Fonte: www.cafecolombo.com.br
CÉSAR LEAL
Nasceu na fazenda Belmonte, município de Saboeiro (Ceará, Brasil), em 1924. Foi redator do “Diário de Pernambuco” e mais tarde do “Diário Literário”. Leal está reputado como um dos jornalista mais lúcidos do Brasil. Grande ensaísta e especialista em Dante. Criou o programa de pós-graduação em Letras e Linguística na Universidade Federal de Pernambuco. Foi membro do Conselho Federal de Cultura. Traduzido para vários idiomas.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL / EN FRANÇAIS
TEXTOS EM ALEMÃO (DEUTSCH)
Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. y Trad. Xosé Lois García
Edicións Laiovento
Santiago de Compostela, 2001
SUTILÍSSIMO ETERNO
Sutilíssimo eterno que habita
minhas saletas interiores
onde trago o tempo guardado
noturno e resignado
sutilíssimo eterno interior
que como um tálamo é
em minha alma limpa e sofrida
como água dormida em pedra
que eterna seiva alimenta
este tempo em mim retido
plumagem livre de flor
forma exata imperecível
sinto-te assim como um trunfo
branda coroa do eterno
além das nuvens, das águas
ouço o teu metal desperto
se existes no ser completo
na cinza móvel das sombras
por que retiras de mim
tudo o que em mim não é pântano?
ANÁLISE DA SOMBRA
Analisa-se da sombra
seu caráter permanente:
pela manhã retraindo
a imagem, à tarde crescente.
E aquele instante em que a sombra
adelgaça o corpo fino
como se no chão entrasse
quando o sol se encontra a pino.
Quem a esse instante mira
em oposição ao lado
onde o sol era luz antes
logo vê o passo vago
da sombra que agora cresce
o corpo de onde se filtra
até fundir-se no limbo
que em torno dela gravita.
Forma esse limbo a coroa
que as sombras traz federadas:
soma de todas as sombras
num só nó à noite atadas.
OS DOIS SEMESTRES DO JAGUARIBE
Eis o Jaguaribe, rio
elegante, limpo e seco,
de janeiro à junho é água,
de julho a dezembro, areia.
É rio de muita força
e muito orgulho nas águas,
quando seco, é belo e manso;
cheio é feio e temerário.
Corre entre campos antigos,
entre móquens, molungus,
alvas roças de algodão,
gado açoreano e zebu.
Em janeiro suas águas
têm um brilho de metal,
mas em abril esse brilho
já começa a enferrujar,
todo em ferrugem vestido,
em meio o rio é vermelho,
finda junho e ele penetra
em seu semestre de areia.
POEMA DA NOITE MENOR
Desça a noite suavemente
ao encontro das auroras
movendo remos de sono.
Venha a linguagem das pedras
sangre o peito dos rochedos
à lança dos furacões.
Bandeiras de vento ondulem
na terra oculta dos sonhos
as trevas sepultem luas.
Nuvens caídas repuxem
meu corpo de luz suspenso
pelas cordas do arco-íris.
Nos labirintos da morte
— a espessura do silêncio
e a rota desconhecida.
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De
OS HERÓIS
Capa e ilustrações de Francisco Brennand
Recife: Bagaço, 1996
ISBN 85.85763-06-X
NASSAU
Cheguei a Pernambuco, eu era um príncipe,
nobre alemão — sem ódio nem temores —
trouxe comigo a arte dos flamengos,
junto ao canhão: cinzel, pincel, pintores...
Fiz do Recife uma cidade eterna
— com tantas pontes dei beleza ao rio
para os da terra eu fui duro na guerra
e lhes mostrei de minha espada o fio
De volta à Europa, já no mar de longo,
lembrei os canaviais — outros o tomem!
Na Alemanha escrevi meu epitáfio:
“A morte é a última vaidade do Homem”.
DIAS CARDOSO
DE LONGE vim e aqui
pisei
o amado solo brasileiro
— permaneci na mata oculto
a preparar os guerrilheiros.
Era preciso amar o
braço
da gigantesca inusrreição
e fez-me Deus um dos
soldados
a expulsar a invasão.
Assim cheguei a Pernambuco
— já tão distante a Pátria tinha
que amar a nova foi princípio
como se fora a Pátria minha.
|
De
LEAL, César.
Os Heróis.
Desenhos de Francisco Brennand.
Recife: Governo do Estado de Pernambuco, Secreatria de Turismo, Cultura e Esportes, 1983. s.p. ilus. p&b formato 15,25 x 22,5 cm. Edição supervisionada pelo arquiteto Moisés Andrade e organizada pelo pintor José Cláudio. Composição, montagem, fotolito, impressão e acabamento da Cia. Editora de Pernambuco – CEPE, em papel couchê. Col. A.M. (EE)
MATHIAS DE ALBUQUERQUE
Em minha tumba arde rubra chama
que pulsa como fogo universal,
Mas hoje no Recife já não temos
heróis como Barreto e André Vidal.
Irei levar o meu exemplo aos vivos
que mortos já se encontram antes da morte
irei erguer de novo em Pernambuco
em outras mãos a minha espada forte.
LEAL, César. Animal do abismo e outras vozes do inverno. Vol. I. Recife: Edições Bagaço, 2011. 84 p. A trilogia pretende versar sobre os BRICs – Brasil, Rússia, Índia e África do Sul -, sendo o primeiro sobre a Rússia. Col. A.M.
Os dois tamarindos
A Aécia Leal
No sonho duas imagens: dois tamarindos
no pátio
onde frutos, folhas e ninhos nos galhos
se misturavam.
Grandes cavalos castanhos as sombras
daquelas árvores
batiam os cascos no solo como se pedissem
banhos.
As cilhas das fortes celas eram entáo
afrouxadas
num lado, couro curtido, noutro douradas
fivelas.
Em frente ficava a casa erguida diante
do tempo
Belmonte que já cantei nas Invenções
de 50.
Hoje de Belmonte restam no tempo tristes
escombros
mas os mortos tamarindos resistem vivos
nos sonhos.
O respirar da terra
O vasto sopro do mar balança as frondes,
a jardineira, no jardim de tantas flores,
me faz desafiar os espinhos das roseiras.
Há um silêncio que abranda os ruídos da Terra,
o tempo afrouxa suas horas, os momentos
deslizam nos dias, o poema se ergue irónico,
a esconder o pranto das ondas
na fronde das litorâneas palmeiras latinas.
SANTOS, Dulcinea. Entre a vigília e o sono: o processo criador de César Leal. Porto Alegre: Editora HCE, 2012. 86 p. Capa: foto do poeta por Heitor Cunha. ISBN 978-85-65926-02-4 Ensaio sobre a poesia de César Leal. Inclui também poemas dedicados a César Leal pelos poetas Bruno Tolentino, Emílio Moura, Tereza Tenório, Jaci Bezerra, Esman Dias, A.B. Mendes Cadaxa, Weysdon Barros Leal, Marcus Accioli, Francisco Carvalho, Deborah Brennand, José Alcides Pinto e Ariano Suassuana. Col. A.M.
A seguir, um poema de César Leal que aparece na última capa:
Tirésias
Quando o véu do futuro,
durante o nosso sono
se rompe de repente
pela força do sonho
Então nos é mostrado
o não acontecido
mas que pode ocorrer
por ser no sonho visto:
são proféticos sonhos
em símbolos mostrando
o diamante da vida
duras pedras riscando.
E próprio do diamante
— se encontra bem provado
riscar todas as pedras:
por nenhuma é riscado.
Assim quem bem trabalha
os desenhos do sono,
lapida com mais arte
o diamante do sonho!
LEAL, César. A águia e o Simurgh: imagens poéticas. Organização, apresentação e notas Luiz-Olyntho Telles da Silva. Porto Alegre HCE editora, 2011. 103 p. 11,5x19,5 cm. Capa: Retrato de Dante Alighieri, por Giodotto di Bondone. Retrato de César Leal na orelha, por Gil Vicente (1995). Textos adicionais de Weysdon Barros Leal e Dulcinea Santos. Textos de César Leal sobre Dante Alighieri. Inclui também o poema “A Oriental Safira”, de César Leal em homenagem a Nélida Piñon. Col. A.M.
A ORIENTAL SAFIRA
à Nélida Pinon
La gloria de colui che tutto move
faz ondular no céu o seu rebanho
- limpos diamantes a girar na luz —
rugem vulcões nos abissais do mar,
treme o horizonte quase a rebentar,
ouço o rumor da nuvem que se move.
Sobre minh'alma agora aberta em cruz
penetram sombras altas como a noite,
trazendo aos sonhos só águas barrentas,
onde fixos estão alvos secretos,
do firmamento os seus mais altos tetos,
rubros cristais no azul do mar só luz.
A sombra me conduz a outras paisagens,
a Montanha de Kaf (cerca a Terra),
os rios, os ciprestes inclinados,
as cidadelas brancas onde a Morte
joga com seu punhal e afina o corte,
levando a todos a cruel mensagem. .
Alvos astros ao sul desenham a cruz,
enquanto o Tempo vai medido em anos,
e céu e mar ocultam seus mistérios!
Sinto que o dia avança e leva a face
que mostra ao mundo o seu olhar fugace
- a Terra argila azul banhada em luz.
Vencido o nevoeiro chego ao ponto
onde são vistas brisas na folhagem
e aves a construir os altos ninhos...
a música do Sol no sentimento
me faz chegar à voz um canto lento
de cujas notas sou o contraponto.
Vejo no Limbo a trágica beleza...
o passado que volta é só lembrança
do Planeta banhado pelo Sol.
Sinto Francesca o Amor que fez maldita
a tua sorte expressa em fala aflita
neste lar onde o Tempo é só tristeza.
No Flegetonte um Sábio me aconselha
a não parar às margens desse rio
onde as águas ardentes brotam chamas!
Reconhecendo aquela voz amiga,
lembro, é meu mestre nesta casa antiga
que tem o firmamento como telha.
E conversamos como antigamente,
nada direi do rosto requeimado,
que vejo em fogo — máscara de brasas —,
aceito o que me diz, muito o admiro,
das lições que me dá conclusões tiro:
tem violinos na voz eternamente...
Aos sólios do solstício eis-me lançado
e de seu trono em calma fito o mundo
com tantas lutas e ódios tão ferozes,
arranco a voz todo falar futuro,
as trevas já me rondam feitas muro
- subitamente vejo-me cercado.
O Tempo ao mundo vai ficando espesso,
a suave luz do mar no mar se oculta
e o canto muda em notas de aspereza,
Eneias busca a gruta de Sibila,
a precisão do Oráculo destila,
a flecha acerta Dido no arremesso.
Lança-se ao mar no lenho a recordar
as Portas de Marfim vistas no sonho
apaziguando velhas cicatrizes!...
e lembra Tróia e a guerra não vencida,
a Ílion de altos muros jaz perdida
sem Dido novo reino vai fundar.
Como no palco as vozes vão subindo
e o semblante do coro vai baixando
até que da plateia chega o aplauso...
Assim sobe na morte o sol futuro
e baixa as duras pedras deste muro
quando da vida o tempo for fugindo!
A brisa, a planta, a folha, a rosa, o fim,
a brasa, a vela, a dança, a nuvem, o ar,
a vaga, a ilha, a selva, o lago, a cinza,
o promontório, a pluma, o voo, a asa,
a forma, o Sol, e novamente a brasa,
a voz do amor, o cósmico marfim.
Qual braseiro coberto pelas cinzas
ao sopro matinal mostra o rubor
que no sono das brasas se ocultava,
o sono assim ferido pela voz
desperta esse braseiro oculto em nós
e lança no ar da tarde suas cinzas.
Flóridas águas, onduladas cores
que a forma toma de claras vogais
saltando limpas de exiladas vozes...
Sobre o horizonte da linguagem chove
azulada neblina que se move
levando águas à terra e à vida, amores.
A cruz no azul do céu do meu país
que aumenta a Fé no sonho dos meninos
- meridionais na morte e no nascimento —
é o lampadário ao Sul que a noite acende
e seu desenho pelo céu resplende
simbolizando a força que Deus quis.
A eterna luz no olhar é puro engano,
uma ilusão que as flores negariam
ao se inclinar no caule a cada tarde,
a Ursa em seu voar deseja menos,
ainda que tenha a altura que não temos
nem mede seu viver ano por ano!
Mas a treva nos cerca como o Tempo
nesse rodar veloz das estações
que vão mudando a fala das crianças,
até que nosso corpo verga ao peso
que atrai do jovem olhar pena e desprezo
e a mente nega forma ao pensamento.
A sombra é sono, o sono esmaga a mente
com sonhos-pesadelos de quem sofre
nos campos do sonhar sono sem fim
onde o sonho no sono aponta a morte
e a Morte ao produzir seu fundo corte
recorda o sono forte a toda gente.
Se a vida foi ao homem consentida,
as coisas que as virtudes aniquilam
vivê-las plenamente todos querem...
Mas quem foi para a morte destinado
e o mais que fez fiou no já passado
a vida pouco vale em ser vivida!
Prateadas vozes, luminosos dedos,
neblina azul no fundo azul das águas,
pés orvalhados, alvos tornozelos!...
Olhar pesado e cego ao céu profundo,
deixar o lar, o mar, o sol, o mundo
— saber-se unido ao sono dos rochedos.
Cego leopardo! Garra de leão,
exasperante loba no poente,
cascavel ébria que me habita os sonhos,
é o sono quem nos governa o futuro,
eu sei que tudo é pó, é pedra, é muro,
nem sombra ficará, tudo é carvão.
As belas formas jazerão sem cores,
feitos de lírios pareciam os dedos,
dentro das tumbas soltas cabeleiras,
antes do pó é limo o corpo todo,
o ventre claro agora é um pardo lodo
hormônio e sangue alimento das flores.
A você pelo céu resplende e canta,
em seu delírio de neblina e sombra,
topázio triste que consola os campos...
Os ramos pesam sobre o caule e a Terra
sustenta o sol nas asas dessa guerra
onde a voz de Spandau o mundo espanta.
Do Templo das palavras me retiro
para deixar no mundo esta linguagem
que, se diz muito, pouco ainda diria!
No céu, eis o luzeiro constelado
e todo o alvorecer vejo banhado
na doce cor d'oriental zaffiro.
LEAL, César. Der Triumph der Wasser und ander Gedichte. O Triunfo das Águas e outros poemas. Edição bilíngue. Aus dem brasilianschen Portugiesisch mit einer Einfuhrung und einem Glossar von Curt Meuer-Clason. Recife: Edições Bagaço, 2008. 198 p. ilus. Textos em português e alemão. Inclui glossário. Capa: Cristiane Lacerda. Foto da capa: Majela Colares. ISBN 978-85-373-0477-8 Col. A.M.
O eterno fluir do sangue
NÃO importa a montanha, a altura das árvores
e das armas,
nem o rochedo solitário à margem direita
do rio,
o Cisne olha o céu nas águas e não vê mais
do que nuvens finíssimas e fixas
cujas sombras nas ondas se movem apenas
por estarem o Sol e
a Terra em movimento.
Em movimento...
Planetas e estrelas nunca param, assim como o sal e
o sangue ancestral - navegantes da carne - num eterno fluir
chegaram
ao
coração ( ) ( ) () () ( ) da
humanidade.
Libertação
A Oswaldino Marques
Vejo um oceano de luz
banhando o linho do mar
é o fogo dos raios vivos
que estão sempre a navegar
pelos caminhos da treva
celeste, luz a reinar
por entre os montes da terra
e os fundos vales do mar
Do sol se nutre o seu fogo
buscando sempre alcançar
o amor, limite do ódio,
o ódio limite do amar
e essa luz que no ar cintila
é o diamante das mágoas
cintila em meu sangue aceso
Já que sou parte das águas.
E sendo poeta sou águia
e voo na luz Transbordante
dos astros que cruzam os céus
guardando ordem constante
Por ser águia irei voando
e abismos de Eternidade
minhas asas irão cortando
em busca da Liberdade
Sei que o Porto não está longe
e seu cais hei de alcançar:
Pois a vida só é vida
quando se vive a lutar.
E mais livre ainda serei
- livre do voo e da dor -
quando a morte me atirar
no seu vasto Corredor.
LEAL, César. Quatro estudos de poesia & quatro poemas. Recife: Bagaço, 1998. 136 p. 11x18 cm. Inclui: Universalidade de Jorge de Lima; As fontes clássicas e populares da poesia de Ariano Suassuna; Dimensões temporais da poesia; O universo poético de Joaquim Cardoso. Col. A.M.
ANTÔNIO CONSELHEIRO
Cheguei à Terra e em Canudos fiquei.
Cercado pelo muro das colinas
A missão do destino comecei.
Uma Igreja de rústica beleza
De pedra e cal ergui até os céus
Ao Ministro maior da natureza.
Ao concluir a enorme Catedral
Olhei a torre, levando até o bronze
A força do metal contra o metal.
Quando o sino vibrou tremeu a Terra.
A luz do Setestrelo se apagou
E contra os meus moveu-se o anjo da guerra.
(Uma guerra com um tiro se inicia
E logo se propaga como um fogo
Assim a de Canudos principia.)
Não quis lutar nem luta desejei
E se lutei foi para honrar a vida
Ao ver banhada em sangue a minha grei.
A arte da guerra eu ensinei aos meus
Ao enfrentar canhões com espingardas
— Tal arte o militar não aprendeu.
Por nove luas o sol da artilharia
Descia com seus raios sobre o vale
— À noite nossa prece ao Céu subia.
Quando o arraial de obuses foi coberto
Saí ao campo e um mar de baionetas
Eu enfrentei de peito descoberto.
E aqueles cuja face foi banhada
No branco olhar da morte viram a Vida
Da carne ainda aos ossos agarrada.
E foi descendo em nós treva profunda
Enquanto a cada dia novos corpos
Já carne aos brancos ossos não circunda.
Baixaram até o solo o meu povoado
E o Sacrário tão caro a nosso povo
Pelo inimigo foi despedaçado.
Soube o Brasil assim quanto eram fortes
Aqueles cujo sangue misturaram
Ao sangue dos irmãos, juntos na morte.
Sei que ganhei porque não fui vencido:
Nas minhas mãos a Cruz jamais tremeu
Ante a Espada feroz do inimigo
Do meu viver sempre haverá memória.
Lembro os algozes: dizem " Tiradentes!"
Sem exemplos seguir, de sua história
Aqui estou meu Deus com Vossa Lei
E com meu povo vivo eternamente,
Tomei-me um Mito e um mito
é mais que um Rei
Por isso estou aqui com minha gente.
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TEXTOS EM ALEMÃO
( DEUTSCH )
Das Ewige Fliessen des Blutes
Unwichtig ist der Berg, die Höhe der Bäume
und der Waffen,
auch der einsame Felsen auf dem rechten Ufer
des Flusses,
der Schwan betrachtet den Himmel im Wasser und sieht
nur hauchdünne und unbewegliche Wolken
deren Schatten sich kaum auf den Wellen bewegen
weil die Sonne und die Erde
in Bewegung sind.
In Bewegung...
Planeten und Sterne halten nie inne, so wie das Salz und
das uralte Blut - Seefahrer des Fleischs - im ewigen
Fließen
Zum
Herzen ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) der
Menschheit gelangten.
Befreiung
Für Oswaldino Marques
Ich sehe einen Ozean aus Licht
der das Leinen des Meeres badet
es ist das Feuer der lebendigen Strahlen
die stets dahinsegeln
auf den Wegen der himmlischen
Finsternis, Licht das über den
Bergen der Erde herrscht
und den tiefen Tälern des Meeres
Von der Sonne nährt sich ihr Feuer
und sucht immer die Liebe zu erreichen
die Grenze des Hasses,
den Hass Grenze des Liebens
und jenes Licht, das in der Luft funkelt
ist der Diamant der Schmerzen:
es funkelt in meinem entbrannten Blut
da ich ja Teil der Wasser bin.
Und da ich Dichter bin bin ich Adler
und Flug im überbordenden Licht
der Sterne welche die Himmel durchqueren
und dabei ständige Ordnung bewahren
Da ich Adler bin werde ich fliegen
und Abgründe der Ewigkeit
werden meine Flügel durchkreuzen
auf der Suche nach der Freiheit
Ich weiß dass der Hafen nicht fern ist
und ich seine Kais erreichen muss:
Denn das Leben ist nur Leben
wenn man lebt um zu kämpfen
Und ich werde noch freier sein
— frei vom Flug und vom Schmerz -
wenn der Tod mich in
seinen weiten Flur wirft.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Retrato de César Leal na orelha, por Gil Vicente (1995).
Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. y Trad. Xosé Lois García
Edicións Laiovento
Santiago de Compostela, 2001
SUTILÍSIMO ETERNO
Sutiliísimo eterno que habita
Mis espacios interiores
donde tengo el tiempo guardado
nocturno y resignado
sutilísimo eterno interior
que como un tálamo es
en mi alma limpia y sufrida
como agua dormida en piedra
que eterna sabia alimenta
este tiempo en í retenido
plumaje libre de flor
forma exacta inmortal
mesiento así como un triunfo
blanda corona de lo eterno
más allá de las nubes
escucho tu metal despierto
si existes como ser completo
en la ceniza móvil de las sombras
¿ por qué retiras de mí
Todo lo que em mi no es pantano?
ANÁLISIS DE LA SOMBRA
Se analiza de la sombra
su carácter permanente:
por la mañana retayendo
la imagen, a la tarde creciendo.
Y aquel instante enj que la sombra
adelgaza el cuerpo fino
como si em el suelo entrase
cuando el sol se encuentra en su cénit.
Quien en ese instante mira
en oposición al lado
donde el sol era luz antes
observa al vagaroso paso
de la sombra que ahora crece
el cuerpo de donde se filtra
hasta fundirse en el limbo
que en torno a ella gravita.
Forma esse limbo la corona
que las sombras traen federadas:
suma de todas las sombras
en un sólo nudo a la noche atadas.
LOS SEMESTRES DE JAGUARIBE
E aquí el Jaguaribe, río
Elegante, limpo y seco,
de enero a junio es água,
de Julio a septiembre, arena.
Es río de mucha fuerza
y mucho orgullo en sus aguas,
cuando está seco, es bello y manso;
lleno es feo y temerário.
Corre entre campos antiguos,
entre parrilladas y molungos
blancos campos de algodón,
ganado azoriense cebú
En enero sus aguas
tienen un brillo de metal,
pero en abril ese brillo
ya se comienza a oxidar,
vestido todo de óxido,
en mayo el río es rojo,
termina junio y penetra
en su semestre de arena.
POEMA DE LA NOCHE MENOR
Descienda la noche suavemente
al encuentro de la auroras
moviendo remos de sueño.
Venga el lenguaje de las piedras
sangre el pecho de las rocas
bajo la lanza de los huracanes.
Banderas de viento ondule
en la tierra oculta de los sueños
las tinieblas sepulten lunas.
Nubes caídas sustentan
mi cuerpo de luz suspenso
de las cuerdas del arco iris.
En los laberintos de la muerte
la espesura del silencio
y la ruta desconocida.
(Tambor Cósmico, 1978)
Página publicada em dezembro de 2007, ampliada em 2011, 2012.
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