POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
SHELLY BHOIL
Shelly Bhoil, poet and academic, lives in India and Brazil. Besides her poetry book, An Ember from Her Pyre (Writers Workshop, 2016), she has published academic papers and poetry in over two dozen journals and books. She is currently co-editing two books on Tibetan exile narratives to be published by Lexington Books in 2018 besides an anthology of Tibetan literature in Portuguese and her poetry book. Shelly has received commendation prize in All India Poetry Competition 2016, third prize in Rabindranath Tagore International Poetry prize 2016, first place in Tahoe Safe Alliance writing contest 2011, and honorable mention in FLEFF checkpoint story contest 2011 in Ithaca University.
Masala chai no Brasil
Minha cozinha é uma pequena Índia
é uma ilha
invadida por ondas aromáticas
de grãos de café torrado
ecoando nos arranhões do violão
tocando no rádio do meu vizinho no Brasil
♫a vida vem em ondas como mar♫
colonizando-me na tensão da raiz de uma l-l-língua pra começar
na manhã e tarde dos dias
refugio-me no meu masala chai
que chamega o palador indiano da minha língua
e ressoa o Lata ou Mukesh
♫kahi door jab din dhal jaye♫ (longínquo quando o dia se esvai)
entre os vagarosos rumores da minha caneca chinesa
♫saanjh ki dhulhan♫ (a noiva da noite)
reflexo do sol poente
estirado nos tons dourados do
guisado de açafrão com folhas de chá
♫chup key se aaye♫ (vem silenciosamente)
roubando os segredos dos condimentos da minha mãe
Oh! O divino manjericão que ela regava
ao início das manhãs
vestido em sari como Asha Parekh na música
♫main tulsi tere angan hmmm♫ (eu sou manjericão do sua quintal)
cantarolando continuamente no quintal perfumado
até que o tempo nos separou
colho uma ou folhas secas e as fervo no meu chá
em todas as horas dos dias
às vezes em ligações de longa distância
em velhos números expirados
tocando profundamente nos bebericas da minha caneca
de masala chai que me mantém quente
como o pele do abraço da minha mãe
em dias frios e noites que se estendem
e para além da minha ilha isolada
uma pequena Índia
invadida por ondas aromáticas
de grãos de café torrado
ecoando no dedilhar do violão
♫a vida vem em ondas como o mar♫
A vida, na verdade, vem em ondas como o mar
tocando na rádio dos meus vizinhos no Brasil
Masala chai: um apimentado chá indiano
Sari: vestido na Índia para mulheres
Lata e Mukesh: cantadores famoso da Índia
Asha Parekh: actriz Bollywood
Tradução de Gisele Wolkoff e Mariana Andrade do Espírito Santo
Os manequins
piscam os seus olhos
no descer das persianas
E pulam fora
de janelas opacas
nas roupas que desejam
rasgando o véu da noite
seguindo as luzes das estrelas
cantando canções de liberdade
como o Oceano permite
até que
o sol retorna
recolhendo as estrelas
As ondas se movem as costas
e todos nós retornamos as nossas portas
vivendo os nossos papéis roteirizados
Tradução de Gisele Wolkoff
A negação das palavras
Tudo aconteceu depois que
o verso começou a se esfacelar
da pele
sem a beleza da queda das estrelas
a metáfora traiu
a imaginação
diferentemente das assinaturas de divórcio prontas a acontecerem
e a poesia se tornou um céu sem estrelas
não como a página em branco que contempla
a promessa de ser preenchida
tudo aconteceu depois do momento em que
as palavras começaram a ser servidas em refeições
e que as palavras
deixadas ao fim da lógica
não se assentavam a um ninho aquecido para um retorno
nem se abriam em asas para vôo
Tradução de Gisele Wolkoff
O futuro
O futuro é um trapo velho
usurpado por alguma esperança
em sua nudez menosprezada
Recuso-me a congelar em sinopse
Devo beber um pouco do sol e superar
o hábito de seu menosprezo
Agora é uma questão de preparo.
Os ombros do futuro estão machucados de expectativas
Nos sinos balbuciantes do templo...b´lém, b´lém, b´lém...
Ouço a decepção com ídolos
Re-registrar um pouco mais tarde
seria uma falta de esperança
O passado já foi futurista o suficiente
para nos roubar este presente futurizado
Agora é uma questão de preparo.
Tradução de Gisele Wolkoff
Página publicada em fevereiro de 2018
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