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POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS


Busto de Virgílio, na entrada de sua tumba, em Nápoles.

 

VIRGILIO

Nascimento       15 de outubro de 70 a.C.

Andes (atual Virgilio), Gália Cisalpina

Morte   21 de setembro de 19 a.C. (50 anos)

Brundísio

Nacionalidade  Romana

Gênero literário              Poesia épica, poesia didática, poesia pastoral

 

Públio Virgílio Maro ou Marão (em latim: Publius Vergilius Maro; Andes, 15 de outubro de 70 a.C. — Brundísio, 21 de setembro de 19 a.C.) foi um poeta romano clássico, autor de três grandes obras da literatura latina, as Éclogas (ou Bucólicas), as Geórgicas, e a Eneida. Uma série de poemas menores, contidos na Appendix vergiliana, são por vezes atribuídos a ele.

Virgílio é tradicionalmente considerado um dos maiores poetas de Roma, e expoente da literatura latina. Sua obra mais conhecida, a Eneida, é considerada o épico nacional da antiga Roma: segue a história de Eneias, refugiado de Troia, que cumpre o seu destino chegando às margens de Itália — na mitologia romana, o ato de fundação de Roma. A obra de Virgílio foi uma vigorosa expressão das tradições de uma nação que urgia pela afirmação histórica, saída de um período turbulento de cerca de dez anos, durante os quais as revoluções prevaleceram. Virgílio teve uma influência ampla e profunda na literatura ocidental, mais notavelmente na Divina Comédia de Dante, em que Virgílio aparece como guia de Dante pelo inferno e purgatório. Biografia completa em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Virg%C3%ADlio

 

VIRGÍLIO.  Bucólicas.  Trad. de Péricles Eugênio da Silva Ramos.  Introdução de Nougueira Moutinho.  Ilustrações de Marcelo Lima. São Paulo: Melhoramentos;  Brasília: Editora da UnB, 1982.   169 p.  ilus. 
13 x 21 cm.  Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

I

TÍTIRO

 

 

 

MELIBEU

 

Ó Títiro, deitado à sombra de uma vasta faia,
aplicas-te à silvestre musa com uma frauta leve;

nós o solo da pátria e os doces campos nós deixamos;

nós a pátria fugimos; tu, na sombra vagaroso,

fazes a selva ecoar o nome de Amarílis bela.                         5

 

TÍTIRO

 

Propiciou-nos um deus este lazer, ó Melibeu:

para mim ele sempre será um deus; em seu altar

amiúde um cordeirinho sangrará de nosso aprisco.

Permitiu ele, como vês, que as minhas vacas errem

e aquilo que bem queira eu toque em meu agreste cálamo.  10

 

MELIBEU

 

Por mim, eu não te invejo, antes me admiro: em toda parte

os campos se perturbam tanto! As minhas cabritinhas,

inquieto as tanjo adiante; a custo levo esta, Títiro:

há pouco ela deixou aqui na pedra dura uns gêmeos,

esperança da grei! em meio a densas aveleiras.                    15

Este mal, eu me lembro, ó mente descuidada a minha!

os carvalhos tocados pelo céu tinham predito.

Mas dize-nos, ó Títiro, qual seja esse deus teu.

 

TÍTIRO

 

A cidade que chamam Roma eu, Melibeu, julgava

— mas que tolice! — igual a esta nossa, aonde os pastores    20

costumamos levar as tenras crias das ovelhas;

era igual o filhote ao cão, à cabra os cabritinhos,

e assim eu me habituara a misturar pequeno e grande.

Mas Roma eleva tanto a fronte sobre as mais cidades

como os ciprestes sobreexcedem os viburnos dóceis.             25

 

MELIBEU

 

E que razão de peso tinhas para ir a Roma?

 

TÍTIRO

 

A Liberdade que me viu ocioso, tarde embora,

quando, ao fazer a barba, esta caía já mais branca;

viu-me contudo e me chegou depois de longo tempo,

ao tempo de Amarílis e depois de Galatéia.                          30
Direi que enquanto em seu poder me teve Galatéia

eu não pensava em liberdade nem no meu pecúlio.

Por mais que produzissem vítimas os meus cercados

e gordos queijos eu premesse para a ingrata urbe,

nunca eu voltava ao lar com a mão pesada de moedas.        35

 

MELIBEU

 

Por que tristonha os deuses invocavas, Amarílis,

e para quem nas árvores deixavas pender frutas?

Títiro estava longe. Até estes pinheiros, Títiro,

até as próprias fontes e o arvoredo te chamavam. 

 

TÍTIRO

 

Que fazer? Só assim eu deixaria a escravidão,                     40

e iria conhecer em Roma deuses tão propícios.

Lá vi o jovem por quem ardem os altares nossos

duas vezes seis dias, Melibeu, todos os anos.

De pronto, lá me respondeu ao que eu lhe perguntava:

"Ó moços, como antes pascei bois; e criai touros".              45

 

MELIBEU

 

Velho feliz! Continuarão teus campos a ser teus!

E bastam para ti, embora cubram pedras nuas

e um paul de limosos juncos todos estes pastos!

Não buscarão novas pastagens as ovelhas prenhes,

nem sofrerão o mau contágio de um rebanho próximo.

Velho feliz! Aqui, em meio a rios conhecidos

e entre sagradas fontes, gozarás sombra e frescor!

Ali a sebe, onde na raia do vizinho campo

pousam abelhas de Hibla sobre as flores do salgueiro,

ao sono te convidará com um leve sussurrar.                     55

Junto à alta rocha cantará o desfolhador às brisas,

mas sem que ao mesmo tempo as roucas pombas, teu

[cuidado,

e a rola cessem de gemer no topo dos olmeiros.

 

TÍTIRO

Antes no éter pastarão os rápidos veados

e as ondas depositarão na praia, a nu, os peixes,               60

antes, trocando as terras entre si, irá o germano

exilado beber no rio Tigre, e o parta no Arar,

antes que o vulto dele se esvaeça deste peito.

 

MELIBEU

 

Mas daqui uns iremos aos sedentes africanos,

à Cítia outros, e ao veloz Oaxes rico em greda,                   65

e aos bretões, separados tanto deste nosso mundo.

Verei acaso, após um longo tempo, as terras pátrias

e o teto do casebre meu, coberto pela grama?

Divisarei, mais tarde, espigas pelos meus domínios?

Serão de ímpio soldado estes alqueives tão cuidados?          70

De um bárbaro, estas searas? A discórdia, aonde levou

os pobres cidadãos! Foi para outros que semeamos!

Enxerta essas pereiras, Melibeu, alinha as vides!

Feliz rebanho outrora, ide, cabritas minhas, ide!

Não mais eu vos verei, deitado na caverna verde,               75

pender ao longe de um rochedo cheio de silvados.

Já não mais cantarei; nem mais, sendo eu pastor,

[cabrinhas,

mascareis o cítiso em flor nem o salgueiro amargo.

 

TÍTIRO

 

Poderias contudo aqui passar comigo a noite

sobre a folhagem verde. Doces frutos nós os temos;            80

temos castanha tenra, temos queijo em quantidade;

já das granjas, ao longe, vêem-se fumegar os tetos,
e do topo dos montes caem as sombras alongadas.

 

 

 

====================================

NOTAS

 

2.         musa: poema.

3.         nos (nós): os expropriados, ou Melibeu e seus animais, indaga Saint-Denis, que prefere a primeira opção à vista do v. 72, nos conseuimus agros. Nos, os expropriados, Perret.

 

6.         deus: Otávio, o futuro imperador Augusto, que de fato seria proclamado deus em 29 a.C. Mas Títiro já presta a Otávio honras divinas.

7.         aram (altar): essa palavra dá mais importância a deus, mas presta-se igualmente (Perret) a uma interpretação mo¬desta: alforriado por Otávio, Títiro sacrificará ao Génio de seu patrono, ao mesmo tempo que a seus Lares.

9.         errare (que errem): talvez a palavra seja importante (Perret): Títiro é confirmado num direito de livre pasto.

11.       inicia-se o diálogo, em cuja sequência, assinala Perret, a linguagem de Melibeu é mais castigada que a de Títiro. Terá isso sido voluntário em Virgílio? — indaga Saint-Denis.

19.       da: vale como dic (Plessis e Lejay).

20.       nostrae (a nossa): pensa-se em Mântua, vizinha ao

lugarejo de Andes, onde nasceu Virgílio.

27.         Libertas (Liberdade): erigida em deusa, tinha um tem¬plo no Aventino.

30.         Amaryllis (Amarílis): é uma pastora em Teócrito, e Galatéia uma nereida; mas Galatéia é aqui (e na Buc. III, 64, 72) uma pastora, ao passo que na IX Buc, 39, se mantém como nereida.

36.        o vocativo Amarylli levou G. Ramain a pensar que a moça estivesse presente.

41.       diuos (deuses): para Saint-Denis, plural enfático, desig-nando um protetor todo-poderoso; para Perret, funcionários da administração dominial.

42.       iuuenem (jovem): Otávio estava então com vinte e poucos anos.

43.       nos idos de cada mês, segundo Sérvio, como para os deuses Lares.

45.       pueri (ó moços), vocativo amigável, antes que de co-miseração, segundo Saint-Denis, no plural porque se trata de uma delegação de pobres diabos recebida por Otávio (Perret). Segundo Paulo (Digesto L, 16, 204), o nome puer tem três significados: um, quando mencionamos todos os escravos; outro, quando opomos o nome ao de puella (moça, menina); o terceiro, quando nos referimos à idade pueril. Odorico Mendes empregou "meus filhos". "Moços", aqui, é vocativo que independe de idade; usamo-lo eventualmente quando nos dirigimos a pessoas de nível serviçal ou semelhante.

47.         lápis, palus, pascua (pedra, paul, pastos): segundo Perret indicariam terrenos que não poderiam ser objeto de assignatio (distribuição) a veterano ou soldado; segundo Saint-Denis, os pormenores dos vv. 47/48 são meramente descritivos de certos imóveis da região mantuana.

54.       Hybla: monte da Sicília, famoso por seu mel. Salicti (do salgueiro): segundo R. Billiard, trata-se da Salix caprea, bastante polinífera e portanto procurada pelas abelhas.

59.       os impossibilia ou adynata, conhecidos na poesia anti¬ga, egípcia ou grega, eram frequentes na linguagem familiar latina, afirma Forbiger. Assim Virgílio, arrisca Saint-Denis, provavelmente não imitou ninguém; não é preciso buscar os precedentes de Arquíloco ou Rufino para explicar os seus versos.

62.        Ararim (Arar): rio da Gália Céltica (hoje Saône), tributário do Ródano.

65.        Oaxes: rio desconhecido, mas que deve ser oriental. Rapidum cretae, segundo Perret, permanece inexplicado; Saint-Denis adota a glosa de Sérvio, hoc est lutuosum, quod rapit creiam. "Qui entraine de la craie", Plessis e Lejay, que remetem a Quinto Cúrcio, VII, 40.

71.        barbarus (bárbaro): talvez um gaulês ou germano das legiões de César. Discórdia: trata-se das guerras consecutivas à morte de César, sem poder-se precisar mais, acentua Perret. Ciuis (cidadãos): a palavra, segundo o mesmo autor, é importante para situar Melibeu com referência a Títiro.

74.        pelo que parece, Melibeu reuniu seu rebanho para vendê-lo (Perret).

78.        Cytisum (cítiso): segundo H. des Abbayes, transcrito por Saint-Denis, não se trata no caso do Cytisus Laburnum, que as cabras não procuram, mas do Spartium junceum (gies-ta-da-espanha), ainda hoje planta de forragem.

79        e ss.: cinco versos no final, cinco versos na abertura; outro dado da armação é que a passagem central (vv. 40-45) é precedida de 26 + 13 e seguida de 13 + 25 w., como observa Perret, que toma a écloga como uma das mais solidamente construídas da coleção.

Virgílio:
Coridón e Aléxis

 

Nesta bucólica, Virgílio desenvolve o tem do amor não correspondido do pastor Córidon por Alexis, jovem escravo de seu amigo Iolas. Os primeiros cinco versos introduzem os personagens e descrevem o cenário do drama.  Os seguintes compõem-se de uma longa fala de Coridón, dirigida ao amado ausente, em que sobressaem os esforços do amante para conquistar o amado e o seu sofrimento pelo amor não correspondido.
(Raimundo Carvalho)

 

POR QUE CALAR NOSSOS AMORES?: Poesia homoerótica latina. Organização Raimundo Carvalho, Guilherme Gontijo Flores, Márcio Meirelles Gouvêa Júnior, João Angelo Oliva Neto.  Edição bilíngue Latin – Português.  Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2017.     285 p. (Coleção Clássica)  16,5x24 cm. 
ISBN 978-85-8217-602-3                      Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Bucólica II

Formosum pastor Corydon ardebat Alexim,
delicias domini: nec quid speraret habebat.
Tantum inter densas, umbrosa cacumina, fagos
adsidue ueniebt; ibi haec incôndita solus
montibus et siluis studio iactabat inani:
´O crudelis Alexi, nihil mea carmina curas?     5
nil nostri miserere? Mori me denique coges
Nuc etiam pecudes umbras et frigora captant;
nunc urides etiam occultant spineta lacertos,
Thestykus et rápido fessis messoribus aestu
alia serpullumque herbas contundit olentis.
At mecum raucis, tua dum tiestigia lustro,
sole sub ardenti resonant arbusta cicadis.
Nonne fuit satius Amaryllidis iras
atque superba pati fastidia? Nonne Menalcan,      15
quamuis illesniger, quamuis tu candius esses:
O formose puer, nimium ne crede colori!
Alba ligustra cadunt, uaccinia nigra leguntur.
Despectus tibni sum nec qui sim quaeris, Alexis,
quam diues pecoris, niuei quam lactis abundans.    
20  
Mille meae Siculis errant in montibus agnae;
lac mihi non aestate nouum, non frigores defit.
Canto quae solitus, si quando Armenta uocabat,
Amphion Dircaeus in Actaeo   Aracyntho.
Nec sum adeo informis; nuper me in litore uidi,       25
cum placidum uentis staret mare; non ego Daphnin,
índice te, metuam, si numquam fallit imago,
O tantum libeat mecum tibi sórdida rura
atque humilis habitare  casas et figere ceruos
haedorumque gregem uiridi compellere hibisco!      30
Mecum uma in siluis imitabere Pana canendo.
Pan primus calamos cera coniungere pluris
instituit; Pan curat ouis ouiiumque magistros.
Nec te paeniteat calamo triuisse labellum:
haec eaden uto sciret, quid non faciebat Amyntas?  35
Est mihi disparibus septem compacta cicutis
fistula. Damoetas dono mihi quam dedit olim,
et dixit moriens: “te nunc habet ista secundum.”
Dixit Damoetas; inuidit stultus Amyntas.
Praetarea duo, nec tuta mihi ualle reparti,              40
capreoli, sparsis etiam nunc pellibus albo:
bina die siccant ouis ubera; quos tibi seruo.
Iam prdem a me illos abducere Thestylis orat;
et faciet, quoniam sordent tibi muneera nostra.
Huc cades, o formose puer, tibi lilia plenis    45
ecce ferunt Nymphae calathis, tibi candia Nais,
pallentis uiolas et summa papaueras carpens,
narcissum et forem iungit sbene olentis anethi;
tum, casia atque aliis intexens suauibus herbis
mollia luteola pingit uaccinia calta.                      50
Ipse ego cana legam tenera lanugine mala,
cataneasque nuces, mea quas Amaryllis amabaat;
.      addam cerea pruna; honos erit huic quoque pomo;
et uos, o lauri, carpam et te, proxime myrte,
sic postae quoniam suauis miscetis odores.             55
Rustius es, Corydon; nec munera curat Alexis,
nec, si muneribus certes, concedat Iollas.
Eheu! quid uolui misero mihi? Floribus Austrum
perditus et liquidis inmissi fontibus apros.
Quem fugis, a! demens? Habitarunt di quoque siluas60
Dardaniusque Paris. Pallas quas condidit arcis
ipsa colat; nobis placente ante omnia siluae.
Torua leana lumpum suquitur, lúpus ipse capellam;
flrorem cytisum sequitur lascua capella,
te Corydon, o Alexi: trahit sua quemque uoluptas    65
Aspice, artra iugo referunt suspensa uuenci
et sol crescentes decedens duplicat umbras;
me tamen urit amor, quae te dementia cepit?
Semiputata tibi frondosa uitis in ulmo est.               70
Quina tu aliquid salten potius, quórum indiget usus,
uiminibus mollique paras detesere iunco?
Inuenies alium, si te hic fastidit, Alexim.´

 

BUCÓLICA II

Córidon, um pastor, pelo formoso Aléxis,
delícias do seu dono, em desespero ardia-se.
Entre denso faial, de vértices sombrios,
vinha assíduo; aí, só, às selvas e montes
lançava, sem empenho e arte, estes delírios:         5
“Não escutas, cruel Aléxis, os meus cantos?
Nem tens pena de mim? me forças a morrer.
Agora o gado goza o frescor de uma sombra;
agora o espinhal verde lagarto oculta,
e Téstiles prepara, ao ceifeiro exaurido                10
pelo estio voraz, alho e serpilho olentes.
Mas, enquanto persigo o teu rastro, cigarras
roucas, sob sol ardente, em arbustos ressoam.
Melhor não era, ira amara de Amarilis,
seu soberbo desdém, sofrer? Ou de Menalcas,      15
embora ele seja um negro, e tu tão branco?
Ó formoso rapaz, não fies tanto em cor!
Alfena branca jaz, negro jacinto colhe-se.
Não perguntas quem sou, ignorando-me, Aléxis
nem  o quanto sou rico em gado e níveo leite.       20
Mil crias minhas vão por montes da Sicília;
não me falta, no inverno ou verão, leite fresco.
Canto o que, ao guiar o seu gado, cantava
Anfion Dirceu lá no ático Aracinto.
Nem sou tão feio assim; há pouco me vi n´água,    25
quando o mar era calmo; até Dáfnis não temo,
tendo-te por juiz, senão mente a imagem.
Ah! Se só te aprouvesse estes meus pobre campos
e uma cabana humilde habitar, caçar cervos
e os cabritos guiar rumo ao verde hibisco!              30
Em par cantando, Pã na selva imitaríamos.
Pã, primeiro, colar vários caules com cera
ensinou. Cuida Pã de ovelhas e pastores.
Não lamentes ferir o teu lábio na flauta.
Para isto saber, que não faria Amintas?                   35
A minha flauta tem sete tubos distintos;
pois, outrora este dom Dametas me ofertou,
declarando, ao morrer: és o meu sucessor.
Dametas disse; o tolo Amintas invejou-me.
E mais, em vale incerto achei dois cabritinhos,        40
pelo ainda malhado e secando dois ubres
por dia, cada um: para ti os conservo.
Téstiles, desde algum tempo insiste em leva-los,
e o fará, já que meus presentes não te aprazem
Vem, formoso rapaz: para ti Ninfas trazem        45
muito lírio em buquês, para ti branca Náiade,
pálida violeta e alta papoula alçando,
junta o narciso e a flor do aneto bem olente:
e trançando o alecrim e outras ervas suaves,
meigos jacintos põe, com cravos amarelos.             50
De lanugem macia, alçarei alvos frutos,
castanha e noz, que a minha Amarilis amava.
Ameixas juntarei, das pretas, sem destaque,
mas também a vós, miro e louro, colherei,
pois, dispostos assim, terei odor suave.               5
Aléxis não quer teus dons, ó Córidon rústico,
nem Iolas cederá, mesmo se deres muitos.
Ai, infeliz, o que te fiz? Sobre as flores o Austro
e em fontes javalis, perdido, eu impeli.
De quem foges, demente? Habitam selvas deuses  60
e Páris, o dardânio. Entre muralhas Palas
mora; porém, a mim, só as selvas aprazem.
Torva leoa segue o lobo, o lobo a cabra;
lasciva cabra a flor do codesso, a ti Córidon:
a cada qual atrai seu próprio gozo, Aléxis.            65
Vê, os novilhos vão com arados suspenso,
e o pôr do sol suplica as já crescidas sombras;
mas me queima o amor: que termo tem o amor?
Córidon, que demência apossou de ti, Córidon?
Manténs a vide mal podada em colmo alto.           70
Por que não te propões a fazer algo útil,
trançando com o vime e o junco maleável?
Se este te despreza, acharás outro Aléxis.”

 Notas

Anfion: Rei fundador de Tebas, cuja muralha ergueu com pedras
que espontaneamentge  se alinhavam, por causa dos acordes
melodiosos que ele tirava da lira de Apolo.
Dirceu:  Referente a Dirce, rainha de Tebas, e uma fonte de lá
existente; o mesmo que tebano
Aracinto: Monte situado entre a Ática e a Beócia.
Dáfnis: Pastor siciliano, filho de Mercúrio e de uma ninfa, inventor
da poesia bucólica.
Pã: Divindade campestre , inventor mítico da flauta.
Náiades: Ninfas dos rios e das fontes.
Austro: Vento Sul.
Páris:  Príncipe troian, filho de Príamo, rei de Troia.
Dardânio: O mesmo que troiano.
Palas:  A deusa Palas Atena.

 

Tradução de ODORICO MENDES

“Quem quiser comprovar os alcances a que chegou Odorico Mendes, em uma época em que, ressalvados os textos de Gregório de Matos e do Padde Antônio Vieira, no Brasil, estávamos ainda na fase da literatura dos cronista.”   CARNEIRO ALBERICO.  

 

SUPLEMENTO CULTUTRAL & LITERARIO JP   Guesa Errante   ANUÁRIO.        São Luís (MA)  2009. n. 7.  ISSN 982-7482.  241 p. 
Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

MÁGICA, Écloga VIII

       [...]

 

Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfnis.
Do céu versos a Lua abalar podem;
70    Com versos mudou Circe os Ulisseides;
No prado fria serpe encantos rompem.
Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfinis.
Com três liços te cerco tricolores,
Pelas aras três vezes na efígie
75   Passeio: há duas que estime o número ímpar.


               Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfnis.
               Ata, Amarilis, em três nós três cores:
               Ata e dize: “De Vênus ato os fios.”
               Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfnis.
       80    Se um só fogo derrete-me esta cera
               E endurece este limo, opere o mesmo
               No ingrato o nosso amor. Esparge a mola,
               Em betume este louro aceso estale:
               Como Dáfnis a mim, no louro o abraso.
       85    Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfnis.
               Anda qual, pelas várzeas e montados
               Pós o touro perdida, a lassa almalha,
               Que olvidando albergar, fechada a noite,
               Jaz em verde morraça ante o ribeiro;
      90     O amor o tome, nem sará-lo eu busque.
              
               Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfinis.
               Penhor  do fementido, espólios caros
               Sob este limiar te aponho, ó terra;
               Dáfnis aqui reconduzir-me devem.
      95     Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfnis.
               Deu-me dos muitos que produz o Ponto,
               Méris estes venenos e estas ervas:
               Com eles Méris vi, tornado em lobo,
               Embrenhar-se, evocar da campa os manes,
     100    Transferir amiúde as sementeiras.
              Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfnis.
              Fora, Amarilis, deita ao rio as cinzas
              Por cima da cabeça, e atrás não olhes:
              Urjo o infiel, nem deus nem verso o move.
     105   Trazei-me, versos meus, trazei-me Dáfnis.
              Nota: enquanto as não lanço, o altar em flama
              Trêmula as cinzas correm: bom presságio!
              O que é não sei, mas ladra Hilax à porta.
              Meus olhos creio, ou sempre amantes sonham?
     110   Eis da cidade (versos, basta), eis Dáfnis.

                                   
[...]
               -----------------------

         
Liços: fios (de tear).
          Esparge a mola...: nos seus rituais, os romanos costumavam
          esparzir no fogo e sobre fronte da vítima um bolo de trigo
          chamado mola.
          Montados: terrenos onde podem pastar animais domésticos.
          Almalha: novilha.
          Morraça: terreno pantanoso.       
          Penhor: espólios: objetos pessoais (espólios) servirão para
          penhorar a volta do”fementido” amante.
          Por cima da cabeça, e atrás nos olhos:  Era esse mais forte e o
          derradeiro dos sortilégios de que se valiam os feiticeiros. Comenta
          Sérvio que as cinzas eram atiradas pelas costas, para que os
          deuses as pudessem sem serem vistos.

           (MENDES, Manuel Odorico.  Virgílio Brasileiro: Bucólicas.
           
Introdução e Notas de Sebastião Moreira Duarte.  São Luís:
           Edufma, 1995.  P. 99-101.

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Página publicada em março de 2024.
 

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Página publicada em abril de 2023

 

 

 

Página publicada em junho de 2019

 

 

 
 
 
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