LUCILA NOGUEIRA
Lucila Nogueira (Rio de Janeiro, 30 de março de 1950) é uma escritora brasileira. De origem luso-galega, leia-se Régua e Padrón, tem vinte e dois livros de poesia publicados e cinco de ensaio, além de muitos artigos em livros, revistas impressas e online. Essa autora brasileira nascida no Rio de Janeiro e radicada no Recife está a ver reunidos, em volume único, os livros Ainadamar, Ilaiana, Imilce e Amaya, a chamada tetralogia ibérica, que constitui um diálogo intercultural realizado a partir das suas raízes galegas, lusitanas e brasileiras.
Viveu no Rio de Janeiro com intervalos de permanência entre essa cidade e o Recife.
É também tradutora, editora e contista, além de professora de literatura brasileira, literatura portuguesa e teoria literária na graduação do Curso de Letras da Universidade Federal de Pernambuco; na pós-graduação desenvolve as linhas de literatura comparada, literatura-sociedade-e memória, imaginários culturais , lecionando disciplinas como teoria da poesia,teoria da ficção, ideologia e literatura, literaturas de expressão portuguesa do século XX e literatura hispano-americana.
VEJA BIOGRAFIA COMPLETA DA AUTORA EM:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lucila_Nogueira
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
POÈMES EN FRANÇAIS
See also: LUCILA NOGUEIRA IN ENGLISH (POEMS)
De
NOGUEIRA, Lucila. Poesia em Caracas / Poesía en Caracas..
Recife: Bagaço, 2007. 112 p. bilíngue
ISBN 978-85-373-0253-8 port./español.
POEMA XXIII DO LIVRO DO
DESENCANTO
Estou mais para Elis e Janis Joplin
Florbela Espanca, eu sou Virginia Woolf
amante de Essenine e Sá-Carneiro
sobre os campos; de trigo de Van Gogh
Compreendo mais Holderlin e Nietzsche
que a loucura de Kant ou de Descartes:
tudo que em mim pareça comedido
não, passa de uma máscara de vidro
Livro do Desencanto, 1991
POEMA I DE ZINGANARES
Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
é aqueles que sorriam pelas costas
recitarão meus versos sem os ler
Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
dirão que fui um mar misterioso
onde quem navegou não esqueceu
Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
dirão que era poesia e não loucura
meu jeito de sonhar todos vocês
Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver '
perguntarão por que vivi tão pouco i
sem dar-lhes tempo de me perceber
- e aqueles que sorriam pelas costas
recitarão meus versos sem os ler
Zinganares, 1998, (Lisboa)
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POEMAS EN ESPÃNOL
Veja também/Vea también:
LUCILA NOGUEIRA – POESIA EN LIMA (español)
Tradução de Lais Carlos Neves
POEMA XXIII DEL LIBRO DEL
DESENCANTO
Voy más a Elis y Janis Joplin
Florbela Espanca, yo soy Virginia Woolf
amante de Essenine y Sá-Carneiro
sobre los campos de trigo de Van Gogh
Comprendo más Holderlin y Nietzsche
que la locura de Kant o de Descartes:
todo que en mí parezca comedido
no pasa de una máscara de vidrio
Libro do Desencanto, 1991
POEMA I DE ZINGANARES
Dirán mis poemas por las calles !
de memoria como receta de vivir
y aquellos que se rían por la espalda
recitarán mis versos de memoria
Dirán mis poemas por las calles
de memoria como receta de vivir
dirán, que fui un mar misterioso
donde quien navegó no olvidó
Dirán mis poemas por las calles
dé memoria como receta de vivir
dirán que era poesía y no locura
mi manera de soñar todos ustedes
Dirán mis poemas por las calles
de memoria como receta de vivir
preguntarán por qué viví tan poco
sin darles tiempo para percibirme
- y aquellos que se rían por la espalda
recitarán mis versos de memoria
Zinganares, 1998, (Lisboa)
POÈMES EN FRANÇAIS
Lucila Nogueira, poète, critique, traductriceet conteuse. Docteur enThéorie de la littérature de L'Université Fédérale du Pernambouc, oú elle enseigne la littérature portugaise, la littérature brésilienne, la théorie de la littérature et de la langue portugaise/portugais instrumental. Elle a été écrivain en résidence à la Maison des Écrivains Étrangers et des Traducteurs de Saint-Nazaire (44). Elle a été éditrice de la revue Encontros, du Gabinete Português de Leitura. Collaboratrice de plusieurs publications spécialisées, comme Colóquio-Letras (Lisboa), Caderno de Literatura (Coimbra), Revista de Poesia e Crítica (Brasília), entre autres. Elle a publié des livres de poésie, à savoir: Almenara (1979); Peito aberto (1983); Quasar (1987); A dama de Alicante (1990); Livro do desencanto (1991) ; Ainadamar (1996) ; llaiana (1997 ; 2000, 2 ed.) ; Zinganares (1998) ; Amaya (2001) ; A quarta forma do delírio (2002, I. ed. e 2. ed.); Refletores (2002); Bastidores (2002) ; Desespero blue (2003) ; Estocolmo (2004; 2005. 2. ed.) ; Mar Camoniano (2005) ; Saudade de Inês de Castro (2005) et Poesias em Medellín (2006).
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RECIFE – UM OLHAR TRANSATLÂNTICO – NANTES - UN REGARD
TRANSATLANTIQUE –Antologia poética – Anthologie poétique. Organizada por
Heloisa Arcoverde de Morais e Magali Brazil, tradução Everardo Norões, Renaud
Barbaras. Recife: Fundação Cultural Cidade do Recife, 2007. 206 p. 15x20 cm. Inclui os poetas brasileiros: Alberto da Cunha Lima, Cida Pedrosa, Deborah Brennand, Erickon Luna, Esman Dias, Everardo Noröes, Jaci Bezerra, Lucila Nogueira, Marco Polo, Miró, Pedro Américo Farias. “ Ex. bibl. Antonio Miranda.
Parole de Essomericq
(Femme à la mer)
Rue du Bon Jesus l'après-midi de dimanche
tambours et clairons
frevo et maracatu 1
Mama Afrique
arriva enchaínée comme esclave
aujourd'hui son visage est comme un sceau dans ma patrie
Rue du Bon Jésus l'après-midi de dimanche
la foule danse dans la rue
je vais là
sainte pauvreté en costume de reine
je vais là
ta gaieté de tambour me ressuscite
ta gaieté de clairons sur la chaussée
têtes décapitées comme des masques
ce sont les hommes que j'ai aimés
dans un docile rituel anthropophagique
cannibales antérieurs à Montaigne
ce sont les naufragés de la baie d'Audierne
et ton silence te fait mal en ta terre ô Goneville
parce qu’íl était la voix de Caliban désespéré
contre l'occupation des Amériques
puissant Goneville
je suis carijó 2 et dois retourner dans ma tribu
Martin de Nantes
je suis cariri 3 et dois retourner à mon Recife
Villegaignon de Bretagne
je suis carioca 4 et je veux rentrer à Rio
en France Antarctique, en France Équinoxiale
dans les bras de Azenor, Levenez et Riwanon
c’est pourquoi menseigne lecriture
Jean de Léry
parce que je suis tupiniquim 5
enseigne moi la sorcellerie du papier qui parle
les mots français dérivés du tupi 6
enseigne moi ta science
Lévi-Strauss
parce que je suis tupinambá 7
je te rends l'enfance
Marcel Proust
je te rends le rêve
mon 8 Ronsard
avec le sortilège du sucre
dans les sens
je te rends
le tranquille repos de la première vie
viens dans ma chaumière
dedans il fait si bon
reste ici 9
le tranquille repos de la première vie
viens dans ma chaumière
dedans il fait si bon
reste ici
et alors tu m'as demandé
reste ici 10
et alors tu m'as prié
un peu de bonheur 11
mais je suis le beau sauvage 12
et j’ai été à Nantes
ô Jules Vernes
seulement pour te dire
que lá a Olinda
j’ai conduit vraiment 13
un radeau du Nord Est
il y avait le vent sur mon visage
la tempête 14
il y avait le soleil sur le peau
parmi les navires
je suis désamparée 15
femme à la mer
j’ai besoin de secours
femme à la mer
Ô vaillant vent fort
Pernambouc
corsaire à voile
sur le drakar
canto gondole
rabelo balandra 16
zambra 17 sultane
arvingel baidar
mon radeau
à babord
à tribord
barcasse de lumières
lit de phare
la tour couleur de rose
aux pieds du quai
libre de remorqueurs
vient rendre visite
ô Goneville
la Vénus prisionnière
couch[ee sur l’écume
d’un trapèze de plumes
je suis tapuia 19
nous sommes tous des fils de Saturne
et je réunis tes parties découpées
Yemanjá une nuit d’offrande
femme à la mer.
1 Danse populaire et musique de carnaval
2 Ancien nom de la tribu indigène Guarani
3 Groupe indigène que vit dans le Nord Est du Brésil
4 Nom donné aux habitants de Rio
5 Tribu indigène tupi-guarani. Utilisé également dépréciativement por désigner les brésiliens.
6 Langue indigène
7 Désignation commune à plusieurs tribus tupi-guarani qui vivaiente sur le littoral brésilien.
8 a 15 En français dans le texte
16 TUype d’embarcation à voile
17 Ancienne danse espagnole
19 Dénomination donnée autrefois pas les indiens tupis à leurs ennemies.
Fala de Essomericq
(Mulher ao mar)
Rua do Bom Jesus em tarde de domingo
tambores e clarins
frevo e maracatu
Mama Africa
chegou acorrentada como escrava
hoje seu rosto é como um selo em minha pátria
Rua do Bom Jesus em tarde de domingo
a multidão dança na rua
lá vou eu
santa pobreza em traje de rainha
lá vou eu
tua alegria de tambor me ressuscita
tua alegria de clarins pela calçada
cabeças degoladas como máscaras
são os homens que amei
em submisso ritual antropofágico
canibais anteriores a Montaigne
são os náufragos da baía de Audierne
e o teu silêncio te doeu em tua terra ó Goneville
porque ele era a voz de Caliban desesperado
contra a ocupação das Américas
poderoso Goneville
eu sou carijó e devo retornar à minha tribo
Martinho de Nantes
eu sou cariri e devo retornar ao meu Recife
Villegagnon da Bretanha
eu sou carioca e quero voltar ao Rio
à França Antártica, à França Equinocial
aos braços de Azenor, Levenez e Riwanon
por isso ensina-me a escrita
Jean de Léry
que eu sou tupiniquim
ensina-me a bruxaria do papel que fala
as palavras francesas derivadas do tupi
ensina-me tua ciência
Lévy-Strauss
que eu sou tupinambá
e te devolvo a infância
Marcel Proust
e te devolvo o sonho
mon Ronsard
com o feitiço do açúcar
nos sentidos
eu te devolvo
le tranquille repos de la prière vie
viens dan ma chaumière
dedans il fait si bon
reste ici
e então tu me pediste
reste ici
e então tu rogast
um peu de bonheur
mais je suis le beau sauvage
e estive en Nantes
ô Julio Verne
só para te dizer
que lá em Olinda
eu conduzi vraiment
uma jangada nordestina
era o vento em meu rosto
la tempête
era o sol sobre a pele
entre os navios
je suis désamparée
mulher ao mar
je besoin de secours
mulher ao mar
ó bravo vento forte
Pernambuco
corsária vela vaga
no drakar
canoa gôndola
rabelo balandra
zambra sultana
arvingel baidar
minha jangada
a bombordo
a estibordo
barca de luzes
leito de farol
a torre cor de rosa
aos pés do cais
livre de rebocadores
vem visitar
ó Goneville
a Vênus prisioneira
deitada sobre a espuma
de um trapézio de plumas
sou tapuia
somos todos filhos de Saturno
e eu reúno as tuas partes decepadas
Yemanjá em noite de oferenda
mulher ao mar.
VARGAS & MIRANDA Compiladores. Selección y revisión de textos por Salomão Sousa. TRANS BRASILIANA ANTOLOGÍA 36 MUJERES POETAS DO BRASIL. MARIBELINA – Casa del Poeta Peruano. 2012 134 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
(Traducción de Luis Carlos Neves)
POEMA I DE ZINGANARES
Dirán mi poemas por las calles
de memoria como receta de vivir
y aquellos que se rían por la espalda
recitarán mis versos de memoria
Dirán mis poemas por las calles
de memoria como receta de vivir
dirán, que fui un mar misterioso
donde quien navegó no olvidó
Dirán mis poemas por las calles
de memoria como receta de vivir
dirán que era poesía y no locura
mi manera de soñar todos ustedes
Dirán mis poemas por las calles
de memoria como receta de vivir
preguntarán por qué viví tan poco
sin darles tiempo para percebirme
— y aquellos que se rían por la espalda
recitarán mis versos de memoria.
Zinganares, 1998 (Lisboa)
Página publicada em outubro de 2011. Ampliada e republicada em maio de 2016.
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