POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
TU FU
(712-770)
Du Fu (também conhecido como Tu Fu) escreveu no período de Tang. Sua obra é muito diversificada, mas seus poemas mais característicos são autobiográficos e históricos, registrando os efeitos da guerra em sua própria vida.
É considerado o maior poeta chinês ao lado de Li Bai, escrevendo uma poesia mais claramente filosófica que este.
iveu durante a dinastia Tang,época mais referida da poesia chinesa (618 - 907), nascido de uma família de classe alta, perto da capital Chang'an, descendente do oficial da dinastia Jin Du Yu. Como poeta, sobressaiu-se em todas as formas de versos e caracterizou-se pela linguagem rica e variada, pelo magnífico domínio das regras da métrica e pelo profundo sentimento de humanidade.
Fonte: pt.wikipedia.org
POESIA SEMPRE Número 27 – Ano 14 – 2007 Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Tradução de A. B. Mendes Cadaxa:
Contemplando o deserto
Outono, céu claro,
Esquadrinho a imensidão sem fim:
No horizonte dançam faixas de neblina,
Na distância, o rio, corre para o firmamento.
A cidade, isolada, de contornos imprecisos.
Flutua através da fumaça.
O vento carrega as últimas folhas,
As colinas tornam-se indecisas.
Uma cegonha busca o ninho e, no crepúsculo,
As árvores povoam-se com o grasnar dos corvos.
Visitando Tsan, abade de Ta-Yun
A meia-luz da lâmpada fez-me perder o sono.
O coração tranquilo embebe-se no imenso da devoção;
Encerrada nas paredes do templo, a insondável noite,
Campânulas douradas estremecem na brisa
E o manto negro desta madrugada de abril
Envolve o claustro; do lago cristalino,
No seu negrume noturno, sobe um ar perfumado,
O Cruzeiro do Norte atravessa o espaço,
Cortado em dois pelo telhado do convento.
Orações, cânticos, sobem da cripta,
As notas rodopiam, desfazem-se, à minha cabeceira.
Amanhã, à plena luz do dia,
Passarei pelos campos estrumados
E prantearei o pó amarelado dos finados.
Palácio da flor de jade
A torrente se estorce e ruge,
O vento se lamenta nos pinheirais,
Ratos cinzentos correm pelos ladrilhos quebrados.
Que príncipe, em outras eras, construiu este palácio
Ora em ruinas, à beira do precipício?
Fantasmas esverdeados tremeluzem nos salões escuros,
Seus soalhos foram arrancados pelas águas.
Mil tubos de órgão soam, assobiam no vendaval
Que dispersam as folhas avermelhadas o outono.
As dançarinas do príncipe não passam de uma poeira
Amarela, suas faces carmesim se esboroaram,
Cortesãos, carros de combate, foram-se;
De sua gloria resta apenas um cavalo de pedra.
Sento-me no gramado e inicio um poema
Mas o patos de tudo isso me esmaga.
O futuro foge-nos imperceptivelmente.
Quem poderá dizer o que nos reservarão os fados?
Águas transbordantes
Sob meus pés,
A lua escorrega pelo rio;
De madrugada uma lanterna
Agitada pelo vento
Ilumina o coração da noite;
Sobre os bancos de areia
Um bando de garças se aninha,
Cada qual enrolada sobre si mesma
Como se fosse um punho fechado.
Na esteira do meu barco
Os peixes saltam, espadanam
Mergulham, cortam a água.
Página publicada em fevereiro de 2019
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