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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

ROBERT SABATIER

 

Robert Sabatier nasceu em 17 de agosto de 1923 em Paris e morreu em 28 de junho de 2012 em Boulogne-Billancourt, é um escritor e poeta francês .

 

TEXTOS EM FRANCÊS  -  TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia.  ANO 3 – NÚMERO 5 – FEVEREIRO 1995.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 1995.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Paysage mortel

 

L´oiseau n'est plus, le monstre pas encore
que devenir en ce monde écrasé?
Nous sommes là posés sur notre mort,
chair contre chair dans ce vieux jour penchés
las de marcher à l'encontre des aubes.

 

Il ne demeure entre l'homme et son ombre
qu'un peu d'espace où ses jours ont passé.
Astres de nuit, astres mangeurs de mondes,
 je plante un cri comme un poignard volé
dans la poitrine où Dieu menait sa ronde.

 

Toute douleur me livre à ses extases.
Est-ce le crime ou la paix que j'attends?
Parmi les mots, se cachent des visages
dont j'ai si peur qu'il suffit d'un printemps
pour les jeter en pâture à mes phrases.

 

L'oiseau n'est plus, nul regard ne se lève.
On cherche en terre un trou pour y dormir,
 mais il est tant de cadavres sans rêves
que l'homme en l'homme a fini par mourir
et que les mots se nourrissent de lèvres.

 

 

 

         Paisagem mortal

 

Não há mais a ave, o monstro ainda não veio,
Aonde chegar neste mundo esmagado?
A
í somos nós, a morte em nosso seio,
carne com carne, em meio ao dia alheado,
em marcha exausta até um amanhecer.

 

Não há mais entre um homem e sua sombra
que um vácuo onde seus dias têm passado.
Astros que comem mundos, noite hedionda,
 eu planto um grito qual punhal roubado
no flanco onde Deus ia em sua ronda.

 

Toda a dor aos seus êxtases me leva.
 É isso o crime, é essa a paz que aguardo?
Entre as palavras, rostos se encarceram
que me dão medo. Uma estação, e eu ardo
em roê-los com a verbal fome primeva.

 

Não há mais a ave, olhar nenhum se espalma.
Busca-se um fosso aonde adormecer,
mas tantos corpos há, sem sonho ou alma,
que o homem no homem teve de morrer
e os vocábulos nutrem-se de lábios.

 

Tradução de Alexei Bueno

 

 

Mémento mort

 

Nentrouvrez pas cette chape de plomb
Où gît mon corps panni tout son ivoire.
Mes yeux sans moi dans la nuit se promènent,
Comptez mes dents sur mon squelette jaune.

 

Le jeune ascète aux chairs silencieuses
A réuni des mots: le bien, le mal,
Oreillers verts où sa beauté repose.

 

En ce temps-là, coulaient des sources chaudes.
Léger murmure était son corps, son corps
Où des oiseaux nichaient, paroles vives.
La mort, la mort les fit voler ailleurs.

 

Contre son dos, d'étranges cartilages:
Il fut ailé comme chauve-souris,
Nul ne voyait ces voiles invisibles.
Ange, il fut ange et chacun l'ignora.

 

N'entrouvrez pas cette chape de plomb
Vous y verriez sans doute deux cadavres:
En un seul corps deux hommes se battaient
Pour mieux s'unir dans l'unique poème
De la tristesse, ô ce mol enfant mort.

 

 

 

Memento mori

 

Não levanteis esta capa de chumbo
Onde meu corpo jaz em seus marfins,
Meus olhos sem mim vagam pela noite,
Contai meus dentes no esqueleto pardo.

 

O asceta jovem de silentes carnes
As palavras reuniu: o bem, o mal,
Verdes leitos. Lá deita a sua beleza.

 

Naquele tempo, fluíam fontes quentes.
Leve murmúrio era o seu corpo, o corpo
Onde aves aninhavam, frases vivas.
A morte, a morte as fez voar mais longe.

 

Contra o seu dorso, estranhas cartilagens:
Alado, como um morcego, ele fora,
Ninguém via essas asas invisíveis.
Anjo, ele o foi, e ninguém nunca o soube.

 

Não levanteis esta capa de chumbo
Aí acharíeis certo dois cadáveres:
Num corpo só dois homens se batiam
Para melhor se unir no poema único
 Da tristeza, oh essa tenra criança morta.

 

Tradução de Alexei Bueno

 

 

 

Thoreau

 

Le fils de l'eau se dissout dans la brume
Pour mieux aimer le feuillage et l'insecte.
Sa soeur la lune accompagne ses pas,
 La luciole est sa seule musique.

 

Il est parti, la ville sur son dos,
Il a rejoint sans la mort l'autre monde,
La face exquise oubliée à l'aurore
Par un troupeau d'aveugles obstinés.

 

Lui contemplait l'infinité des astres
Dans le grand jour — suis-je reinette ou grive?
Ou bien fendait le monde comme un oeuf
}
Pour contempler ses secrètes pensées.

 

Il respirait l'arôme du pourquoi
Et, la saveur de l'homme sur la langue,
Il mûrissait les blés de son regard
Pour se baigner dans leur immensité.

 

Cueillons, cueillons des roses de cristal
Pour percevoir les saisons qui s'échappent.
Lui qui durait comme pointe de flèche.
 Perce pour nous les secrets du grand jour.

 

 

 

            Touro

 

 

O filho da água se desfaz na bruma
Para melhor amar o inseto e as folhas.
Sua irmã a lua acompanha seus passos,
O pirilampo é sua única música.

 

Ele partiu, a cidade nas costas,

Ele chegou sem morte ao outro mundo,

A face viva esquecida na aurora

Por um rebanho de obstinados cegos.

 

Ele mirava a infinidade de astros
No dia pleno — sou maçã ou tordo?
Ou bem fendia o mundo como um ovo
Para fitar seus secretos pensares.

 

Ele aspirava o aroma do porquê
E, o paladar do homem sobre a língua,
Amadurava os trigais de seus olhos
Para banhar-se em sua imensidade.

 

Colhamos rosas de cristal, colhamo-las
Para entrever as estações que fogem.
Ele que dura como aguda flecha
Fura por nós os segredos do dia.

 

 

          Tradução de Alexei Bueno

 

 

Página publicada em janeiro de 2018

 

 


 

 

 
 
 
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