POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
STEPHEN SPENDER
Sir Stephen Harold Spender, CBE (28 de Fevereiro de 1909, Londres – 16 de Julho de 1995) foi um poeta, romancista e ensaista inglês que se debruçou sobre os temas da injustiça social e da luta de classes.
Spender era filho de Edward Harold Spender, um jornalista, e de Violet Hilda (Schuster em solteira), que foi pintora e poetisa. Spender frequentou a Gresham's School, Holt, mas não se adaptou e foi transferido para a University College School, em Hampstead, que mais tarde descreveria como "a mais suave das escolas". Spender estudou na University College de Londres e depois em Oxford. O que foi, talvez, o seu maior amigo e o que mais influência exerceu sobre Spender, foi W.H. Auden. Spender viveu alguns períodos de tempos na Alemanha, onde se tornou amigo de Christopher Isherwood, Louis MacNeice, and C. Day Lewis. Mais tarde viria a conhecer W.B. Yeats, Allen Ginsberg, Ted Hughes, Joseph Brodsky, Isaiah Berlin, Mary McCarthy, Roy Campbell, Raymond Chandler, Dylan Thomas, Jean-Paul Sartre e T. S. Eliot, bem como alguns membros do Bloomsbury Group, em particular Virginia Woolf.
A sexualidade de Spender tEm sido sujeita a debate. As atitudes variáveis de Spender face à homossexualidade e à heterossexualidade estão na origem da "etiqueta" bissexual, reprimido, homofóbico latente, ou simplesmente alguém de tal forma complexo que resiste a classificações simples. Muitos dos seus amigos de juventude eram gay. Spender também teve vários romances com homens na sua juventude, de forma mais notada com Tony Hyndman ("Jimmy Younger" das suas memórias World Within World). Depois do seu caso com Muriel Gardiner, Spender passou a interessar-se pela heterossexualidade, embora a sua relação com Hyndman tenha complicado esta relação e o seu casamento de curta duração com Inez Maria Pearn (1936-39). O seu casamentgo com Natasha Litvin, em 1941, parece ter marcado o fim das suas relações com homens. De futuro ele esbateria as alusões homossexuais da sua poesia. O seguinte verso foi revisto numa edição posterior:
Whatever happens,
I shall never be alone.
I shall always have a boy,
a railway fare, or a revolution.
("Aconteça o que acontecer, /nunca estarei só. /Haverá sempre um rapaz, um bilhete de comboio, ou uma revolução.")
Foi mais tarde revisto para:
Whatever happens,
I shall never be alone.
I shall always have an affair,
a railway fare, or a revolution.
("Aconteça o que acontecer, nunca estarei só. /Haverá sempre um namoro, /um bilhete de comboio, ou uma revolução.")
Spender processou o escritor David Leavitt por alegadamente ter usado a sua relação com "Jimmy Younger" em While England Sleeps em 1994. O caso foi objeto de acordo fora do tribunal, tendo Leavitt aceitado eliminar certas passagens do seu texto. Fonte: wikipedia
POESIA SEMPRE - Ano 6 – Número 9 - Rio de Janeiro - Março 1998. Fundação BIBLIOTECA NACIONAL – Departamento Nacional do Livro - Ministério da Cultura. Editor Geral: Antonio Carlos Secchin. Ex. bibl. Antonio Miranda
I think continually of those who were truly great
I think continually of those who were truly great
Who, from the womb, remembered the soul’s history
Through corridors of light where the hours are suns,
Endless and singing. Whose lovely ambition
Was what their lips, still touched with fire,
Should tell of the spirit clothed from head to foot in song.
And who hoarded from the spring branches
The desires falling across their bodies like blossoms.
What is precious is never to forget
The delight of the blood drawn from ageless springs
Breaking through rocks in worlds before our earth;
Never to deny its pleasure in the simple morning light,
Nor its grave evening demand for love;
Never to allow gradually the traffic to smother
With noise and fog the flowering of the spirit.
Near the snow, near the sun, in the highest fields
See how these names are feted by the waving grass,
And by the streamers of white cloud,
And whispers of wind in the listening sky;
The names of those who in their lives fought for life,
Who wore at their hearts the fire’s center.
Born of the sun they traveled a short while towards the sun,
And left the vivid air signed with their honour.
Eu penso continuamente naqueles que foram
realmente grandes
Eu penso continuamente naqueles que foram realmente
grandes,
Que, desde o útero, recordaram a história da alma
Por corredores de luz em que as horas são sóis,
Eternos e cantantes. Cuja amável ambição
Era de que seus lábios, ainda tocados pelo fogo,
Falassem do espírito vestido da cabeça aos pés em canções.
E que amealharam, dos galhos da primavera, .
Os desejos que caíssem pelos corpos como flores.
O que é preciso é não esquecer nunca
A delícia do sangue retirado de primaveras intemporais
Irrompendo através de rochas para mundos anteriores à nossa
terra;
Não negar nunca o prazer da simples luz matinal
Nem sua grave demanda crepuscular de amor;
Nunca permitir o tráfego progressivo para a sufocação
Que o ruído e a neblina trazem ao florescer do espírito.
Perto da neve, perto do sol, nos campos mais altos.
Vê como esses nomes são festejados pela relva ondulante
E pelas correntes de branca nuvem
E pelos sussurros do vento ao céu que escuta;
Os nomes daqueles que em vida lutaram pela vida.
E mantiveram em seus corações o centro do fogo.
Nascidos do sol, fizeram curta viagem na direção do sol
E deixaram o ar fremente assinalado por sua honra.
Tradução de Jorge Wanderley
Ultima Ratio Regum
The guns spell money’s ultimate reason
In letters of lead on the spring hillside.
But the boy lying dead under the olive trees
Was too young and too silly
To have been notable to their important eye.
He was a better target for a kiss.
When he lived, tall factory hooters never summoned him.
Nor did restaurant plate-glass doors revolve to wave him in.
His name never appeared in the papers.
The world maintained its traditional wall
Round the dead with their gold sunk deep as a well,
Whilst his life, intangible as a Stock Exchange rumour, drifted
outside.
O too lightly he threw down his cap
One day when the breeze threw petals from the trees.
The unflowering wall sprouted with guns,
Machine-gun anger quickly scythed the grasses;
Flags and leaves fell from hands and branches;
The tweed cap rotted in the nettles.
Consider his life which was valueless
In terms of employment, hotel ledgers, news files.
Consider. One bullet in ten thousand kills a man.
Ask. Was so much expenditure justified
On the death of one so young and so silly
Lying under the olive trees, O world, O death?
Ultima ratio regam
Os canhões proclamam a última razão do dinheiro
Em letras de chumbo na primavera dos montes.
Mas o moço que jaz morto sob as oliveiras
Era jovem e ingênuo demais
Para ser notado por seus olhos soberbos.
Era alvo melhor para um beijo.
Quando vivo, os apitos das grandes fábricas nunca o
convocaram.
Nem as portas giratórias dos restaurantes lhe acenaram um
convite para entrar.
Seu nome nunca apareceu nos jornais.
O mundo manteve sua tradicional parede
Em torno do morto com seu ouro aprofundando como um
poço,
Enquanto sua vida, intangível como um boato da Bolsa de
Valores, perambulava lá fora.
Quão facilmente deixou cair o seu boné
Nesse dia em que a brisa soltava pétalas das árvores.
O muro sem vegetação onde brotavam balas
E a ira das metralhadoras ceifando rapidamente a grama;
Bandeiras e folhas caíam das mãos e dos galhos;
O boné de xadrez apodreceu nas urtigas.
Considerem sua vida que foi sem valor
Em termos de emprego, etiquetas de hotel, arquivos de
notícias.
Considerem. Uma bala em dez mil mata um homem.
Perguntem. Tamanha precisão se justificava
Para a morte de alguém tão jovem e tão ingênuo
Jazendo sob as oliveiras, ó mundo, ó morte?
Tradução de Ivo Barroso
Página publicada em fevereiro de 2018
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