ARMANDO FREITAS FILHO
W
Poema-objeto em homenagem
a Franz Weissmann
Concepção de Armando Freitas Filho e
execução de Sério Liuzzi
Franz Weissman faz o vazio.
As letras do nome sibilam no espaço
assinam o ar, o raio, a luz vermelha
usando sua velocidade intrínseca.
Fixa, sangrando, a dobra da sombra.
Tira do éter, do etéreo, secant
o que se evaporava, invisível:
fio finito limítrofe c/infinito in límine.
Publicado originalmente na revista POESIA SEMPRE, ano 13, número 22, janeiro-março 2006. Publicação da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
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MIRA LUA
Lua supra
Entreato
Lua infra
No regato
Retrato
Estremecido
Olho
Elipse
Rangido aquático
Eclipse
Lua sobre lua
Lua sob lua
Anular
Lunar
Lu ar
Lualua
(in Novíssima Poesia Brasileira, org. Walmir Ayala. Rio, 1965 Cadernos Brasileiros)
Intenção compositiva
MIRA-LUA É INTENÇÃO C OMPOSITIVA. A SEMÂNTICA do título, as linearidades gráficas justapostas, nos levam a uma poética do close, que situa a lua como objeto a ser visto. Dois planos rudimentares de espaço situam o objeto sobre e abaixo desta. Objeto visto num close, num espaço que provoca uma definição. Definição que é um situar da lua num espaço.
Entreato/no regato. Esta composição dos planos aparentes do retrato da Lua, dá retrato como se um se ver no espaço, um ver-se em extensão. O caminho ascendente que nos leva do plano do close para o plano da visão do todo. Estabelece seu primeiro momento, o da visão do corte. Realiza-se a substituição do ver da percepção pelo ver da imaginação. O sujeito, aquele que vê no mundo, o fenômeno/mundo/objeto. É apenas uma referência implícita ao produto da visão. Este penetrar do produto nos seus cortes insights, revela a sua relação com/o sob a elipse do olho/, o depreendedor pela associação semântica entre o produto do reflexo linear da visão sobre e o olho que é o regato. Este se estende não só por tal fato, mas por também a ele se associar o adjetivo aquático. É o insight da própria lua, elipse, que conduz ao prisma da não visão. O quarto minguante conduz ao eclipse. O tempo em profundidade ao nada, que é um produto semântico denotado por anular, que, no entanto, se submete a uma leitura polivalente, de modo que também signifique a relação desse prisma com a lua.
Numa leitura etimológica, submetida a um processo de matátese do próprio assinalar visual do nada em relação a lua/não luar/, restabelece-se aos poucos este luar, até que ele, como visão e como totalidade, defina por si mesmo a lua como um axioma natural. Marca na narrativa a paisagem fotográfica do ver-a-lua; primeiro momento, um close da lua no céu e refletida no lago; segundo momento, a lua elipsada em quarto minguante e eclipsada; após ela é restaurada aos poucos e, como luar, instaurada em seu estado inicial. Nesta passagem fazem-se referências ao tempo da extensão e da profundidade. O processo significante mantém relação com uma sugestibilidade ótica,que amplia os limites verbais para um apoio referencial, além deles, à imagem fotográfica.
Este reconstituir narrativo — mirar-a-lua —, segue na estrutura da narrativa a ascendência e descendência do sistema visual. Num clímax define a lua como uma totalidade que se define por si mesma enquanto visão, e nisto, sem dúvida, está a causa da implicitude daquele que vê. A revolução poética, aqui, quer utilizar-se de recursos visuais analógicos, de modo a que se veja na espacialidade gráfico-semântica uma relação visual não verbal. A fotografia como apoio é apenas sugerida. A execução depende de um situar-se da percepção do leitor face a uma analogia entre o espaço gráfico-semântico do código verbal e a sugestão visual de espaço do apoio fotográfico. Reconstituir lua como dado material da imaginação através da analogia com o espaço não-verbal do apoio fotográfico, integra aquele que lê num processo de ampliação de seu repertório perceptivo.
ANTONIO SÉRGIO MENDONÇA. Poesia de vanguarda no Brasil, de Oswald de Andrade ao concretismo e o poema-processo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1970. p. 32-34
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