POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
VICTOR HUGO
Victor-Marie Hugo (Besançon, 26 de fevereiro de 1802 — Paris, 22 de maio de 1885) foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial.
Fonte com a biografia completa: https://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Hugo
TRADUÇÃO
por JOSÉ JERONYMO RIVERA
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 2,
Número 4, jul./dez., 2020. Brasília. DF: Editora Cajuína,
2020. 139 p. ISSN 2674-8495
AVE DEA, MORITURUS TE SALUTAT
A Judith Gauthier
A morte e a formosura — ah, que coisas profundas!
Com tantas sombra e azul, parece até que são
Duas irmãs, terríveis e fecundas,
Trazendo o mesmo enigma e a mesma discrição.
Ó mulheres, ó tez, cabelos, voz, olhar,
Brilhai, eu morro! Sois amor, raio, alegria,
Ó pérolas que à onda imensa lança o mar,
Ó pássaros de luz na floresta sombria!
Judite, em nossa sorte assim tão confundida
Não pode ninguém crer, ao ver a nossa vida:
Todo o abismo divino aparece em teus olhos,
De astros um turbilhão sinto em minha alma agora;
Estamos nós, os dois, perto do céu, senhora:
Enquanto bela és tu, sou apenas restolhos...
HUGO, Victor. Victor Hugo: dois séculos de poesia. Tradução e notas de Anderson Braga Horta; Fernando Mendes Vianna; José Jeronymo Rivera. Brasília: Thesaurus, 2002. 86 p. ISBN 85-7062-322-4 Inclui “Epígrafes de Victor Hugo (mais algumas referências) nos principais poetas românticos brasileiros”, p. 23-31. Ex. bibl. Antonio Miranda
L´HISTOIRE
Ferrea vox.
VIRGILE
I
Le sort de nations, comme une mer profonde,
A ses écueils cachés et ses gouffsres mouvants.
Aveugle que ne voit, dans les destins du monde,
Que le combat des flots sous la lutte des vents.
Un souffle inmense et fort domine ces tempêtes.
Un rayon du ciel plong à travers cette nuit.
Quand l´homme aux cris de mort mêle le cri des fêtes,
Une secrète voix parle dans ce vain bruit.
Les siècles tour à tour, ces gigantesques frères,
Differents par leur sort, semblables dans leur voeux,
Trouvent um but pareil des routes contraires,
Et leurs franaux brillent des mêmes feux.
II
Muse! il n´est point de temps que tes regards n´embrassent;
Tu suis dans l´avenir leur cercle solennel;
Car les jours, et les ans, et les siècles ne tracent
Qu´un sillon passager dans le fleuve éternel.
Bourreaux, n´em doutez pas; n´em doutez pas, victimes!
Elle porte em tous lieux son immortel flambeau,
Plane au sommet des monts, plonge au fond des abîmes,
Et solvente fonde um temple où manquait um tombeau.
Elle apporte leur palme aux héros que succombent,
Du char des conquérants brise le frêle essieu,
Marche em rêvant au bruit des empires qui tombent,
El dans tous les chemins montre les pas de Dieu!
De vieux palais des temps elle pose le faîte;
Les siècles à as voix viennent se réunir;
As main, comme un captif honteux de sa défaite,
Traîne tout le passé jusque dans l´avenir.
Cueillant les débris du mond en ses naufrages,
Son oeil de mers suit le vaste vaiseau.
Et sait tout voir ensemble, aux deux bornes des âges,
Et la première tombe et le dernier berceau!
(ODES ET BALLADES)
A HISTORIA
Ferrea vox.
VIRGILIO
I
A sorte das nações tem, como um mar profundo,
Seus ocultos parcéis e abismos turbulentos.
É cega que só vê, nos destinos do mundo,
O embate das marés sob a luta dos ventos !
Um sopro imenso e forte essas tormentas doma.
Um raio cai do céu por entre a escuridão.
Quando aos gritos de morte os de festa o homem soma
Uma secreta voz fala no ruído vão.
Os séculos irmãos, gigantescos e vários.
Diferentes na sorte, iguais no eterno jogo,
Chegam ao mesmo fim por caminhos contrários,
E seus muitos fanais brilham do mesmo fogo.
II
Musa! Eis que o tempo inteiro o teu olhar abraça;
Tu segues no futuro o seu curso solene;
Pois cada dia e ano e século não traça
Mais que um risco fugaz sobre o rio perene.
Não duvides, carrasco; e não duvides, vítima!
Ela a imortal bandeira ergue em todo lugar,
Sobe a montanha, desce à profundez marítima,
E onde falta uma tumba um templo vai fundar.
Ela traz sua palma aos heróis sucumbidos,
Do carro dos campeões destroça os eixos lassos,
Marcha a ouvir o estertor dos impérios caídos,
De Deus em cada senda assinalando os passos!
Do palácio do tempo a cumeeira assentou;
Os séc´los à sua voz correm a se reunir;
Como um cativo a quem a derrota humilhou,
Sua mão todo o passado arrasta até o porvir.
Do mundo recolhendo os naufrágios e os danos,
De mar em mar seguindo o colossal veleiro,
Seus olhos sabem ver, do início ao fim dos anos,
O primeiro sepulcro e o berço derradeiro!
(Tradução de JOSÉ JERONYMO RIVERA)
LA VACHE
Devant la blanche ferme où parfois vers midi
Un vieillard vient s´asseoir sur le seuil attiédi,
Où cent poules gaîment mêlent leurs crêtes rouges,
Où, gardiens du sommeil, les doques dans leurs bouges
Écoutent les chanson du gardien du réveil,
Du beau coq vernissé qui reluit au soleil,
Une vache était là tout à l´heure arrêtée,
Douce comme une biche avec ses jeunes faons,
Elle avait sous le ventre un beau groupe d´enfants,
D´enfants aux dents de marbre, aux cheveux em broussaillesss,
Frais, et pulus charbonnés que de vieilles murailles,
Qui, bruyants, tous ensamble, à grands cris appelant
D´autres queim tout pétist, se hâtaient em tremblant,
Dérobant sans psitié quelque laitière absente,
Sous leur bouche joyeuse et peut-être blessante
Et sous leurs doigts pressant le lait par mille trous,
Tiraient le pis fécond de la mère au poil roux.
Elle, bonne et puissante et de son trésor pleine,
Sous leurs mains par moments faisant frémir à peine
Son beau flanc plus ombré qu´un flanc de léopard,
Distraite,regardait vagument quelque part.
Ainsi, nature! abri de toute créature!
O mère universelle! indulgente nature!
Ainsi, tous à la fois, mystiques et charnels,
Cherchant l´ombre et lait sous tes flancs éternels,
Nous sommes là, savants, poètes, pêle-mêle,
Pendus de toutes parts à ta forte mamelle!
Et tandis qu´affamés, avec de cris vainqueurs,
A tes sources sans fin désaltérant nos coeurs,
Pour em faire plus tard notre sang et notre âme,
Nous feuillages, les monts, les prés verts, le ciel bleu,
Toi, sans te déranger, tu rêves à ton Dieu!
(LES VOIX INTÉRIEURES)
A VACA
Diante do branco oitão da casa, à soalheira,
Entre um velho assentado à tépida soleira,
Galinhas a cruzar os álacres rubis
Das cristas e os guardiães do sono em seus canis
A escutar as canções do guardião do arrebol,
O belo galo que lustroso esplende ao sol,
Uma vaca se via, há pouco, sossegada.
Soberba, enorme, fulva e de branco mosqueada,
Doce como uma cerva em meio às crias mansas,
Tinha ela sob o ventre um grupo de crianças
De dentes de marfim, cabelos como palhas,
Encarvoada a tez como velhas muralhas;
Belas crianças que, em bulha, aos gritos convocando
Outras, menores, já, trêmulas, se apressando
A roubar sem piedade uma leiteira ausente,
Com a boca jovial, porém talvez mordente,
E com os dedos premendo o ubre fecundo e belo,
Iam colhendo o leite à mãe de fulvo pêlo.
Forte, de seu tesouro as grandes tetas plenas,
Sob as pequenas mãos estremecendo apenas
O flanco belo como o flanco de um leopardo,
Vagava distraída o olhar sereno e tardo.
Assim, ó natureza! abrigo da criatura!
Ó mãe universal! Indulgente natura!
Assim, de uma só vez, místicos e carnais,
Sombra e leite a buscar nos flancos eternais
Vamos, em confusão, todos, sábios, poetas,
Pendurados também às tuas rijas tetas!
E enquanto, à uma, nós, famintos, gritalhões,
Nessas fontes sem fim saciando os corações
Para delas fazer nosso sangue e nossa alma,
Te sugamos com força a luz e a chama, a palma,
As folhagens, o monte, o verde prado, os céus,
Sem te ansiares jamais, tu sonhas com teu Deus!
(Tradução de ANDERSON BRAGA HORTA)
O GOUFFRE! L´ÂME PLONGE...
O gouffre! l´âme plonge et rapporte le doute.
Nous entendons sur nous les shêures, goutte à goutte,
Tomber comme l´eau sur les plombs;
L´homme est brumeux, le monde est noir, le ciel est sombre;
Les formes de la nuit vont et viennent dans l´ombre;
Et nous, pâles, nous contemplons.
Nous contemplons l´obscur, l´inconnu, l´invisible.s
Nous sondosn le réel, l´idéal, le possible,
L´être, spectre toujours présent.
Nous sommes accordés sur notre destinée,
L´oeil fixe et l´esprit frémissant.
Nous épions des bruits dans ces vides fúnebres;
Nous écoutons le souffle, errant dans les ténèbres,
Dont frissonne l´obscurité;
Et, par moments, perdus dans les muits insondables,
Nous voyans s´éclairer de luers formidables
La vitre de l´éternité.
(LES CONTEMPLATIONS)
Ó ABISMO! A ALMA AFUNDA...
Ó abismo! a alma afunda em vão na busca ignota.
A dúvida nos rói, pingando gota a gota,
E os plúmbeos pingos escutamos.
O mundo é negro, é bruma o homem e céu, sombrio;
Formas da noite vêm, vão e vêm no vazio.
E nós, pálidos, contemplamos.
Contemplamos o obscuro, o ignorado, o invisível.
Sondamos o real, e o ideal e o possível.
E o ser, sempre espectro presente.
Olhamos como freme a sombra do destino,
Debruçados na sina em cisma e desatino
Com olho fixo se alma tremente.
Auscultamos em vão esses vazios fúnebres,
Escutamos um sopro errando nessas tênebras,
E que estremece a obscuridade.
E às vezes, a vagar nas noites insondáveis,
Entrevemos brilhar, com luzes formidáveis,
A vidraça da eternidade.
( Tradução de FERNANDO MENDES VIANNA)
HUGO, Victor. Sátiro e outros poemas. Edição bilíngue. Trad. Anderson Braga Horta. Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera. Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2002. 171 p 14 x 20,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
EXTASE
J'étais seul prés des flots, par une nuit d'étoiles.
Pas un nuage aux cieux, sur les mers pas de voiles.
Mes yeux plongeaient plus loin que le monde réel.
Et les bois, et les monts, et toute la nature,
Semblaient interroger dans un confus murmure
Les flots des mers, les feux du ciel.
Et les étoiles d'or, légions infinies,
A voix haute, à voix basse, avec mille harmonies,
Disaient, en inclinant leurs couronnes de feu;
Et les flots bleus, que rien ne gouverne et n'arrête
Disaient, en recourbant l'écume de leur crête :
— C'est le Seigneur, le Seigneur Dieu!
ÊXTASE
Sozinho ao pé do mar, numa noite de estrelas,
Desanuviado o céu, o mar limpo de velas,
Meu olhar mergulhava além do mundo real.
E a floresta, e a montanha, e toda a natureza,
Inquiriam o mar, a procissão acesa
Da imensidade sideral.
E das estrelas de ouro as legiões corriam,
E em voz alta, em voz baixa, harmoniosas diziam,
As coroas de fogo inclinando nos céus,
Como as ondas azuis —mar que ninguém conquista—
Diziam, recurvando as escumas da crista:
—E o Senhor, o Senhor Deus!
(ABH)
SAISON DES SEMAILLES. LE SOIR
C'est le moment crépusculaire.
J'admire, assis sous un portail,
Ce reste du jour dont s'éclaire
La dernière heure du travail.
Dans les terres, de nuit baignées,
Je contemple, ému, les haillons
D'un vieillard qui jette à poignées
La moisson future aux sillons.
Sa haute silhouette noire
Domine les profonds labours.
On sent à quel point il doit croire
A la fuite utile des jours.
Il marche dans la plaine immense,
Va, vient, lance la graine au loin,
Rouvre sa main, et recommence,
Et je médite, obscur témoin,
Pendant que, déployant ses voiles,
L'ombre, où se mêle une rumeur,
Semble élargir jusqu'aux étoiles
Le geste auguste du semeur.
O SEMEADOR
Já no horizonte o sol declina.
Fico a admirar, sob um carvalho,
O último raio, que ilumina
A última hora do trabalho.
Nos campos, da noite banhados,
Comovido vejo um ancião
Que deixa escapar, aos punhados,
A messe futura da mão.
É uma silhueta que se agita,
Dominando as glebas sombrias.
Pode-se ver que ele acredita
Na fuga profícua dos dias.
Percorre a campina, sem pressa,
Atira os grãos, na semeadura,
Reabre a mão, e recomeça,
E eu cismo, testemunha obscura,
Enquanto, desdobrando as velas,
A sombra, com um leve rumor,
Como que estende até as estrelas
A augusta mão do semeador.
(ABH)
UN POÈTE EST UN MONDE..
Un poète est un monde enfermé dans un homme.
Plaute en son crâne obscur sentait fourmiller Rome;
Mélésigène, aveugle et voyant souverain
Dont la nuit obstinée attristait l'œil serein,
Avait en lui Calchas, Hector, Patrocle, Achille;
Prométhée enchaîné remuait dans Eschyle;
Rabelais porte un siècle; et c'est la vérité
Qu'en tout temps les penseurs couronnés de clarté,
Les Shakspeares féconds et les vastes Homères,
Tous les poètes saints, semblables à des mères,
Ont senti dans leurs flancs des hommes tressaillir,
Tous, l'un le roi Priam et l'autre le roi Lear.
Leur fruit croît sous leur front comme au sein de la femme.
Llvont rêver aux lieux déserts; ils ont dans l'âme
Un éternel azur qui rayonne et qui rit;
Ou bien ils sont troublés, et dans leur sombre esprit
Ils entendent rouler des chars pleins de tonnerres.
Ils marchent effarés, ces grands visionnaires.
Ils ne savent plus rien, tant ils vont devant eux,
Archiloque appuyé sur l'iambe boiteux,
Euripide écoutant Minos, Phèdre et l'inceste.
Molière voit venir à lui le morne Aie este,
Arnolphe avec Agnès, l'aube avec le hibou,
Et la sagesse en pleurs avec le rire fou.
Cervantes pâle et doux cause avec Don Quichotte;
A l'oreille de Job Satan masqué chuchote;
Dante sonde l'abîme en sa pensée ouvert;
Horace voit danser les faunes à l'œil vert,
Et Marlow suit des yeux au fond des bois l'émeute
Du noir sabbat fuyant dans l'ombre avec sa meute.
Alors, de cette foule invisible entouré,
Pour la création le poète est sacré.
L'herbe est pour lui plus molle et la grotte plus douce;
Pan fait plus de silence en marchant sur la mousse;
La nature, voyant son grand enfant distrait,
Veille sur lui; s'il est un piège en la foret,
La ronce au coin du bois le tire par la manche
Et dit : Ne va pas là! Sous ses pieds la pervenche
Tressaille; dans le nid, dans le buisson mouvant,
Dans la feuille, une voix, vague et mêlée au vent,
Murmure : — C'est Shakspeare et Macbeth!— C'est Molière
Et Don Juan!— C'est Dante et Béatrix! Le lierre
S'écarte, et les halliers, pareils à des griffons,
Retirent leur épine, et les chênes profonds,
Muets, laissent passer sous l'ombre de leurs dômes
Ces grands esprits parlant avec ces grands fantômes.
UM POETA É UM MUNDO…
Um poeta é um mundo em um homem contido.
Plauto em seu crânio obscuro ouvia a Roma o ruído.
Melesigênio, cego e soberbo vidente,
A quem a noite atroz vedara o olhar clemente,
Calcas, Pátroclo, Heitor e Aquiles resumia;
Prometeu encadeado em Esquilo vivia
Ainda; Rabelais é um século; e é verdade
Que os pensadores, sempre, a fronte em claridad,
Shakespeares ideais, Homeros formidáveis,
Os poetas santos, são, todos, mães admiráveis,
Que sentiram no flanco homens grandes vibrar,
Um, a Príamo rei, um outro ao rei Lear.
Sob a fronte a criação, qual em materno seio,
Vão sonhar no deserto, e o espírito têm cheio
De um azul imortal que sorri e irradia;
Ou se turvam então, e sentem na alma fria
Mil carros de trovões e raios a rolar.
Imersos em visões, lá vão a caminhar.
Mais nada sabem, pois à frente tantos vêem:
Arquíloco, que sobre um iambo coxo vem,
Eurípedes ouvindo a Minos, Fedra e o incesto.
A Molière vem o triste Alceste, e presto
Arnolfo com Inês, a alvorada com o mocho,
E a sapiência a chorar em meio ao riso frouxo.
A Dom Quixote fala um Cervantes cansado;
Aos cochichos com Jó, um Satã mascarado;
Dante perscruta o abismo aberto em seu pensar;
Os faunos de olho verde Horácio vê dançar,
E Marlow vê no bosque o alvoroço surgir
De um sabá espectral que a sombra vai cobrir.
Por essa multidão invisível cercado,
Perante a criação o poeta é sagrado.
A relva lhe é mais tenra e a grota lhe é mais branda;
Pã mais silêncio faz, qual sobre musgos anda;
A natureza, ao ver seu filho distraído,
Vela por ele, põe nele todo o sentido.
Ante o perigo, faz que a urze o puxe e diga:
— Por aí, não! E sob seus pés a vinca amiga
Estremece; e no ninho e na sarça agitada
E na folha uma voz, vaga e ao vento mesclada,
Murmura: — Shakespeare e Macbeth! — Depois era
Molière e Don Juan! — Dante e Beatriz! — A hera
Se afasta e, qual o grifo, os arbustos dos galhos
Retiram seu espinho, e os profundos carvalhos,
Mudos, deixam passar por debaixo das glandes
Grandes almas falando a esses fantasmas grandes.
(GJR)
O GOUFFRE! L'ÂME PLONGE..
O gouffre! l'âme plonge et rapporte le doute.
Nous entendons sur nous les heures, goutte à goutte,
Tomber comme Veau sur les plombs;
L'homme est brumeux, le monde est noir, le ciel est sombre;
Les formes de la nuit vont et viennent dans l`ombre;
Et nous, pâles, nous contemplons.
Nous contemplons Vobscur, Vinconnu, l'invisible.
Nous sondons le réel, l'idéal, le possible,
L'être, spectre toujours présent.
Nous regardons trembler l'ombre indéterminée.
Nous sommes accoudés sur notre destinée,
L'œilfixe et l'espritfrémissant.
Nous épions des bruits dans ces vides funèbres;
Nous écoutons le souffle, errant dans les ténèbres,Dontfrissonne l'obscurité;
Et, par moments, perdus dans les nuits insondables,
Noùs voyons s'éclairer de lueurs formidables
La vitre de l'éternité.
Ó ABISMO! A ALMA AFUNDA..
Ó abismo! a aima afunda em vão na busca ignota.
A dúvida nos rói, pingando gota a gota,
E os plúmbeos pingos escutamos.
O mundo é negro, é bruma o homem e o céu, sombrio
Formas da noite vêm, vão e vêm no vazio.
E nos, pálidos, contemplamos.
Contemplamos o obscuro, o ignorado, o invisível.
Sondamos o real, e o ideal e o possível,
E o ser, sempre espectro presente.
Olhamos como freme a sombra do destino,
Debruçados na sina em cisma e desatino,
Com olho fixo e aima tremente.
Auscultamos em vão esses vazios fúnebres,
Escutamos um sopro errando nessas tênebras,
E que estremece a obscuridade.
E às vezes, a vagar nas noites insondáveis,
Entrevemos brilhar, com luzes formidáveis,
A vidraça da eternidade.
(FMV)
Página publicada em fevereiro de 2018; ampliada em outubro de 2018
|