| POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS Imagem  e biografia: wikipedia   YANNIS RITSOS   Yiannis Ritsos (em grego: Ιωάννης Ρίτσος; Monemvasia, 1  de maio de 1909 — Atenas, 11 de novembro de 1990) foi um poeta e tradutor  grego. Ocupação: poeta,  dramaturgo, tradutor, escritor Prêmios:    Prêmio  Lenin da Paz, Ordem da Amizade dos Povos Movimento estético:    Realismo,  surrealismo, Geração dos anos 30.    PAES, José Paulo.  Gaveta de Tradutor.  Versões de poesia. Florianópolis,  SC: Letras        Contemporâneas, 1996.   160 p.   16 x 22,5 cm.   Ex. bibl. Antonio Miranda  José Paulo Paes, além  de extraordinário poeta, e crítico literário, era também um dos nossos mais  extraordinários tradutores !!! Quem puder, deve adquirir o livro acima!!!A seguir, quatro dos “doze poemas para Kaváfis” que estão na edição acima  referenciada.
     O ESPAÇO DO POETA A  escrivaninha negra com entalhes, os dois candelabros de prata, o cachimbo vermelho. Está sentado, quase invisível, na poltrona,
 com a janela sempre às suas costas. Por detrás dos óculos,
 enormes e cautos, observa o interlocutor
 luz intensa, ele próprio oculto dentro de suas palavras,
 dentro da História, com personagens seus, distantes,
 [invulneráveis,
 capturando a atenção dos outros nos delicados revérberos
 da safira que traz num dedo, e alerta sempre para saborear-lhes as expressões,  nos momentos em que os tolos efebos
 emudecem os lábios com a língua, admiravelmente. E ele,
 astuto, sôfrego, sensual, o grande inocente,
 entre o sim e o não, entre o desejo e o remorso,
 qual balança na mão de um deus, ele oscila por inteiro,
 enquanto a luz da janela atrás lhe põe na cabeça
 uma coroa de absolvição e santidade.
 "Se a poesia não for a remissão — murmura a sós consigo, —
 não esperemos então misericórdia de  ninguém".
     SUA LÂMPADA A  lâmpada é suave, complacente; ele a prefere aos outros tipos de iluminação. Regula a sua luz
 conforme às necessidades de momento, conforme
 ao desejo eterno, inconfessável. E sempre
 o cheiro de querosene, uma tênue presença
 discreta, à noite, quando volta solitário,
 com tal cansaço nos membros, tal futilidade
 no tecido do paletó, nas costuras do bolso,
 tal que cada movimento parece ser supérfluo, intolerável
 a lâmpada, uma ocupação a mais — a mecha,
 o fósforo, a chama a perigar (com suas sombras
 sobre o leito, a escrivaninha, as paredes) e sobretudo
 aquele vidro — sua frágil transparência
 que a um gesto humano e simples desde o princípio
 te compele: proteger-se e proteger a outros.
       SOBRE A FORMA   Disse:  "A forma não se inventa nem se impõe: está  implícita na própria matéria e se revela às vezes no  seu movimento para fora". Lugares-comuns, dissemos, vaguedades  — o que é que se revela então? Ele não mais falou; fincou  o queixo entre as duas mãos como se fosse uma palavra entre  aspas. O cigarro permaneceu indeciso entre  os lábios cerrados — uma branca antena acesa em  vez de reticências, que omitia sempre por princípio (ou  talvez inconscientemente), dissimulando-lhe o silêncio.   Nessa  atitude, pareceu-nos vagamente que esperava numa  pequena estação ferroviária, por sob a cobertura, onde  se encontram momentaneamente, numa noite de inverno, viajantes  solitários, com aquele gosto de carvão da  viagem incompleta, e a recíproca infinitude de sua secreta e antiquíssima amizade. A fumaça do trem
 paira placidamente sobre os dois cones horizontais
 dos faróis da locomotiva, compactos e esculturais, entre
 duas separações. Ele apagou o cigarro e foi-se.
       MAL-ENTENDIDOS   Essas  suas ambiguidades, intoleráveis: elas nos põem à prova e o põem também à prova; trai-se claramente
 a sua imprecisão, a sua hesitação, a sua ignorância, timidez
 e falta de sólidos princípios. Decerto vai-nos envolver
 nas suas complicações. E olhava algures, mais adiante,
 como que magnânimo e indulgente (feito os que têm necessidade
 [de indulgência),  a camisa imaculadamente branca,
 o irrepreensível terno cinza e um  crisântemo na botoeira. Todavia,
 quando  se foi, no lugar onde estivera de pé, distinguimos sobre o [pavimento um  pequeno lago muito rubro, lindamente desenhado, quase  um mapa da Grécia, uma miniatura do globo terrestre, com  diversas lacunas e fronteiras deveras imprecisas —  fronteiras semi-apagadas na uniformidade da cor, — um  globo terrestre numa escola muito branca, hermeticamente [fechada durante o mês de julho, de onde estivessem ausentes os alunos todos, em férias numa praia esplêndida,  ofuscante.
     RITSOS, Yannis.  Doce  poemas para Kavafis. Traducción de Nina Anghelideis. Prólogo de Elina Miranda Cancela.  La Hababa, Cuba: Ediciones Unión, 2007.  32 p.   (Colección Sur) 13x19 cm  Ex.  bibl. de Antonio Miranda
 
 EL ESPACIO DEL  POETA
 El negro y tallado escritorio, los dos candelabros de  plata,su  pipa roja. Está sentado, casi invisible, en el sillón,
 con  la ventana siempre a sus espaldas. Turas las gafas,
 enormes  y cautas, observa a sus interlocutor
 bañado  de luz, él oculto en sus palabras,
 en  la Historia, en personajes suyos, distantes, e invulnerables,
 captando  la atención de los demás en los delicados reflejos
 de un zafiro que lleva en el dedo;  siempre dispuesto a soborear
 las  expresiones de los ingénuos efebos en tanto que,
 admirativamente,  humedecen sus labios con la lengua.  Y él
 astuto,  voraz, sensual, el gran inocente,
 oscila  entre el sí y el no, entre el deseo y el arrepentimiento,
 como  si fuera balanza en manos de Dios,
 mientras  la luz de la ventana detrás de su cabeza
 le  coloca una corona de perdón y santidad.
 “Si  la poesía no absuelve  —  murmuró para si mismo  —
 pues no esperemos misericordia de nadie”.
 
 
 AL  APAGAR LA LÁMPARA
 Llega la hora del gran gran  cansancio. Mañana espléndida,
 traicionera;  - señala el fin de otra de sus noches, exagerando
 el reluciente remordimientos del espejo, cavando rencorosamente
 las líneas junto a sus labios y a sus ojos. Ahora,
 es inútil la afabilidad de la lámpara o  el cierre de las cortinas.
 Rigurosa conciencia del fin sobre las sábanas donde se enfría
 el cálido aliento de la noche de verano, y quedan tan solo
 algunos rizos
 caídos de las juveniles cabelleras — una cadena cortada —
 esa misma cadena, — ¿quién la forjó? No,
 no sirve ni el recuerdo ni la  poesía.  Y sin embargo,
 en el instante final, antes de dormir, al inclinarse sobre
 el vidrio de la lámpara
 para soplar la llama y apagarla,  comprende
 que está soplando directo a la oreja  vítrea de la eternidad
 una palabra inmortal, enteramente suya, su propio aliento
 —el suspiro de la materia.
 Es hermoso que el hume de la lámpara perfume
 su habitación al amanecer.
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 Página ampliada y republicada en agosto de 2026.
 
 Página publicada em setembro  de 2019       
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