POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Foto e biografia: https://pt.wikipedia.or
OSCAR WILDE
Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde, ou simplesmente Oscar Wilde foi um influente escritor, poeta e dramaturgo britânico de origem irlandesa. Depois de escrever de diferentes formas ao longo da década de 1880, tornou-se um dos dramaturgos mais populares de Londres, em 1890. Wikipédia
Nascimento: 16 de outubro de 1854, Westland Row, Dublin, Irlanda
Falecimento: 30 de novembro de 1900, Paris, França
WILDE, Oscar. Poemas em prosa e Salomé. Tradução do original inglês por Dilermando Duarte Cox. Com as ilustrações de Audrey Beardslsey. Introdução de Walmir Ayala. Rio de Janeiro: EDIOURO – Editora Tecnoprint, s. d. 147 p. (Coleção Universidade de bolso). 12 x 21 cm.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Oscar Wilde, em torno de cuja vida sobrevoa o pássaro do escândalo, um dos poetas ingleses de maior fama e audiência mundial, nasceu em Dublin, aos 16 de outubro de 1854 e faleceu em Paris a 30 de novembro de 1900.
Seu espírito raro, sua sensibilidade doentiamente comprometida com a beleza, deram-lhe as armas para, dentro de um esquema estritamente aristocrático, processar uma verdadeira revolução anticonvencional. Porque o reino da beleza é o único onde se pode exercer a verdadeira subversão. E isto Oscar Wilde pressentiu e viveu até a última gota.
WALMIR AYALA
O Poeta
O poeta vivia no campo, entre prados e bosques; porém, todas as manhãs, ele ia à grande cidade que ficava a muitas milhas de distância, envolvida em névoas tristes, no topo das colinas.
Todas as tardes, ele regressava, E à luz indecisa do crepúsculo, crianças e adultos juntavam-se à sua volta a fim de ouvi-lo narrar as coisas maravilhosas que vira naquele dia nos bosques, no rio e no topo das colinas.
E ele contava-lhes como os pequeninos faunos escuros o espreitavam dentre as folhas verdes do bosque.
Contava-lhes como as nereidas de cabelos esverdeados emergiam das águas cristalinas do lago, cantando para ele ao som das suas harpas.
Contava-lhes também como o grande centauro o encontrava no alto da colina e sorrindo galopava, envolvido em nuvens de pó.
Estas e muitas outras coisas maravilhosas o poeta narrava às crianças e aos adultos quando se reuniam à sua volta, todas as tardes, enquanto as sombras se adensavam à aproximação do crepúsculo cinzento.
Contou-lhes histórias maravilhosas de coisas surpreendentes criadas pelo seu espírito, porque o tinha pleno de lindas fantasias.
Um dia, porém, o poeta, regressando da cidade grande através dos bosques, viu, de fato, os pequeninos faunos escuros espreitando-o dentre as folhas verdes. E, quando se dirigiu para o lago, as nereidas de cabelos esverdeados emergiram da água cristalina e cantaram para ele ao som de suas harpas. E, também quando alcançou o topo da colina, o grande centauro galopou sorrindo, envolvido em nuvens de pó.
Naquela tarde quando, ao pálido crepúsculo, os adultos e as crianças se lhe juntaram para ouvir as coisas maravilhosas que vira naquele dia, o poeta lhes disse:
— Hoje nada tenho para lhes contar; não vi coisa alguma.
Isso porque, naquele dia, pela primeira vez na sua vida, ele os vira de fato, e, para um poeta a fantasia é a realidade e a realidade nada significa.
WILDE, Oscar. Salomé. Concepção e tradução Renata Maria Parreira
Cordeiro, do original francês. São Paulo: Landy, 2002. 121 p.
11.5 x 20,5 cm. Capa: Camila Mesquita.
ISBN 9678-85-87731-64-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
Acontece que as traduções para outras línguas têm, geralmente, por base essa versão de Alfred Douglas. Julga-se, no entanto, que uma vez que a peça foi escrita em francês, cumpre fazer uma tradução direta do original. É isso que se propõe aqui, e não criticar esta ou aquela versão, nem tampouco desmerecer as demais traduções brasileiras, que, aliás, foram consultadas e citadas na Bibliografia, pois o objetivo é tão-somente propor uma leitura "menos distante", ainda que, nas palavras de Romain Rolland a Richard Strauss, Wilde não possa ser considerado um poeta francês, "por maior que fosse o seu conhecimento desse idioma".
Renata Maria Parreira Cordeiro Fevereiro de 2002
SALOMÉ
Como é bom ver a lua! Parece uma moedinha. Parece uma pequenina flor de prata. A lua é fria e casta... Tenho certeza de que é virgem. Tem a beleza virginal... Sim, é virgem. Nunca se maculou. Nunca se entregou aos homens como as outras Deusas.
SALOMÉ
Os olhos, principalmente, é que são terríveis. Parecem buracos negros feitos por archotes numa tapeçaria de Tiro." Parecem cavernas negras, habitadas por dragões, cavernas negras do Egito onde os dragões encontram refúgio. Parecem lagos negros agitados por luas fantásticas... Julgais que continuará falando?
OUTRAS VERSÕES:
Por Stéphane Mallarmé, 1871
HERODÍADE
III Cântico de São João
Esse sol que a sua alta
Tranquilidade exalta
Já desce novamente
Incandescente
Nas vértebras parece
Que uma asa negra cresce
E de todo vibrante
Unissonante
A cabeça assomada
Vigilante isolada
No vôo triunfal
Desse punhal
Já cortada supera
Ou resolve ou modera
O que de divergente
No corpo sente
Bêbada de abstinência
Mantém com persistência
Na queda desvairada
Pura mirada
***
Por Mário de Sá-Carneiro, 1913
S A L O M É
Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de segredo...
Tudo é capricho ao seu redor, em sombrias fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio... Alabastro!... A minha Alma parou...
E o seu corpo resvala a projetar estátuas...
Ela chama-me em íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:
Mordoura-se a chorar - há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo...
Página publicada em janeiro de 2018; ampliada em agosto de 2019
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