POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
SERGEI IESSIÊNIN
Serguei Iessienin (em russo: Сергей Есенин) (Konstaninovo, Riazán, 21 de setembro de 1895 — Leningrado, 28 de dezembro de 1925) foi um poeta e o maior expoente do chamado Imagismo russo, sendo da mesma geração de Vladimir Maiakóvski.
Considerado um dos maiores poetas russos do início do século XX, foi casado com a bailarina Isadora Duncan.
Suicidou-se num quarto do Hotel Inglaterra. Morreu enforcado e escreveu um poema de despedida com seu próprio sangue. Seu suicídio causou grande impacto na opinião pública, e Maiakovski escreveu um poema crítico em resposta ao suicídio e ao poema suicida de Iessenin, de cuja poesia era grande admirador.
Biografia e foto: wikipedia
Extraído de
POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia. ANO 4 – NÚMERO 7 – JULHO 1996. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 1996. Ex. bibl. Antonio Miranda
Até logo, até logo, companheiro
guardo-te no meu peito e te asseguro:
o nosso afastamento passageiro
é sinal de um encontro no futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
tampouco há novidade em estar vivo.
Tradução de Augusto de Campos
Adeus, amigo, adeus.
Caro amigo, vives no meu coração.
Um dia contigo encontrarei,
promete esta fatal separação.
Adeus, amigo, sem abraço e despedida,
não vás sofrer, entristecer,
Pois morrer não é novo nesta vida,
mas tampouco há novidade no viver.
Tradução de Maria Aparecida Botelho Pinto Soares
Adeus, amigo meu, não diga nada.
Eu o trago, da alma, no recôndito.
E esta separação predestinada
por si já fala de um futuro encontro.
Amigo, até mais ver, sem palavras e gestos.
Não se entristeça e nem desvie do olhar.
Nesta vida, morrer, não é novidade.
E em se viver, também, novidade não há.
Tradução de Glória Toledo Gomes
Adeus, meu amigo, adeus,
querido amigo, que trago no coração
A separação predestinada
para mais tarde promete novo encontro.
Adeus, meu amigo, sem aperto de mão nem palavras,
não lamentes e não haja dor nem penas, —
nesta vida morrer não é nada novo.
mas também nada de novo é viver.
Tradução de Manuel de Seabra
POESIA SEMPRE. Revista semestral de Poesia. Ano 7. Número 10 abril 1999. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 1999. 253 p. Diretor: Antonio Carlos Secchin. ISSN 0104-0626
Poemas traduzidos por Augusto de Campos:
Outono
Égua rubra alisando as cinzas:
O outono na calma do zimbros.
Sobre a margem terrosa e áspera,
O tinido azul de seus cascos.
Monge-vento, passo medido,
Pisa as folhagens do caminho.
E beija o Não-Visível — Cristo,
Chagas vermelhas entre arbustos.
1914
De Transfiguração
Ei, russos!
Pescadores do universo,
Na rede da aurora colhendo o céu —
Troai as trompas!
Sob a charrua do raio
Ruge a terra.
Rompe os penhascos a auridente
Relha.
Novo semeador
Erra pelos campos.
Novas sementes
Arroja aos sulcos.
Um hóspede-luz
Vem num coche.
Corre entre as nuvens
Uma égua.
Sela da égua —
Estrelas.
1917
Pobre escrevinhador, é tua
A sina de cantar a lua?
Há muito o meu olhar definho
no amor, nas cartas e no vinho.
Ah, a lua entra pelas grades,
A luz tão forte corta os olhos
Eu joguei na dama de espadas
E só me veio o ás de ouros.*
*Marca na roupa dos forçados. (Nota do tradutor.)
ANTOLOGIA RUSSA MODERNA. Traduções de Augusto e Haroldo de Campos com a revisão ou colaboração de Boris Schnaiderman. Apresentação, resumos biográficos e notas de Boris Schnaiderman. Rio de Janeiro: Editôra Civilização Brasileira S. A., 1968.. Desenho
de capa:Marius Lauritzen Bern. (Coleção POESIA HOJE, Série Antologias Volume 17. Direção de Moacyr Felix.
Ex. bibl. Antonio Miranda
O CÉU — um sino.
A lua — língua.
Mão — pátria minha.
Eu — bolchevique.
Onde tudo é amigo.
Tudo lindo, rindo,
Eu canto o fim do
Mundo antigo.
Alto e bom som
Retumbe na tua
Tumba o sino azul
Como aquela lua.
Mundo de amar,
É boa a espera.
Ouço no ar
Nova era.
1918
(Tradução de Augusto de Campos)
ATÉ logo, até logo, companheiro,
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo,
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco é novidade em estar vivo.
1925
(Tradução de Augusto de Campos)
Outono
Égua rubra alisando as crinas:
O outono na calma dos símbolos.
Sobre a margem terrosa e áspera,
O tinido azul dos seus cascos.
Monge-vento, passo medido,
Pisa as folhagens do caminho.
E beija o Não-Visível — Cristo,
Chagas vermelhas entre arbustos.
1914. (Tradução de Haroldo de Campos)
Do Poema Pomba do Jordão
O céu — um sino.
A lua – língua.
Mãe – pátria minha.
Eu – bolchevique.
Onde tudo é amigo,
Tudo lindo, rindo,
Eu canto o fim do
Mundo antigo.
Alto e bom som
Retumbe na tua
Tumba o sino azul
Como aquela lua.
Mundo de amar,
É boa a espera.
Ouço no ar
Nova era.
1918 (Tradução de Augusto de Campos)
De Naves-Eguas
1
Quando o lobo ulula para a lua
É porque as nuvens destroçaram o céu.
Ventres rasgados de éguas,
Negras velas de corvos ao léu.
O azul não cravará as garras
De escarro-esgoto dos ciclones.
Desfolha-se ao nitrido das borrascas
O jardim auriconífero dos crânios.
Ouvis os sons que golpeiam o escuro?
São os ancinhos da aurora pelos prados.
Com remos de braços decapitados
Remais para a terra do futuro.
Navegai para os altos horizontes!
Lançai gritos de corvos do arco-íris!
Logo a árvore branca deixará cair
Uma folha amarela — a minha fronte.
5
Quero cantar, cantar, cantar, cantar!
Eu não ofenderei cabra nem lebre.
Se há algo na vida que nos faz chorar
Algo também nos faz ficar alegres.
A maçã da alegria todos portam,
Mas o assobio do ladrão nos ronda.
E o outono, sábio jardineiro, um dia corta
Uma folha amarela — a minha fronte.
Há uma só senda no jardim da aurora.
Vento de outubro corrói a floresta.
Para conhecer tudo e não ter glória
Veio ao mundo o poeta.
Veio para beijar as vacas
E ouvir no coração o triturar da aveia.
Cava, foice de versos, cava!
Vai, sol-arbusto e for-semeia !
***
Até logo, até logo, companheiro,
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo.
*
VEJA E LEIA outros poetas clássicos e modernos do MUNDO em Português:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/ANDReI%20BIeLI.html
Página publicada em março de 2021
Página publicada em janeiro de 2018; ampliada em abril de 2018
|