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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

RAINER MARIA RILKE

 

Rainer Maria Rilke, por vezes também Rainer Maria von Rilke (Praga, Império Austro-Húngaro, atual República Tcheca, 4 de dezembro de 1875 — Valmont, Suíça, 29 de dezembro de 1926) foi um poeta de língua alemã do século XX. Escreveu também poemas em francês. Biografia no wikipedia.

 

 

Extraído de

POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia – Ano 2  Número 4 – Rio de Janeiro  - Agosto 1994 - Fundação Biblioteca Nacional. ISSN 0104-0626  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Archaischer Torso Apollos

 

VVir kannten nicht sein unerhörtes Haupt,
darin die Augenäpfel reiften. Aber
sein Torso glüht noch wie ein Kandelaber,
in dem sein Schauen, nur zurückgeschraubt,

sich halt glänzt. Sonst könnte nicht der Bug
der Brust blenden, und im leisen Drehen
der Lenden Könnte nicht ein Lächeln gehen
zu jener Mitte, die die Zeugung trug.

Sonst stünde dieser Stein entstellt und kurz
unter der Schultern durchsichtigem Sturz
und flimmerte nicht so wie Raubtierfelle

und bräche nicht aus allen seinen Rändern
aus wie ein Stern: denn da ist keine Stelle,
die dich nicht sieht. Du musst dein Leben ändern.

 

 

Torso arcaico de Apollo

 

Tradução de Manuel Bandeira

 

Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta

E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.

Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandera mais como pele de fera.

Seus limites não transporia desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.

 

 

Torso arcaico de Apolo

 

Tradução de Ivo Barroso

 

Não sabemos como era a cabeça inaudita,
onde as pupilas amadureciam. Glabro
no entanto o torso aclara como um candelabro,
onde apenas mais ténue, o seu olhar nos fita

e brilha. Senão como poderia o plexo
do peito assim cegar-te, e iria, no impreciso
arquear de parte da cintura, um leve riso
correr para esse centro, onde existia o sexo?

Seria um simples bloco mutilado e falto
e de seus ombros nunca o translucente salto
reluziria assim como um lombo de fera

nem romperia as órbitas qual explodida
estrela: pois ali ponto nenhum se espera
que não te veja. Tens que mudar tua vida.

 

 

POESIA MÍSTICA – POESIA RELIGIOSA

Extraído de

 

POESIA SEMPRE. Número  31 – Ano 15 / 2009.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura. 2009.  217 p.    ilus. col. Editor Marco Lucchesi.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Da vida monástica (excerto)

 

 

A hora inclina-se e toca em mim

com claro bater metálico.

Os sentidos me tremem. Sinto: eu posso...

E colho o dia plástico.

 

Nada estava acabado antes de eu ver;

todo o devir aguardando em quietude.

Maduros meus olhares: a cada um,

como uma noiva, chega a coisa ansiada.

 

Nada é pequeno para mim: gosto de tudo

 e tudo eu pinto sobre ouro grandeza

e bem alto levanto — sem saber de quem
vai a alma libertar.

 

Que vais fazer, deus, se eu morrer?
Eu sou teu cântaro (e se eu me quebrar?)
Eu sou tua água (e se eu me estagnar?)
Eu sou teu hábito e sou teu ofício;
sem mim, tu perderias a razão de ser...

 

Depois de mim, não terás casa em que
palavras próximas e tépidas te acolham;
Vai cair de teus fatigados pés
a sandália macia que sou eu.

 

Teu largo manto deixar-se-á cair.
Teu olhar, que com minhas faces eu
aqueço, como se com almofadas,
virá de longe a procurar por mim
— e ao.pôr-do-sol se porá
no colo de estranhas rochas.

 

Que vais fazer, deus? Estou preocupado.

 

 

                   Tradução de Geir Campos

 

  

TRADUÇÃO DO ALEMÃO   por   FLÁVIO R. KOTHE

 

             O EPITÁFIO DE RILKE

(4 de dezembro de 1875 — 29 de dezembro de 1926)

        ROSE, OH REINER WIDERSPRUCHU, LUST
NIEMANDES SHCHLAF ZU SEIN UNTER SOVIEL

ROSA, Ó PURA CONTRADIÇÃO, PRAZER DE SER
O SONHO DE NINGUÉM SOB TANTAS
PÁLPEBRAS.

 

 

Ou

ROSA, Ó PURA CONTRADIÇÃO, PRAZER DE SER
SOB TANTAS PÁLPEBRAS
O SONO DE NINGUÉM.



Ou

ROSA, Ó PURA COSNTRADIÇÃO, PRAZER DE
SOB TANTAS PÁLPEBRAS SER O SONO
DE NINGUÉM.

 

 

     Tradução de Paulo Quintana  (vol. 11, 281)

                  De  RAINER MARIA RILKE



       ROSA, Ó PURA CONTRADIÇÃO VOLÚPIA
DE SER O SONO DE NINGUÊM SOB TANTAS
PÁLPEBRAS
.

             Obs. Lidern  (de Lid,  pálpebra),  soa como Liedern, canções
(ie apenas indica que o i é mais longo,  o e não é pronunciado).
Se “lidern” for tomado como verbo, vai significar “curtir”,  como
curtir couro ou recobrir com couro: significa, talvez, que o autor
bem sabe  quantas  vezes passou e  repassou palavras  para se
duradouras como couro curtido   (sugere traduzir sob tanta cur-
tição).

A  palavra “reiner” soa igual a Rainer, nome que me foi dado
por Lou Andréas Salomé,   o que levaria  “Ó contradição de Rai-
ner. Rilde sabia tudo isso e mais um tanto.  Nas dificuldades  da
tradução se aprende a ter noção da grandeza os original.

 

             As pétalas da rosa são como pálpebras que cobrem os olhos,
mas sob todas elas  não  olho/caroço nenhum,  como não há no
interior da cebola,  que  Peer Gynt  descasca no final da peça de
Ibsen,   tentando  ver  o sentido da vida,   que nos faz chorar  o  
tempo todo   enquanto a descascamos, mas nos fim   não sobra
nada.   Rilke ironizou uma  resposta fúnebre, a   poesia feita  de  
pétalas como se fossem  folhas em que se escreve, como se ris-
se das vaidades na vida, imitando o “Carpe Diem”   dos túmulos
romanos.

Sugestão em tom de brincadeira:

ROSA, Ó MINHA CONTRADIÇÃO, PRAZER DE SER
O SONO DE NINGUÉM SOB TANTA
CURTIÇÃO.

 

*

Página ampliada e republicada em setembro de 2023


 

Página publicada em dezembro de 2017; PÁGINA ampliada em setembro de 2018


 

 

 
 
 
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