| POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS 
 
 
 ROBERT GRAVES     Robert Von  Ranke Graves (Wimbledon, Londres, 26 de julho de 1895 — Deià, Maiorca, 7 de  dezembro de 1985) foi um poeta, romancista e crítico britânico.   Foi o autor de Eu, Cláudio (I, Claudius no original ),  adaptado à televisão em 1976. Combateu na França durante a Primeira Guerra Mundial, tendo sido ferido em 1916  na Batalha do Somme. Na mesma época, ainda em serviço ativo, estreou nas letras  com dois volumes de poesias em 1916 e um em 1917. Depois do conflito prosseguiu  seus estudos na Universidade de Oxford.
   Publicou em  1929 sua autobiografia "Goodbye to All That", que contituiu grande  êxito nas vendas. De 1934 a 1936, viveu na Ilha de Maiorca, onde escreveu seus  primeiros romances históricos, "Eu, Claudius, Imperador", que obteve  os prêmios Hawthornden e James Tait Black, e "Claudius, o Deus, e  Messalina" (1934), a que se seguiram, entre outros: "O Conde  Belisário" (1938), "O Sargento Lamb" (1940), "A Esposa de  Mr. Milton" (1948), "O Tosão de Ouro" (1944), "O Rei  Jesus" (1948). É também autor do livro "O Grande Livro dos Mitos  Gregos".   Viveu e faleceu  em Deià, em Maiorca, onde se encontra enterrado. A sua casa de Can Alluny onde  viveu quase meio século é hoje um museu.       POESIA  SEMPRE  - Ano 6 – Número 9  -  Rio de Janeiro - Março 1998. Fundação BIBLIOTECA NACIONAL – Departamento  Nacional do Livro -  Ministério da  Cultura.  Volume 9 sob a direção de  Antonio Carlos Secchin. Ex. bibl. Antonio Miranda   
                      The straw   Peace, the wild valley streaked with torrents. A hoopoe perched on his warm rack. Then why
 This tremor of the straw between mv finders?
   What should t fear? Have I not testimonyIn her own hand, signed with her own name
 That my love fell as lightning on her heart?
   These questions, bird, are not rhetorical. Watch how the straw twitches and leaps
 As though the earth quaked at a distance
   Requited love: but better unrequited If this chance 'instrument gives warning
 Of cataclysmic anguish far away.
   Were she at ease, warmed by the thought of me. Would not my hand stay steady as this rock?
 Have I undone her bv mv vehemence?
       Ramo de palha            Paz, o vale sulcado por torrentes.  Um passarinho em seu  refúgio quente:E por que treme a palha entre meus dedos?
   For que temer? Não tenho o  testemunho — Por ela escrito — de que o meu amor
 li um relâmpago em seu coração?
            Tais  questões, pássaro, não são retóricas.  Vê que a palha se contorce  e saltaComo se a terra estremecesse ao longe.
            Amor  retribuído: antes não fosse.  Se este instrumento do  acaso me avisa de angústias cataclísmicas, ao longe.
   Se ela estivesse em pa,  pensando em mim. Eu não teria a mão firme, de rocha?
          Será  que eu a perdi por muito empenho?   Tradução de Jorge Wanderley                In  Dedication    All saints revile her and all sober men Ruled by the God Apollo’s golden mean —
 In scorn of which I sailed to find her In distant regions likeliest to hold her
 Whom I desired above all things to know,
          Sister  of the mirage and echo.            It  was a virtue not to stay,  To go my headstong and heroic way Seeking her out at the volcano’s head,
 Among pack ice, or where the track had faded Beyond the cavern of the seven sleepers:
 Whose broad high brow' was white as any leper’s Whose eyes were blues, with rowan-berry lips,
 With hair curled honey=coloured to white hips.
   Green sap of Spring in the young wood a-stir Will celebrate the Mountain Mother,
          And  every song-bird shout awhile for her;           But  I am gifted, even in November,  Rawest of seasons, with so huge a sense Of her nakedfy worm magnificence
 I forget cruelty and past betrayal,
          Careless  of where the next bright bolt may fall.     
                    Em dedicação   Todos os santosultrajam-na e todos os homens sóbrios Regidos pelos meios preciosos do deus Apolo —
 Em desprezo daqueles que  naveguei a seu encontro Em distantes regiões prováveis de encontrar
 Aquela que eu desejava conhecer acima de todas as coisas,
 Irmã da ilusão e do eco.
            Era uma virtude não deter-se.           Seguir  meu caminho heroico e obstinado           Procurando-a  além da cratera do vulcão           Entre  as encostas glaciais, ou onde a trilha se desfaz           Muito  além da caverna dos sete dorminhocos  Cuja fronte altamente vasta  era branca como a de algum lázaro,           Cujos  olhos eram azuis, com extremidades de freixo,           Com  doce cabelo ondulado até as alvas ancas.   A grande seiva da primavera  agita-se na jovem árvore Para celebrar a Mãe da Montanha.
          E  todos os pássaros canoros a aclamarão um dia;           Porém  me encontro dotado, mesmo em novembro,  A mais indigesta das  estações, com uma vasta sensação Da grandeza de sua larva nua,
          Que  esqueço crueldade e traição passadas.           Indiferente  a onde possa cair o próximo raio.   Tradução de Floriano Martins        A Love Story   The full moon easterly rising, furious.  Against a winter sky ragged with red:  The hedges high in snow, and owls raving —  Solmnities not easy to withstand:  A shiver wakes the spine.   In boyhood, hat ing encountered the scene,  I suffred horror; I fetched the moon home,  With owls and snow, to nurse in my head Throughout  the trials of a new spring.
 Famine unassuaged.  But fell in love, and made a lodgment Of  love on those frozen ramparts.
 Her image was my ensign: snows melted.  Hedges sprouted, the moon tenderly shone.  The owls trilled with tongues of nightingale.   These were all lies, though they matched the time.  And brought me less than luck: her image  Warped in the weather, turned beldamish.  Then back came winter on me at a bound,  The pallid sky heaved with a moon-quake.   Dangerous it had been with love-notes  To serenade Queen Famine.  In tears 1 recomposed the former scene.  Let the snow lie, watched the moon rise, suffered the owls,  Paid homage to them of unevent.       Uma história de amor    A lua cheia do Oriente, crescendo  furiosa, Contra  um céu invernal rajado com vermelho; As  altas barreiras na neve e corujas delirando — Solenidades  nada fáceis de suportar: Um  tremor desperta a espinha.   Na  juventude, tendo encontrado a cena. Aterrorizei-me;  trouxe a casa da lua. Com  corujas e neve. para criar em minha cabeça Por  toda parte as provas de uma nova primavera.
 Insaciada  penúria. Porém  me apaixonei, e fiz um ninho
 De  amor naquelas muralhas congeladas.
 Sua  imagem foi minha insígnia: neves derretidas. Barreiras  germinadas, a lua brilha com ternura. As  corujas trinam com línguas de rouxinol.   Tudo  não passou de mentiras, embora tenham igualado o tempo. E  trouxeram-me menos que sorte: sua imagem
 Arqueou-se  no tempo, tornou-se uma velha senhora.
 Então  regressou-me o inverno em um salto, O  pálido céu erguido com uma lua estremecida.   Isso  tem sido perigoso com recados de amor Para  acalantar a Rainha Penúria.
 Em  lágrimas recompus a cena precedente, Deixei  a neve mentir, vi a lua nascer, sofridas as corujas. Prestei  homenagem a eles por tudo o que não houve.            Tradução do Floriano Martins e Flora Nunes      Página  publicada em fevereiro de 2018 
 |