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Retrato por Portinari
TEXTO EM PORTUGUÊS - TEXT IN ENGLISH
Embora egresso do Modernismo de 1922, Dante Milano é, na verdade, anterior ao movimento modernista, do qual participou á distancia e ao qual, efetivamente, jamais se filiou nem durante nem depois da festiva e turbulenta década de 1920. Não há dúvida de que apoiou o movimento, pois nele via, como todos os artistas da época, um caminho de libertação estética. A rigor, entretanto, o Modernismo pouco ou nada teria a oferecer-lhe em termos de subsídio literário ou de plataforma estética. E mais: á época da agitação modernista, o poeta Dante Milano já estava pronto, infenso, portanto, a quaisquer aquisições mais profundas e radicais do ponto de vista formal, ainda que aberto e sensível às conquistas expressionais do movimento. (...)Dante Milano cultiva uma poética do pensamento emocionado, como o fizeram os chamados “poetas metafísicos” ingleses do século XVII, o que não significa que sua expressão haja renunciado à emoção. Quem nele sente, porém, é o pensamento. IVAN JUNQUEIRA
“Exemplo singularmente raro em nossas letras, parece o poeta escrever seus versos naquele indefinível momento em que o pensamento se faz emoção” MANUEL BANDEIRA
MILANO, Dante. Poesias. Petrópolis, RJ: Editora Firmo, 1994. 192 p. (Coleção “Pedra Mágica” vol. 1) 14x21 cm. Sobrecapa em papel manteiga por Conceição Passos. “Orelha” do livro por Fernando Py. Inclui fotografias do acervo particular de Alda Milano. “Dante Milano”. Ex. bibl. Antonio Miranda
AO TEMPO
Tempo, vais para trás ou para diante? O passado carrega a minha vida Para trás e eu de mim fiquei distante,
Ou existir é urna continua ida E eu me persigo nunca me alcançando? A hora da despedida é a da partida
A um tempo aproximando e distanciando... Sem saber de onde vens e aonde irás, Andando andando andando andando andando
Tempo, vais para diante ou para trás?
DESCOBRIMENTO DA POESÍA
Quero escrever sem pensar. Que um verso consolador Venha vindo impressentido Como o princípio do amor.
Quero escrever sem saber, Sem saber o que dizer, Quero escrever urna coisa Que não se possa entender,
Mas que tenha um ar de graça, De pureza, de inocência, De doçura na desgraça, De descanso na inconsciência.
Sinto que a arte já me cansa E só me resta a esperança De me esquecer do que sou E tornar a ser criança.
IMAGEM
Urna coisa branca, Eis o meu desejo.
Urna coisa branca De carne, de luz,
Talvez uma pedra, Talvez uma testa,
Uma coisa branca. Doce e profunda,
Nesta noite funda, Fria e sem Deus.
Uma coisa branca, Eis o meu desejo,
Que eu quero beijar, Que eu quero abraçar,
Urna coisa branca Para me encostar
E afundar o rosto. Talvez um seio,
Talvez um ventre, Talvez um braço,
Onde repousar. Eis o meu desejo,
Uma coisa branca Bem junto de mim,
Para me sumir, Para me esquecer,
Nesta noite funda, Fria e sem Deus.
PAISAGEM
Talvez um fauno de expressão selvagem Atormentado de uma dor lasciva Por um aroma que passou na aragem, Uma ninfa cor de água fugitiva. Mais do que na memória evocativa Esses seres existem na paisagem. Algum fauno de outrora ainda se esgueira Entre sombras e troncos, à procura De uma nudez, e olha, tateia, cheira Um vestígio de carne, sonho e alma... Que desejos cruéis, quanta tortura Nesta paisagem luminosa e calma.
SEPARAÇÃO
Onde andarás sem mim nessas ruas enormes? Quem te acompanha? Quem contigo ri? Sob as mesmas cobertas com quem dorme Quem te ama senão eu? Quem pensa em ti?
Vagas sem ter aonde ir e sem saber O que fazer, ou sem prazer nenhum Em mãos alheias como um bem comum A outro te entregas sem lhe pertencer.
Estou pensando em ti... Pensar é estar sozinho...
O HOMEM E A SUA PAISAGEM
Toda paisagem tem um ar de sonho. Vejo o tempo parado, inutilmente. Tudo é menos real do que suponho.
Interrompi teu sonho, natureza. Diante de um ser humano, de repente Apareces tomada de surpresa.
No espaço que me cerca estou suspenso. Em redor um olhar pasmado e mudo E no ar a ameaça do silêncio denso.
Em todo sonho existe um extasiado Olhar adormecido que vê tudo... Senhor, eu sou o objeto contemplado
EL HOMBRE Y SU PAISAJE Hay en el aire un cierto devaneo. Siento el tiempo parado, inútilmente. Todo es menos real que lo que veo.
Tu sueño interrumpí, naturaleza. Puesta ante un ser humano, de repente Apareces tomada de sorpresa.
En cuanto me rodea estoy suspenso. Veo en torno un mirar pasmado y mudo la amenaza del silencio denso.
En cada sueño existe un extasiado Ojo que duerme y a todo ve desnudo... Señor, soy yo el objeto contemplado.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista da Biblioteca Nacional do RJ. Ano 1 – Número 1 – Janeiro 1993. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro. ISSN 0104-0626 Ex. col. Antonio Miranda
PASSAGEM DO POEMA
O olhar no escuro,
Meu corpo parado, entanto corro livre pelos descampados.
Não fujas da vida, espírito!
Apagadas visões
A poesia me leva a perdidos caminhos
O verso é feito do ar que se respira.
Correi, correi, ó versos sem palavras...
PRINCÍPIO DA NOITE
Eu ia em mim perdido, em mim pensando.
Eu sentia a tristeza dos felizes
Em que altura ela estava!
Tudo é exílio.
FORMA
Envolvente sentimento,
Tirado o vestido aéreo,
Mulher de orlas misteriosas,
O ventre em remanso de onda
Ó pedra atirada n´água,
O BECO
No beco escuro e noturno
Esgueirando-se, soturno,
Afasta-se, taciturno.
TEXTO EM PORTUGUÊS - TEXT IN ENGLISH
AN INTRODUCTION TO MODERN BRAZILIAN POETRY. Verse translations by Leonard S. Downes. [São Paulo]: Clube de Poesia do Brasil, 1954. 84 p. 14x20 cm. “ Leonard S. Downes “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.
NOCTURN
The stars are not fictitious, they exist, All dreams are real Ai tis from me the evil come, I am like a dead man wandering about.
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