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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

W. B. YEATS

William Butler Yeats,

 

muitas vezes apenas designado por W.B. Yeats, (Dublin, 13 de junho de 1865 — Menton, França, 28 de janeiro de 1939) foi um poeta, dramaturgo e místico irlandês. Atuou ativamente no Renascimento Literário Irlandês e foi co-fundador do Abbey Theatre.

Suas obras iniciais eram caracterizadas por tendência romântica exuberante e fantasiosa, que transparece no título da sua colectânea de 1893, The Celtic Twilight ("O Crepúsculo Celta"). Posteriormente, por volta dos seus 40 anos, e em resultado da sua relação com poetas modernistas, como Ezra Pound, e também do seu envolvimento activo no nacionalismo irlandês, seu estilo torna-se mais austero e moderno.

Foi também senador irlandês, cargo que exerceu com dedicação e seriedade. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1923. O Comité de entrega do prémio justificou a sua decisão pela "sua poesia sempre inspirada, que através de uma forma de elevado nível artístico dá expressão ao espírito de toda uma nação." Em 1934 compartilhou o Prémio Gothenburg para poesia com Rudyard Kipling.

Fonte: wikipedia

 

TEXTS IN ENGLISH     -     TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE  - Ano 6 – Número 9  - Rio de Janeiro - Março 1998. Fundação BIBLIOTECA NACIONAL – Departamento Nacional do Livro -  Ministério da Cultura.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Sailing to Byzantium

 

1

 

That is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
— Those dying generations — at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long,
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.

 

2

 

An aged man but a paltry thing,

A tattered coat upon a stick, unless

Soul clap its bands and sing, and louder sing

For every tatter in its mortal dress,

Nor is there singing school but studying

Monuments of its own magnificence;

And therefore I have sailed the seas and come

To the holy city of Byzantium.

 

3

 

O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal

It knows not what it is; and gather me

Into the artifice of eternity.

 

 

4

 

Once out of nature I shall never take

My bodily form from any natural thing,

But such a form as Grecian goldsmiths make

Of hammered gold and gold enamelling

To keep a drowsy Emperor awake;

Or set upon a golden bough to sing

To lords and ladies of Byzantium

Of what is past, or passing, or to come.

 

 

Velejando para Bizâncio

 

 

1

 

Existe não é país para ancião.
Jovens aos beijos, aves a cantar
(Mortal estirpe), saltos de salmão,
Cavalas que povoam todo o mar,
O peixe, o pêlo e a pluma, no verão
Só louvam o que nasce e vai passar.
Na música sensual vêem com desdouro
As obras do intelecto imorredouro.

 

2

 

Um velho é apenas coisa irrelevante,
Trapos sobre um bastão ele é na essência,
A menos que a alma aplauda e elegre cante
Acima dos farrapos da existência;
Nem se aprende a cantar senão perante
Os monumentos da magnificência.
Sulquei por isso o mar e cheio de ânsia
Vim à cidade santa de Bizâncio.

 

 

3

 

Oh vós, sábios de Deus no fogo santo,
Como em áureos mosaicos de um mural,
Ensinai-me a cantar, deixando entanto
O fogo, perno em giro vertical.
Tomai meu coração: ansiando tanto,
E preso a perecível animal,
Não se conhece; e eu seja assimilado
Pelo artifício da eternidade.

 

 

4

 

Fora da natureza nunca mais

Forma da natureza irei tomar,

Mas forma que um ourives grego faz

Com ouro fino e fino cinzelar

E a sonolento imperador apraz;

Ou num galho dourado hei de cantar

Para a nobreza de Bizâncio ouvir

Do que passou, ou passa, ou há de vir.

 

Tradução de Paulo Vizioli


 

Leda and the Swan

 

A sudden blow: the great wings beating still
Above the staggering girl, her thighs caressed
By the dark webs, her nape caught in his bill,
He holds her helpless breast upon his breast.

 

How can those terrified vague fingers push
The feathered glory from her loosening thighs?
And how can body, laid in that white rush,
But feel the strange heart beating where it lies?

 

A shudder in the loins engenders there

The broken wall, the burning roof and tower

And Agamemnon dead.

                                 Being so caught up,

 

So mastered by the brute blood of the air,
Did she put on his knowledge with his power
Before the indifferent beak could let her drop?

 

1923

 

 

 

Leda e o cisne

 

Súbito golpe: as grandes asas a bater
Sobre a virgem que oscila, a coxa acariciada
Por negros pés; a nuca, um bico a vem reter;
O peito inane sobre o peito, ei-la apresada.

 

Dedos incertos de terror, como empurrar
Das coxas bambas o emplumado resplendor?
Pode o corpo, sob esse impulso de brancor,
O coração estranho não sentir pulsar?

 

Um tremor nos quadris engendra incontinenti
A muralha destruída, o teto, a torre a arder
E Agamêmnon, o morto.

                                  Capturada assim,

 

E pelo bruto sangue do ar sujeita, enfim
Ela assumiu-lhe a ciência junto com o poder,
Antes que a abandonasse o bico indiferente?

 

          1923

 

Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos

 

 

Byzantium

 

The unpurged images of day recede;
The Emperor's drunken soldiery are abed;
Night resonance recedes, night-walkers' song
After great cathedral gong;
A starlit or a moonlit dome disdains
All that man is,
All mere complexities,
The fury and the mire of human veins.

 

Before me floats an image, man or shade,

Shade more than man, more image than a shade;

For Hades' bobbin bound in mummy-cloth

May unwind the winding path;

A mouth that has no moisture and no breath

Breathless mouths may summon;

I hail the superman;

1 call it death-in-life and life-in-death.

 

Miracle, bird or golden handiworks,
More, miracle than bird on handiwork,
Planted on the starlit golden bough,
Can like the clocks of Hades crow,
Or, by the moon embittered, scorn aloud
In glory of changeless metal
Common bird or petal
And all complexities of mire or blood.

 

At midnight on the Emperor's pavement flit
Flames that no faggot feeds, nor steal has lit,
Nor storm disturbs, flames begotten of flame,
Where blood-begotten spirits come
And all complexities of fury leave,
Dying into a dance,
An agony of trance,

An agony of flame that cannot singe a sleeve.

 

Astraddle on the dolphin's mire and blood,
Spirit after spirit! The smithies break the flood,
The golden smithies of the Emperor!
Marbles of the dancing floor
Break bitter furies of complexity,
Those images that yet
Fresh images beget,

The dolphin-torn, that gong-tormented sea.

 

 

 Bizâncio

 

Toda a imagem do dia, poluída, se desfaz;
Dormem bêbedos os soldados imperiais;
E a ressonância da noite foge, em um canto
Depois dos sinos, sonâmbula;
Uma cúpula estrelada ou de luar semeia
Desprezo a tudo o que os homens são,
À banal complicação
E à fúria e à lama das humanas veias.

 

Diante de mim uma imagem, homem ou sombra,

Mais sombra que homem, mais imagem que sombra,

Flutua; e o fio de Hades, que veste múmias

Talvez deslinde o sinuoso rumo;

E uma boca sem fôlego e ressequida

Chama bocas também inanes;

Eu saúdo o super-humano

E chamo-o vida-em-morte e morte-em-vida

 

Milagre, pássaro, rara manufatura,

Mais milagre que pássaro ou manufatura

Num ramo de ouro sob estrelas assentado

Canta como os galos de Hades

E amargurado pela lua, escarnecendo clama

Em glória de imutável metal

Contra o pássaro ou pétala banal

Contra as complicações de sangue e lama.

 

À meia-noite, na estrada do imperador
Chamas que não herdam da lenha seu fulgor
E a tempestade poupa, chamas filhas das chamas,
Onde o espírito em sangue se proclama,
Das complicações da fúria despedidas
Morrem numa dança
Uma agonia de ânsia,

Agonia de chama que não queima vestidos.

 

Montando o sangue e a lama do delfim,
Um espírito após outro! As forjas dão fim,
As forjas do imperador, à inundação.
Os mármores do salão

Quebram complicações, fúrias amargas, ânsias,

Aquelas imagens que ainda

Se renovam: cindido pelo delfim,

O mar atormentado em ressonância.

 

Tradução de Jorge Wanderley

 

 

 

When You Are Old

 

When you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep

 

How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;

 

And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.

 

 

 

         Quando fores velha

 

Quando já fores velha, e grisalha, e com sono,
Pega este livro: junto ao fogo, a cabecear,
Lê com calma; e com os olhos de profundas sombras
Sonha, sonha com o teu antigo e suave olhar.

 

Muitos amaram-te horas de alegria e graça,
Com amor sincero ou falso amaram-te a beleza;
Só um, amando-te a alma peregrina em ti,
De teu rosto a mudar amou cada tristeza.

 

E curvando-te junto à grade incandescente,
Murmura com amargura como o amor fugiu
E caminhou montanha acima, a subir sempre,
E o rosto em multidão de estrelas encobriu.

 

          Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos

 

 

 

         What then?

 

His chosen comrades thought at school
He must grow a famous man;
He thought the same and lived by rule,
All his twenties crammed with toil;
"What then?"sang Plato's ghost. "What then?"

 

Everything he wrote was read,
After certain years he won
Sufficient money for his need,
Friends that have been friends indeed;
"What then?" sang Plato's ghost. "What then?"

 

All his happier dreams came true —

A small old house, wife, daughter, son,

Grounds where plum and cabbage grew,

Poets and Wits about him drew;

"What then?" sang Plato's ghost. "What then?"

 

"The work is done", grown old he thought,

"According to my boyish plan;

Let the fools rage, I swerved in naught,

Something to perfection brought";

But louder sang the ghost, "What then?"

 

 

 

 E daí?


Estudante, os mais íntimos colegas
Já viam nele um grande gê
nio então;
Ele também; e agiu segundo as regras
Passando em claro as suas noites negras.
E daí? canta a sombra de Platão.

 

Seus escritos lhe dão notoriedade;
Ao cabo de alguns anos, ganha tão
Bem que não passa mais necessidades;
Seus amigos, amigos de verdade.
E daí? canta a sombra de Platão.

 

Seus sonhos todos vêm à luz do dia: }
Casa boa, mulher, filhos, carrão,
Horta e pomar onde tudo crescia,
Poetas e Sábios sobre ele choviam.
E daí? canta a sombra de Platão.

 

Obra completa, já maduro, tosse:

"Meu projeto de jovem concluí;

Que os tolos clamem; um senão que fosse;

Pois algo ao nível do perfeito eu trouxe."

E a voz mais alto: E daí? E daí?

 

                   Tradução de Ivo Barroso

 

         Página publicada em janeiro de 2018


 

 

 
 
 
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