POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Foto e biografia: wikipedia
MARGUERITE YOURCENAR
Marguerite Yourcenar, pseudônimo de Marguerite Cleenewerck de Crayencour (Yourcenar é um anagrama de Crayencour) (Bruxelas, 8 de junho de 1903 — Mount Desert Island, 17 de dezembro de 1987), foi uma escritora francesa.
Marguerite Yourcenar foi educada de forma privada e de maneira excepcional: lia Jean Racine com oito anos de idade, e seu pai ensinou-lhe o latim aos oito anos e grego aos doze.
Em 1929, publicou seu primeiro romance, Alexis ou o Tratado do Vão Combate (Alexis ou le traité du vain combat) inspirado em André Gide[1], escrito em um estilo preciso, frio e clássico. Trata-se de de uma longa carta em que um homem, músico renomado, confessa à sua esposa sua homossexualidade e sua decisão de a deixar. Após a morte de seu pai, em 1929, (depois de ter lido o primeiro romance de sua filha), Marguerite Yourcenar levou uma vida boêmia entre Paris, Lausana, Atenas, as ilhas gregas, Constantinopla e Bruxelas. Nesta época, Marguerite Yourcenar apaixonou-se pelo escritor e editor André Fraigneau[2].
Na década de 1930, escreveu Fogos (1936), composto por textos com inspirações mitológicas ou religiosas, em que a autora trata de diversas formas o tema do desespero amoroso e dos sofrimentos sentimentais, tema retomado mais tarde em Le Coup de grâce (1939), romance curto sobre um triângulo amoroso durante a guerra russo-polonesa de 1920. Em 1939, ela publicou Contos Orientais, com histórias que fazem referência a suas viagens. Naquele mesmo ano, dez anos depois da morte de seu pai e com a Europa conturbada pela proximidade da Segunda Guerra Mundial, ela mudou-se para os Estados Unidos, onde passou o resto de sua vida, obtendo a cidadania estado-unidense em 1947 e ensinando literatura francesa até 1949. Até 1979, Yourcenar morou com Grace Frick, professora de literatura britânica em Nova Iorque.
As suas Mémoires d´Hadrien (Memórias de Adriano), de 1951, tornaram-na internacionalmente conhecida. Este sucesso seria confirmado com L'Œuvre au Noir (A Obra ao Negro, 1968), uma biografia de um herói do século XVI, chamado Zénon, atraído pelo hermetismo e a ciência. Publicou ainda poemas, ensaios (Sous bénéfice d'inventaire, 1978) e memórias (Archives du Nord, 1977), manifestando uma atracção pela Grécia e pelo misticismo oriental patente em trabalhos como Mishima ou La vision du vide (1981) e Comme l´eau qui coule (1982).
Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher eleita à Academia Francesa de Letras, em 1980, após uma campanha e apoio activos de Jean d'Ormesson, que escreveu o discurso de sua admissão.
REVISTA DA ACADEMIA BRASILIENSE DE LETRAS. Direção: Antonio Carlos Osorio. Brasília. No. 10 – Março 1991. Ex. bibl. Antonio Miranda
LE VISIONNAIRE
J'ai vu sur la neige
Un cerf pris au piège;
J'ai vu sur l'étang
Un noyé flottant;
J'ai vu sur la plage
Un sec coquillage;
J'ai vu sur les eaux
Les tremblants oiseaux;
J'ai vu dans les villes
Des damnés serviles;
J'ai vu sur la ner
J'ai vu sur les plaines
Le soleil amer;
La fumée des haines;
J'ai vu dans les cieux
D'insondables yeux;
J'ai vu dans l'espace
Ce siècle qui passe.
J'ai vu dans mon âme
La cendre et la flamme;
J'ai vu dans mon coeur
Un noir dieu vainqueur.
(Vers, 1965)
O VISIONÁRIO
Eu vi sobre a neve
prisioneiro o cervo;
Eu vi sobre o lago
flutuando o afogado;
Eu vi sobre a praia
cadáver de raia;
Eu vi sobre as águas
tiritantes aves;
Eu vi nas cidades
servis condenados;
Eu vi nas planuras
dos ódios o fumo;
Eu vi sobre o mar
o sol tão amargo;
Eu vi lá nos céus
de olhos só véus;
Eu vi no espaço
o tempo que passa;
Eu vi na minha alma
a cinza e a chama;
Eu vi em mim dentro
vencer um deus negro.
(Tradução de Antonio Carlos Osorio.)
Página publicada em julho de 2019
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