HAROLDO DE CAMPOS
(1929-2003)
Nasceu em São Paulo em 1929. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo em 1952, e no mesmo ano fundou, com o irmão Augusto de Campos e Décio Pignatari, o Grupo Noigandres de poesia concretista. Trabalhou como tradutor, crítico e teórico literário e foi professor no curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Literatura da PUC-SP. Em 1992, recebeu o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano e, em 1999, o Jabuti de poesia, com o livro Crisantempo: No Espaço Curvo Nasce Um.
Principais obras: Auto do Possesso (1950), Servidão de Passagem (1962), Xadrez de Estrelas (1976), Galáxias (1984), A Educação nos Cinco Sentidos (1985), Finismundo (1990), Os Melhores Poemas (1992), Crisantempo (1998), A Máquina do Mundo Repensada (2000).
Veja sitio: http://www2.uol.com.br/haroldodecampos/
FRAGMENTO metapoético de GALÁXIA: (1963-1973) livro de ensaio:
e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arre-
messo e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que
importa não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo
escrever mil páginas escrever milumapáginas para acabar com a escritura
para começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura por
isso recomeço por isso arremeço por isso teço escrever sobre escre-
ver é o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites
milumapáginas ou uma página em uma noite que é o mesmo noites e V
páginas mesmam ensimesmam onde o fim é o começo onde escrever
sobre o escrever é não escrever sobre não escrever e por isso começo
descomeço pelo descomeço desconheço e (...)
Ver também: Poesia concreta e visual de Haroldo de Campos.
CAMPOS, Haroldo de. ode (explícita) em defesa da poesia no dia de são lukács. (São Paulo, SP: 1980) (12 p.) 15x15 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
Poesia de vanguarda brasileira. Folheto. Edição alternativa. https://issuu.com/antoniomiranda/docs/haroldo_de_campos_c49007710751d7
TEXTO EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL /
TEXTS IN ENGLISH
THALASSA THALASSA
I
Não sabemos do Mar.
O Mar varonil com seus testículos de ouro
O Mar com seu coração cardial de folhas verdes
E suas imensas brânquias de peixe aprisionado
O Mar, não esse que dá às nossas costas
Pantera de espuma que as mulheres domesticam
Em suas redes de látex
Rei de bizâncio e ungüento movendo entre as esposas
As mãos manicuradas.
Não sabemos do Mar.
O dia nos confina entre a pobre matéria a madeira calada
Entre os pássaros ocos, os cavalos de força e a mucosa eletrônica
E à noite adoramos o Sol de Galalite e o Poderoso Az de Espadas
Enquanto os cinocéfalos correm sobre os nossos telhados
Aguardando a Mulher-Nua que há de aparecer com seus pequenos seios
Bela como o almíscar que rói as pituitárias E as zibelinas mortas em torno de suas nádegas de prata.
A obra inclui VII partes e apresentamos a I como representativa do longo poema.
Extraído de De NOIGANDRES I: Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos.
Prólogo y selección de Hilda Scarabótolo de Codima; traducción de Antonio Cisneros.
Lima: Centro de Estudos Brasileiros, 1983.
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De
Denise Milan / Haroldo de Campos
metapoemas / metapoems
tradução Regina Alfarano
São Paulo: DCL Difusão Cultural do Livro
patrocínio: Grupo Votorantim
a escultura da voz a pedra
uma voz que brilha e tem forma
uma voz que tem volume
voztactil
a pulsão do cristal
quer
a vocação do cristal
quer a forma
o cristal quer cristalografar-se
gramática do cristal:
a língua que falta ao minério
é o cristal
o cristal é o poeta do minério
descarna os corpos solidos
e chega ao ectoplasma
do sol
o cristal aclara
o sol ensolara
a escultura transmuda a pedra
a pedra muda fala
escultura: metáfora da tradução
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o seccionar do mundo
o circunlóquio do círculo
o circum-volver do cérebro
a escultura
o círculo a cesura
labirinto de ranhuras
=====================
o sol das entranhas
rebenta
no ventre da vida
olho polifêmico
pólen
de um girassol roxo
labareda
oclusa
numa gruta
azul
na calota urbana
acesso ao mundo subterrâneo
=====================
Denise Milan (escultura) Urbe Cristalina,l995
Photos: TV Cultura - Metropolis - instalação / installationn
são paulo
urbe multilingue
sob o signo taumatúrgico de anchieta
escrevendo na areia
versos de areia
para o ouvido do vento
português espanhol latim tupi
signo poliglota da origem
são paulo
orquidário de arranha-céus
mandíbula carbonária
movendo mós de cimento
no trópico entrópico
migração de línguas
nestiçagem de línguas
mastigação de línguas
português tupi iorubé
italiano alemão
francês inglês
espanhol árabe hebraico
japonês chinês coreano
russo armênio grego
ecumênico de línguas
a areia
se concreta
denise urbaniza
um polipeiro de formas
cristais multitudinários
CAMPOS, Haroldo de; MANSUR, Guilherme. Gatimanhas & Felinuras. Colaborações especiais de Paul Klee, Christopher Middleton, Kurt Schwitter. Ouro Preto, MG: Gráfica Ouro Preto, 1994. 33 p. ilus. p&b 15,5x22,5 cm autógrafo de Guilherme Mansur. Edição da katze Caderno nonada. “Poemas gatemáticos, ou seja, sobre os gatos, paixão dos autores.” Col. A.M.
Poema de Haroldo de Campos, extraído do livro:
breve elegia para um gato
em memória do gato-samurai lesma
os olhos
esvaecem
num perdido brilho
de vida:
jade no ocaso
tanta beleza
arrefece
numa cota de
pó
“caligrama do gato zen” de JULIO PLAZA
HAROLDO DE CAMPOS _ HOMENAGEM DA TV BRASIL
com Antonio Miranda, Gilberto Mendonça Teles, Lucia Santaella e Omar Khouri. Entrevistadora: Vera Barroso, em dezembro de 2013.
http://tvbrasil.ebc.com.br/delapraca/episodio/haroldo-de-campos-e-o-homenageado-deste-de-la-pra-ca
CAMPOS, Haroldo de. o anjo esquerdo da poesia: poética e política. São Paulo: Dulcineia Catador, 2007. 36 p. 16x22 cm. Inclui um prólogo de Gonzalo Aguiar. Capa pintada à mão, feita com papelão comprado de cooperativas de materiais recicláveis.
neobarroso: in memoriam
"hay
cadáveres" — canta néstor
perlongher e está
morrendo e canta
"hay..." seu canto de
pérolas-berruecas alambres boquitas repintadas restos de unhas
lúnulas — canta — ostras desventradas um
olor de magnólias e esta espira
amarelo-marijuana novelando pensões
baratas e transas de michè (está
morrendo e canta) "hay..."
(madres-de-mayo heroínas-car-
pideiras vazadas em prata negra
lutuoso argento riopiatense plangem)
"...cadávares" e está
morrendo e canta
néstor agora em go-
zoso portunhol neste bar paulistano
que desafoga a noite-lombo-de-fera
úmido-espessa de um calor serôdio e on-
de (o sacro daime é uma - já então - un-
ção quase extrema) canta
seu ramerrão (amaríssimo) portenho: "hay .
(e está morrendo) cadáveres"
refrão à maneira de brecht
contra
o bloqueio de
cuba
mas também
contra
a contumácia "dinossáurea"
de — mário soares dixit-
fidel
contra o bombardeio do
golfo
(guerra de mísseis teleterríveis
sob as estrelas pasmas de nínive)
mas também
contra
a empáfia loucoloqüente de
saddam hussein
contra
o fundo monetário
internacional fundo
usurário
no
inferno mais profundo
de geryon (dante; inferno)
mas também contra
a corrupção voraginosa de burocratas e políticos
(políticos venais mandarins-tecnocratas
de colarinho branco
assentados sobre nádegas ociosas)
brasileiros
contra
os ensandecidos xiitas
palestinos
mas também
contra
a surdez míope dos judeus
fundamentalístas
ó favônio
vento que favorece
divino na rosa-
dos-ventos
quando poderemos
ser inteiramente
a favor?
TEXTO EN ESPAÑOL
El poeta y ensayista brasileño Haroldo de Campos (São Paulo, 1929) es una de las más relevantes figuras de la actual literatura latinoamericana. Fundador, en los años 50, del movimiento de la poesía concreta, su obra lírica – ya traducida a numerosas lenguas – abarca – ya traducida a numerosas lenguas – abarca desde Auto del poseso (1949-1950) hasta el reciente La educación de los cinco sentidos (1985). Autor, asimismo, de una ya larga y decisiva obra crítico-ensayística, Haroldo de Campos representa en la literatura de nuestro tiempo la más lúcida y comprometida recepción del legado de la modernidad literária, a la que há contribuído, a su vez, con la aportación de una radicalidad y una amplitud de miras que han supuesto una redefinición de lo moderno mismo.
Traducción de Antonio Cisneros.
THALASSA THALASSA
I
Nada sabemos del Mar.
EI Mar varonil con sus testículos de oro
El Mar con su corazón cardial de hojas verdes
Y sus inmensas branquias de pez aprisionado
EI Mar, no el que da a nuestras costas
Pantera de espuma que las mujeres domestican
En sus redes de látex
Rey de ungüento y bizancio que entre esposas agita
Las manos maquilladas.
Nada sabemos del Mar.
EI día nos confina en la pobre materia de madera calada
Entre los pájaros huecos, los caballos de fuerza y la mucosa
electrónica
Y llegada la noche adoramos el Sol de Galalite y el As de Espadas
Poderoso
Mientras los cinocéfalos recorren nuestros tejados
A la espera de la Mujer-Desnuda que habrá de aparecer con sus
pequeños senos
Bella como el almizcle que roe las pituitarias
Y las cibelinas muertas en torno a sus nalgas de plata.
[POEMA]
Traducción de Jorge Boccanera
y Saúl Ibargoyen
1.
poesía en tiempo de hambre
hambre en tiempo de poesía
poesía en lugar del hombre
pronombre en lugar del nombre
hombre en lugar de poesía
nombre en lugar del pronombre
poesía de dar el nombre
nombrar es dar el nombre
nombro el nombre
nombro el hombre
en medio del hambre
nombro el hambre
2.
de sol a sol
soldado
de sal a sal
salado
de paliza a paliza
apaleado
de jugo a jugo
chupado
de sueño a sueño
soñado
sangrado
de sangre a sangre
De
Haroldo de Campos
LA EDUCACIÓN DE LOS CINCO SENTIDOS
Traducción, prólogo y notas complementarias de
ANDRÉS SÁNCHEZ ROBAYMA
Barcelona: AMBIT, 1990
ISBN 84-87342-57-4
esses trigênios’ vocalistas
/ que idéia é essa de querer plantar
ideogramas no nosso quintal
(sem nenhum laranjal Oswald)?
e (Mário) desmanchar
a comidinha das crianças?
poesia pois é
poesia
te detestam
lumpenproletária
voluptuária
vigária
elitista piranha do lixo
porque não tens mensagem
e teu conteúdo é tua forma
e porque és feita de palavras
e não sabes contar nenhuma estória
e por isso és poesia
como Cage dizia
ou como
há pouco
augusto
o augusto:
que a flor flore
o colibri colibrisa
e a poesia poesia
a esos trigenios vocalistas
/ ¿ qué Idea es esa de querer plantar
ideogramas en nuestro corral
(sin ningún color local Oswald)?
y (Mario) estropear
la comidita de los niños?
poesía pues si
poesía
te detestan
lumpenproletaria
voluptuária
falsaria
elitista piraña de la basura
porque no tienes mensaje
y tu contenido es tu forma
y porque estás hecha de palabras
y no sabes contar ninguna historia
y por eso eres poesía
como Cage decía
o como
hace poco
augusto
el augusto:
que la flor flora
el colibri colibriza
y la poesía poesía
JE EST UN AUTRE: AD AUGUSTUM
irmão
neste re / verso do ego
te vejo
mais plus que mim
plusquanfuturo poetamenos
mais
e no trobar clus
desse nó de nós
a poesia
sister incestuosa
prima pura impura
em que
siamesmos
uni-
somos
outro
JE EST UN AUTRE: AD AUGUSTUM
hermano
en este re/verso del ego
te veo
más plus que mi
plusquanfuturo poetamenos
más
y en el trobar clus
de esa nuez de lo
nuestro
la poesía
sóror incestuosa
prima pura impura
en que
siamismos
uni-
somos
outro
MINIMA MORALIA
já fiz de tudo com as palavras
agora eu quero fazer de nada
MINIMA MORALIA
ya hiced de todo con las palabras
ahora quiero hacer de nada
LE DON DÚ POÈME
um poema começa
por onde ele termina:
a margem de dúvida
um súbito inciso de gerânios
comanda seu destino
e, no entanto ele começa
(por onde ele termina) e a cabeça
grisalha(branco topo ou cucúrbita
albina laborando signos) se
curva sob o dom luciferino –
domo de signos: e o poema começa
mansa loucura cancerígena
que exige estas linhas do branco
(por onde ele termina)
LE DON DÚ POÈME
un poema comienza
allí donde termina:
el margen de la duda
súbito inciso de geranios
ordena su destino
sin embargo comienza
(allí donde termina) y la cabeza
grisácea (blanca cima o cocúrbita
albina laborando signos)
se curva bajo el Don luciferino –
domo de signos: y el poema comienza
mansa locura cancerígena
que exige estas líneas al Blanco
(allí donde termina)
EX/PLICAÇÃO
não há um
sentido único
num
poema
quando alguém
começa a ex-
plicá-lo e
chega ao fim
en-
tão só fica o
ex
do ponto de
partida
beco
(tente outra
vez)
sem saída
EX/PLICACIÓN
no hay un
sentido único
en un poema
cuando alguien
comienza a ex-
plicarlo y
Ilega hasta el fin-
al entonces
sólo queda el
ex
del punto de
partida
callejón
(inténtelo de
nuevo)
sin salida
O HOMEM E SUA HORA
(IN MEMORIAM: MÁRIO FAUSTINO)
é o demônio de Maxwell
deus termodinâmico?
é o diabo na garrafa
lançada no oceano?
é a bruxa solta no vento
ganhando no olho mecânico?
é o acaso todo de branco
na curva do meridiano?
é o anjo com seu archote?
é o demo com seu fagote?
é o homem com sua sorte?
é a morte com seu serrote
é a morte – serra de lima
é a morte – e serra de cima
EL HOMBRE Y SU HORA
(IN MEMORIAM: MARIO FAUSTINO)
¿es el demônio de Maxwell
dios termodinámico?
¿es el diablo en la garrafa
lanzada en el oceano?
¿es la bruja suelta en el viento
que gana en el ojo mecânico?
¿es el azar todo de Blanco
en la curva del meridiano?
¿es el Angel con su na antorcha?
¿es el diablo con su fagot?
¿es el hombre con su suerte?
es la muerte con su serrucho
es la muerte – sierra de lima
es la muerte – sierra por cima
===========================================================
TEXTS IN ENGLISH
De
Denise Milan / Haroldo de Campos
metapoemas / metapoems
tradução Regina Alfarano
São Paulo: DCL Difusão Cultural do Livro
patrocínio: Grupo Votorantim
the sculpture bestowb voice to the stone
a voice that glistens and bears a shape
a voice that carries volume
tactile voice
the pulsing of the crystal
searches for
the urging of the crystal
searches for form
the crystal in its search for crystallography
the grammar of crystal:
the language minerals lack is
crystal
crystal is the poet among the minerals
it strips solid bodies
and reaches the ectoplasm
of the sun
the crystal cleans
the sun beams
the sculpture transforms the stone
the silent stone speaks
sculpture: translation's metaphor
====================
the sectioning of the world
the circumloquium of the circle
the circum-volution of the brain
the sculpture
the circle the caesura
labyrinth of grooves
====================
the sun from the bowels
bursts out
in the womb of life
polyphemic eye
pollen
of a purple sunflower
sheltered
flame
in a blue
cave
in the urban calotta
access to the underground world
=====================
Denise Milan (escultura) Urbe Cristalina,l995
Photos: TV Cultura - Metropolis - instalação / installationn
são paulo
multilingual city
under the thaumaturgical seal of anchieta
writing on sand
verses of sand
for the ears of wind
portuguese spanish latin tupi
polyglot sign of origins
são paulo
orchid bed of skyscrapers
carbonary mandible
stirring chunks of cement
in the entropic tropic
migration of languages
blending of languages
mastication of languages
portuguese tupi Yoruba
italan german
french english
Spanish Arabic hebrew
japanese chinese Korean
russian armenian greek
ecumenism of languages
sand
solidities
info mineral
denise urbanizes
a polypary of forms
multitudinary crystals
polis of prisms
POEMS IN ENGLISH
DESCONTRÁRIOS – UNENCOUNTRARIES: 6 poetas brasileiros: 6 Brazilian poets. Nelson Ascher et al. Projeto e coordenação editorial Josely Viana Baptista, projeto gráfico e desenhos Francisco Faria, versões dos poemas para o inglês Regina Alfarano et al. Curitiba: Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba/ FCC; Associação Cultural Avelino Vieira / Bamerindus, 1995. 158 p. ilus. “ Josely Viana Baptista “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Signantia: Quasi Coelum
1,1
Glande de cristal
desoculta
ramagem de signos
soa
o acorde do uni
verso
campana estimulada
rútilo
último
coere cúpula radiosa
um sino
sim
Signantia: Quasi Coelum
1,1
Crystal acorn
dis-hidden
branchery of signs
strikes
the chord of the uni
verse
stimulated chime
shining
final
coheres radiante cupola
spells a bell
1,2
amígdalas de esmalte
percutindo o
tingido silêncio
fanos fanopéia teopfania
um sol
o átimo das coisas
se ensolara no sol
como a luz na lente
lucilada os nervos de vidro
do vermelho
o núcleo
1,3
frases
no papel
arestas
de grafite
sub
tendendo
a umbela
arfante
e soa
teofania de signos limalha de cristal vibrada
1,2
enamel tonsils
percussing the
tolling-tinged silence
phanos phanopeia theophany
a sun
the flicker of things
sunstreaks itself in the sun
light in the luminious
lens the glass nerves of
red
the nucleus
1,3
phrases
on paper
graphite
tips
sub
tending
the heaving
dome
and strikes
theophany of sings feather-filings of cristal
1,4
semência
pó de luz
grafo
estalante mas: palabras
simples
como este
agora
todavía
aqui
partículas
sonoras
dígitos de
tempo
dúvida
lugar
ad
versáteis
1,4
seeding
light-dust
starry
grafo but: words
plain
like this
now
however
here
sonorous
particles
digits of
time
doubt
site
ad
versatile
1,5
alvéolos
do globo diamantino
gomos
do grande copo de som: consopros
do respiro total
assim me
assino
1,5
honeycomb cells
diamantine globe
segments
of the great sound globet: conrespirations
of the total breath
so my chime
I sign
(Signantia: Quasi Coelum, 1979)
Translated by Jean R. Longland
de Galáxias
e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e
arremesso e aqui me meço quando se vive sob a espécie da
viagem o que importa não é a viagem mas o começo da por isso
meço por isso começo escrever mil páginas escrever
milumapáginas para acabar com a escritura para começar com a
escritura para acabarcomeçar com a escritura por isso recomeço
por isso arremeço por isso teço escrever sobre escrever é o futuro
do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites
milumapáginas ou uma página em uma noite que é o mesmo
noites e páginas mesmam ensimesmam onde o fim é o comêço
onde escrever sobre o escrever é não escrever sobre não escrever e
por isso começo descomeço pelo descomêço desconheço e me
teço um livro onde tudo seja fortuito e forçoso um livro onde tudo
seja não esteja seja um umbigodomundolivro um
umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o
livro o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o
comêço e volto e revolto pois na volta recomeço reconheço
remeço um livro é o conteúdo do livro e cada página de um livro é
o conteúdo do livro e cada linha de uma página e cada palavra de
uma linha é o conteúdo da palavra da linha da página do livro um
livro ensaia o livro todo livro é um livro de ensaio de ensaios do
livro por isso o fim-comêço começa e fina recomeça e refina
se afina o fim no funil do comêço afunila o comêço no fuzil do fim
no fim do fim recomeça o recomêço refina o refino do fim e onde
fina começa e se apressa e regressa e retece há milumaestórias na
mínima unha de estória por isso não conto por isso não canto por
isso a nàoestória me desconta ou me descanta o avesso da estória
que pode ser escória que pode ser cárie que pode ser estória tudo
depende da hora tudo depende da glória tudo depende de embora
e nada e néris e reles e nemnada de nada e nures de néris de reles
de ralo de raro e nacos de necas e nanjas de nullus e nures de
nenhures e nesgas de nulla res e nenhumzinho de nemnada nunca
pode ser tudo pode ser todo pode ser total tudossomado todo
somassuma de tudo suma somatória do assomo do assombro e
aqui me meço e começo e me projeto eco do comêço eco do eco
de um comêço em eco no soco de um comêço em eco no oco eco
de um soco no osso e aqui ou além ou aquém ou láacolá ou em
toda parte ou em nenhuma parte ou mais além ou menos aquém
ou mais adiante ou menos atrás ou avante ou paravante ou à ré ou
a raso ou a rés começo re começo rés começo raso começo que a
unha-de-fome da estória nào me come nào me consome não me
doma não me redoma pois no osso do comêço só conheço o osso
o osso buco do comêço a bossa do comêço onde é viagem onde a
viagem é maravilha de tornaviagem é tornassol viagem de
maravilha onde a migalha a maravalha a apara é maravilha é
vanilla é vigília é cintila de centelha é favila de fábula é lumínula
de nada e descanto a fábula e desconto as fadas e conto as favas
pois começo a fala
(Galáxias, 1984)
,
from Galaxies
and here I begin I spin here tbe beguine I respin and begin to release
and realize life begins not arrives at tbe end of a trip whicb is why I
begin to respin to write-in tbousand pages write thousandone pages
to end write begin write beginend witb writing and so I begin to
respin to retrace to rewrite write on writing the future of writing’s
the tracing the slaving a tbousandone nights in a thousandone
pages or a page in one night tbe same nights the same pages same
semblance resemblance reassemblance wbere the end is begin where
to write about writing's not writing about not writing and so I begin
to unspin tbe unknown unbegun and trace me a book where all’s
chance and perchance all a book maybe maybe not a travel
navelof-the-world book a travel navelof-the-book world wbere
tripping's the book and its being's the trip and so I begin since the
trip is beguine and I turn and return since the turning's respinning beginning realizing a book is its sense every page is its sense every
line of a page every word of a line is the sense of the line of the page
of tbe book wbich essays any book an essay of essays of the book
whicb is why the begin ends begins and end spins and re-ends and
refines and retunes tbe fine funnel of tbe begunend spun into the
runend in the end of the beginend refines the refined of the final
where it finishes beginnish reruns and returns and the finger
retraces a tbousandone stories an incey wince-story and so count of
no account I don't recount tbe nonstory uncounts me discounts me
the reverse of the story is snot can be rot maybe story depends on the
moment the glory depends on the now and the never on although
and no-go and nowbere and noplace and nibil and nixit and zero
and zilch-it and never can nothing be all can be ali can be total
sum total surpriseing summation of sumptuous assumptiosn and here
I respin I begin to project my echo the wreck oh recurrent echo of the
echoing blow the hollows of Moreaus the marrow that’s beyonder the
over the thisaway everywhere neverwhere overhere
overthere forward more backward less there in revers vice verse
prosa converse I begin I respin verse begin vice respin so that
summated story won’t consume consummate saltimbocca bestride
me barebackbonesberide me begin the beguine of the trip where the
travel’s the Marvel the scrabble’s the marble the vigil’s the travel the
trifle’s the sparkle the embers of fable discount into nothing accounts
for the story since spinning beginning I’m speaking
Translated byy Jill Levint
(from a basic versin by Jon Tolman)
de Galáxias
passatempos e matatempos eu mentoscuro pervago por este
minuscoleante instante de minutos instando alguém e instado além
para contecontear uma estória scherezada minha fada quantos
fados há em cada nada nuga meada noves fora fada scherezada
scherezada uma estória milnoitescontada então o miniminino
adentrou turlumbando a noitrévia forresta e um drago dragoneou-
lhe a turgimano com setifauces furnávidas e grotantro cavurnoso meuminino quer-saber o desfio da formesta o desvio da furnesta só
dragão dragoneante sabe a chave da festa e o dragão dorme a sesta entãoquào meuminino começou sua gesta cirandejo no bosque deu
com a bela endormida belabela me diga uma estória de vida mas a
bela endormida de silêncio endormia e ninguém lhe contava essa
estória se havia meuminino disparte para um reino entrefosco
que o rei morto era posto e o rei posto era morto mas ninguém lhe
contava essa estória desvinda meuminino é soposto a uma prova
de fogo devadear pelo bosque forestear pelo rio trás da testa-de-osso
que há no fundo do poço no fundo catafundo catafalco desse poço
uma testa-de-morto meuminino transfunda adeus no calabouço mas
a testa não conta a estória do seu poço se houve ou se não houve
se foi moça ou foi moço um cisne de outravez lhe aparece no sonho
e pro cisnepaís o leva num revôo meuminino pergunta ao cisne pelo
conto este canta seu canto de cisne e cisnencanta-se dona sol no-que-espera sua chuva de ouro deslumbra meuminino fechada em sua torre dânae princesa incuba coroada de garoa me conta esse teu conto pluvial
de como o ouro num flúvio de poeira irrigou teu tesouro mas a de ouro princesa fechou-se auriconfusa e o menino seguiu no empós do contoconto seguiu de ceca a meca e de musa a medusa todo de ponto em branco todo de branco em ponto scherezada minha fada isto não leva a nada princesa-minha-princesa que estória malencontrada quanto veio quanta volta quanta voluta volada me busque este verossímil que faz o vero da fala e em fado transforma a fada este símil sibilino bicho-azougue serpilino machofêmea do destino e em fala transforma o fado esse bicho malinmaligno vermicego peixepalavra onde o canto conta o canto onde o porquê não diz como onde o ovo busca no ovo o seu oval rebrilhoso onde o fogo virou água a água um corpo gasoso onde o nu desfaz seu nó e a noz se neva de nada uma fada conta um conto que é seu canto de finada mas ninguém nemnunca umzinho pode saber de tal fada seu conto onde começa nesse mesmo onde acaba sua alma não tem palma sua palma é uma água encantada vai minino meuminino desmaginar essa maga é um trabalho fatigoso uma pena celerada você cava milhas adentro e sai no poço onde cava você trabalha trezentos e recolhe um trecentavo troca diamantes milheiros por um carvão mascavado quem sabe nesse carvão esteja o pó-diamantário a madre-dos-diamantes morgana do lapidário e o menino foi e a lenda não conta do seu fadário se voltou ou não voltou se desse ir não se volta a lenda fechada em copas não-diz desdiz só dá voltas
(Galáxias 1984)
from Galaxies
passtimes and killtimes i wendaway darklingfor mindamends through this minimeandering instant of minutes instancing somebody and instanced beyond to telltale a scheherazade thistory my fairy how many fates are there in each nullitywee thread discard nines leaving nought scheherazade scheherazade a nightstory a thousandtimes overtold then the sonnyboy soulumbering into this nightdark florest carne and a drago sevensnouted dragoned bis swellhand into a fernavid and cavernish grottohollow my hoy wants knowhow to unpick this threadform how to sideslip this cavem only the dragon ali dragoning knows the key to this festival and now the dragon at bis siesta is asnoozing then when myhoy began bis ringawinnow round a rosaromanorum gesta in the bosk he stumbled on the sleepy beauty bellabella tell me a life thistory but sleepy beauty in the silence sleepeyed on and nobody told him if there was any forthgoes myhoy to a kingdom interlunar where the dead king was up and the upwas king is dead but nobody told him the sideslip thistory myhoy is only so posed now to suffer the firetrial to for d the bosk and florrage through the river for the headbone that is there in thetwelVs depth in the depth of pickatomb and catafalque in this well is a caput mortuum myhoy doth to godhye suffer a seachange in the cahoose but the head does not tell the thistory of its well if there was or if there was not if it was girl or hoy a swan of anothertime appears to him in a dream and to the swan country takes him swirling in a hird flock myhoy asks the swan ahout the thistory he sings his swansong and swanenchants himself and how is Mrs Sun in the One-Who-Waits and her golden rain illuminates myboyshe is in herdanaê tower incubus princess crowned by a shoiver tell me yourpluvial tale bowit iras thegold in a torrent of dust made spawn your treasure bui auriconfused the princess ofgold clammed up and for tofind the taletale myboy wend on bis wayfrom post to pillarfrom muse to medusa ali dot in white and white in dot scheberazade myfairy tbis is aligoing nowhereprincess myprincess what a thistory of mazeunderstanding bom many more veins and volutes and volutions find me a verysintil that will make of speech the verity and transform infate afairy tbis sybilline sim d of destin e s mercurianimal serpentine malefemale and in speech transforms thefatefind me tbis wickedworking blindworm fishword where the song sings the tale of the song where the why does not tell how where the egg searches in the eggfor its retribrilliant ovalty where thefire heeame mater the mater a body of vapor where the nade unmakes its not and the nut suoms itself witb nothing afairy tells a tale that is her deathsong but nobody not even a tiny one can know of tbis fairy her tale where it begins indeed where itfinishes there is no soul to face for to be told it she is a/l enchanted mater go boy my tinyboy to unimagine this fatamorgana is fatiguising a malefelonious sentençe you dig mi/es doumunder and come out in the well where you dig you work three hundred for three cent you change diamonds myriands for a crude coal irbo knows if this
coal might be the diamondiferous dust the mother-of-diamonds morgana ôf the cbarmstones and the boy meut and the legend does not tell of bis ongoing if be carne back ordid not iffrom bis going one does not come back the legend pokerface does not say only unsays only keepsgoing arpund and around and around
Translated by Norman Potter and Christopher Middleton
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