HAROLDO DE CAMPOS
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“(...) mesmo sendo Haroldo de Campos um representante-fundador do concretismo, não podemos deixar de salientar um certo retorno seu à linearidade do verso, a uma certa discursividade, que inegavelmente, se deve à sua relação com a tradição, que não deixa de fora o BARROCO. Todo seu esforço tem sido de inscrever a tradição numa releitura criativa, num movimento contrário à acumulação ou à consagração pura e simples das obras do passado.”
DARLENE VIANNA GAUDIO ANGELO
“Para mim, ao invés de clausurar, a poesia concreta abriu. Permitiu-me passar de uma reflexão regional (a etapa-limite do desenvolvimento possível de uma poética) a uma reflexão mais geral: pensar o concreto na poesia. Para mim, hoje, toda poesia digna desse nome é concreta. De Homero a Dante. De Goethe a Fernando Pessoa. Pois o poeta é um configurador da materialidade da linguagem (lembre-se o teorema de Jakobson). É só enquanto linguagem materialmente configurada, enquanto concreção de signos, “forma significante”, a poesia é poesia.”
HAROLDO DE CAMPOS, 1985)
ideocabograma
pound attention !
joyce a minute !
finnegans wait !
don´t go beckett !
(in Teoria da Poesia Concreta. Invenção, São Paulo, 1965)
See also here: POEMS IN ENGLISH (TRANSLATIONS OF H.C. POEMS)
VER também: O VELHO TANQUE... tradução do haicai de Bashô, via transcrição em português de HAROLDO DE CAMPOS
se
nasce
morre nasce
morre nasce morre
renasce remorre renasce
remorre renasce
remorre
re
re
desnasce
desmorre desnasce
desmorre desnasce desmorre
nascemorrenasce
morrenasce
morre
se
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Poesia e Idéia
Por Antonio Sérgio Mendonça
In: POESIA DE VANGUARDA NO BRASIL
Petrópolis, RJ: Vozes, 1970. p. 16-18
APRESENTAÇÃO DE LOGOTIPO. A IMAGEM VISUAL nos conduz à continuidade e ao círculo fechado. O ciclo da unidade maior ao ciclo da unicidade menor: sílaba-feto / palavra-vida / sílaba-pó. Opera-se uma seleção fonológica: des /re /mo /rre /nas /ce. Utiliza-se esta seleção fonológica como matéria-prima. Morre / nasce / remorre / renasce / desmorre / desnasce / morre /.Opera-se uma série de movimentações iterativas e interativas entre este plano fonológico e o plano morfológico. Há uma correlação entre o ritmo fonológico (assinalado pelo dinamismo proporcionado pela assonância a/o/e e pela aglutinação sucessiva do consonantalismo r/rr/n/s/sc/d/m/, que se sintetizam em R/S/D/M/N/), e esta seleção convergente do morfológico enquanto sintagma verbal, matéria-prima que é (pela própria semântica de sua classe de palavra) enquanto verbo de ação, presença do dinamismo. Os sintagmas fonológicos RE/SE/ vão constituir uma delimitação etmológica, sintática e rítmica do círculo fechado sílaba-feto/sílaba-palavra / sílaba-pó. Para este círculo convergem a continuidade: rítmica, pospocional e semântica que permite uma leitura: nasce, morre, desnasce, desmorre, nasce, morre. Na qual a introdução do eu é marcada pelo sintagma fonológico delimitador se em sua situação analógica a um sujeito indeterminado impessoalmente, e ao redobro desta situação assinalada pela função etmológica do outro sintagma delimitador /re/.
A espacialização dos “logotipos” verbais também conduz a uma mesma forma, apenas revirada e da qual se conclui um círculo não quebrado. Esse processo significante apresenta a própria temporalidade do eu se opondo à permanência do nós. Recorre a uma idéia de continuidade que a própria forma como apoio empresta ao vocábulo. Desta continuidade analógica até a processos não verbais, marca-se a espacialização da existência – SER/TEMPO/ para fora dos limites verbais de uma filosofia, para coexistir com formas que a atualizam numa nova maneira de estar no mundo. O pegar do movimento espacial do logotipo, correlacionando-o a uma leitura semiológica, onde destaca o dinâmico, é o procedimento estético fundamental, e que talvez leve a um dado fora, inclusive, dos limites do poema-concreto.
A poesia se faz primeiro com idéias (onde sua leitura depende da depreensão de seu significante) e depois com palavras. Pois palavra não é o único processo significante fora dos limites meramente verbais. O impulso estético é dado por um condicionante não verbal. Sua interpretação, apenas, é que se dá em limites puramente verbais. “Um poema se faz com idéias e não com palavras”, Wlademir Dias-Pino, 1967). Isto não implica no abandono puro e simples da palavra enquanto processo artificial, mas em usá-la quando indispensável, e inclusive espacializando-a fora dos curtos limites de seu emprego meramente verbal. Os conceitos foram inclusive os primeiros a impor o desprendimento da idéia global do poema dos limites da palavra.
CAMPOS, Haroldo; SILVEIRA, Regina. Il M ago dell´Om Ega 1955-1956. / Labirinti 1971. Poemas de Haroldo de Campos com dibujos de Regina Silveira. Separata de ESPACIO/ESPAÇO ESCRITO N. 21 – 22, Badajoz, 171. 32 p. 20,5x20,5 cm. “Tau / ma 3” Col. Bibl. Antonio Miranda.
"
TRANSFUTUR. Visuelle Poesie aus der Sowjetunion, Brasilien und deutschsprachigen Lämdern. Ein Katalogbuch. Herausgegeben von Friedrich W. Block in Zusammenarbeit mit André Vallias und Valeri Scherstjanoi. Kassel: Jenior und Pressler, 1990. ISBN 3-928172-02-697 p, ilus. 21x30 cm Inclui imagens de poemas visuais dos brasileiros Arnaldo Antunes, Lenora de Barros, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Luciano Figueiredo, Tadeu Jungle, Omar Khouri, Betty Leirner, Paulo Miranda, Décio Pignatari, Walter Silveira, Livio Tragtenberg, André Vallias. Ex. bibl. Antonio Miranda
"ENCANTAÇÃO PELO RISO" ( Beschwörung durch Lachen), "Trnskreation von Chhiebnikovs Gedicht durch J. Campos, visuelle interpretation durch André Vallias. 1967/1990, Computergrafik. (weiB , rot. schwarz), zylindrisch geformt, 60x20
LEIA TÁMBEM O SEGUINTE EDITORIAL EM QUE SE FALA DA OBRA DE HAROLDO: POÉTICA REVOLUCIONÁRIA E ANTI-AUTORITÁRIA? – por Olga de Sá – Editorial No. 66
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POEMS IN ENGLISH (TRANSLATIONS OF H.C. POEMS)
HAROLDO DE CAMPOS
(1958)
cristal = crystal; fome = hunger; forma = form; de = of.
"An essay of poetic crytalography. The metaphorical hunger of form and form as a kind of hunger. Crystal as the ideogram of the process." (H. C.)
se = if; nasce = (a human being) is born; morre = (a human being) dies; re = again; denasce = (a human being) is unborn; desmorre = (a human being) undies.
"Hans Arp once made the following comparison between the poetry of the painter-poet Kandinsky and the poetry of Goethe: "A poem by Goethe teaches de reader, in a poetical way, that death and transformation are the inclusive condition of man. Kandinsky , on the contrary, places the reader before an image of dying and transforming words, before a series of dying and transforming words... "This poems wants to be an exact presentification of the proposiition. The vital cycle for the Joycean "vicocycle")" (H. C.)
(Translation by Marco Guimarães and M.E.S.) from: ARTES HISPANICAS / HISPANIC ARTS vOLUME 1 nUMBER 3 & 4 Winter Spring 1968
Veja também:
Entremilenios, Translation Portuguese-Spanish of Haroldo de Campos’ posthumous poetry book and introductory study. Bilingual edition. Colección Transatlántica, Ed. Amargord, Madrid, Spring 2013.
http://amargordtransatlantica.blogspot.com/2013/04/t17-haroldo-de-campos-entremilenios.html
Página publicada em outubro de 2008; ampliada e republicada em junho 2010, ampliada e republicada em fevereiro de 2014. Ampliada em julho de 2020
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