POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
LUCRÉCIO
Tito Lucrécio Caro (em latim: Titus Lucretius Carus; ca. 99 a.C.
Nasceu ca. 99 a.C. e viveu 44 anos.
É provável que tenha nascido em Roma, onde foi educado. Sua fama decorre do poema De rerum natura (Sobre a natureza das coisas), onde expõe a filosofia de Epicuro de Samos. Para Lucrécio, o epicurismo era a chave que poderia desvendar os segredos do universo e garantir a felicidade humana. Tão entusiasmado ficou que se propôs a tarefa de libertar os romanos do domínio religioso através do conhecimento da filosofia epicurista.
Segundo o autor patrístico Jerônimo, Lucrécio matou-se aos 44 anos de idade e seu poema foi escrito em intervalos de ataques de loucura. A bem da verdade, as "circunstâncias da vida e da morte de Lucrécio são desconhecidas. A habitual informação de que ele se suicidou em razão de crises de loucura, acrescidas de perturbações amorosas, não é plenamente confiável. Só há um registro nesse sentido, transmitido por São Jerônimo, que, em seu tempo, foi um grande opositor de Epicuro e do epicurismo” . "Assim como Tertuliano, um dos primeiros Padres da Igreja, inventou a história de que o materialista Demócrito teria furado os próprios olhos por não suportar o desejo sexual despertado pela visão de jovens mulheres, assim também são Jerônimo inventou que Lucrécio teria bebido um filtro de amor, enlouquecido e escrito seu poema nos intervalos de lucidez, terminando por se suicidar. O mínimo que um leitor atento do Sobre a Natureza das Coisas (De Rerum Natura) pode afirmar é que essa obra jamais poderia ter sido escrita em 'intervalos de lucidez!". Seus vários livros foram editados por Cícero.
Mais em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lucr%C3%A9cio
Extraído de
POR QUE CALAR NOSSOS AMORES? Poesia homoerótica latina. Edição bilíngue: Latim – Português. Organização: Raimundo Carvalho et. al. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2017. 285 p. 17x24 cm. (Coleção Clássica) Capa dura, sobrecapa. Ex. bibl. Antonio Miranda
Inclui textos (e as traduções) de Valério Edítuo, Pórcio Licino; Quinto Lutácio Cátulo; Tito Lucrécio Caro; Catulo; Caio Mecenas; Virgílio; Horácio; Sexto Propércio; Ovidio; Fedro; Petrônio; Marcial; Estácio; Plínio, o Jovem; Valério Flaco; Apuleto; Nemesiano.
Um livro extraordinário, com os grandes poetas latinos clássicos da homoerótica, com rigor na seleção e na tradução, com um prefácio — O amor dos homens —verdadeiramente válido para o entendimento do tema, por Márcio Meirelles Gouvêa Júnior.
“Não vamos negar tudo o que ficou registrado dos excessos luxuriosos dos imperadores e de outras altas figuras do Império Romano. Mas, a partir dos estudos da história privada — e da literatura — podemos pensar que havia relações privadas em que a sexualidade tinha outro registro, o do afeto, do humano desejo de uma pessoa por outra. Um pouco disso é o que essa antologia poética nos mostra, a par com a beleza da poesia.”
Mais, só mesmo indo ao livro. Devido a questões de direitos autorais, apenas apresentamos aqui um dos poetas — LUCRÉCIO —, a título de exemplaridade e promoção de sua qualidade. Está à disposição dos interessados em livrarias físicas e digitais!!!
“No trecho selecionado, o poeta trata do desenvolvimento do desejo amoroso nos homens. Para ele, simulacros das pessoas chegam aos nossos olhos — algo ao modo de fótons, porém menos elaborado — provocando uma espécie de irritação nos membros, que então se enchem de sangue (uma explicação para o enrubescimento e a ereção) diante da pessoa amada, seja ela menino ou mulher, o que demonstra que não haveria um objeto predeterminado do desejo. Mas Lucrécio ainda vai um pouco além da física do desejo e tenta explicar no fim do trecho por que ainda desejamos também as pessoas ausentes; no caso, os simulacros de corpos permaneceriam de algum modo revirando nossos olhos e ouvidos, incitando assim nossos corpos.”
GUILHERME GONTIJO FLORES
De rerum natura, 4.1045-62
Inritata tumente loca semine fitque uoluntas
eicere id quo se contendit dirá lubido,
[incitat inritans loca turgida semine multo]
idque petit corpus, mens unde este saucia amore;
manque omnes plerumque cadunt in uulnus et illam
emicat in partem sanguis, unde icimur ictu, 1050
et si comminus est, hostem ruber occupat umor,
sic igitur Veneris qui telis accipit ictus,
siue puer membris muliebribus hunc, iaculatur
seu mulier totó iactans e corpore amorem,
unde feritur, eo tendit gestique coire 1055
et iacere umorem in corpus de corpore ductum;
manque uoluptatem praesagit muta cupido.
Haec Venus est nobis; hinc autemst nomem Amoris,
hinc illaec primum Veneris dulcedinis in cor
stilauit gutta et successit frigida simulacra tamen sunt 1060
nam si abest quod ames, praesto simulacra tamen sunt
illius et nomen dulce obuersatur ad auris.
Da natureza das coisas, 4-1045-62.
Assim, as partes se inflam de semente e surge 1045
vontade de seguir loucuras de libido
[que incita as partes túrgida com mais semente],
e o corpo busca o que feriu de amor a mente;
pois todos tombam junto da ferida, e o sangue
se apressa para o ponto em que sentira o golpe: 1050
se perto, o rubro humor ataca o inimigo.
Se alguém sofrer os golpes das flechas de Vênus,l
quer o atinja um menino de ares feminis,
ou a mulher que exibe amor em todo o corpo,
logo ele tenta, busca unir-se na ferida, 1055
lançar o humor que sai do corpo noutro corpo,
pois um desejo mudo anuncia o prazer.
Eis nossa Vênus, donde vem o nome Amor,
dali destila a gota do dulçor venéreo
nos corações, depois a frígida paixão; 1060
se longe está quem amas, restam simulacros
e o doce amor então revira nosso ouvido.
Notas
v. 1051: Humor (umor) aqui indica o conceito antigo dos quatro amores que estão no homem; neste momento, trata-se do sangue.
v. 1058: Amor é representado, no mais das vezes, como filho de Vênus.
Página publicada em junho de 2018.
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