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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

PAUL VERLAINE

 

Paul Marie Verlaine (30 de Março de 1844 – 8 de Janeiro de 1896) é considerado um dos maiores e mais populares poetas franceses.

 

TRADUÇÃO
        por JOSÉ JERONYMO RIVERA

 

REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 2,
Número 4,  jul./dez., 2020.     
Brasília. DF: Editora Cajuína,
2020.  139 p.  ISSN 2674-8495

 
       
CHORA EM MEU CORAÇÃO

               
Chove docemente na cidade
                            A. RIMBAUD

       
Chora em meu coração
       Como sobre a cidade.
       Porque esta lassidão
       Me invade o coração?

       Da chuva o doce canto
       Sobre a terra e os telhados!
       Oh! para uma alma em pranto
       Que bálsamo esse canto!

        Chora pois sem razão
       Este peito em revolta.
       Qué! nenhuma traição?
       A mágoa é sem razão.

       Maior é sempre a dor
       De não saber por quê
       Sem ódio e se amor
       No peito há tanta dor.

 

*


Página ampliada e republicada em agosto de 2023.

 

Extraído de

 

 

FRÓES, Heitor FMeus poemas dos outros. Traduções e versões.  Bahia, 1952.  312 p. "Deste livro foram impresso 1.000 exemplares em papel de qualidade superior e 500 exemplares  em papel Westerpost, exclusivamente para subscritores, numerados e rubricados pelo autor."  Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

 

 

CORTÈGE

Un singe en veste de brocart
Trotte et gambade devant elle
Qui froisse un mouchoir de dentelle
Dans sa main gantée avec art,

Tandis qu'un négrillon tout rouge
Maintient à tour de bras les pans
De sa lourde robe en suspens,
Attentif à tout pli qui bouge.

Le singe ne perd pas des yeux
La gorge blanche de la dame,
Opulent trésor qui réclame
Le torse nu de Vun des dieux.

Le négrillon parfois soulève
Plus haut qu'il ne faut, Vaigrefin,
Son fardeau somptueux, afin De voir ce dont la nuit il rêve;

Elle va par les escaliers,
Et ne parait pas davantage
Sensible à l'insolent suffrage
De ses animaux familiers.

 

 

O SÉQUITO

Tradução de Heitor P. Froes

 

Num jaleco de brocado
Um macaco pula e trota
Ante a bela que amarrota
Na dextra um lenço rendado. .

E um negrinho petulante
De libré toda encarnada
Segura a cauda pesada
Do vestido farfalhante.

Prende o mono os olhos seus
No níveo colo da dama
— Um tesouro que reclama
O abraço viril de um Deus!

O negrinho, sem-vergonha,
Suspende mais o vestido
Para fitar comovido
Os primores com que sonha;

E a Diva tranquilamente
Sobe e desce pela escada
Qual se estivesse alheiada
De seu séquito insolente!...

 

 

TRÊS POEMAS DE PAUL VERLAINE

Tradução de MANUEL BANDEIRA

         I

No ermo da mata o som da trompa ecoa,
Vem expirar embaixo da colina.
É uma dor de orfandade se imagina
Na brisa, que em ladridos erra à toa.

A alma do lobo nessa voz ressoa. . .
Enche os vales e o céu, baixa à campina,
Numa agonia que à ternura inclina
E que tanto seduz quanto magoa.

Para tornar mais suave esse lamento.
Através do crepúsculo sangrento,
Como linho desfeito a neve cai.

Tão brando é o ar da tarde, que parece
Um suspiro do outono. E a noite desce
Sobre a paisagem lenta que se esvai.

 

II

As mãos que foram minhas, mãos
Tão bonitas, mãos tão pequenas, A
pós tanto equívoco e penas,
Tantos episódios pagãos,

Após os exílios medonhos,
Ódios, murmurações, torpezas,
Senhoris mais do que as princesas
As caras mãos abrem-me os sonhos.

Mãos no meu sono e na minh'alma,
Pudera eu, ó mãos celestes,
Adivinhar o que dissestes
A est´alma sem pouso nem calma!

Mente-me acaso a visão casta
De espiritual afinidade,
De maternal cumplicidade
E de afeição estreita e vasta?

Caro remorso, dor tão boa,
Sonhos benditos,  mãos amadas,
Oh essas mãos, mãos consagradas,
Fazei o gesto que perdoa!

 

III

Chora em meu coração
Como chove lá fora.
Que desconsolação
Me aperta o coração!

Oh a chuva no telhado
Batendo em doce ruído!
Para as horas de enfado,
Oh a chuva no telhado!

Chora em ti sem razão,
Coração sem coragem.
Se não houve traição,
Teu luto é sem razão.

Certo, é esse a pior dor:
O não saber por que
Sem ódio e sem amor
Há em mim tamanha dor.

 

VERLAINE, Paul. Festas galantes. Tradução de Onestaldo Pennafort.  Terceira edição revista.  Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1983. 160 p.   Capa: Antonio Sergio de Farias Braga, reproduzindo quadro de Antine Watteau. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Tradução de Onestaldo Pennafort.

 

 

CLA1R DE LUNE

 

Votre âme est un paysage choisi

Que vont charmant masques et bergamasques,

Jouant du luth et dansant, et quasi

Tristes sous leurs déguisements fantasques.

 

Tout en chantant sur le mode mineur
L´amaur vainqueur et la vie opportune,
Ils n´ont pas l´air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,

 

Au calme clair de lune triste et beau,

Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres

Et sangloter d´extase les jets d'eau,

Les grands jets d'eau sveltes parmi les marbres.

 

 

 

 

LUAR

 

Tua alma é uma paisagem de outros dias
por onde, ao som de alaúdes, vão passando,
quase tristes nas suas fantasias,
bergamascos e máscaras dançando.

 

E cantando em surdina a doce vida
e o amor vitorioso, eles têm o ar
de quem de tudo e até de si duvida,
me o seu canto mistura-se ao luar,

 

ao calmo luar cheio de encanto e mágoa

que faz sonhar aos pássaros nas árvores

e soluçar de êxtase os jorros d'água,

os grandes jorros d'água esveltos entre os mármores.

 

 

 

LES INGÉNUS 

 

Les hauts talons luttaient avec les longues jupes,
En sorte que, selon le terrain et le vent,
Parfois luisaient des bas de jambes, trop souvent
Interceptés! — et nous aimions ce jeu de dupes.

 

Parfois aussi le dard d'un insecte jaloux
Inquiétait le col des belles sous les branches,
Et c'était des éclairs soudains de nuques blanches,
Et ce régûl comblait nos jeunes yeux de fous.

 

Le soir tombait, un soir équivoque d'automne.
Les belles, se pendant rêveuses à nos bras,
Dirent alors des mots si spécieux, tout bas,
Que notre âme depuis ce temps tremble et s'étonne.

 

 

 

 

OS INGÊNUOS

 

Com as saias longas os tacões altos lutavam.
De modo que, ao sabor do terreno ou do vento,
as meias — e isso bem que era um divertimento —
ocultas quase sempre, às vezes se mostravam.

 

Também, às vezes, sob os ramos, se uns insetos,
pousando-lhes no colo, as belas surpreendiam,
uns súbitos clarões de alvas nucas se viam,
e isso nos regalava os olhos irrequietos.

 

Caía a tarde, tarde outonal e adequada.

E, pelo nosso braço, as belas, divagando,

iam tais cousas, tão sutis, nos sussurrando,

que desde então nossa alma ainda treme, espantada.

 

***

 

POIÉSIS - Literatura, Pensamento e Arte.  Ano XIII – No. 133 – abril de 2007 – Saquarema, RJ: Mota e Marin Editora e Comunicação Ltda.  Editor Camilo Mota.    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

       ART POÉTIQUE

        A Charles Morice

 

De la musique avant toute chose.
Et pour cela préfère l'Impair
Plus vague et plus soluble dans l'air,
Sans rien en lui qui pèse ou qui pose.

Il faut aussi que tu n'ailles point
Choisir tes mots sans quelque méprise;
Rien de plus cher que la chanson grise
Où l'Indécis au Précis se joint.

C'est des beaux yeux derrière des voiles,
C'est le grand jour tremblant de midi,
C'est, par un ciel d'automne attiédi,
Le bleu foullis des claires étoiles!

Car nous voulons la Nuance encor,
Pas la Couleur, rien que la nuance !
Oh! La nuance seule fiance
Le rêve au rêve et la flûte au cor!

Fuis du plus loin la Pointe assassine,
L'Esprit cruel et la Rire impur,
Qui font pleurer les yeux de l'Azur,
Et tout cet ail de basse cuisine !

Prends l'éloquence et tord-lui son cou!
Tu feras bien, en train d'énergie,
De rendre un peu la Rime assagie.
Si l'on n'y veille, elle irà jusqu'où?

O qui dira les torts de la Rime?
Quel enfant sourd ou quel nègre fou !
Nous a forgé ce bijou d'un son

Qui sonne creux et faux sous la lime?

De la musique encore et toujours!
Que ton vers sois la chose envolée
Qu'on sent qui fuit d'une âme en allée
Vers d'autres cieux à d'autres amours.

Que ton vers sois la bonne aventure
Éparse au vent crispé du matin
Qui va fleurant la menthe et le thym...
Et tout le reste est littérature.

 

 

 

ARTE POÉTICA

 

Tradução (com certa liberdade)
de Gerson Valle

 

A música antes de tudo mais.
E para tanto prefiras o ímpar,
Mais vago e mais solúvel pelo ar
Sem que haja peso ou pose formais.

É necessário não ir também
Buscar palavras só com certezas.
Na canção cinza há muitas belezas
Onde o indeciso ao preciso vem.

Belos os olhos atrás dos véus.
É grande a luz que treme ao meio-dia.
O céu de outono morno anuncia
O azul de estrelas vagas nos céus!

Queremos a Nuança sem pompa,
Nada de Cor, somente a nuança!
Oh! a nuança que nos afiança
O sonho ao sonho e a flauta à trompa!

Foge bem longe à Ponta daninha,
O riso impuro ou alma de escolhos
Criando o choro no azul dos olhos
E todo esse alho da má cozinha!

Torce o pescoço à tua eloquência!
Tu farás bem, ganhando energia,
Se a rima for um pouco mais fria.
Se não cuidamos, há consequência...

Oh, que dizer dos erros da Rima?
Que tola infância ou negro maluco
Forjou o enfeite em valor caduco

Ainda a música onde tu fores!
Seja teu verso um bem a voar
Com a alma em fuga em aleas do ar
Por outros céus, para outros amores.

Que seja o verso boa aventura
Esparsa ao vento em vãos da manhã
Que faz florir tomilho, hortelã...
E todo o resto é literatura.

 

TEXTOS EN FRANÇAIS  E  EM PORTUGUÊS



ALMEIDA, Guilherme de. POETAS DE FRANÇA. São Paulo: 1936.

                                                                  Ex. bibl. Antonio Miranda

                     

                               Chanson d´automne

            
Les sanglots longs
             Des violons
                  De l´automne
             Blessant langueur
                  Monotone.

              Tout suffocant
               Et blême, quand
                   Somme l´heure,
               Je me souviens
                    Et je pleure.

                Et je m´en vais
                Au vent mauvais
                     Qui m´emporte
                 Deçá, delà,
                 Pareil à la
                     Feuille morte.


             En sourdine

          
   Calmes dans le demi-jour
             Que les branches hautes font,
             Pénetrons bien notre amour
             De ce silence profond.

             Fondons nos âmes, nos cœurs
             Et nos sens extasiés,
             Parmi les vagues langueurs
             Des pins et des arbousiers.

             Ferme tes yeux à demi,
             Croise tes bras sur ton sein,
             Et de ton cœur endormi
             Chaise à jamais tout dessein.

             Laissons-nous persuader
             Au souffle berceur et doux,
             Qui vient à tes pieds rider
             Les ondes du gazon roux.

             Et quand, solennelle, le soir
             Des chênes noirs tombera,
             Voix de notre désespoir,
             Le rossignol chatera.


       Colloque sentimental

      
Dans le vieux parc solitaire et glacé,
        Deux formes ont tout à l´heure passé.

        Leurs yeux slonte morts et leurs lèvres sont molles.
        Et l´son entende à peine leurs paroles.

        Dans le vieux parc solitaires et glacé,
        Deux spectres ont évoqué le passé.

        — Te souvient-il de notre extase ancienne?
        — Pourquoi voulez-vous donc qu´il m´en souvienne?

        — Ton couer bat-il toujours à mon seul nom ?
        Toujours vois-tu nom âme en rêve ? — Non.

         — Ah ! les beaux jours de bonheur indicible
         Où nous joignions nos bouche ! — C´est possible.

          — Qu´il était bleu, le ciel, et grand, l´espoir !
          — L´espoir a faui, vaincu, vers le ciel noir.

          Tels ils marchaient dans les avoines folles,
          Et la nuit seule entendit leurs paroles.


             
La lune blanche

            
La lune blanche
            Luit dans les bois ;
            De chaque branche
            Part une voix
            Sous la ramée…

             O bien-aimé.

             L´etang reflète,
             Profond miroir,
             La silhouette
             Du saule noire
             Où le vent pleure.

             Révons : c´est l´heure.

             Un vaste et tendre
             Apaisement
             Semble descendre
             Du firmament
             Que l´astre irise…

              C´est l´heure exquise.


       C´est l´extase langoureuse…

      C´est j´extase langoureuse

      C´est la fatigue amoureuse,
      C´est tous les frissons de bois
      Parmi ll´etreinte des brises,
      Le chouer des petites voix.

      O le fêle et frais murmure !
      Cela gazouille et susurre,
      Cela ressemble au cri doux
      Que l´herbe agitée expire…
      Tu dirais, sou l´eau que vire,
      Le roulis sourd des cailloux.

       Cette âme que se lamente
      En cette plainte dormante,
      C´est la nôtre, n´est-ce pas ?
      La mienne, dis, et la tienne,
      Dont s´exhale l´humble antienne
      Par ce tiède soir, tout bas ?


 

 Le bruit des cabarets…

 
Le bruit des cabarets, la fange des trottoirs,
 Les platanes dechus s´effeuillant dans l´air noir,
 L´ommibu, ouragan de ferraille et de boues,
 Qui grince, mal assis entre ses quatre roues,
 Et roule ses yeux verts et rouges lentement,
 Les ouvriers allant au club tout en fumant
 Leur brûle-gueule au nez des agents de police,
 Toits qui dégoutent, murs suintant, pavé qui glisse,

 Bitume défoncé ruisseaux comblant l´égout,
 Voilà ma route — avec le paradis au bout.

 

 

             Ariette
                             
Il pleut doucement sur la ville.
                                                        (ARTHUR RIMBAUD)

            
Il pleure dans mon coeur 
            
Comme il pleut sur la ville ;
             Quelle est cette langueur
             Qui pénètree mon cœur ?

             O bruit doux de la pluie
             Par terre est sur les toits !
             Pour un cœur qui s´ennuie,
             O le chant de la pluie !

             Il pleure sans raison
             Dans ce cœur qui s´ennuie,
             O le chant de la pluie !

             Il pleure sans raison
             Dans ce cœur qui s´écoeure.
             Quoi !Nulle trahison ?
             Ce deuil ests sans raison.

             C´est bien la pire peine
             De ne savoir pourquoi,
             Sans amour et sans haine,
             Mon cœur a tant de peine.


 Green

 
Voici des fruits, de fleurs, des feuilles et des branches
 Et puis voici mon couer qui ne bat que pour vous.
 Ne le déchirez pas avec vos deux mains blanches,
 Et qu´à vos yeux si beaux l´hunble présent sur doux.

 J´arrive tout couvert encore de rosée
 Que le vent du matin vient glacer à mon front.
 Souffrez que ma fatique, à vos pieds reposée,
 Rêve des chers instants qui la délasseront.

 Sur votre jeune sein lassez rouler ma tête
 Toute sonore encor de vos derniers baisers ;
 Laissez-la s´s apaiser de la bonne tempête,
 Et que je dorme un peu, puisque vous reposez.

    

       Les mains

      
Les chères mains qui furent miennes,
       Toutes petites, toutes belles,
       Après les méprises mortelles
       Et toutes ces choses païennes,

        Après les rades e les grèves,
       Et les pays set les provinces,
       Royales mieux qu´au temps des princes
       Les chères mains m´ouvrent le rêves .

        Mains en songe, mains sur mon âme,
       Sais-je, moi, ce que vous daignâtes,
       Parmi ces rumeurs scélérates,
       Dire à cette âme que se pâme ?

       Ment-elle, ma vision chaste
       D´affinité spirituelle,
       De complicité maternelle,
       D´affection étroite et vaste ?

       Remords si cher, peine três bonne,
       Rêves bénis, mains consacrées,
       O ces mains, ces mains vénerées,
       Faites le gaste qui pardonne !


        D´une prison

        Le ciel est, par-dessus le toit,
              Si bleu, si calme !
         Un arbre, par-dessus le toit,
             Berce sa palme.

         La cloche dans le ciel qu´on voit
             Doucement tinte,
         Un oiseau sur l´arbre qu´on voit
             Chant sa plainte.

         Mon Dieu, mon Dieu, la vie est là,
             Simple, et tranquille.
         Cette paisible remeur-la
             Vient de la ville.

          — Qu´as-tu fait, ô toi que voilà
             Pleurant sans cesse,
          Dis, qu´as-tu fait, toi que voilá,
             De ta jeunesse ? 
          
            

         TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de Guilherme de Almeida.

 

                                             Canção de outono

                  
Estes lamentos
                  Dos violões lentos
                       Do outono
                  Enchem minha alma
                  De uma onda calma
                       De sono.

                  E soluçando,
                  Pálido, quando
                      Soa a hora,
                  Recordo todos
                  Os dias doidos
                      De outrora.

                  E vou à toa
                  No ar mau que voa:
                       Que importa?
                  Voa pela vida,
                  Folha caída
                        E morta.


                   Em surdina

                   
Calmos, na sombra incolor
                   Que dos galhos altos vem,
                   Impregnemos nosso amor
                   Deste silêncio de além.

                    Juntemos os corações
                    E as almas sentimentais,
                    Entre as vagas lassidões
                    Das framboesas, dos pinhais.

                    Cerra um pouco o olhar, no teu
                    Seio pousa a tua mão,
                    E da alma que adormeceu
                    Afasta toda intenção.

                    Deixemo-nos persuadir
                    Pelo sopro embalador
                    Que vem a teus pés franzir
                    As onda da relva em flor.

                    A noite, solene, então,
                    Dos robles negros cairá,
                    E, voz da nossa aflição,
                    O rouxinol cantará.


       Colóquio sentimental


      
No velho parque frio e abandonado,
       Duas formas passaram lado a lado.

       Olhos sem vida já, lábios tremendo,
       Apenas se ouve o que eles vão dizendo.

       No velho parque frio e abandonado,
       Dois vultos evocaram o passado.

       — Lembras-te bem do nosso amor de outrora?
     — Por que é que hei de lembrar-me disso agora?

       — Bate sempre por mim teu coração?
       Vês sempre em sonho minha imagem? — NãO.

       — Ah! aqueles dias de êxtase indizível
       Quando as bocas se uniam! — É possível.

        — Como era azul o céu e grande o sonho!
       — Esse sonho sumiu no céu tristonho,

       Assim por entre as moitas eles iam,
       E só a noite escutou o que diziam.


             O luar grisalho...

             O luar grisalho
             Brilha no bosque;
             De cada galho
             Parte uma voz que
             Roça a ramada...

             Ó bem amada.

             Reflete o lago,
             Espelho puro,
             O vulto vago
             Do choupo escuro
             Que ao vento chora...

              Sonhemos: é hora.

              Um grande e brando
              Quebrantamento
              Vem, vem baixando
              Que o astro ilumina...

              É a hora divina.

 

              

       É o êxtase langoroso...

        É o êxtase langoroso,
        É o cansaço amoroso,
        É todo o bosque a vibrar
        Ao enlace das aragens,
        São, nas grisalhas ramagens,
        Mil vozes a cochichar.

        Oh! o fino e fresco cicio!
        É chilreio o balbucio,
        Parece esses doces ais
        Que a relva móvel suspira...
        Dirias, na água que gira,
        Rolar de seixos casuais.

        Essa alma que se lamenta
        Nessa queixa sonolenta,
        Não será a nossa, ai de nós?
        A minha à tua enlaçada,
        Exalando a humilde toada
        Nesta noite, a meia voz?

 

A voz dos botequins...

A voz dos botequins, a lama das sarjetas,
Os plátanos largando no ar as folhas pretas,
O ônibus, furacão de ferragens e lodo,
Que entre as rodas se empina e desengonça
                                                        todo,
 Lentamente o olhar verde e vermelho rolando;
 Operários que vão par o grêmio fumando
 Cachimbo sob o olhar de agentes da polícia,
 Paredes e beirais transpirando imundícia.

 A enxurrada entupindo o esgoto, o asfalto liso,
 Eis meu caminho — mas no fim é o paraíso.

 

       Arieta

      
Chora o meu coração
      Como chove na rua,
      Que lânguida emoção
      Até invade o coração?

      O frio balbucio
      Nas telhas e no chão!
      Para um coração vazio,
      Ó aquele balbucio!

      Chora não sei que mal
      Meu coração cansado.
      Um desengano? — Qual!
      É sem causa este mal.

      É a maior dor — dói tanto! —
      Não se saber porque,
      Sem ódio ou amor, no entanto,
      O coração dói tanto.

 

 Green

 Aqui estão frutos, flores, folhas, que eu vos trouxe,
 E um coração que só por vós sabe pulsar
 Não o despedaceis com vossa mão tão doce,
 E possa o humilde dom ser grato ao vosso olhar.

 Ainda tenho no rosto o orvalho que a alvorada
 Vem regelar em mim com sua viração.
 Que esta minha fadiga, a vossos pés prostada,
 Sonho os instantes bons que a reconfortarão.

 Deixai que eu pouse em vosso seio a fronte lenta
 Em que ainda ecoam vossos beijos musicais,
 Deixai-a sossegar da bendita tormenta
 E que eu durma um instante, enquanto repousais.


       
As mãos

       
As doces mãos que foram minhas,
       Tão bonitas e tão pequenas,
       Depois de enganos e de penas
       E de tantas coisas mesquinhas.

       De enseadas, praias e risonhos
       Países cheios de surpresas,
       Mais reais que ao tempo das princesas,
       As doces mãos abrem-me os sonhos.

       Mãos em sonho sobre minha alma,
       Que sei eu o que vos dignastes,
       Entre tão pérfidos contrastes,
       Dizer a esta alma pasma e calma?

        Mentirá minha visão casta
        De espiritual afinidade
        De maternal cumplicidade
        E de afeição estreita e vasta?

        Remorso bom, mágoa tão boa,
        Sonhos santos,
mãos consagradas,
       Oh! essas mãos, mãos veneradas,
       Fazei o gesto que perdoa!


       De uma prisão


       
O céu azul, sobre o telhado,
            Tem tanta calma.
        Uma árvore, sobre o telhado,
            Move uma palma.

        O sino, sob o céu, ao lado,
            Dobra bem lento,
        Um pássaro, na árvore, ao lado,
            Canta um lamento.

        A vida aí está, num apagado,
            Simples descansos.
        Vem da cidade esse apagado
            Rumor tão manso.

        — Ó tu que aí estás, pobre coitado,
            Nessa ansiedade,
        Que fizeste, ó pobre coitado,
            Da mocidade?

 

*                     

         Página publicada em junho de 2024

 

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2017; ampliada em setembro de 2018;

Página ampliada em setembro de 2020


 

 

 
 
 
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