Cartão postal antigo; bilhete  postal – old postcard – tarjeta postalantigua –  
                            Editor/publisher M.  OROZCO, Rio de Janeiro circa 1904)  | 
                         
                       
                     
                       
                         
                    JOSÉ MARIA DO  AMARAL 
                      (1812-1885) 
                        
                      Nasceu a 14 de março de 1813, na cidade do  Rio de Janeiro, e falleceu em Nictheroy a 23 de setembro de 1885.  Doutor em direito por Paris e formado em  medicina, não  
                      recebendo, porém, o gráo. Foi Ministro  Plenipotenciario na Confederação Argentina e Conselheiro de Estado. 
                      
                        
                      MANHÃ  EM PETRÓPOLIS 
                        
                      Que dourada manhã, que luz mimosa 
                      Enverniza dos campos a verdura! 
                      Que aura cheirosa e cheia de brandura! 
                      Será, quem sabe, o respirar da rosa? 
                        
                      Doura-se em luz a serra magestosa,  
                      Das flores leva a Deus a essencia pura; 
                      Dos pássaros nos sons com que doçura, 
                      Canta a floresta antiphona maviosa! 
                        
                      D´alma em ternura a ti sobem louvores, 
                      Bendito creador da natureza! 
                      Quem vê sem te adorar tantos primores? 
                        
                      Que humano rosto em si tem tal belleza? 
                      De qual belleza nascem mais amores? 
                      E quaes amores têm tanta grandeza?  
                      
                       
                     (Obs. Conservamos a ortografia   original, tal como aparece no cartão). 
                       
                     Este exemplar  faz parte de   uma coleção de 16 “bilhetes postais” da coleção particular de Antonio Miranda   registrada no texto  Poesia em Cartão Postal Antigo. 
                    
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                  MOESTUS SED PLACIDUS 
                    
                  Tristezas  de minha alma tão sentidas,  
                  Que sois  doces memorias do passado,  
                  Do tempo  já vivido, e tão lembrado,  
                  Inda me  daes as horas já perdidas ! 
                    
                  Horas de  tanto bem, tão bem vividas,  
                  Quando  vivi feliz e descuidado,  
                  Sejam ao  coração desenganado  
                  Sonhos  que enganem dores tão gemidas. 
                    
                  Tem hoje  o meu viver tal agonia,  
                  Que é  doçura a tristeza da saudade,  
                  E a  saudade do tempo, é poesia. 
                    
                  Flores  da quadra sois da mocidade, 
                  Minha  velhice em vós se refugia,  
                    —Tristezas de minha alma em soledade...                   
                    
                    
                    
                  Extraído de SONETOS BRASILEIROS Século XVII – XX. Colletanea organisada por  Laudelino Freire.  Rio de Janeiro: F.  Briguiet & Cie., 1913 
                    
                    
                    
                            SONETOS 
             
                            Passaste como a  estrela matutina 
            Que  se some na luz pua da aurora; 
            Da  vida só viveste aquela hora 
            Em  que a existência em flor sem neblina. 
                            Ver-te e perder-te! De tão triste sina 
            Não  passa a mágoa em mim, antes piora; 
            Sem  ver-te já, minh´alma inda te adora 
            Em  triste culto que a saudade ensina. 
                            Não vivo aqui; a vida em ti só ponho, 
            Na  fé, de Cristo filha, a dor abrigo, 
            Futuro  em ti no céu vejo risonho! 
                            Neste mundo, meu mundo é teu jazigo. 
            Dizem  que a vida é triste e falaz sonho: 
            Se  é sonho a vida, sonharei contigo. 
                                      *** 
                            Tristezas de minh´alma tão sentidas, 
            Que  sois doces memórias do passado, 
            Do  tempo já vivido, e tão lembrado, 
            Inda  me dais as horas já perdidas! 
                            Horas de tanto bem, tão bem vividas, 
            Quando  vivi feliz e descuidadeo, 
            Sejam  ao coração desenganado 
            Sonhos  que enganem dores tão gemidas. 
                            Tem hoje o meu viver tal agonia 
            Que  é doçura a tristeza da saudade, 
            E  a saudade do tempo é poesia. 
                            Flores da quadra são da mocidade, 
            Minha  velhice em vós se refugia. 
            Tristezas  de minh´alma em soledade...        
                    
                           
                    
                   Extraído de: 
                  BANDEIRA, Manuel.  Antologia  dos poetas brasileira da fase romântica por Manuel Bandeira. Rio de  Janeiro: Imprensa Nacional, 1937.  314  p.  16,5x24 cm.   
                    
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OLIVEIRA, Alberto de.  Páginas de ouro da poesia  brasileira. Rio de Janeiro: H Garnier, Livreiro-Editor, 1911.   420 p.   12x18 cm Ex. bibl. Antonio Miranda 
Inclui os poetas: Frei José de Santa Rita Durão, Claudio  Manuel da Costa, José Basílio da Gama, Thomas Antonio Gonzaga, Ignacio José de  Alvarenga Peixoto, Manoel Ignacio da Silva Alvarenga, José Bonifacio de Andrada  e Silva, Bento de Figuieredo Tenreiro Aranha, Domingos Borges de Barros,  Candido José de Araujo Vianna, Antonio Peregfrino Maciel Monteiro, Manoel de  Araujo Porto Alere, Domingos José Gonçalves de Magalhães, José Maria do Amaral,  Antonio Gonçalves Dias, Bernardo Joaquim da Silva Guimarãaes, Francisco  Octaviano de Almeida Rosa, Laurindo José da Silva Rabello, José Bonifacio de  Andrada e Silva, Aureliano José Lessa, Manoel Antonio Alvares de Azevedo, Luiz  José Junqueira Freire, José de Moraes Silva, José Alexandre Teixeira de Mello,  Luiz Delfino dos Santos, Casemiro José Marques de Abreu, Bruno Henrique de  Almeida Seabra, Pedro Luiz Pereira de Souza, Tobias Barreto de Menezes, Joaquim  Maria Machado de Assis, Luz Nicolao Fagundes Varella, João Julio dos Santos,  João Nepomuceno Kubitschek, Luiz Caetano Pereira Guimarães Junior, Antonio de  Castro Alves, Luiz de Sousa Monteiro de Barros, Manoel Ramos da Costa, José  Ezequiel Freire, Lucio Drumond Furtado de Mendonça, Francisco Antonio de  Carvalho Junior, Arthur Narantino Gonçalves Azevedim Theophilo Dias de  Mesquita, Adelino Fontoura, Antonio Valentim da Costa Magalhães, Sebastião  Cicero de Guimarães Passos, Pedro Rabello e João Antonio de Azevedo Cruz.     
   
  
  
Passaste,  como a estrella matutina, 
Que  se some na luz pura da aurora; 
Da  vida só viveste aquella hora 
Em  que a existência em flôr luz sem neblina. 
  
Vêr-te  e perder-te! De tão triste sina  
  Não passa a magoa em mim, antes peióra;  
  Sem vêr-te já, minh'alma inda te adora,  
 
  Em triste culto que a saudade ensina. 
Não  vivo aqui; a vista em ti só ponho,  
  Na fé, de Christo filha, a dôr abrigo, 
  Futuro em ti no céo vejo risonho ! 
  
Neste  mundo, meu mundo é teu jazigo;  
  Dizem que a vida é triste e falaz sonho,  
Se  é sonho a vida, sonharei comtigo. 
  
* 
  
  
Se  voz christã em tom harmonioso  
  Dos mortos á mansão seu hymno envia,  
  Rompe talvez da morte a lethargia,  
  O espectro accorda quasi esperançoso ! 
  
Do  teu benigno metro, tão piedoso. 
  Minha descrença ouviu a melodia;  
  A fé quasi sorriu quando te ouvia !  
  Deu ao mundo um olhar quasi saudoso ! 
  
Desertas  ruínas onde reina a calma 
Têm  na tristeza graça e tem doçura. 
Se  ao pé lhes nasce esbelta e verde palma : 
  
Assim  teu canto de christã doçura 
  E', nos ermos sombrios de minh'alma,  
  Rosa que enfeita velha sepultura !... 
  
* 
  
  
Uma  por uma, da existência as flôres,  
  Se a existência que temos é florida.  
  Uma por uma, no correr da vida,  
  Fanadas vi sem viço e vi sem côres. 
  
Sonhos  mundanos, sois enganadores,  
  Alma que vos sonhou, geme illudida;  
  Existência, de flores tão despida,  
  Que te fica senão tristeza e dôres ? 
  
Do  mundo as illusões perdi funestas,  
  Ao noitejar da idade, em amargura,  
  Esperança christã, só tu me restas 
  
Pujo  comtigo desta vida impura, 
Nas  crenças que tão mystica me emprestas 
Transponho  antes da morte a sepultura. 
  
  
*** 
  
SONETOS. v.1.Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora  Guararapes EGM, s.d.  154 p.  16,5 x 11  cm.   ilus. col.  Editor: Edson Guedes  de Moraes. Inclui 148 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e  portugueses.  Ex. bibl. Antonio Miranda 
 
 
  
  
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