POESIA GOIANA
ELIZABETH CALDEIRA BRITO
Nasceu em Goiânia – Goiás. Formou-se em Educação Física e em Psicologia . Fez pós-graduações nos dois cursos. Foi professora de dança na Universidade Católica de Goiás (UCG), e no Centro Livre de Artes, tendo sido aprovada em primeiro lugar em concurso público, foi sua diretora por nove anos. É membro da UBE-GO, da Comissão Goiana de Folclore, da Associação Goiana da Imprensa, da Academia de Letras Ciências e Artes de Campo Formoso, da Academia Belavistense de Letras e Artes. É Chefe de Gabinete do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás onde é Sócia Titular. É Conselheira do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de Goiânia. Recebeu o título de Personalidade Cultural do Ano-2005 pela UBE-Goiás. Publicou os livros: Dimensões do Viver, Quatro Poetas Goianos e Um Pintor Francês e O Avesso das Horas e Outros (edição trilingue: português, espanhol e francês). Participa de várias Antologiasnacionais. Representou o Brasil em Encontros culturais no Chile, Peru e Argentina.
“Poesia de sinceridade, coragem e delicada sensibilidade, O Avesso das Horas revela o advento de uma alma intensa, de um intenso comprometimento dramático, em versos de beleza singular, capazes de divisar ao leitor novas faces do ser e candentes desafios que cotejam o frágil universo das aspirações humanas.” AIDENOR AIRES
"Continue Beth a nos pegar pelas mãos e nos levar às sendas do amor, do lirismo, da sensibilidade, da reflexão, da arte de viver sem pejo, sem omissões, sem hipocrisia, só com afeto grandioso para pessoas e seres num panteísmo de estar aqui e agora doando/dando seu recado de estar no mundo.” AUGUSTA FARO FLEURY DE MELO
" ...A autora, possui o instinto do verso e a visão rítmica do poema, se destaca na preocupação de selecionar os seus temas, geralmente de forte conteúdo humano, solidário, alcançando assim – pelo rigor e pela seleção um grau perfeito de beleza poética.” GILBERTO MENDONÇA TELES
"...Continue a ser questionadora de tabus, avessa a endossar o hipócrita bom - mocismo da moralidade burguesa. Pois é tarefa dos verdadeiros escritores colocarem-se a serviço da franqueza e da coragem - vai longe o tempo, em que aceitava-se como esplêndidas poetisas, pessoas que resignava-se a compor quadrinhas sobre o jardim de inverno de suas mansões ou garatujar acrósticos bobocas sobre ‘a doce manga, a saborosa jaca’.” BRASIGÓIS FELÍCIO
“Elizabeth é um mulher moderna, discreta e inteligente. [...] Porém Elizabeth tem uma fraqueza: é poeta; e em sua poesia pode se ver que tem em seu coração muito amor e uma certa tristeza. E por se tratar de uma autêntica poeta que podemos descobrir, sem perguntar muito sobre sua vida, que Elizabeth é moderna, discreta, inteligente, sorridente, amável, bela e às vezes triste é que sua sensibilidade é sempre verdadeira.” YVAN AVENA
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
BIPOLAR
O kamikaze
mergulha
em vôo errático,
no vale da morte.
E fica, enquanto
a sombra do que é
permanece.
E quando a vida
revés retorna,
emerge para
o outro pólo.
Então sorri,
da desgraça de si.
Assim vai vivendo
mar adentro,
procurando o caminho,
o equilíbrio, o centro.
NOSTALGIA
Saudade,
já não cabe em si.
Evola nos poros.
No sombrio olhar
se deixa ficar.
No soluço da alma
plangia ausência.
Não disfarça a efígie:
fantasma de um
que o outro não tem.
Saudade,
camufla alegria,
contagia tristeza,
suprime euforia.
De quem outrora,
por não ser assim
era tão infeliz!
O AVESSO DAS HORAS
Teço o que sou
no vazio dos dias.
Sigo no avesso relógio ao c
o
n
t
r
á
r
i
o
.
O tempo tem seu tempo contado,
faz do sonho o inimaginável.
Há quem responde a completude do ser?
Senão às horas, aos dias, ao tempo
e à angústia de viver?
O ser ressurge
do sêmen que à vida jorrou.
E o criador fez a criatura
viver infeliz abismos noturnos.
Sequer importa a vida lá fora,
acorda a morte prematura.
PALAVRA
Imersa à infância
traduz o Outro ser.
O sentido é imposto:
significa o que o Outro
indivíduo quer dizer.
Palavra de então,
que ainda não se crê:
transporta o que é de si
em signo do além,
congela a realidade,
reforça preconceitos.
Som que silencia
a história que contém.
Palavra que liberta
as sementes da fala.
Quando mais germina,
quanto mais se cala.
RETIRANTE
A Aidenor Aires
A cidade vazia
metrópole fria,
soluça a ausência
do menino amado.
Debandando a fome,
no sacolejo dos dias,
buscou outro rumo.
Buscou outro estado.
Na cidade aporta.
Medrando em labuta,
em rol de palavras,
é lesto adotado.
E àquela que um dia,
foi berço esquecido,
agora em alforria,
retorna em vitória.
A cidade vazia
especa, aguarda
o retorno de seu
menino de glória.
EXPERIÊNCIA
O canto de um ser plural,
guardará indelével,
os amanhãs que chegam,
à sombra daqueles
estagnados,
no avesso das horas.
Cravada na geografia dos rios
da correnteza do sangue,
nos fios de memória
que guardam o lume
das claras manhãs.
A vida celebra.
E ao inexistir
a cal desses dias,
haverá de estar
para além do fim,
a experiência.
LITERATURA GOYAZ. Antologia 2015. Adalberto de Queiroz, org. Goiânia, GO: Ed. Livres Pensadores, 2015. 160 p. Capa: Thálita Miranda. ISBN 978-85-69024-05-7 Ex. bibl. Antonio Miranda
EMPATIA
Vem aprender-me:
retire dos olhos
as vendas adâmicas.
Afaste as máscaras
que reflete em mim.
Coloca-te onde estou.
E vê,
com os olhos
de minha alma,
todo o universo.
Aprenderá assim,
de infinita forma,
o Eu de mim.
----------------------------------------------------------------------------------
TEXTOS EN ESPAÑOL
DUALIDAD
La poesía
en el asombro de la noche
se rompió.
Hay los que se exponen
en palabras, líneas
y metáforas,
en distancia de las horas.
Hay los que se esconden,
bajo el pulso
que arde/adía
sueño, placer
y fantasía.
Un anochecer
sin fuerza para contenerse,
afin que el otro consiga
sobrevivir.
TÍMIDA OBSESIÓN
Quiero ser
la golosina que te acuna el ánimo,
la miel que te endulza el beso,
la lengua que te hace el habla,
el sonido que encanta el alma.
Quiero ser
la luz que de ti emana,
el viento que te roza y te hiere,
el aire que en ti respira,
el sudor que aflora de tu piel.
Quiero ser
la sábana que te acuna en el sueño,
el sueño que puebla el espíritu,
la imagen que guarda la retina,
el suelo que pisan tus piés.
Quiero ser
el río que te baña el cuerpo,
la paja que te protege del sol,
el agua que bebe tu sed
y la sombra que te sigue siempre.
EL TIEMPO
Procúrase
en las horas lentas,
consumidas
en ilusiones
y esperanza de una única vía.
Procúrase
en los nebulosos días,
el brillo de un mirar
que con el asalto del tiempo
se vistió de bajas
y opacas neblinas.
Procúrase
en el campo invisible
el silente deseo
del instante de sueño
que sólo el tiempo puede enseñar.
Y vislumbrando mañanas
de viajes sin fin,
en horas amargas
e días inválidos,
que el tiempo hurde
con singulares figuras.
Y construye para siempre
una infeliz criatura.
SOLA
Dame la mordaza,
se necesitan palabras.
Átame los pasos
descaminando veredas.
Dame la soledad
exponiéndome a la vida.
Átame el gesto
al arrojarme al mar.
Es así que se reside
en un ser singular.
A CONSUMIRSE
La noche
no termina
y consagra la ausencia
que puebla la mente.
La espera
se consume en el sueño,
en el afán del encuentro
se ofrece entera.
En el tiempo
de cier ta incertidumbre,
en un guiñar de ojos
se enciende una llama.
No para sí,
pero para la vela encendida.
INSTANTE
Impedir
que el momento
pase como un relámpago.
Detenerlo
en el instante
del reflejo de la mirada
de la deseada imagen.
Te j e r
palabras que traducen
el cuerpo hasta
quedar mudo.
Ocultar
los desvelados
secretos, inscriptos
en cada poro
en el pulso acelerado
de la emoción contenida.
Traducir
las ocultas ideas
y las metáforas.
Desvendar
lo que está frente a los ojos,
al alcance de las manos.
BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6 BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6
Ex. bibl. Antonio Miranda
CERÚCAÇÁUA*
Braços sem função.
Gestos não se explicam
às surdas mãos.
No abismo dos pés:
o vazio do chão
e a civilização.
À possibilidade
resiste e revolta.
—Aqui estamos!
Onde estão
aqueles quem fomos?
(*Do tupi: batismo)
TÍMIDA OBSSESSÃO
Quero ser
bola que te embala o ânimo
o mel que te adoça o beijo,
a língua que te faz a fala
e o seu som, que encanta almas.
Quero ser
que de ti emana,
o vento que te roça e fere,
o ar que em ti entranha,
o suor que te aflora à pele.
Quero ser
o lençol que embala o sono,
o sonho que te povoa o espírito,
a imagem que guarda a retina,
o chão que te pisa os pés.
Quero ser
o rio que te banha o corpo,
a palha que te guarda o sol,
a água que te bebe a sede,
e a sombra que te segue sempre.
STRIP TEASE*
Fiz strip-tease dos verbos
que me vestiam,
para cobrir-me
em tatuagens,
das incríveis
viagens de tuas
mãos.
*Do livro O avesso das horas & outros.
OITO DE MARÇO
O anseio pela igualdade,
na busca da perfeição,
grandes batalhas diárias,
injusta luta e servidão.
Em gotas suas conquistas
não sem grandes sacrifícios.
Foram mortas ou se entregaram,
para alcançar benefícios.
É difícil mudar valores,
de pessoa chauvinista
e homens que comandaram
a história sempre machista.
Trabalho, filhos, ciência...
A mulher se empenha e desdobra
em qualquer missão,
justificando vidas perdidas,
das operárias presas
e mortas no galpão.
SAUDADE
Daquele dia em diante
você se tornou apenas sonhos,
sombras, palavras e imagens
não refletidas.
-----
STRIP-TEASE
Hice strip-tease de los verbos
que me vestían,
para cubrirme
con los tatuajes,
de los increíbles
viajes de tus
manos.
*Traduccion de Perpétua Flores
*
VEJA e LEIA outros poetas de GOIÁS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/goias.html
Página publicada em junho de 2021
Página ampliada em junho de 2017 |