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Canto 16
MARE CLAUSUM
“A América e o Brasil foram apenas “achados” nas datas oficialmente comemoradas, pois seus verdadeiros descobridores, FERNANDO PINTO
CABRAL I O Tratado de Tordesilhas (a 7 de julho de 1494) dividia ilhas e terras ainda por descobrir ou já descobertas... (Antes e depois!!!...) entre os católicos e apostólicos reis de Espanha e Portugal. Nada mal. O Papa Alexandre VI deixava de fora das conquistas os hereges protestantes. Pois, pois.
Existem tantas versões e revisões... Haveria um outro acordo, secreto para interpretações mais seguras?
Afinal, quem descobriu a América? Espanha ou Portugal? Para mim, tanto faz...
II. S.F.Z.
Era Colombo genovês, catalão ou português?! A resposta, se houver, não me garante o pão e o feijão no fim do mês...
A história é controversa podemos mudar de conversa... Para o poeta interessa mais a pergunta do que a resposta esta posta ao historiador...
Se eu tivesse que (ou pudesse) escolher o nome do Redescobridor da América ficaria com o meio-judeu — helenista, cosmógrafo, hebraísta — SALVADOR FERNANDES ZARCO filho bastardo do Infante Dom Fernando de Portugal. Cristão-novo espião português, tido por genovês a serviço dos Reis de Espanha!!!
Habituado a se chamar - uma confusão tamanha!!!- Cristovao Colombo Cristovam Colom (Cristóforo Colombo) Crhistofom Colom Christofon Colom Cristóbal Colón em grafias e regalias palacianas.
Nunca jamais assinava o próprio nome... Usava sigla e monograma pra autenticar cartas a reis aos amigos e aos filhos... O monograma, decifrado combinava as letras S, F., Z... Salvador Fernandes Zarco.
III. OVO ERECTUS
Salvador Fernando Zarco era capaz de convencer almirantes por ser culto e experimentado marujo salvo a nado de batalhas ousado e, sendo fidalgo, de chegar à presença de reis e poderosos — o que um tecelão genovês que nem a língua pátria sabia certamente não conseguiria....
Ele vendeu a hipótese convincente — com a obviedade de um ovo — de ir ao Oriente pela rota do Ocidente (mas, em vez da Índia, chegou ao novo mundo...)
[Sempre a serviço do rei de Portugal...]
Às terras descobertas dava denominações encobertas... Nomes portugueses, com certeza...
Na Spaniola, onde aportou, encontrou nativos “brancos como em Espanha” e que já conheciam as caravelas...
IV DESPISTAMENTOS
À primeira ilha encontrada deu o nome de Salvador — supostamente dedicada a Cristo...— mas Salvador era o próprio nome — certamente — de Cristovam...
À segunda denominou Fernandina — homenagem ao Rei Fernando, de Castela? – mas Fernando era o próprio pai ...
À terceira deu o nome de Isabela — para honrar a rainha Isabel? — mas Isabel Zarco era a sua mãe...
A quarta recebeu o nome de Juana — homenagem a Dom João II seu primo e cunhado e seu verdadeiro soberano?
Por ser tão óbvio, no seu Diário mudou o nome para Cuba — sua terra natal, no Beja. Posteriormente, mudou definitivamente para Longa, com cuidados...
Spaniola era a Península ibérica e não apenas o nome de España... Spaniola, um diminutivo, bem podia referir-se a Portugal...
Alfa e Omega – já existentes em Portugal eram também símbolos hebraicos...
Belém, Assumpción, Buena Vista tinham ascendências lusitanas... Por pouco não colocou Nova Belém...
E até Brazil – porto da Spaniola... Brazil era já, então uma das ilhas dos Açores!!!
E que dizer de Curaçao — ou Curação, pelo fato de curar ali os marinheiros vitimados pela maldição do escorbuto...
Faro, Galera, Graciosa Morón, San Jorge, San Luiz San Nicolas, Santarém, Guinchos.
Deu apenas nomes portugueses — disfarçados — a toda a toponímia...
V ENIGMA
Que projeto realmente perseguia?
Se realmente queria cristianizar os indianos por que não levava missionários em sua tripulação?!
Perseguia o intento de encontrar povos hebreus desterrados? [Já então havia referências a índios circuncidados e com nomes hebraicos...] Por que levava um intérprete hebreu a bordo?
Teria dado o nome de América em homenagem a Américo Vespucci? Pouco provável, sendo Salvador (ou Cristóvão...) seu superior... Mas havia uma tribo visitada em 1502, que ele reportou... – Americ ou Amérique... – em seu regresso.
Zarco, vulgo Colombo, passou oito dias em Portugal antes de regressar à Espanha... Estranha ousadia... Visitou e relatou ao Rei D. João II sua viagem às Índias Ocidentais...
O soberano português, depois considera-o “especial amigo” em carta enviada a Sevilha. Que amigo descobre um continente para o inimigo ou concorrente?!
Canto 17
O VERDADEIRO ACHAMENTO ?
Ano Santo de 1500.
Eram quatro caravelas como as de Cristóvão Colombo em demanda de Cathay e de Cipango das especiarias do Oriente.
Mapas incertos, rotas imprecisas.
“Nasceu uma terrível tempestade de ondas e turbilhões de vento”... vagalhões ciclópeos, ventos uivantes depois de cruzarem o Equador, a Estrela Polar e seus desígnios tenebrosos. Mare-magnum.
Vicente Yánez Pinzón capitão da Coroa de Castela descobre as praias desertas depois dos embates do mar.
Costa alta e verdejante mar adiante com seus contrafortes azuis, depois das águas turvas em alta mar...
Aonde chegaram os marinheiros errantes? Aquém ou além das Tordesilhas? A que paragens desconcertantes?
A Pernambuco ou, antes, ao Ceará ou quem sabe ao Amapá?
Nem havia Pernambuco, nem lugar algum por reconhecer, eram terras de nomimar.
“Santa Maria de la Consolación” foi nome de batismo das terras por conquistar ao norte do Cabo Orange ou seria na Ponta do Mucuripe quem sabe no Cabo de Santo Agostinho...
Apenas pegadas na areia e fogueiras à distância.
Sobreveio o enfrentamento entre nativos (potiguares?) e espanhóis; diz-se que eram os da terra ferozes e arredios ou que resistiram “com grandíssimo ímpeto” ao arresto e ao sequestro...
Singrando mares costa avante enxergaram um monte “vermelho bico de cisne mergulhado no oceano” depois de rezarem por seus mortos.
Mais adiante, aportariam “às terras felizes pela fertilidade do solo” habitadas por “gente mansa e sociável mas pouco úteis” por não ostentarem riquezas...
Encontraram as águas que adoçavam o mar aberto região de Marantiabal — o futuro Amazonas, do Orellana — que Pinzón denominou Santa María de la Dulce Mar.
Àquelas praias remotas àquelas vastidões desconhecidas àquelas muralhas verdes coroadas àqueles estuários mansos-ermos chegaram as naus do achamento e do encantamento.
O fim do episódio ou o começo, se se quer, foi a coleta de aves, de animais e de plantas (embora almejassem o Eldorado) e a escravidão dos gentios —“povos nus, mansos e pacíficos”- que chega aos nossos dias.
Canto 18 MARES NUNCA DANTES...
Até onde chegaram os descobrimentos portugueses desde a Escola de Sagres em tempos do Infante Dom Henrique?
Que sigilo encobria périplos e circunavegações daquelas viagens exploradoras sob o signo da Ordem de Cristo?
Teriam os portugueses DIOGO DE TEIVE e PEDRO VASQUES — conforme o testemunho insuspeito de Fernando Colón — filho do Cristóbal Colón!!! — chegado às terras americanas em 1452, quarenta anos antes do Descobrimento?!
Seja verdade ou fantasia — apesar das provas documentais — O Tratado de Tordesilhas negociado, favorecia Portugal...
Garantia a navegação exclusiva no litoral africano para as Índias... (às verdadeiras, por suposto...)
Seria a história invertida? Portugal teria descoberto a América e os espanhóis o Brasil? Ou estaria o Brasil nas rotas dos descobrimentos portugueses (secretos) que o Tratado de Tordesilhas viria depois legitimar? Em que versão acreditar?
Então, Cabral viria apenas confirmar o que já era sabido... (e “se tinha mais que simples indícios”...) o que já estava garantido... “Um fato perfeitamente voluntário” assevera Fidelino de Figueiredo.
Teria vindo “descobrir” apenas para completar a encenação? [Afinal, o Tratado de Tordesilhas reservara para Portugal aquela área desconhecida.. E a defenderam com tanta artimanha na partilha com a Espanha... Portugal levou para a barganha cartógrafos experimentados enquanto a Espanha mandara letrados e clérigos emplumados...
Surpreendente a naturalidade com que o escrivão da frota participou ao Rei: nenhuma palavra sequer de espanto a resplandecer o regozijo pela inesperada fortuna... confirma Pedro Calmon.
A carta de Caminha não demonstra nenhum espanto...
Que encanto teria mudado a rota de quem conhecia os caminhos? Era apenas um álibi, uma lorota para enganar os vizinhos?
HOUVEMOS VISTA DE TERRA
Reiteramos: nenhum espanto naquele santo dia em que divisaram sargaços e o pedaço saliente de um continente (possivelmente) redescoberto: acharam um território previsto e (já) concedido no Tratado de Tordesilhas.
Nenhum assombro no discurso de Caminha ao seu rei Dom Manuel — apenas um desvio de percurso até àquele rio em sua embocadura como quem toma posse ou lavra escritura do que já era seu.
Em vez de Descobrimento apenas o documento de posse e seu sacramento em missa campal e início de povoamento para “cuidar da salvação” daquela gente de Santa Cruz ou Pindorama.
Pura formalidade pois a verdadeira finalidade era a rota das especiarias: às Índias destino final da viagem de Pedro Álvares Cabral.
Canto 20
OS PRIMEIROS DEGREDADOS
Afonso Ribeiro, mancebo desafortunado foi o primeiro degredado entre o gentio da terra para “saber de seu viver e maneira” mas é mais de uma vez rejeitado...
Mas ficaram em terra nova dois condenados e dois grumetes foragidos de quem não mais se ouviu falar.
Somos todos descendentes desses pobres desgraçados? Seriam meus/nossos retroparentes? De que genealogias emergiram?
Que erro, que crime cometeram — sacrilégio, perversão — para sofrerem tal desterro? E os grumetes preferiram o paraíso?
Canto 21
DEGREDADOS
Desertores, degredados, náufragos e outros homens abandonados deambulando pelas trilhas litorâneas personagens solitários, marginais povoadores sem alternativa, traficantes.
Por onde andou Caramuru? O que fazia João Ramalho suposto fundador da Paulicéia pelos desertos da Cananéia?
A que senhores serviam? Teriam sido polígamos, acaso traidores de duas pátrias escravagistas, incréus, cruéis?
Aleixo Garcia atravessou (mesmo?) o continente em busca de riquezas dos incas altiplanos?
Havia mesmo planos ou eram sonhos, delírios nas Entradas e Bandeiras?
E o sangue/seiva daqueles aventureiros? Os primeiros brasileiros (ou seus pais) na mestiçagem fundadora de nossa identidade. Hexa, penta tetra-avós de nossos avós paternos?
NUDEZ E CATEQUESE
“tomam tantas mulheres quantas querem” AMÉRICO VESPUCIO
I As matas eram nuas e nuas as praias e as serras.
Puras, limpas, inocentes.
Nuas as índias e suas crias.
Não havia pecado nem vergonhas e maldades no despir e exibir corpos e intimidades.
II Ímpias, impuras, indecentes!!
O pecado aportou com os religiosos e seus preceitos morbosos gerando preconceitos.
Homens vestidos, armados, suados, fedidos, considerando lúbricos aqueles corpos limpos, lavados e dourados pela liberdade.
Logo ultrajados, possuídos e escravizados enquanto se discutia a tese — res-nullis: uma coisa e não uma pessoa —
de serem ou não humanos, se se podia humanizá-los pela catequese.
INVENÇÃO DO BRASIL
Nu e pintado a jenipapo com tatuagens e por alegorias Martim Soares Moreno simboliza a Invenção do Brasil.
Deixado para aprender a língua e familiarizar-se com os costumes o jovem é logo assimilado e regride à condição da barbárie: — esta a versão do colonizador.
Protegido de Jacaúna, cacique potiguar acompanhado de dois soldados estabelece uma fortaleza no Ceará; pela procriação e miscigenação dá início a uma nova civilização: — esta a visão de José de Alencar.
Martim “barbariza-se” para “civilizar” no dizer analítico de Ítalo Barbieri: vira personagem do nativismo romântico em Iracema, uma lenda cearense (a virgem dos lábios de mel) na fundação do Romance brasileiro: e aqui faz parte do Cordel.
POVOAMENTO E CRUZAMENTO RACIAL
Viver com muitas mulheres — brancas, negras, índias – podiam os bandeirantes os senhores-de-engenho os militares e — por que não? — ainda que por exceção também os clérigos em seu ardoroso empenho de prazer e povoar.
Pois a terra era vasta e vazia e havia que multiplicar e garantir a serventia.
Uma poligamia enrustida (de linhagens mozárabes ou de origens tupiniquins correndo nas veias) culturalmente consentida como moeda corrente.
Uma poligamia dividida entre o refúgio social da casa-grande e o subterfúgio da senzala.
Mulatos, cafuzos, mamelucos numa multiplicação sincrética e geométrica avançando e povoando sesmarias.
Havia naqueles cruzamentos interraciais de classes sociais distantes; naquela fornicação descarada protegida pelos estamentos; naqueles coitos sem os devidos sacramentos um pacto de silêncio e de não reconhecimento.
Filho de branco com negra o que era: era negro. Filho de branco com índia o que era: era índio e virava propriedade.
E podia o dono vender ou esconder sob o manto protetor sem nenhum espanto ou pudor, a prole.
Até mesmo tê-los como filhos adotivos e educá-los ou domesticá-los como servos sem nenhum embaraço.
Tudo podia ser naquela bastardia que a lei protegia pela omissão e que a religião ignorava quando nada podia fazer.
O resultado já sabemos: a morenidade de uma meta-raça — base de toda diversidade de nossa unidade racial origem de nosso sincretismo e a capacidade final de nossa santidade sem nenhuma beatitude.
A AMPULHETA
“só o trabalho livre” (...) “satisfaria os anseios de colonização do Brasil”. OSCAR CANSTATT (1871)
Dois Brasis contrastavam na hora da Independência — um, ao norte, aristocrático mantendo privilégios coloniais e a escravatura — outro, mais pobre, no sul aberto ao trabalho livre pela imigração.
Que impedia, então acabar com a escravidão a exemplo das repúblicas vizinhas?!
Coloca-se a culpa na Monarquia...
Quem tinha escravos e benesses eram os membros do Parlamento (desde então e desde sempre...).
Qual a razão do contraste que levaria ao desastre da inversão da ampulheta da História?
O DUETO MONÁRQUICO
Ele, um garanhão católico libertino e mandão, industrioso e mesmo cruel. Ela, luterana inconformada em terras de ousadias consentidas e de tantas degenerações acobertadas.
Ele, liberal (ou amoral?) em seus excessos e caprichos. Ela, infensa aos mexericos e indefesa nos constrangimentos.
Unidos em matrimônio numa aliança de duas dinastias de emblemático apelo representado na Bandeira Imperial: verde da casa de Bragança de D. Pedro e amarelo da casa Lothringen-Habsburgo cores que persistem até hoje no Pavilhão Nacional!!
A IMPERATRIZ LEOPOLDINA E OS IMIGRANTES
“gentalha rota (...) muitos mal logravam encobrir a nudez... (...) bêbeda a maior parte destes maltrapilhos e EDUARDO THEODOR BOESCHE (em 1825)
Sem graça, varonil, calças rústicas com botas e maciças esporas de prata a Imperatriz luzia o garbo dos Habsburgo a cara vermelha, os olhos azuis de sua raça.
Moscas sobrevoando a cabeleira nobre o suor ardido, os urubus ao largo.
Vermelha, sim, mas não do clima — dizia-se, então, na corte — por algum tipo de cachaça... ou pelos destemperos do afoito consorte acobertado por algum chalaça.
Cascos faiscando pelos pedregulhos e fezes adubando o percurso imperial — do paço ao litoral para inspecionarem o Wilhelme em sua chegada ao porto com seu carregamento de colonos.
A Imperatriz e os conterrâneos imigrantes a servir-lhes de intérprete. O intrépido Pedro I, dentes alvos cabelos anelados, olhos arredios: admirado pelos contemporâneos transeuntes e forâneos.
“Sua imperial pessoa como medida” costa com costa, comparando-se e selecionando os mais altos e endereçando-os para São Leopoldo.
A Imperatriz e sua (pretensa) empresa civilizadora em colônias de sua inspiração — pela liberdade de culto e devoção e pela pujança daquela terra prometida.
Esperança e redenção.
O IMPERADOR PEDRO I E AS MILÍCIAS
“seus modos eram grosseiros, faltava-lhe o sentimento das conveniências”. EDUARDO THEODOR BOESCHE (em 1828)
No Wilhelmine vinham também assassinos e ladrões algemados homens rudes mas bem formados pela natureza escolhidos para os batalhões de caçadores granadeiros e toda milícia — pelo porte e resistência.
Sujeitos logo a exercícios excessivos à lascívia, à má alimentação e desconfortos e ao uso frequente da chibata — Imperador em pessoa açoitava.
(“E pegando-os um a um pelo topete, Passou-os todos a chicote”)
Condições humilhantes, deserções Suicídios, aleijões e bebedeiras constantes Rebeliões, desordem, amotinamentos.
Pagamentos atrasados, desespero — denuncia o cadete Boesche.
Batalhões de irlandeses, caçadores alemães ingleses e marinheiros franceses: rixas e enfrentamentos frequentes saques e estupros, mortes de civis e civis massacrando soldados.
Quebras de hierarquia, prisões. Anarquia.
O comandante Ewald, bêbedo fez “desfilar a tropa em ordem de marcha” frente ao jardim da casa de uma rameira e atou à bandeira do corpo militar a liga azul “da Gertrudes”... na parada do Campo de Santana...
“Levaria longe descrever os excessos ocorridos”.
Baste-nos o desabafo do jovem Boesche:
“Todo sentimento de direito e equidade se some, em se tratando de proveito”:
Não se pode fazer ideia da malvadez e perversidade da maior parte dos europeus nos continentes estrangeiros”....
Paixões selvagens envenenam o sangue
(...) revelaram uma crueldade e baixeza de espantar o selvagem.
POEMA COM RODAPÉ
“corte provinciana formada de parentes, aderentes, parasitas”.
Os dedos engordurados* de D. João VI as alcovas suorentas** de D. Pedro I — nossa monarquia transplantada ou foragida, depois repatriada.
Dom Pedro de Alcântara “conquanto não fosse bonito, tinha aspecto agradável, e estatura harmônica. Sobravam-lhe à fonte bastos cabelos negros e anelados, olhos escuros e brilhantes saltitavam”... (na descrição do jovem Boesche) assim luzia aquele que viria a ser o soberano de dois continentes.
Teve o dia do fico e o do vou m´embora para salvar as coroas d´aqui e d´além mar.
Teve o Imperador-menino Dom Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon apaziguando as desavenças depois Velho de Barbas Brancas*** mecenas das artes cênicas da Grande Era Exemplar: moderando a Monarquia Parlamentarista.
* porque não lavava as mãos e para assear-se, valeram-se de um artifício: construíram uma casa de banhos em São Cristóvão a pretexto de curas dermatológicas...
** impetuoso, mulherengo, fogoso valia-se do Chalaça para orgias de todos conhecidas...
*** efígie em selo do Correio imperial.
A REGÊNCIA TRINA
Com a abdicação do Imperador foi o Brasil entregue aos brasileiros em Regência: o Marquês de Caravelas o Visconde de Magé e Campos Vergueiro em triunvirato:
um ato republicano disfarçado de monárquico...
Quem diria, o português D. Pedro era o mais brasileiro de todos — intempestivo e impetuoso (se pudesse, incestuoso) e festivo.
Os partidos surgem dos quartéis como ratos das sepulturas: exaltados, moderados e conservadores
em meio a levantes e sedições — soldados expulsando oficiais e oficiais depondo comandantes — a mon(an)arquia.
Como sempre, vieram as anistias e tudo volta a ser como antes nas sacristias e nos clãs dominantes.
Monarquia republicana — com presidentes na províncias — e fidelidade ao Imperador-menino na maioridade antecipada (1840) para conter a bagunça e assegurar a pacificação...
Continuidade da regência eletiva e democrática... mais efetiva e democrática que a dos republicanos sulistas.
Haveria mais monarquismo pessoal no caudilhismo dos pampas do que na pantomima da Quinta da Boa Vista.
Alguém entendeu?! Nem eu.
DESTERRO
Na Ilha de Santa Catarina nas ruelas do Desterro no calçamento coberto de capim onde cavalos e muares pastavam Oscar Constatt (1871) constatou condenados “presos dois a dois” acorrentados, com seus uniformes azuis e guarnições encarnadas.
Sem as condições necessárias “à regeneração moral dos delinquentes” emparelhados, expostos como indigentes e em condições humilhantes: “ficam cada vez mais calejados moralmente” degredados.
Lotados em ilhas e fortalezas sem os mínimos cuidados agrupados promiscuamente sem “ter em vista a duração da sentença” e a natureza dos crimes ou então fugindo e desaparecendo pela falta de vigilância.
O que mudou desde então?
A BANDEIRA IMPERIAL
Solano López usava a Bandeira Imperial brasileira como tapete (uma afronta!) — hoje, repatriada, virou relíquia no Museu Histórico Nacional.
A Guerra do Paraguai seria uma infâmia contraposta à insânia de sua deflagração.
A História é mesmo dos vencedores carregando em seu andores ardores de sublimação transfigurada — pátria amada idolatrada!!!- na coleção do Museu na memória pública do interesse privado.
Havendo erro de cada lado o que resta é a Bandeira reconquistada se é que ela presta se não fora fabricada lá mesmo ou importada.
Tanto faz... livre da afronta e do insulto jaz a nossa bandeira imperial depositada para seu culto — e valha tanta besteira! — já que a História não é só feita de glória.
CANUDOS
“das ondas do mar, São Sebastião sahirá...” ANTONIO CONSELHEIRO
Delírios, desvarios, martírios.
Multidões delirantes pelas estações alcalinas das prédicas redentoristas pelas caatingas dilacerantes.
Práticas ascéticas de atavismos vingadores de ancestres persecutórios das visões proféticas.
Pervagando, sitiadas perseguidas hordas peregrinas.
O Emissário em seu calvário Ambulante, o Apóstolo do apocalipse pelo manicômio delirante em seu vaticínio em seu encômio em sua insânia.
Canto 34
ANTONIO CONSELHEIRO
“rosto tumefato, e esquálido, olhos fundos cheios de areia”. EUCLIDES DA CUNHA
O cajado perdido, os trajos hediondos e o sudário-mortalha do homem vencido depois de uma batalha sem depois depois de todas as mais vis batalhas em que todos os corpos dos combatentes (ou seriam penitentes, renitentes fiéis) obstinados foram, um a um, sacrificados.
Em andrajos, pestilentos, famintos abatidos, mesmo os mais velhos e as crianças, foram todos imolados todas, todas as casas derrubadas — que não fique pedra sobre pedra onde medra o vil messianismo!
Restaure-se a República em território de heresias e cismas e loucura.
A cabeça do Conselheiro decepada. A caatinga emudecida e humilhada em sua vastidão aviltada e entristecida.
Mas o sertão há-de virar mar e Dom Sebastião há-de ressurgir no milagre da restauração de nossa monarquia celestial e de nossa idolatria terrenal.
Canto 35
RUI, A FOGUEIRA E O MAR
I Queimaram, Senhor, incineraram numa pira ensandecida e solerte nas chamas de um opróbrio (palavra correta para o incorreto) na fogueira dos despistamentos “todos os papéis, livros e documentos existentes nas repartições” do Ministério da Fazenda sobre o tráfico negreiro.
Para apagar a memória oficial de uma ignomínia, uma infâmia que sobreviveu à própria Abolição que persiste nas nossas entranhas e que reaparece, rebrota, reverbera e violenta a nossa consciência.
Rui Barbosa, o ordenador da queima de arquivos.
No incêndio culposo, as almas dos condenados nas labaredas, as agonias dos penitentes crepitando, gritos lancinantes seres aflitos abrasados — sentimentos no queimor de negritudes crestadas tecidos tostados e ossos tisnados, carvões de cremações renitentes persistentes.
Como se a centelha apagasse “o porão negro, fundo infecto, apertado, imundo” d´O Navio Negreiro de Castro Alves.
Como se as fornalhas ardentes como mares incandescentes borrassem a lembrança daquelas temeridades.
“Ó mar! por que não apagas Co´a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?” — clamor do poeta baiano que o ministro soteropolitano escutou...
II
Uma irreflexão, uma leviandade uma aleivosia.
Por quê?! Por quê?!
Documentos fiscais podiam ir a tribunais em pleitos de ex-senhores por indenizações.
[Não se apagam os resquícios da covarde escravidão destroem-se os vestígios legais da propriedade servil!]
Na queima de certidões as sub-reptícias intenções...
Pela honra da pátria em defesa do estado...
III
Nas cinzas do fogaréu patriótico na ardência de um mea culpa emulado em todos os Estados num expurgo aclamado pela imprensa com as congratulações e moções dos congressistas signatários de fervores exorcistas.
Daí vem a nossa desmemória Senhor, de um povo sem história (a salvo de vergonhas esquecidas) sem heróis, sem glórias passadas.
Em vez de indenizar os escravos pretendia-se ressarcir os escravocratas.
Até o abolicionista Joaquim Nabuco — estaria caduco? — em sua representação pedia a inutilização dos livros e registros “para que, em tempo algum” servissem à pretensão das indenizações num arrazoado assim precipitado ou eivado de boas intenções...
No indeferimento do pedido de socialização das perdas e danos Rui, constrangido, reconhecia: “mais justo seria e melhor se consultaria o sentimento nacional”, indenizar os ex-escravos mas — lógico — sem onerar o Tesouro...
Dívida que ainda não pagamos.
Canto 36
CAXIAS, UMA BREVE NOBILIARQUIA
Luis Alves de Lima e Silva sentou praça em 1808; regressou da Bahia capitão.
Da campanha do Sul voltou major. Já coronel foi pacificar o Maranhão das balaiadas bem-te-vis.
Considerava “a guerra uma calamidade pública” mas entendeu ser também “um meio de civilização para o futuro”.
Como barão de Caxias combateu sublevações em São Paulo e Minas Gerais.
Elevado a marechal-de-campo e mandado a combater separatistas (de “exageradas ideias”) tornou-se conde e senador.
Depois de combater Rosas é elevado a marquês e tenente-general.
Derrotando Solano Lopes no Paraguai torna-se Duque de Caxias e Ministro da Guerra (depois que as guerras acabaram).
Garantiu o Império mas o Império o traiu.
Foi um militar mais que um político no seu entendimento.
Rejeitou honras e pompas oficiais e “quis ser enterrado como obscuro paisano” escreveu Capistrano de Abreu — morreu a 7 de maio de 1880 depois de lenta agonia.
O BAILE DA ILHA FISCAL
Ao último baile do Império veio o Silvério dos Reis e veio o Inconfidente (de enforcado e penitente) com outro mascarado — talvez o padre Anchieta de muleta e o poeta Gonçalves Dias como índio romantizado.
Veio Arariboia dos confundós de Niterói e veio o herói da Batalha de Riachuelo da mortalha, arrependido; veio a Chica da Silva fantasiada de senhora de engenho; vieram os Andradas redivivos e os confederados e as criadas das decadentes fazendas de café.
Vieram a pé os jesuítas e os sibaritas maçons (antes inflamados monarquistas depois travestidos republicanos).
Veio Caminha de carruagem como cronista social e até o Barão de Mauá de trem, com a Marquesa de Santos acompanhando o Maurício de Nassau e mais ninguém, para deixar espaço aos oficiais chilenos — e as mulatas!
Depois do baile, o Monarca foi de navio para a Europa com uma pensão vitalícia e começou para valer o Carnaval da República.
SI HAY GOBIERNO, SOY CONTRA
“democracia sem povo, sem cidadãos”. MANOEL BOMFIM
O mais radical de nossos pensadores — publicou su´A América Latina em 1905 – foi o médico e educador Manoel Bomfim.
Quase um anarquista, quase um marxista!
Um socialista contra o liberalismo econômico, um antiimperalista contra a hegemonia europeia e a dos emergentes Estados Unidos da América.
O mais original de nossos historiadores ao denunciar a nossa herança colonial: o parasitismo do Estado e das elites como o mal a sugar a riqueza nacional.
Diziam ser contra tudo e contra todos — em favor dos vencidos e dos oprimidos — contra o Estado e contra a livre iniciativa.
Quem ouviu falar dele e de sua obra?
O Estado só serve para cobrar impostos... Como opressor, em favor dos prepostos...
Combateu o positivismo, o evolucionismo e o racismo, e qualquer determinismo biológico, a supremacia do mais forte, a mais-valia dos apoderados e o darwinismo mal interpretado...
Pregou a educação e a reeducação para a superação do atraso nacional, mas desiludido e combatido, afinal acreditou numa única saída: a REVOLUÇÃO — nunca a de Getúlio, que ele combateu, cujas contradições e retrocessos denunciou.
Manoel Bomfim, um sergipano.
Canto 39
OS DONOS DO PODER
“construir a realidade a golpes de leis”. RAYMUNDO FAORO
Que país é este? — pergunta-se — a que estamos atrelados, condenados?
Que atavismos, que arcaísmos, que caminhos enviesados — de um capitalismo de Estado privatizado pelos donos do poder.
“Estado patrimonial e estamento burocrático” num suceder efetivamente errático, persistentemente aristocrático.
A dominação Ttadicional tornou-se patriarcal (weberianamente) entendida e apropriada pelo quadro administrativo com os mecanismos judiciais e militares de sustentação.
Estrutura eterna de tutela e sujeição que cinde o Estado e a Nação e prescinde da iniciativa e tolhe a liberdade de ação.
Manietando a sociedade à ausência de uma economia racional desvirtuando o capitalismo (???) criando a serventia e o favorecimento em detrimento do social.
Modernidade ornamental.
De quem é mesmo este país se da gente ele não é?!
Canto 40
O PARADOXO DO CORONELISMO
“o coronelismo falseia a representação política e desacredita o regime democrático” VITOR NUNES LEAL (1948)
O coronelismo — uma praga, um cancro, um abcesso — sobrevive e se renova na vida republicana.
Tem origem no patriarcalismo — o patriarca isolava-se para produzir e ajudava a manter a monarquia.
Mas, o coronel, o que seria?
O patriarca virava barão e explorava terras, escravos plantações e rebanhos; o latifundiário vira coronel em terras improdutivas arrebanhando votos e favores.
Patriarcas e coronéis são senhores feudais em domínios coloniais.
O coronel atua (explícito) no cenário local, no município de base rural mas — sub-reptício — projeta-se na vida política nacional.
O coronelismo é, afinal, o poder privado sobreposto ao interesse público pela ausência de governo e anuência ao mando pessoal atribuindo-lhe faculdades tais (além de pessoais, imorais) pela insuficiência do poder estatal.
Onde o “coronel” institui-se no interior desprotegido e submisso pelo dever omisso e subtraído, pela ignorância, a miséria, o abandono.
O paradoxo: o coronelismo é a extensão do direito do sufrágio que sustenta a política rasteira pelo privilégio do voto obrigatório e universal ao analfabeto — que o coronel intermedia...
Estágio de uma cidadania passiva, distorção da própria democracia pelo voto de cabresto, de curral — rebanho eleitoral.
Vendendo, comprando trocando votos cegos — eleição a bico-de-pena, listas, cédulas, urnas eletrônicas — votos tão secretos que nem se sabe em quem se vota...
Regime representativo do quê?
Influência política dos donos da terra na eleição fraudulenta violenta, flatulenta.
Composição escusa, espúria — expediente da República Velha — sustentou a Nova República as eleições atuais e as que virão com represálias aos oposicionistas e favoritismos para correligionários.
Criam-se mais e mais municípios sem contudo emancipá-los... sujeitá-los aos recursos externos, torná-los eternos dependentes
do coronel, das verbas federais, dos políticos, assistencialismo
de bolsa-isso e bolsa-aquilo que garantem o conservadorismo e o centralismo de qualquer governo e, no decurso, só cultiva o poder.
PARTIDOS-REPARTIDOS
O Positivismo era a unanimidade entre civis e militares no Império do Brasil, mas eles estavam divididos e aguerridos (quando não estavam mancomunados).
No regime monárquico (democrático e escravagista!) o Imperador era suprapartidário com posições libérrimas em seu poder arbitrário sobre as disputas acérrimas entre conservadores e liberais entre generais e civis.
Depois das fronteiras defendidas definidas e pacificadas as espadas, enfim, ensarilhadas, vem a malfadada Questão Militar — a politização dos quartéis: um Exército deliberante polemizando pela imprensa em tom beligerante.
O Abolicionismo dos conservadores tinha a oposição dos liberais... Havia vanguardas cautelosas e conservadores sediciosos... e o paradoxo nada trivial do conservador liberal... e muita propaganda republicana entre os descontentes fardados.
Liberais defendendo ideais republicanos e republicanos exaltando reivindicações liberais.
Nada mais conservador do que um liberal mais monarquista do que um republicano!
A alforria dos escravos (sem a pretendida indenização...) uniu os ressentidos de todos os partidos.
Liberais estrategicamente conservadores. Conservadores tacitamente republicanos, políticos compondo e trocando posições e funções nos gabinetes.
Crises, cisões, alas, facções, fusões entre contrários, adversários nos próprios partidos, correligionários fazendo oposição.
Com a Proclamação da República (um ato heroico de madrugada) houve então a debandada: conservadores e liberais tornaram-se todos republicanos (mantendo títulos de nobreza) em novos grupos contrapostos em dissidências figadais.
Cada partido em seu trono com seu líder ou seu dono, seu reduto eleitoral, seu mandatário.
Assim o quadro partidário: ninguém da Direita todo mundo na Esquerda “aliás, muito pelo contrário”.
OS DOIS BRASIS
“os dois Brasis, tão diferentes, estão unidos pelo mesmo sentimento nacional e por muitos valores comuns”.
I Uma unidade nacional coesa e forte e uma extrema diversidade regional.
Dois brasis, cara a cara ou de costas um para o outro.
— um progressista e o outro, arcaico:
um com as raízes no século XVIII, o outro democrático, fincado na modernidade.
Uma unidade crítica, mas firme sustentada em nosso federalismo.
E, no entanto, há mobilidade social contraposta ao coronelismo das elites.
Um equilíbrio de graves sutilezas, resistências surdas e tolerâncias.
Haja pactos para uma governança! Haja alianças e subterfúgios!
Os pactos são públicos e privados numa promiscuidade de conchavos.
II Os dois brasis são três, são muitos, estão mas não são irreversíveis,
embora sejam — e são! — recalcitrantes resistentes, em oposições cordiais
porque se dialoga e se negocia, em que se muda pra ficar igual.
Resquícios de colonizações ainda recentes numa geografia de flagrantes maniqueísmos,
de relações difíceis com os migrantes criando tais desníveis e inferioridades
de assimilações forçadas e dissimuladas de integrações por via do desenvolvimento
e não por decretos, pela instrução e não se quer eliminar as diferenças
mas, a longo prazo — absorvíveis, superáveis — todos estaremos absortos
a longo prazo, todos estaremos mortos numa igualdade de sepultamento.
III Numa diáspora nordestina e sulista amalgamadora, fusionaria, centrifugadora
dos nortistas para o Leste e o Oeste dos sulistas para o oeste e o nordeste
— os paus-de-arara querendo alforria, os do sul buscando terras de cultivo.
Antes as monções e as bandeiras do mar para o interior, escravizando
povos indígenas, buscando o Eldorado, povoando, explorando, catequizando,
criando a sociedade dualista de que ainda não nos libertamos.
O DITADOR DE TURNO
Em sua canhestra racionalidade o Canalha vê a nacionalidade como um protetorado: faz discurso de sedução apelando ao populismo.
Maiorias surdas e mudas expostas aos chavões e refrãos, artimanhas de seu cego patriotismo.
O Ditador é sempre viscoso e aderente e prepotente e desequilibrado, horrorizado com a possibilidade de qualquer institucionalização que limite a excepcionalidade de seus poderes e humores.
Ele mesmo, o Ditador se autoproclama restaurador da Ordem pela moralização da sociedade.
Está sempre aceso e acossado abrindo espaços a destempo impondo regras perceptíveis mas nunca verdadeiramente inteligíveis: acatadas pelo medo e intimidação.
Falando sempre de um bem inacessível, pregando a virtude retórica irreconhecível de seu pretenso messianismo mas vai logo recrudescer e perpetuar em males que promete extirpar...
Apaixonado pelas crises em que se sustenta: ele não pode viver em paz.
Todo ditador porta uma cauda invisível de sua inequívoca descendência de réptil ou é um primata com um ímpeto assassino e instinto de suíno.
Na mente inerme de uma minoria privilegiada ou mal informada — chaleira, puxa-saco — pode haver alguma identidade com ele.
Um ser serpentário resvalando por territórios dominados, demarcados pelo despotismo e o nepotismo.
É mais fácil corromper um regime que mantê-lo sadio!
Mas o Ditador traz sempre (!!!) o germe da (própria) destruição.
A FRAUDE ELEITORAL DE 1989
I – Os antecedentes
Os fraudadores vêm armados de argumentos engenhosos (que precisam ser desarmados) baseados em lógicas, teoremas, estratagemas e até superstições...
Armações, maquiavelismos. Tecnologias e patriotismos...
II. A Eleição de 1989
Collor foi eleito pela fraude eleitoral no pleito de 1989 mas, afinal, Lula foi o único beneficiário (seguro) da armação se não, de imediato — no futuro imaginário.
O então candidato-operário era a contraposição genuína na disputa.
O “caçador de marajás” das Alagoas — ele próprio o marajá em pessoa, herói de novela, ícone de tecnologia eleitoreira; Lula, barbudo radical, nordestino carrancudo com cabelo africanizado no maniqueísmo de TV.
Dois extremos programados nos programas de televisão — mais do que nos programas políticos, que eram raquíticos de textos e de ideias, jogados para as plateias em horário obrigatório.
(Um purgatório...) Palavras, mais que ideias. Imagens mais que propostas dos personagens. Miragens, ventriloquia. Dois radicalizados com discursos ajustados às circunstâncias.
III – Nada de revanchismo!
Era a primeira eleição direta depois de vinte e cinco anos de ditaduras e aberturas discretas no processo de redemocratização.
Na terceira posição, Leonel Brizola, ainda popular, ainda prestigiado líder nacional.
Qual o perigo? Lula era emblemático. Collor midiático. Brizola, carismático.
A rejeição a Collor e Lula, muito elevada por seus radicalismos de direita e de esquerda — prato cheio para a mídia e para os marqueteiros.
Havia outros candidatos naquele fatídico ano dividindo o voto dos indecisos: Aureliano, Maluf, Ulisses... Representando forças vivas da situação e da reação no processo republicano.
IV – A tese...
O confronto (soturno) deveria ser, tinha que ser entre Collor e Lula, no segundo turno.
O super-herói das Alagoas contra o Sapo barbudo, um defendendo o Mercado - “prefiro ser o último dos desenvolvidos a ser o primeiro dos subdesenvolvidos...” – o outro proclamando-se terceiro-mundista.
Haveria ou não, nos bastidores, nos corredores escuros do poder, um pacto a ser cumprido?!
Como garantir a transição sem o risco do revanchismo?
Quem garantia a anistia e a cortina sobre o passado? Quem poderia perturbar o legado da transição democrática, a garantia da continuidade, da paz e da conciliação?
Haveria um pacto de silêncio mas também de submissão (infame) ao seu ditame: que nenhum político pré-1964 saia ungido da eleição!!!
V – O álibi
Na suposta fraude nacional o álibi seria perfeito: paulista não vota em gaúcho!
Afinal, todos sabem (?!) Getúlio Vargas humilhou São Paulo enterrou a Revolução Constitucionalista de 1932.
Brizola é gaúcho, logo... Um ardil verossímil apesar de imbecil.
Que me perdoem os paulistas mas o povo – eu desconfio – nem sabe (mais) quem foi Getúlio...
No páreo de candidatos havia tantos paulistas a dividir votos no primeiro turno...
VI – A apuração
Eu estava lá, cético, cismado, acompanhando o cômputo dos votos — seriam mais bem ex-votos de eleitores esperançosos em alguma transformação...
Era no Centro de Convenções de Brasília o quartel-general do Tribunal Superior Eleitoral, quando as apurações eletrônicas chegavam sucessivamente deste país-continente, sem qualquer ordem ou preceito.
Nada de contagem de voto na mesa, urna a urna, em cada sessão, município por município, estado por estado... Boletim assinado por mesário...
Coisa arcaica, superada... — riam os correligionários.
Havia então um valão de votos de qualquer procedência num cômputo aleatório.
Na Presidência do TSE um mineiro enquanto os votos de Minas atrasavam. Coincidência.
Os votos chegavam pela rede, contados em conta-gotas, painéis mostrando apurações parciais, indefinidas, para a estranheza dos analistas.
VII – O impasse
Um empate técnico Lula-Brizola pelo segundo lugar contrariando a previsão.
Os votos de Brizola e de Lula levavam ao empate e ao impasse.
Houve repasse de votos de Brizola para Lula nos redutos brizolistas na divisa de Minas Gerais com o Rio de Janeiro?
Seriam especulações de derrotado? Complexo de perseguido, alienado?
Os votos que (presumivelmente) sumiam eram os de Minas Gerais...
Não havia mais Jornal do Brasil para uma apuração paralela...
Haveria o PT de permitir a recontagem de votos — colocar em dúvida a vantagem de seu candidato?
Um esquema de eleição já decidida?
VIII – O Quixote dos Pampas
Brizola seria um Quixote alucinado contra os moinhos de vento do Supremo Tribunal Eleitoral?
Só ele enxerga as artimanhas de tamanhas majestades!?
As mesmíssimas forças governam por gerações e gerações, — terrível herdade!— nos bastidores, não importando os resultados das eleições, compondo as maiorias da governabilidade.
IX – Crônica de uma morte anunciada
Todo mundo se lembra daquele debate final — COLLOR X LULA – frio e premeditado com roteiro e desenlace preconcebidos.
Até a TV Globo (agora) reconhece por escrito que houve uma “edição” — não falemos de manipulação — do compacto do debate para influir na eleição.
De quem foi a decisão? Ainda estão discutindo.
Veio depois o confisco dos depósitos bancários, o arroubo perdulário do primeiro mandatário, os amores interministeriais e favores de secretários.
Francisco Rezek — que surpresa! — nomeado ministro do Exterior..
Em que país civilizado o juiz de uma eleição aceita cargo de confiança de uma das partes, vencedora?
Não o critico por isso — nem a favor nem contra aliás, muito pelo contrário — posto que sendo culto e preparado merecia o posto. Repito apenas o que corria a boca pequena. Maledicências...
Dizem ainda que, salvando-nos das cinzas, tivemos a abertura da economia. Quem diria!
Sempre um programa modernizador vem pelas mãos dos mais retrógrados, diz-nos qualquer historiador... Foram os conservadores e não os liberais que, na Monarquia, faziam concessões entendidas como avanços sociais...
(Mas sempre foi assim ao longo de nossa história: enquanto os radicais se matam por ideias e não avançam, o reacionários concedem, transformam, sem grandes mudanças...)
X– Perguntar não ofende
Especulações, fantasias, elucubrações? Por que não responder às questões?
Onde estão os arquivos das eleições? Qual o destino daquelas urnas suspeitas? Os votos que teriam migrado do Brizola para o Lula — conforme a suspeita do Caudilho – que rumo tomaram no segundo turno? Alguém já comparou os escrutínios?
Eleições fraudulentas no Brasil?! Quem vai acreditar?! Nem nos Estados Unidos onde se sabe votar e contar votos!!! Nem na disputa Bush e Al Gore...
Será que um programa de computador transforma a linguagem solerte e dúbia de um político profissional em mensagem objetiva e preclara?
Se o sistema eleitoral sempre foi enviesado pode o computador anular os subterfúgios e inibir os conchavos?
O programa de computador orienta a desorientação partidária? Desentorta o discurso demagógico e eleitoreiro da versão marqueteira?
Inibe o abuso de poder? Coíbe o uso da máquina administrativa? Impede a compra de votos? Denuncia os candidatos-laranjas? Os caixa dois, caixa três, quatro e o escambau?
O computador acaba com os eleitores fantasmas?
Só o programa de computador é inviolável, indevassável, incorruptível?
Só o programa partidário é fictício, enganoso e mentiroso?
O computador ilumina consciências e orienta a melhor escolha?
O computador acaba definitivamente, para sempre, com os escrutínios fraudulentos? Controla as arrecadações coercitivas e as associações com o crime organizado?
XI – A contra-argumentação
Se já invadiram contas bancárias e sumiram com somas absurdas...
Se já fizeram remessas clandestinas para tantos paraísos fiscais...
Se os sistemas de segurança são inseguros até no Pentágono!
Se for assim, então, sem dúvida o Barão de Pindaré Júnior vai declarar o seu voto nas vindouras eleições — mesmo sendo o voto secreto— : vai votar no Computador.
Eu não sei de nada, e só falo de ouvido. Para ser confirmado que procurem o Meritíssimo agora protegido na imunidade de seu cargo.
Eu, pelo contrário, o defendo por sua clarividência.
Acredito piamente na ignorância dele: ele nada sabia, como acredito em fadas, duendes e no chupa-cabra.
Só fez o que era possível naquela circunstância — alguém que sinta repugnância contra ato tão patriótico.
Collor deu no que deu e se... Sei lá, foi-se o que era doce e passados todos esses anos de democracia representativa — mais representativa que democrática — estamos na plenitude republicana.
XII - EPÍLOGO
País sem memória, por opção. Dados existem. Onde estão?
Foi há tão pouco tempo mas ninguém se lembra mais.
E eu a abrir túmulos, a falar de urnas sepultadas.
Que os cadáveres da ditadura elevem suas vozes e saiam da escuridão.
Que os algozes na sinecura que presidem esta Nação locupletados no Estado sejam um dia julgados!
Voltem os mortos às suas tumbas, os documentos secretos saiam dos porões.
A democracia consentida apaga qualquer ferida apesar das cicatrizes.
Que a paz não seja um pacto de conciliação e olvido, mesmo que não haja perdão, nem justiça, nem reconciliação com o regime maldito que ainda não superamos.
Tenho dito.
CRISE
Tem um anti-herói – Macunaíma – levitando no Congresso.
Os intelectuais estão mudos, perplexos, monologando sobre a utopia corrompida, relendo manifestos. Paquidermes ressentidos.
Os políticos sangram, desencantam (quem foi estilingue virou vidraça) sugam as entranhas do poder num inferno a céu aberto. Em posições trocadas, os canalhas em espelhismos e disfarces sutis exorcizam fantasmas redivivos — ou seriam mortos-vivos canibalizados.
Um batráquio atônito discursa para as colunas surdas para ouvir o próprio eco.
Não, não e não!!! é o bordão dos acusados. Ato falho, coerção enquanto os jornalistas sádicos regozijam-se, triunfantes sobre os escombros.
Os urubus planam ávidos sobre a esplanada desconcertante e os ratos roem os alicerces precários.
Os banqueiros estão blindados mas assustados. Os militares cegos, os religiosos surdos e os juízes calados.
A população aturdida — enquanto a lama medra - não entende mas pressente a véspera do nada.
CAIXA DOIS E METÁSTASE
Porque sempre foi assim, não tem por que ser sempre assim.
Acuado pela crise o presidente Lula orquestrou a tese do Caixa Dois como um vício republicano — a compra de votos — trocando o efeito pela causa: um determinismo político execrável mas justificável.
Instado a pronunciar-se depois da queda de ministros e assessores e de aliados envolvidos com os escândalos, declarou-se surpreso e traído; afirmou que cortaria da própria carne se preciso fosse como a oferecer outro dedo ao sacrifício — mas não apontou culpados.
Quando a crise arrefeceu saturada e alastrada pelos partidos da base aliada e entre adversários, pelas empresas estatais e fundos de pensão no escambo e escambau, numa trama tentacular e cancerosa o presidente ofereceu cargos e liberou verbas aos políticos e admitiu que houve erros mas nunca-jamais corrupção em seu governo (dizendo ser essa a prática dos anteriores) logo aplaudido pelos acusados e ameaçados de cassação de mandatos.
Mas a crise se alastra subterrânea e sub-reptícia e os cadáveres saem dos arquivos para as manchetes dos jornais na metástase do poder corrompido, nos estertores de um sistema político falido. [Ainda sonho com o parlamentarismo com partidos estáveis, fidelidade partidária, com uma nova Constituinte, com uma verdadeira reforma política!!!]
POVOS DE RUA
“... minha percepção de rua: fio de ligação entre a matéria e o espírito”. CRISTINA DOS SANTOS PEREIRA
A rua é a pátria dos excluídos, dos povos de rua, desalojados dormindo seminus nas calçadas procriando e constituindo famílias errantes e carentes.
O Brasil é uma rua só que começa em Salvador continua em Maceió e Fortaleza chega ao Rio de Janeiro passa por Curitiba e Belo Horizonte estreitando-se em Belém do Pará e terminando em Porto Velho e Cuiabá, além de Brasília.
Uma rua só e sem teto em que transitam hordas humanas, dejetos, povos deserdados da sorte, os desafortunados os expulsos, uma coorte de humilhados, desempregados catadores de papel, travestis prostitutas e proxenetas bêbedos, drogados, doentes nas sarjetas, debaixo de marquises.
Uma rua que começou em Lisboa com os seus enjeitados, mendigos meninos sem pais, abandonados às portas das igrejas, degredados.
Uma rua que começou nos porões das galés dos escravos d´África , nas ralés dos imigrantes e exilados, na trilha dos retirantes da seca, do latifúndio e da ignorância.
Famintos mas plenos de fé, loucos mas ainda esperançosos, em andrajos, mas até orgulhosos, exigindo respeito e dignidade no lúmpen, mas em liberdade.
Biscateiros, vendedores ambulantes malandros, aleijados, boêmios inveterados meninas estupradas, transeuntes feirantes em pernoite, notívagos, vagabundos as vítimas de assaltos e chacinas — e os fanáticos, pregadores de Bíblia na mão anunciando o fim dos tempos.
VIOLÊNCIA URBANA
Oh sobressaltos notívagos, assaltos temores, necessidades inconformadas!
Ferrolhos, grades, armadilhas trancas, retrancas, alarmes portões e treliças, pregos, alçapões pés-de-cabra, machados, punhais.
Levantam-se muros e barricada desespero, imprecações.
Insumos, consumos, exsumos sem remissão.
Mil, dez mil igrejas tributadoras de estardalhaço no desassossego de nenhuma salvação.
Canto 49
PAÍS INCONCLUSO
“Já desisto de lavrar este país inconcluso de rios informulados e geografia perplexa.” CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
I Eu, nem tanto.
É uma lavra complexa em terras sediciosas e arbitrárias.
No entanto sedutoras.
Capitanias hereditárias (promissoras!) atávicas, refratárias à transformação senão pela ação contestatária.
Que assim seja!
Pela lavra reflexa da palavra incidente sobre o país obtuso e demente.
Com bisturis e acicate na visão de gabinete em versos brancos verdes e amarelos.
Haja ira e ironia!
II Brasil que o poeta percebe envergonhado, de paletó e gravata, numa leitura de enfado.
Uma geografia perplexa de estados maiores e províncias menores numa política de supremacias e inferioridades sob o disfarce federativo.
Depois da Guerra, alçado aos seus questionamentos.
Depois de Getúlio Vargas e antes do mesmo Getúlio.
Claros enigmas, eleições: pretensas mudanças informuladas, atadas a estruturas pensas a conchavos subterrâneos a acordos de aparência sujeitos às fraturas de qualquer dissidência.
“Lutar com palavras parece sem fruto”.
Rosa do Povo, cancerosa em que o poeta protesta mas desanima assina o livro-de-ponto depois aperta o detonador do poema e desperta as consciências na penumbra surda das massas, no aconchego das musas.
DIACRÍTICA
Parece que a História não se dá no tempo sucessivo, mas em tempos paralelos, — contraditórios — sem antecedentes e consequências
se no tempo, fracionário e arbitrário se no espaço, disperso e controverso
contraposto, sem fim e sem princípios sujeito às ideologias que desviam e mascaram os sentidos.
Que História é essa do Brasil?
Do colonizador travestido de missionário? Do aristocrata fantasiado de revolucionário?
Parece que a História é carente de exemplos — não tem respostas nem explicações — nada que mitigue nossas aflições.
Não conhecemos heróis, nem mártires, nem próceres mesmo aqueles condestáveis imortalizados em monumentos marmóreos desconhecidos dos passantes.
Nada de bonapartismos, peronismos nunca um Simón Bolívar, jamais um Gandhi
Tiradentes, Pedro II, Caxias...
Todos são canibalizados ou carnavalizados
isso é muito bom, muito ruim.
Só por decreto reverenciamos a Bandeira Nacional fora da Copa do Mundo.
Preferimos as estátuas de orixás as iemanjás os cristos-redentores as formas mais abstratas — que são as mais inteligíveis porque desmitificadas.
Os poderes, mal distribuídos os direitos aos aquinhoados
os políticos revezam-se nas sinecuras
os do judiciário protegem-se em armaduras eternas por menos que durem
os religiosos numa impostura de funerária
e os militares, quando aquartelados — guardiões das instituições — sentem saudades do poder.
Nos períodos de maior rigor há mais desfiles militares
quando há mais miséria e medo — e infortúnio — acontecem as procissões e romarias.
Nessa hierarquia festiva Senhor, a sociedade se organiza: na intenção religiosa fica a Semana Santa, na direção cívica cabe o 7 de Setembro e, como ninguém é de ferro, rompem-se as amarras soltam as frangas no Carnaval de todos os disfarces.
Tudo indica, Senhor, que o padrão seja a alteridade: as negras podem ser evangélicas e as brancas mães-de-santo sem causar espanto ou confusão.
E mais: que experimentam a ambivalência nas relações sociais – um cientista de renome — Roberto Da Matta — diz mais: que podem ter duas convicções opostas — uma em casa, outra na rua.
Em casa são conservadores, autoritários, na rua, tolerantes, liberais e coisas mais: condescendência aos amigos e rigor para os demais.
Um povo que idolatra com escárnio que louva enquanto blasfema
é o que se pode dizer fora dos holofotes.
SAMBAQUIS
Que povos dizimados, que línguas extintas que marcas ardentes povoam as cavernas de paredes imanentes nos vestígios rupestres em São Raimundo Nonato?
Que vozes ressoam com os ventos passantes entre ruínas reluzentes de nossos antepassados na Serra da Capivara?
Que nos revelam as cerâmicas silentes dos povos marajoaras desaparecidos, ausentes?
Verdadeiramente de onde vieram? De muitas partes certamente. Quando? Por onde?
De períodos remotos por caminhos ignotos.
De quem eram as ossadas sepultadas em urnas funerárias em sambaquis enterrados?
Que relações com povos andinos com civilizações asiáticas com homens pré-históricos?
Que palavras permaneceram daquelas línguas isoladas esquecidas, soterradas pelo tempo ou dizimadas pela civilização?
Que dizem as pinturas e figuras das cerâmicas de Santarém? Que cerimônias ensejavam?
Que pensavam e sonhavam, que costumes havia como sobrevivia no cotidiano o homem destas paragens dez, dez mil, trinta mil anos atrás?
Que história haveria na pré-história e que desvenda a sua arqueologia?
Cabral surpreendeu-se com ossos nos lábios dos indígenas — os tambetás — sem entender as origens e nenhum significado.
E os muiraquitãs zoomorfos a que serviam?
Que Champolión haverá de decifrar os hieróglifos da pedra lascada do Ingá?
Que mitos, que ritos revelam os grafismos e antropomorfismos de um Maracá? Que imagens ainda guardamos nas faces errantes que traços antigos sobrevivem na gente?
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