POESIA PRAXIS
ARMANDO FREITAS FILHO
Armando Freitas Filho (Armando Martins de Freitas Filho), nasceu no Rio, em 1940. Foi pesquisador na Fundação Casa de Rui Barbosa, secretário da Câmara de Artes no Conselho Federal de Cultura, assessor do Instituto Nacional do Livro, no Rio de Janeiro, pesquisador na Fundação Biblioteca Nacional, assessor no gabinete da presidência da Funarte, onde se aposentou. Participou do movimento Poesia-Praxis.
“Armando Freitas Filho ejecuta montajes de predominio fonético. El poema Rural es un breve movimiento de un conocido episodio de la vida del campo. Hay en este poema repercusiones fónicas que «pluralizan» la individualidad física del bucy (boi) (plural de boi: boiada). Es lo que demuestra el paso de boiada a boiágua (montaje de boi y água) que denota sed y aridez. El paso de «canto» a «cântaro» da «boicântaro» y el paso de la letra b de barro a c de cano da « boicarro». Son fusiones de una economía rítmica admirable.” MÁRIO CHAMIE
Veja também: POESIA VISUAL de Armando Freitas Filho
VOCABULARIO DEL POEMA
(Ángel Crespo)
Boi: buey; boiada: boyada; escoa: esurre, mana; pro: hacie el; ar: aire; chifre: cuerno; chofre: golpetazo, choque.
Rural
Plural de boi:
boiada
boiada boi
bovino boi
nada bóia
boi, boiágua
escoa
do campo
pro canto
boicântaro
se amolda
deságua
e crava
no ar
sua cara:
chifre de chofre
rompe, o barro
boicarro.
* Texto y poema extraído de CHAMIE, Mario. “Poema-praxis: un acontecimiento revolucionario.” In: REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA, Tomo III, Número 9, junio 1964, p. 171-199.
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MIRA LUA
Lua supra
Entreato
Lua infra
No regato
Retrato
Estremecido
Olho
Elipse
Rangido aquático
Eclipse
Lua sobre lua
Lua sob lua
Anular
Lunar
Lu ar
Lualua
(in Novíssima Poesia Brasileira, org. Walmir Ayala. Rio, 1965 Cadernos Brasileiros)
Intenção compositiva
MIRA-LUA É INTENÇÃO C OMPOSITIVA. A SEMÂNTICA do título, as linearidades gráficas justapostas, nos levam a uma poética do close, que situa a lua como objeto a ser visto. Dois planos rudimentares de espaço situam o objeto sobre e abaixo desta. Objeto visto num close, num espaço que provoca uma definição. Definição que é um situar da lua num espaço.
Entreato/no regato. Esta composição dos planos aparentes do retrato da Lua, dá retrato como se um se ver no espaço, um ver-se em extensão. O caminho ascendente que nos leva do plano do close para o plano da visão do todo. Estabelece seu primeiro momento, o da visão do corte. Realiza-se a substituição do ver da percepção pelo ver da imaginação. O sujeito, aquele que vê no mundo, o fenômeno/mundo/objeto. É apenas uma referência implícita ao produto da visão. Este penetrar do produto nos seus cortes insights, revela a sua relação com/o sob a elipse do olho/, o depreendedor pela associação semântica entre o produto do reflexo linear da visão sobre e o olho que é o regato. Este se estende não só por tal fato, mas por também a ele se associar o adjetivo aquático. É o insight da própria lua, elipse, que conduz ao prisma da não visão. O quarto minguante conduz ao eclipse. O tempo em profundidade ao nada, que é um produto semântico denotado por anular, que, no entanto, se submete a uma leitura polivalente, de modo que também signifique a relação desse prisma com a lua.
Numa leitura etimológica, submetida a um processo de matátese do próprio assinalar visual do nada em relação a lua/não luar/, restabelece-se aos poucos este luar, até que ele, como visão e como totalidade, defina por si mesmo a lua como um axioma natural. Marca na narrativa a paisagem fotográfica do ver-a-lua; primeiro momento, um close da lua no céu e refletida no lago; segundo momento, a lua elipsada em quarto minguante e eclipsada; após ela é restaurada aos poucos e, como luar, instaurada em seu estado inicial. Nesta passagem fazem-se referências ao tempo da extensão e da profundidade. O processo significante mantém relação com uma sugestibilidade ótica,que amplia os limites verbais para um apoio referencial, além deles, à imagem fotográfica.
Este reconstituir narrativo — mirar-a-lua —, segue na estrutura da narrativa a ascendência e descendência do sistema visual. Num clímax define a lua como uma totalidade que se define por si mesma enquanto visão, e nisto, sem dúvida, está a causa da implicitude daquele que vê. A revolução poética, aqui, quer utilizar-se de recursos visuais analógicos, de modo a que se veja na espacialidade gráfico-semântica uma relação visual não verbal. A fotografia como apoio é apenas sugerida. A execução depende de um situar-se da percepção do leitor face a uma analogia entre o espaço gráfico-semântico do código verbal e a sugestão visual de espaço do apoio fotográfico. Reconstituir lua como dado material da imaginação através da analogia com o espaço não-verbal do apoio fotográfico, integra aquele que lê num processo de ampliação de seu repertório perceptivo.
ANTONIO SÉRGIO MENDONÇA. Poesia de vanguarda no Brasil, de Oswald de Andrade ao concretismo e o poema-processo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1970. p. 32-34
Página ampliada e republicada em outubro de 2008
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