VIVIANE DE SANTANA PAULO
[bajo el pseudónimo Luisa Negra]
São Paulo, Brasil, 1966. Poeta y ensayista. Es fundadora de la Unión de Escritores Brasileños de Alemania (UEBRA); organizó encuentro de Escritores Brasileños de Alemania, en la Universidad de Colonia y en la Casa de Lengua y Literatura, en Bonn , respectivamente.
Obras recentes: Passeio ao longo do Reno. Taschenbuch, 2002. Em alemão; Estrangeiro de mim: contos. Taschenbuch, 2005. Em alemão.
Veja também: FLORIANO MARTINS & VIVIANE DE SANTANA PAULO – parceria em livro.
A poética de Todo-Mundo e
as maravilhas das fronteiras na mundialidade - Viviane de Santana Paulo
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Qualquer leveza da queda
Qualquer peso que caia
É um peso caído
Qualquer pena que flutue
É uma pena flutuada
Qualquer papel que se amasse
È um papel amassado
Qualquer lenço que se dobre
É um lenço dobrado
Qualquer pensamento que se busque
É um lugar encontrado
Qualquer gesto que se componha
é um gesto aliviado
Qualquer palavra que se diga
É um sentimento revelado
Qualquer lágrima que caia
É uma lágrima regressiva
Qualquer riso que se dê
É um riso devido
Qualquer caminho que se tome
É um caminho predestinado
Qualquer dobra de um lenço
É uma dobra marcada
Qualquer amassar de papel
É uma mão fechada
Qualquer flutuar de pena
É uma queda esperada
Qualquer cair de pedra
É uma viagem demarcada
Poça d’água
de sanduíches e instantes
lágrimas e cervejas
felicidade e férias
tristezas e atrasos
funerais e despesas
paixões e multas
solidão e acasos
ofertas e certezas
dívidas e lutas
se vai indo
como uma gota d’água
naufragando no espelho
de uma poça
não na água
não na poça
mas é no espelho
que tudo reflete e dilui-se
e continua refletindo
Longe daqui
luzes de neon
reclamam ainda mais
reflexos no asfalto
letreiros gritam
desconexos
e em formas maiúsculas
chamam a atenção
para as suas chantagens
a noite entrega-se
às luzes acesas
iluminando a celeuma
as cores e agitações
na falta de escuridão
e alguma coisa autêntica
o silêncio passa
muito longe daqui
solitário
voltando para casa
Poemas extraídos da revista POESIA SEMPRE (Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro), Número 26, Ano 14, 2007.
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducciones de
Eduardo Langagne
Letras
Es una ramificación
de calles de tierra, de senderos
que persigo y me pierdo
y me inspiro,
descubro claros,
digo verdades y mentiras
y sigo en este laberinto
recogiendo los racimos
verdes y tintos de Ias uvas,
embriagándome de significados,
bebiendo el néctar de los símbolos.
Denme este puñado de letras,
mi boca es de carne,
pero también de certezas.
Rocas
En mi recordar encontré un azul
de mar y pisé con pies sedientos
la arena rosada de Buzios.
Veo en la transparencia su fondo,
reflejos de olas serpentean el agua
tibia, el sol dora y el viento ofrece un concierto,
crecen los peñascos y sus salientes.
Desde aquí arriba veo el suelo azul y líquido
y una raya vuela en esta inmensidad salada,
cardúmenes de peces escapan de las redes
lanzadas por los barcos pescadores dispersos.
Las rocas alcanzan su cumbre y paseo
en sus pensamientos. ¿Qué será que piensan
las rocas? Paseo sobre
pensamientos montañosos y veo a lo lejos
las islas apartadas, recostadas en el horizonte.
¿Qué puedo hacer para que
el viento del olvido no pase
y derrumbe como castillo de arena
esta reminiscencia?
Me quiero evaporar
para después solidificarme en roca
y recostarme, para quedar perpetuamente
mirando el mar y las islas bañadas
en claridad
y sentir las olas
ininterrumpidamente transformándome.
BABEL Revista de Poesia, Tradução e Crítica. Ano IV - Número 6 - Janeiro a Dezembro de 2003. Editor Ademir Demarchi. Campinas, São Paulo Ex. bibl. Antonio Miranda
Sou aluna de Sísifo,
que me ensina a viver,
sou aluna desse professor insistente
e aprendo sobre a rotina.
Sou uma assídua aluna buscando
com ânsia de jovem a verdade da vida
e Sísifo me entrega todo o peso da pedra,
o inacabado e a repetição do inútil no meu caminho.
Sou aluna de Tântalo,
que me ensina a amar,
sou aluna desse professor insistente
e aprendo a querer. Sou sua assídua aluna
buscando com ânsia dos apaixonados
saciar a sede e a fome do amor
e Tântalo me entrega o inacessível feito
pela ilusão e a inelutável repetição cada vez
que quase o toco — amor fugidio.
E não é nenhum castigo dos deuses
É só uma pura distração do me próprio destino.
10.3.04
*
As raízes da saudade
encravadas no meu peito
embrenhando arraigadas.
E uma flor desabrocha
viçosa e bela
para exalar o aroma
do desespero
e dessa sufocante cela.
Te busco
Te busco tanto
como o díptero a lâmpada acesa
como Ícaro do sol os raios.
Mesmo que eu me queime
e morra. Não sei viver
sem essa ilusão clara
sem esse bater de asas
sem esses ensaios de liberdade
o ígneo dessa necessidade.
18.1.04
INIMIGO RUMOR – revista de poesia. Número 16 – 1º SEMESTRE 2004. Editores: Carlito Azevedo, Augusto Massi. Rio de Janeiro, RJ: Viveiros de Castro Editora, 2004. 176 p.
ISSN 1415-9767. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
NÃO SABIA COMO
doeria deixar de amar,
mas as pessoas
continuam levantando cedo e indo ao trabalho,
continuam desempregadas, abastadas,
se empanturrando e arrotando hipocrisia,
se beijando nos aeroportos,
construindo seus poderes fétidos,
achando graça nas piadas, nos inúteis esforços...
Nada deixou de ser outra coisa.
Os dias continuam nublados, ensolarados, empoeirados,
tímidos, secos... o trigo desperdiçado longe da fome,
os amigos convidando para algum programa fútil,
interessante, os congestionamentos nos feriados,
os amante se entregando árduos, as traições
incontidas, raras comedidas...
Tudo continua com uma impecável regularidade,
uma imutável anuência com o fluxo das coisas
como se eu nunca tivesse estado na beira do precipício,
como se o rubro não tivesse sido do meu sangue vertido
e simplesmente aquarela, como se não tivessem sido
[salgadas
minhas lágrimas, nem estreita a minha cela...
nem dimensão na minha liberdade,
nem eternidade nas nossas mãos,
na nossa boca, nas nossas palavras...
Não sabia como doeria deixar de te amar,
porque a indiferença das coisas me toca tão
[compadecida,
que a dor enfraqueceu em sua própria chaga.
Restaram as reminiscências, como uma distante estrela
transformando o escuro dos meus sonhos
com sua simples centelha.
QUERO SER IMORTAL
como a chuva
caída no meio da madrugada
e o açúcar dissolvido no café
ralo na xícara de minha avó
a gota d´água desperdiçada
da torneira do tanque
no quintal de algum passado
Quero ser imortal como o brilho
do sol purpureando as palavras
da água, sua correnteza
que jamais retorna
e o caminho percorrido das sombras
e as frutas amadurecidas
mordidas pelas bocas menos mentirosas
Imortal como as placas
enferrujadas dos nomes antigos
das cidades crescidas
e das ruas modernizadas
o reflexo dos lindos olhos
de uma jovem de longos cílios
no vidro da janela do último trem
como a curva do ocaso
no canto do telhado
o cheiro de pó levantado
pela chuva de verão no meio
da tarde de uma São Paulo de outrora
Imortal como aquele
outdoor na esquina da casa
pichado e rasgado
pela saudade anarquista
da juventude
Imortal
como toda fragilidade
que simples e fácil
e quase imperceptível
sobrevive na eternidade
de todo efêmero
20.2.04
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sao_paulo/sao_paulo.html
Página publicada em dezembro de 2023
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Página ampliada e republicada em janeiro de 2023
Extraídos de ALFORJA – REVISTA DE POESÍA, XIX invierno 2001, México.
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