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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

 

Foto e biografia: wikipedia.org/wiki

 

 

ROLF HOCHHUTH

 

 

 

1 de abril de 1931 - 13 de maio de 2020) [1] foi um autor e dramaturgo alemão, mais conhecido por seu drama de 1963 O Deputado , que insinua a indiferença do Papa Pio XII ao extermínio de Hitler de os judeus, e ele permaneceu uma figura controversa tanto por suas peças e outros comentários públicos quanto por sua defesa de 2005 do negador do Holocausto David Irving .

 

 

 

 

MONIZ, Edmundo.  Poemas da Liberdade - uma antologia poética de Dante a Brecht.    Rio de Janeiro: Edtora Civilização Brasileira,  1967.   116 p.   14 x 21 cm  - Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

O velho

 

Não quero morrer no vagão diante de meus netos.

Há muito tempo que o mêdo apagou o brilho de seus rostos,

e afogou suas perguntas. Sentem o que somente sei:

o fim desta viagem é também o nosso fim.

Indiferente ao que terá de acontecer, ó Deus terrível,

o vosso céu está por cima de nós e os carrascos

são homens por vós autorizados.

Ide assistir, senhor!  Sim.  Assistireis. Fielmente

vos servi em meio de tantos que vos desprezavam,

tão seguro estive de vossa onipotência!

Como poderia conceber, ó Deus incompreensível!

que vossas mãos manejam também estas cartas.

Não era meu consolo, na velhice, a certeza

de que ninguém vos tiraria o leme?

É esta fé em vós que me aniquila.

Deixai que vos advirta: vosso nome está em jôgo.

Não reveleis vossa grandeza queimando crianças

na presença de suas mães

para ouvirdes o vosso nome no grito dos torturados.

Quem poderia, na fumaça dos crematórios,

ver o vosso mandamento de volta?

Ó Deus insaciável! Será que o homem

mais parece convosco quando se torna insaciável?

Será que êle é um abismo de infâmia

porque vós o criastes à vossa semelhança?

Não sei mais querelar, ó Deus terrível, nem tampouco rezar.

Só posso pedir:

Não me deixeis morrer neste vagão perante a vista de meus netos.

 

 

 

A mulher

 

Sorriram quando encontraram as roupinhas e fraldas

na minha mala. Ouviram polidamente

quando disse que estava no oitavo mês.

Amàvelmente perguntaram pelo meu marido

como se êles não o tivessem arrancado há dois dias

de sua oficina e o empurrado pela escada abaixo

até que o sangue brotasse de sua bôca.

Quando tu, ó meu marido! viraste a cabeça,

ah! como haveria de saber o que querias dizer!

Será que pensaste em nossa criança? Que pensavas então?

E como se riram! Como se riram

quando disseste que voltarias.

Como vivíamos felizes a nossa vida!

Não tínhamos inimigos. Amávamos a mesa da cozinha

e o sol da praça ao lado do vendedor de uvas.

No parque, encontrávamos sombra e nos domingos

íamos contentes ao cinema.

Agora, não voltaremos mais a ser uma família.

Não mais chegaremos a ser três.

Nunca mais estaremos na mesa comendo e conversando.

Não teremos mais um recinto que nos proteja

nem caminhos e sonhos inocentes,

nem o leite da manhã, nem a luz do entardecer,

nem o leito, nem o homem que ama o seu trabalho

e que me dá, à noite, consolo, calor e proteção.

Nós esquecemos como êste mundo era perigoso!

 

Como está ameaçada a criança no ventre da mãe! E ameaçado o ancião que não deseja mais do que morrer na sua cama

como o animal ferido na caça que só deseja a selva.

Falamos constantemente de ti,

escolhíamos nomes e compramos, felizes,

mês após mês, tua primeira roupa, teu bercinho.

Não pode ser. Isto não pode acontecer.

Tu vives. Sinto tuas mãos, teu coração.

Dentro de um mês tu verás a luz do mundo,

desprotegido.

Nossa senhora, mãe de Deus, não deixeis que isto aconteça. Deixai-me o meu filho. . . queremos viver!

 

 

 

A moça

 

Nenhuma esperança, bem-amado.  Não me encontrarás.
Deus é tão frio como o esplendor em San Giovanni.
Êle não se importa que a mulher grávida a meu lado
jamais chegue a ser mãe, que eu nunca te pertença.
Deus é frio. Minhas mãos se endurecem
quando as dobro para rezar.
E deuses antigos morreram com suas lendas,
como as antigas relíquias do Museu do Vaticano,
no ossário das artes. Se não fossem assim
restaria a esperança de que tu me encontrasses
como Orfeu encontrou Eurídice.

 

Mas êste vagão não é a barca que se fêz para os Hades,

nem são o Estige os trilhos que nos levam à Polónia.

Mesmo o Inferno foi tomado dos deuses

e entregue aos guardas

que as canções não comovem.

Nunca mais me encontrarás por mais que me procures.

Não me procures muito. Busca

outra mulher que te dê mais do que eu.

Esquece. Sê feliz.  E cuidado com o amor.

Os que se amam estão sendo perseguidos.

Estão em perigo.

Não percas o teu dia como nós perdemos na Campagna.

Não percas a noite no mar,

quando, na praia, as escuras areias de Óstia

ainda estão quentes. . . um leito de amor.

Não te esqueças de tudo, tão depressa:

a escuridão nos cercava e protegia a ressaca

que inundava nossos corações

e que levava nossas palavras de ternura

para onde nenhum ser humano as escutava.

Aconchegando-me a teu corpo tornei-me pequenina,

e me senti protegida como nunca mais haveria de ser.

Tua bôca me revelava o mundo. E esta noite

que nos foi dada não chegou a nos pertencer.

Por que, perdoa-me bem-amado, resisti às tuas mãos?

Ah se estivesses ao meu lado, agora!

Agora que estou terrivelmente abandonada!

Mas nós perdemos a hora.

Se estivesse contigo numa praia, talvez a maré alta

nos levasse juntos, em suas ondas, para longe.

Estou sozinha, tão sozinha!

Toma outra vez um punhado de areia

da praia de Óstia para jogá-lo ao mar

como se fossem minhas cinzas.

Grita meu nome ao vento

como naquela noite em Óstia...

 

 

 

 

Página publicada em novembro de 2020


 

 

 
 
 
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