é uma das protagonistas fundamentais da paisagem literária brasileira e de língua portuguesa do século XX. Com mais de 40 livros escritos em verso, dramaturgia, crônica e prosa, publicados entre 1950 e 2000, Hilda Hilst é uma poeta lúcida, culta, consciente de suas ações e palavras. Com fervoroso amor pela originalidade, sua obra registra um intenso trabalho de linguagem e de musicalidade, um imaginário poético no qual questionamentos metafísicos se mesclam com fatos cotidianos. Corajosa, livre, apaixonada pela vida, os seres humanos e os animais, Hilda Hilst tocou sem pudor temas tabus como a morte, o sexo e Deus. A partir de 1966, Hilda Hilst decide viver na Casa do Sol, a 11 quilômetros de Campinas-SP, onde funciona atualmente a Instituição Hilda Hilst – Centro de Estudos Casa do Sol, presidida pelo escritor José Luis Mora Fuentes, amigo da escritora. Suas Obras Reunidas foram reeditadas recentemente pela Editora Globo. Ler Hilda Hilst significa entrar em contato com a dinâmica da vida, com a complexidade humana e do próprio texto, numa combinação refinada de sons, palavras e imagens.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EM ESPAÑOL / EN ITALIANO /
Extraído de: LEVE COMO UM BEIJA-FLOR. São Paulo, SP: Laboratórios Wyeth-Whytehall Ltda, s.d. 64 p. 25,5X25 cm. Produzido por Segmento Farma. Fotos de beija-flores por Haroldo Palo Jr. Versos dos poetas Adélia Prado, Amadeu Amaral, Cecilia Meireles, Cora
Coralina, Fernando Pessoa, Flavio Venturini Márcio Borges, Joyce Ana Terra, Judith Nunes Pires, Luis de Camões, Lupe Cotrim, Nelson Angelo, Nelson Motta Rubens Queiroz, Olga Savary, Therezinha Guerra Del Picchia e Vinicius de Moraes. “ Adélia Prado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Veja também: POR QUE LER HILDA HILST - resenha escrita por Antonio Miranda sobre o livro "Por que ler Hilda Hilst", organizado por Alcir Pécora (Editora Globo, 2010).
Texto e seleção dos poemas: Cristiane Grando
Tradução ao espanhol: Cristiane Grando e Espérance Aniesa
Video o1: ZECA BALEIRO em ENTREVISTA com ANTONIO MIRANDA na Pré Bienal Internacional de Poesia 2010, no auditório da Biblioteca Nacional de Brasília.
Versa sobre o disco de Zeca Baleiro "ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ" a partir de versos da poeta HILDA HILST. Faz também referências à novela "Com meus olhos de cão", de Hilda Hilst e aos amigos dela Edson Duarte, Caio Fernando Abreu e Massao Ohno.
É pouco conhecida e difundida a “poesia pornográfica” da grande Hilda Hilst. A Editora Globo vem reeditando suas obras, em boa hora, para revelar todas as facetas desta extraordinária escritora. No caso das “Bucólicas”, com ilustrações de Jaguar. Merecem uma visita, sem preconceitos. Sobre a obra cabe o comentário da “orelha” do livro: “Há medidas, contudo, nestes versinhos bandalhos, predominantemente redondilhas e brancos: são as de fundação de um discurso que, em face do absurdo de tudo, articula política a humor, desengano a desmesura.”.” Ou, mais explicitamente, no comentário competente de Alcir Pécora:
“Todos esses livros estão longe da literatura pornográfica banal e recolhem verdadeiras gemas da matéria baixa, como antes já fizeram em língua portuguesa, autores excelents como Gregório de Maatos, Tomás Pinto Brandão, Bocage, Nicolau Tolentino, Bernardo Guimarães etc. Mais especificamente, Bufólicas é um exercício de estilo que parodia tanto fábulas antigas, com suas histórias de maravilhas que constituem alegorias morais, quanto contos de fadas.
VAGAS ESTRELLAS
Traducción de Adovaldo Fernandes Sampaio
Enterré mis estrellas en la noche
Que es en la noche cuando las flores
Elaboran en silencio
Sus colores.
Enterré mis estrellas en noche.
Pedí a los gigantes
La gracia de no perderlas...
¡Ah, mundo de tierra y miedo!
De da morte. odes mínimas
São Paulo: Massao Ohno, Roswitha Kempf Editores, 1980
Um peixe raro de asas
As águas altas
Um aguado de malva
Sonhando o Nada.
***
E descansavas nos meus costados.
Um ramo verde minha bandeira
No meu vestido uns encarnados
Docilidade tua
Eu tua inteira.
I
Te batizar de novo.
Te nomear num trançado de teias
E ao invés de Morte
Te chamar Insana
Fulva
Feixe de flautas
Calha
Candeia
Palma, por que não?
Te recriar nuns arco-íris
Da alma, nuns possíveis
Construir teu nome
E cantar teus nomes perecíveis:
Palha
Corça
Nula
Praia
Por que não?
II
Demora-te sobre minha hora.
Antes de me tomar, demora.
Que tu me percorras cuidadosa, etérea
Que eu te conheça lícita, terrena
Duas fortes mulheres
Na sua dura hora.
Que me tomes sem pena
Mas voluptuosa, eterna
Como as fêmeas da Terra.
E a ti, te conhecendo
Que eu me faça carne
E posse
Como fazem os homens.
III
Pertencente te carrego:
Dorso mutante, morte.
Há milênios te sei
E nunca te conheço.
Nós, consortes do tempo
Amada morte
Beijo-te o flanco
Os dentes
Caminho candente a tua sorte
A minha. Te cavalgo. Tento.
XIX
Se eu soubesse
Teu nome verdadeiro
Te tomaria
Úmida, tênue
E então descansarias.
Se sussurrares
Teu nome secreto
Nos meus caminhos
Entre a vida e o sono.
Te prometo, morte,
A vida de um poeta. A minha:
Palavras vivas, fogo, fonte.
Se me tocares
Amantíssima, branda
Como fui tocada pelos homens
Ao invés de Morte
Te chamo Poesia
Fogo, Fonte, Palavra viva
Sorte.
De
Hilda Hilst CANTARES DO SEM NOME E DE PARTIDAS
Capa: Sinfonia do Azul, Arcangelo Ianelli
São Paulo: Massao Ohno Editora, 1995
VII
Rios de rumor: meu peito te dizendo adeus.
Aldeia é o que sou. Aldeã de conceitos
Porque me fiz tanto de ressentimentos
Que o melhor é partir. E te mandar escritos.
Rios de rumor no peito: que te viram subir
A colina de alfafas, sem éguas e sem cabras
Mas com a mulher, aquela,
Que sempre diante dela me soube tão pequena.
Sabenças? Esqueci-as. Livros? Perdio-os.
Perdi-me tanto em ti
Que quando estou contigo não sou vista
E quando estás comigo vêem aquela.
X
Como se fosse verdade encantações, poemas
Como se Aquele ouvisse arrebatado
Teus cantares de louca, as cantigas da pena.
Como se a cada noite de ti se despedisse
Com colibris na boca.
E candeias de luto, e Ele, o Pai
Te fizesse porisso adormecer...
(Como se se apiedasse porque humana
És apenas poeira,
E Ele o grande Tecelão da tua morte: a tela).
Como se fosse vão te amar e por isso perfeito.
Amar é perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.
E não Ele, o Fazedor, o Artífice, o Cego
O Seguidor disse sem nome? ISSO...
O Amor e sua fome.
De HILDA HILST Amavisse. Via espessa. Via vazia. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1989. s.p.
I
Carrega-me contigo. Pássaro-Poesia
Quando cruzares o Amanhã, a luz, o impossível
Porque de barro e palha tem sido esta viagem
Que faço a sós comigo. Isenta de traçado
Ou de complicada geografia, sem nenhuma bagagem
Hei de levar apenas a vertigem e a fé:
Para teu corpo de luz, dois fardos breves.
Deixarei palavras e cantigas. E movediças
Embaçadas vias de Ilusão.
Não cantei cotidianos. Só te cantei a ti
Pássaro-Poesia
E a paisagem-limite: o fosso, o extremo
A convulsão do Homem.
Carrega-me contigo.
No Amanhã.
De Hilda Hilst PRESSÁGIO
Poemas Primeiros
Ilustrações de Darcy Penteado
São Paulo: 1950
"Impresso na Empresa Gráfica "Revista dos Tribunais" Ltda.
Primeiro título na extensa obra da escritora e poeta, já pautando sua forte personalidade e sua independência no panorama de nossa poesia. Um dos poemas:
VIII
Canção do mundo
perdida na tua boca.
Canção das mãos
que ficaram na minha cabeça.
Eram tuas e pareciam asas.
Pareciam asa
que há muito quisessem repousar.
Canção indefinida
feita na solidão
de todos os solitários.
Os homens de bem
me perguntaram
o que foi feito da vida.
Ela está parada.
Angustiadamente parada.
O que foi feito
da ternura dos que amaram...
Ficou na minha cabeça,
mas tuas mãos que pareciam asas.
Que pareciam asas.
Nota de edição: no exemplar do livro em nossa biblioteca aparece uma anotação manuscrita, atribuída à autora, que assinala: "A simbologia das mãos e o tema da morte."
De HILST, Hilda Cantares de perda e predileção.
Capa de Olga Bilenky.
São Paulo: Massao Ohno – M. Lydia Pires e Albuquerque, 1983.
s.p. Formato: 14,5x 22 cm. Impresso na Gráfica Parma,
tiragem de 1000 exs. Col. A.M. (EA)
III
Se a tua vida se estender
Mais do que a minha
Lembra-te, meu ódio-amor,
Das cores que vivíamos
Quando o tempo do amor nos envolvia.
Do ouro. Do vermelho das carícias.
Das tintas de um ciúme antigo
Derramado
Sobre o meu corpo suspeito de conquistas.
Do castanho de luz do teu olhar
Sobre o dorso das aves. Daquelas árvores:
Estrias de um verde-cinza que tocávamos.
E folhas da cor de tempestades
Contornando o espaço
De dor e afastamento.
Tempo turquesa e prata
Meu ódio-amor, senhor da minha vida.
Lembra-te de nós. Em azul. Na luz da caridade.
XII
Um cemitério de pombas
Sob as águas
E águas-vivas na cinza
Ósseas e lassas sobras
Da minha e da tua vida,
Um pedaço de muro
Na enxurrada
Prumos soterrados, nascituros
No céu
Indecifráveis sobras
Da minha e da tua vida.
Um círculo sangrento
Uma lua ferida de umas garras
Assim de nós dois o escuro centro.
E no abismo de nós
Havia sol e mel.
XV
Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas.
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas.
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.
HILST, Hilda.Alcoólicas. Passa Quatro, MG:Maison de Vins, 1989. Tiragem: 2000 exs. e 200 exs. assinados pela autora. s.p. 21,5x21,2 cm. Inclui 8 poemas, impressão nas oficinas gráficas da Raízes, imprensa artesanal, sobre papel kraft e folhas de proteção tipo !manteiga”. Col. A.M.
I
a Jamil Snege
É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.
HILST, Hilda. Jubilo memória noviciado da paixão. São Paulo: Hilda Hilst, 1974. s.p. 17x27 cm. Capa e planejamento gráfico de Anésia Pacheco Chaves. Tiragem: 1000 exs. Col. A.M. (EE)
DEZ CHAMANETOS AO AMIGO
II
Ama-me. É tempo ainda, interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora.
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.
HILST, Hilda.Pornô chic. Ilustrações de Millôr Fernandes, Jaguar, Laura Teixeira e Veridiana Scarpello. São Paulo: Editora Globo, 2015 (reimpressão). 280 p. (Biblioteca Azul) 18x25 cm. Capa dura. ISBN978-85-250-5858-4 Ex. bibl. Antonio Miranda
A CANTORA GRITANTE
Cantava tão bem
Subiam-lhe oitavas
Tantas tão claras
Na garganta alva
Que toda vizinhança
Passou a invejá-la.
(As mulheres, eu digo,
porque os homens maridos
às pampas excitados
de lhe ouvir os trinados,
a cada noite
em suas gordas consortes
enfiavam os bagos).
Curvadas, claudicantes
De xerecas inchadas
Maldizendo a sorte
Resolveram calar
A cantora gritante.
Certa noite... de muita escuridão
De lua negra e chuvas
Amarraram o jumento Fodão a um toco negro.
E pelos gorgomilos
Arrastaram também
A Garganta Alva
Pros baixios do bicho.
Petrificado
O jumento Fodão
Eternizou o nabo
Na garganta-tesão... aquela
Que cantava tão bem
Oitavas tantas tão claras
Na garganta alva.
Moral da estória:
Se o teu canto é bonito
cuida que não seja um grito.
ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ
de Ariana para Dionísio
Poemas de HILDA HILST musicados por ZECA BALEIRO
Ainda muito jovem, no início da carreira, o maranhense Zeca Baleiro enviou o seu primeiro disco para a grande Hilda Hilst. Ficou surpreso com um telefona da poeta maldita. Queria uma parceria com o cantautor... "Quero ser famosa, cansei dessa história de prestígio" disse ao compositor... Já em 2003 ele começava a gravar o disco, mas levou dois anos de trabalho... Sem duvida, o mais sofisticado de sua carreira., a partir dos versos de "Júbilo memória noviciado da paixão". Zeca levou para o estúdio um elenco estelar de cantoras: Rita Ribeiro, Verônica Sabino, Maria Bethânia, Jussara Silveira, Angela Ro Ro, Ná Ozzetti, Zélia Duncan, Olívia Byington, Mônica Salmaso e a Angela Maria (que coroou a gravação com seu fraseio perfeito, inconfundível : como não reconhecer?!!!).
Hilda teria aprovado as versões musicais de seus poemas depois de opinar sobre algumas métricas da composição conforme o ritmo do poema original. Coisa própria de poeta. Mas ela morreu em 2004, antes do lançamento da obra, que é peça de culto em acervos mais eruditos, mais exigentes. Ela nem precisou dessa forcinha para ficar famosa, embora sua fama seja um desvio de interpretação de sua obra, vista pelo lado mais frívolo. O disco de Zeca Baleiro nos reconstitui a Hilda que nós mais apreciamos, madura e lírica sem deixar de ser sensual. A.M.
HILST, Hilda. da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. 581 p. 14x21 cm. ilus. col. Capa e projeto gráfico: Elisa van Randow. Foto da capa: Fernando Lemos. Ilustrações: Hilda Hilst. ISBN 978-85-359-2885-3 Ex. bibl. Antonio Miranda
O livro inclui alguns poemas inéditos da autora, pesquisados por Julia de Souza, dos quais escolhemos esses dois exemplos, a seguir:
I
Ai, que translúcido te fazes
Que maravilha teus ares
Ai, bem-querer de mim!
Tu
Nos teus palanquins do alto
Olhando-me tão ferida
Tão mula velha
Tão carne de despedida
Tão ossos
Tão tudo que regozija
Tua garganta de brisa!
Vem. Engole-me inteira
No teu exílio de esteiras!
II
Barganha-me nas feiras
Em proveito Teu:
Mula que se fez musa
(Porque deitou com Deus)
Na grande noite escura
Do Teu riso.
III
No teu leiro de lírios
Lambe-me o pelo
Agora reluzente.
De remansos de zelo.
Devolve-me a cabeça
(Pois mula que sou
E deitada com o Pai
Isso talvez se faça ou aconteça)
Rodeia-a de rosas
Como os humanos fazem
À guisa de louros
Com os seus mais preclaros.
Barganha-me nas feiras
Em proveito Teu:
Mula que se fez musa
(Porque deitou com Deus)
Na grande noite escura
Do Teu riso.
III (3ª. VERSÃO)
No teu leito de lírios
Lambe-me o pelo
Agora reluzente.
De remansos de zelo.
Devolve-me a cabeça
(Pois mula que sou
E deitada com o Pai
Isso talvez se fa.ca ou aconteça)
Rodeia-a de rosas encarnadas
Como os homens fazem
À guisa de louros
Com os seus mais preclaros.
Barganha-me nas feiras
Em proveito Teu:
Mula que se fez musa
Na grande noite fulva
Porque deitou com Deus
Datilografados (com exceção da primeira
versão da parte II, escrita à mão).
Sem data. Acervo Unicamp.
.
Desosso a rima.
Fica-me o osso.
Lavadas línguas
Lambem-te o dorso.
Destorço este cordão de penas.
Emplumo-me. Alço voo.
E vertical mas morto
Caio espatifada no poema.
(1ª. Versão)
Desosso a rima.
Fica-me o osso.
Lavadas águas
Lambem-me o dorso.
Destorço meu cordão de penas
Emplumo-me. Alço voo.
E caio espatifada no poema.
(2ª. versão)
Ambos escritos à mão. Sem data. Acervo Unicamp.
HILST, Hilda.De amor tenho vivido. 50 poemas. Ilustrações de Ana Prata. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 94 p. ilus. col. 15,4 x 20,5 cm. Capa dura. ISBN 978-85-359-3089-4 “Autora homenageada n FLIP 2018.” Ex. bibl. Antonio Miranda.
“Do primeiro livro de poesia, Presságio, de 1950, até o último, Cantares do sem nome e departidas, de 1995, o amor atravessa toda a obra poética de Hilda Hilst. Em constante diálogo com a tradição de odes, trovas e cantares, os poemas aqui reunidos tematizam o amor em suas múltiplas formas: a devoção ao amado, a entrega absoluta, o desejo ardente, o anseio pelo encontro, o medo da despedida, a fragilidade dos laços.”
OS EDITORES
Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
e eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.
/II. Júbilo, memória, noviciado da paixão/
E atravessamos portas trancadas.
Esteiras pedras e cesto
Espreitam
Nossas passadas.
E amamos como quem sonha
Cancelas de sal e palha
Prendendo o sono.
Assim te amo. Sabendo.
Degelo prendendo as águas.
/IX. Cantares de perda e predileções/
Poema de HILDA HILST
Traduzido por Jacqueline Alencar
AMAVISSE (II)
Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.
Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim: De redes e de anseios inundada.
AMAVISSE (II)
Como si te perdiera, así te quiero.
Como si no te viera (habas doradas
Bajo lo amarillo) así te atrapo bruscamente
Inamovible, y entero te respiro
Un arcoíris de aire en aguas profundas.
Como si todo lo demás me permitieses,
Yo me fotografío en unas puertas de hierro
Ocres, altas, y yo misma diluida y pequeña
En lo disuelto de cada despedida.
Como si te perdiese en los trenes, en las estaciones
O bordeando un círculo de aguas
Agitada ave, así te integro a mí:
De redes y de ansias inundada.
Página ampliada e republicada em abril de 2008, e em outubro de 2009, outra vez ampliada em fevereiro de 2010. Ampliada e republicada em dezembro de 2013. Ampliada em maio de 2017. Ampliada e republicada em julho de 2017. Ampliada em agosto de 2018. Ampliada em junho de 2020