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TATARITARITATÁ: VAMOS APRUMAR A CONVERSA - Literatura, Teatro, Música & Pesquisas de Luiz Alberto Machado (LAM). Show, cantarau, recital, palestras, oficinas, dicas & informações.

domingo, agosto 03, 2014

A ARTE DE ANTONIO MIRANDA

 

domingo, agosto 03, 2014

A ARTE DE ANTONIO MIRANDA

 

 

 

 

4 DE AGOSTO DE 1940

 

Nasci atravessado, pelo avesso

E na véspera

- não queria deixar o conforto

Do útero materno.

Enfrentar não queria

A luz exterior

Esperneei gritei berrei

Dias e anos seguidos

No desconsolo

No abandono

No desterro mais cruel

Entregue a mim, sem desejar-me

- nunca perdoarei aquele parte indesejado.

 

HORIZONTE CERRADO - O primeiro contato que tive com a arte de Antonio Miranda foi no inicio dos anos 2000, quando tive acesso ao seu texto poético-teatral Tu país está feliz, registrando seu trabalho no Poeta do Mês do meu Guia de Poesia. Foi daí que recebi o volume do seu livro Horizonte Cerrado, reunião de contos que muito apreciei, principalmente O chamadoVolta às origens e A revelação, trazendo fatos, coisas e curiosidades do Planalto Central.

 

 

OS VÁRIOS EUS (maneirismo literário)

Para Luiz Alberto Machado

 

Os meus vários eus

Se desentendem e se ofendem

Em posições irreconciliáveis

 

Os meus vários eus

Se defendem como podem

Exacerbando as divergências.

 

Entro em pânico e me recolho

Execrando minha existência

Múltipla e contraditória.

Tento a paz, a indulgência

Mas a confusão se instala

Em minha consciência

Sem qualquer escapatória.

 

Nem dormindo se apazigua

A guerra, contigua àquela

Atração fatal dos contrários

Que se anulam pela contrafação

- pelos comentários antagônicos

De eus agônicos e arbitrários

De um total desentendimento.

 

E por falta de melhor argumento

Vão àquela lavra maneirista

Do recurso redivivo

Do “palavra-puxa-palavra”

Do admirável Mario Chamie.

 

A SENHORA DIRETORA – Um ano depois, tenho a grata satisfação de receber o volume A senhora diretora e outros contos, o qual me deliciei lendo o conto título, Kafka explica, ou seria Freud?Memórias de adolescente ou as confissões do absurdo e, sobretudo, Memória da pele

 

 

 

SAUDADES DO FUTURO

 

Tanto quis fazer

E me contive.

Tanto quis ser.

Imaginei-me tantas vezes

Onde nunca estive.

 

Em menino, era adulto

Sem poder

Para ocupar espaços

Que se/me negavam.

 

Amores!

Desejei a quantos

E amei tantos

Sem tê-los

(conquantos, portantos)

Por contradizê-los

- eu bem sei.

 

Temores!

Preferia o impossível.

Projetei-me em situações

Que logo preteria

Por não satisfazer-me.

 

Insaciável

Pelo não vivido

E almejado

Frustrado pelo que sentia

Ao ter o que havia

Superado.

 

Vivi antecipadamente

O não acontecido

E relevei

Tantas vezes

Descuidadamente

O que sentia.

 

Era feliz

E não sabia

- diz o chavão

Em que não cria

Porque – então –

Para mim

A felicidade

Era sempre futura

Em minha

(postiça, intelectual)

Amargura.

 

DESPERTAR DAS ÁGUAS – Quando recebi o livro Despertar das águas fique supersurpreso. Já conhecia sua poesia, todavia, nesse livro ele se inteirava de forma completa no seu ofício de poeta, repassando tudo, desde o 4 de agosto de 1940 até o último poema do livro, Sobre o infinito de Giordano Bruno. Ao ler Os vários eus (maneirismos literários) parece mais que ele fotografou a minha alma e a mim dedicou o poema. Mas não só isso: Em Saudades do futuro eu estava ali, era eu com todos os eus do poeta. 

 

 

 

METAPOEMA

 

Tudo, tudo mesmo

Já se disse em poesia

Mas vale dizer de novo.

 

Não se banha no mesmo

Rio duas vezes, não se

Lê o mesmo poema.

 

E me descubro em verso

Que já havia esquecido

- eu, ido e revivido.

 

Escreve-se sempre o

Mesmo poema, que vai

Desta página até nunca.

 

Este verso e o outro

Que é sempre o mesmo

E o outro, lugar algum.

 

O mesmo poema é muitos.

 

MEMÓRIAS INFAMES – No livro Memórias infames ele ataca de primeira com Metapoema – um começo do fim pela pane de Dürrenmatt via dinâmica heraclitiana arrematando Pessoa de suas muitas metas, até chegar na Janela para dentro:

 

 

 

JANELA PARA DENTRO

 

Pássaro adiantado no tempo

- o inverno anuncia dias calados.

Que me falem de ti, onde andas.

Sem noticias e mensagens.

Animais gregários. Sapatos gastos.

 

A janela olhando o horizonte,

O horizonte dentro da janela.

Olhando para dentro: sem você.

Quando aportaremos, seguros?

As paredes estalam. Estremecemos.

Nada além disso, é o bastante.

 

Hora impávida, ensimesmamento.

Deve haver outra saída mais adiante.

Uma chuva letárgica, atrasada

Molha sem pressa, afogando

Por onde passo, sem caminho

- ofegante, buscando sem saber,

Sem saída, descalço – o dia em falso.

Talvez. Deve haver outra saída.

 

As nuvens espreitam a lo lejos

E me protege a sombra passageira.

 

TU PAÍS ESTÁ FELIZ - Finalmente tenho acesso ao texto teatral publicado Tu país está feliz, em edição bilíngue da Thesaurus, com apresentação de Anderson Braga Horta e músicas de Xulio Formoso, no qual destaco O mundo está cheio de palavras:

 

 

 

O MUNDO ESTÁ CHEIO DE PALAVRAS

 

O mundo está cheio de palavras!

 

Tu consomes pão e palavras:

Democracia, liberdade, temor

Felicidade.

 

O mundo está cheio de palavras...

 

E tão somente uma palavra

Uma tão só

Derruba tua coroa

Ou inflama tua garganta.

 

O mundo está cheio de palavras!

 

 

 

HOMENAGEM – Tudo que trago aqui é muito pouco para se ter uma dimensão da arte desse poeta, escritor, dramaturgo, escultor e professor maranhense radicado em Brasília. Antonio Miranda além de ser quem é, desenvolve um trabalho de difusão cultural e artística por toda América Latina, divulgando e reunindo sua obra no seu sítio que agrega a Poesia Ibero-Americana

 

 


 

 

 
 
 
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