Imagem extraída de
DIAS-PINO, Wlademir. A lisa escolha do carinho (Rio de Janeiro: Edição Europa, s.d.
20,5x20,5 cm. 33 f. ilustradas (Coleção Enciclopédia Visual). Inclui versos de
poetas brasileiros
HADAD, Jamil Almansur, org. História poética do Brasil. Seleção e introdução de Jamil Almansur Hadad. Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio Abramo. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943. 443 p. ilus. p&b “História do Brasil narrada pelos poetas.
HISTORIA DO BRASIL – POEMAS
ROMANTISMO
NÊNIA DA VIRGEM INDIANA À MORTE
DE GONÇALVES DIAS
Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!
Virgens da mata, suspirai comigo!
A grande água o levou como invejosa.
Nenhum pé trilhará seu derradeiro
Fúnebre leito; ele repousa eterno
Em sítio onde nem olhos de valentes,
Nem mãos de virgens poderão tocar-lhe
Os frios restos. Sabiá da praia
De longe o saudará saudoso e meigo,
Sem que ele venha repetir-lhe o canto.
Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!#
Virgens da mata, suspirai comigo!
Ele houvera do Ibaque o dom supremo
De modelar nas vozes a ternura,
A cólera, o valor, tristeza e mágua,
E repetir aos namorados ecos
Sobre a margem das águas escondidas,
Virgem nenhuma suspirou mais terna,
Nem mais válida a voz ergue na taba,
Suas nobres ações cantando aos ventos,
O guerreiro tamoio. Doce e forte,
Brotava-lhe do peito a alma divina.
Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!
Virgens da mata, suspirai comigo!
Moema, a doce amada de Itajuba,
Moema não morreu; a folha agreste,
Pode em ramas ornar-lhe a sepultura,
E triste o vento suspirar-lhe em torno;
Ela perdura, a virgem dos Timbiras,
Ela vive entre nós. Airosa e linda,
Sua nobre figura adorna as festas
ET enflora os sonhos dos valentes. Ele,
o famoso cantor, quebrou da morte
O eterno jogo; e a filha da floresta
Há-de a história guardar das velhas tabas
Inda depois das últimas ruínas.
Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!#
Virgens da mata, suspirai comigo!
O piaga, que foge a estranhos olhos,
E vive e morre na floresta escura,
Repita o nome do cantor; nas águas
Que o rio leva ao mar, mande-lhe ao menos
Uma sentida lágrima arrancada
Do coração que ele tocara outrora,
Quando o ouviu palpitar sereno e puro,
E na voz celebrou de eternos carmes.
Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!
Virgens da mata, suspirai comigo.
(POESIAS – Edição Jackson – 1939).
*
[ JOSÉ Martiniano DE ALENCAR (Fortaleza, no bairro Messejana,
1 de maio de 1829 — Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877 ]
ALENCAR
Hão de os anos volver — não como as neves
De alheios climas, de geladas cores;
Hão de os anos volver, mas como as flores,
Sobre o teu nome, vívidos e leves...
Tu, cearense musa, que os amores
Meigos e tristes, rústicos e breves,
Da indiana escreveste, — ora aos escreves
No volume dos pátrios esplendores.
E ao tornar este sol, que te há levado,
Já não acha a tristeza. Extinto é o dia
Da nossa dor, do nosso amargo espanto.
Porque o tempo implacável e pausado,
Que o homem consumiu na terra fria,
Não consumiu o engenho, a flor, o encanto.
(Obra citada)
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. A Carolina. Rio de Janeiro: Livraria São José – Philobiblion, 1957. Ilustração de Manoel Segalá
Fonte das imagens:
VANGUARDAS BRASIL & PORTUGAL. Rio de Janeiro: Susanne Bach – Books from Brazil and Lusos-Africa , 2020. 224 p. ilus. col.
PUJOL, Hypolyte. Anthologie Poètes Brésiliens. Preface de M. de Oliverira Lima. S. Paulo: 1912. 223 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
FILLETE ET JEUNE FILLE
Annette est à cette inquiet, incertain,
Qui n´est point le jour clair mais est déjà l´aurore,
Un bouton entr´ouvert, le réveil du matin,
Un reste de filletee, um peu de femme encore.
Circonspecte parfois et parfois étourdie,
Son même geste est de malice et de pudeur.
D´enfant elle a parfois l´innocente folie,
De jeune fille aussi parfois l´air tout rêveur.
Lorsqu´au bal, em valsant, se seins naissants palpitent,
Est-ce bien de fatigue ou bien d´émotion?
Est-ce pour um baiser que ses lèvres s´agitent,
Est-ce pour réciter tout bas une oraison?
Parfois du catéchisme ele lit la doctrine,
Et recite parfois des poèmes d´amour,
En baisant sa poupée et même as cousine,
Ses yeux vont au cousin que sourit à son tour.
Au souffle caressant des brises amoureses,
Quand Annette se met à courir follement,
D´um bel ange on dirait les ailes radieuses,
Un houri fuyant, la chevelure au vent.
Lorsque dans le salon par hazard elle passe,
Imperceptiblement, comme sans le vouloir,
Elle a soin de jeter un coup d´oieil sur la glace,
Sur sa robe d´azur consultant le miroir.
Attendant le sommeil l´innocente fillette,
Passe un instant à lire, au bord de l´oreiller,
Un roman dans lequel la dame à notre Annette
Enseigne à conjuguer l´éternel verbe aimer.
Lorsque, sons ses rideaux couleur de rose et neige
Elle rêve en dormant, en toute sa candeue
Elle redit tout haut la leçon du collège,
L´orchestre en ses accents la remplit d´allégresses;
Entran tau bal, elle est la reine du bon ton;
La modiste de goût compense la maîtresse:
Respectant la Geslin, elle adore Dazon.
L´étude pour Ansnette est une rude peine;
Mais elle, en vérité, ne se lasse jamais
De conjuguer fort bien sans même pendre haleine,
I love, en sourianta au professeur d´anglais.
Combien de fois, fixant ses beaux yeux dans l´espace,
Elle poursuit un rêve entoué de clarté,
Reprimant, à l´aspect d´une image que pase,
Les battements secrets de son coeur agité!
Oh! Ssi dans ce momento où son âme est ravie,
Tu tombais à ses pieds por lui parler d´amour,
Elle se mouquerait de ta pauvre folie
Aliant tout raconter à maman, sans détour.
Vraiment d´on saurait de se coeur, de cette âme
Adorable expliquer le mystère étonnant:
On recherche l´enfanta et l´on trouve la Femme,
On rechercher la emme et l´on trouve l´enfant.
LE VER
Je connais une fleur, une fleur que recèle
Une fraîche rosée, un parfum des plus doux.
Le bon Dieu la planta de sa main paternelle
Dans une terrain fécond, avec un soin jaloux.
Un ver s´aspect hideux, ver repoussant et sale,
Engendré dans le sein d´un noir limon impur,
Se traîne jusqu´au pied de la fleur virginale,
Et s´endort tout au fond de son sein frais et pur.
Dans ce lit usurpé, le ver déchire, mine,
Suce le sang, la sève à l´innocente fleur
Dont le front pen à peu à peu se flétrit et s´incline,
Et la tige a perdu sa première vigueur.
Ses feuilles, son parfum, toute sa poésie
S´envolent en un jour sur les ailes des vents:
Cette fleur, c´est le couer; ce ver, la jalousie,
Le ver rongeur, poison et fléau des amants.
LEJOUR DES MORTS
Des épitaphes! Dieu! Quelle variété!
Ou filles de l´amour ou de la vanité,
Mais toures du mensonge. Incosalable! Style
Que sur tour les tombeaux la sosttise burile…
Inconsolabe! Quoi! non, non, il n´en est rien;
Bientôt l´on se console, et l´on ne se souvient
De celui qui s´en va que le temps nécessaire;
La douleur cesse avec celui que lón enterre.
Example: — Un tel est mort; au pied de son cercueil.
Les beaux yeux, gros de pleurs, de son épouse en deuil.
Hélas! se sontg adieux de veuve inconsolable
Elle fait ses adieux de veuve inconsolable
Au monde; au monde entier elle fait le serment
De rejoindre l´époux… (après l´enterrement).
Mais, au sixième jour entre la conturière…
C´est la robe de deuil… Por sa moitié si chère
La veuve doit demain, au temple de Seigneur,
Assistir à la messe. Et la vive douleur
Éteint presqje as voix: “Je veux la robe en pointe…
Hélas! mon cher mari! Mon Dieu! Quelle contrainte
Pour essayr ma robe!... Ah! fille, laisse voir…
Quel mauvais merinos! Donne-moi le miroir…”
Douze jours sont passés… Le temps sèche le larmes…
Le gentil tour d´esprit d´un garçon plein de charmes
Provoque un jour en elle un sourire éloquent…
Le lendamain on dit (tous en font le serment)
Qu´il y a candidat à la place vacante
Du cher mari défunt…
La semaine suivante
Elle était mariée.
Et l´on peut toutefois
Sur la dale funèbre, au-dessous de la croix,
Lire en style moderne une étiquette aimable:
Souvenir éternel! Ta veuve inconsolable!
UNE CRÈATURE
Il es tune puissance Antique et formidable,
Créature que se rapaît, — festin sanglant! —
Dans don avidité toujours insatiable,
De ses entrailles, de ses miembro palpitants,
Elle habite à la fois les monts et les vallées;
Elle remplit des mers les abîmes profonds,
Et de la terrea au sein des régions étoilées
Elle s´étire toute en longues convulsions.
Sur son front est grave d´un sombre despotisme
Le signal fatidique, et de chaque regard
S´échappant de ses yeux l´amour on l´égoisme
Universellement s´épand en tout part.
Elle contemple, dans sa froide indifference,
Sans jamais s´émouvoir, défilant tour à tour
Le désespoir et la supreme jouissance…
Dans son coeur elle accueille et la haine et l´amour.
On la voit protégeant tour à tour, sous son aile,
Le charmant colibri comme un immonde ver,
Le chacal ainsi que la douce tourterelle…
Elle aime le printemps comme elle aime l´hiver.
Sur la terreo n la voit, sereine, imperturbable,
Tellle qu´un pachyderme avançant lentament
Sur une grève d´or, sur une mer de sable,
Où rien ne vient troubler son air indifférent.
Sur le jeune arbre où la premier bouton bourgeonne
La feuille pousse et se dédouble peu à peu:
Vient ensuite la fleur que le soleil d´automne
Féconde en un beau fruit mùri par le bon Dieu.
Eh bien, nous retrouvons partour dans la nature,
Au sie hâlé des fleurs, dans le fruits corrompus,
La fatigue main de cette créature
Qui de destruction se nourrit de plus en plus.
Aimant d´égal amour le pur, la vilenie,
Elle quitte et reprend un éternel effort.
“C´est la mort, direz-vous; moi, je dis: c´est la vie;
C´est la vie à grandir aux dépens de la mort!”!
CERCLE VIEUX
Un ver luisant mutin, vif, dansant dans l´espace:
“De cette blonde étoile eussé-je la splendeur,
Ainsi qu´elle brillant d´éternelle lueur!”
Mais l´étoile jalouse á la lune qui pase:
“De tes rayons d´argent puissé-je, fortunée,
Avoir la transparence et toute la douceur
Que du balcon gothique, aux élans de son coeur,
Contemple en soupirant une amante adorée!”
Mais d´un regard jaloux, la lune s´adressant
Au soleil: “Je voudrais, bel astre éblouissant,
Être à mon tour foyer d´éternelle lumière.”
Le soleil inclinant son front tout radieux:
“Puissés-je dépouiller l´auréole de dieux!
D´un simple ver luissant que ne suis-je le frère!”
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Página publicada em março de 2023
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Página ampliada e republicada em janeiro de 2023.
Página ampliada em novembro de 2021
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Página ampliada em outubro de 2021
Página ampliada e republicada em setembro de 2008; ampliada e republicada em julho de 2016, ampliada em junho de 2018.
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