POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
MAO ZEDONG
/ Mao Tsé Tung /
Mao Tsé-Tung, em chinês tradicional: 毛澤東; chinês simplificado: 毛泽东; Mao Tse-tung pela transliteração Wade-Giles, ou Máo Zédōng, pela pinyin; (Shaoshan, 26 de dezembro de 1893 — Pequim, 9 de setembro de 1976) foi um político, teórico, líder comunista e revolucionário chinês. Liderou a Revolução Chinesa e foi o arquiteto e fundador da República Popular da China, governando o país desde a sua criação em 1949 até sua morte em 1976[1]. Sua contribuição teórica para o marxismo-leninismo, estratégias militares, e suas políticas comunistas são conhecidas coletivamente como maoísmo.
(...)
De 1913 a 1918 estudou na Escola Normal de Hunan, aprendeu filosofia; história e literatura chinesa. Continuou estudando e assimilando o pensamento ocidental e política. Tornou-se líder estudantil com participação em várias associações, mudou-se para Pequim em 1919, onde iniciou seus estudos universitários em Filosofia e Pedagogia, trabalhou na Biblioteca Universitária, conheceu Chen Tu Hsiu e Li Ta Chao fundadores do Partido Comunista Chinês.
Biografia completa em: https://pt.wikipedia.org
POESIA SEMPRE Número 27 – Ano 14 – 2007 Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Reduzidas todas as formalidades supérfluas de cor e modelo
dá-se ao grande personagem seu conteúdo certo.
Preferia a prata - a cor das nuvens - e o índigo - a cor do oceano - a
natureza simples
das coisas grandes. Amava um país assim.
0 sol aparece no rosto como um distintivo,
aparece no oceano das loucas.
No reflexo, o vapor do imenso forno
ergue uma praça clara e indistinta que preenche o finito de infinito entre baluartes com cintos de ouro, que são em realidade argila.
No jornal aclama a vitória dos ideais
a maré cresce desregrada
o furacão vindo do fundo do coração de milhões de homens dá vezo a
vazias oscilações de bandeiras
essas ondas de velas vermelhas esperam impacientes que água do
mar se levante,
mas, quando se levanta, no mar há apenas a borda do barco e seu
fundo;
ele deitado no quarto transformado em piscina cheia
de livros antigos, olha para o ar pronuncia frases complexas,
uma doutrina inextricavelmente enigmática se esconde na aspereza
dialetal
a língua do combatente tem origem no campo de batalha do espírito,
quem a pode
compreender?
Homenagem a Du Fu
Esta é uma outra China.
Por que existe?
Ninguém responde, e nem se
responde mais com o eco.
Esta é uma outra China.
Ê sempre assim, três gerações na mesma casa,
a vida privada reduzida
a uma récita; a nova geração,
modelada por regras cruéis,
dormita, agradecendo à mãe
e ao pai, e nesse ínterim
estuda a arte de folgar, mas depois repete à letra
aquilo que vai berrando o professor;
ah!, é sempre assim, homens e bois
aram e revolvem os sulcos da terra
a vida é realmente paciência;
esta é uma outra China.
Fala-se chinês apenas por pudor,
somos como cerveja, deitamos
espuma de língua antiga,
sem infâmia ou glória.
Pastas de dente, biscoitos recheados, novas palavras,
citações e insossos títulos honoríficos
mudaram o gosto no
palato, talvez
seja um complô à Goujian
A cidade que conhecemos está se tornando
outra, aqueles mesmos
edifícios estão marcados por
cicatrizes (sangue podre escorre ao longo das
margens precárias dos riachos de periferia)
nas casas vemos uma série de TV,
alguém mata, erra
o senso de justiça não tem humor.
(Quando se diz "humanidade", pensa-se na polícia,
é preciso ir para a cama satisfeitos.)
Quanto àquele complô, nega
nosso frequente desespero,
e os aparatos preparam argumentos sedutores
para levar o gráfico à felicidade.
Ah. no Hebei, no Yangtze
e no turbilhão cinzento de Shanghai -
sem luz, sem água e aquecimento -
reconheço as marcas dos Imortais.
Num transe desdenhoso e deferente,
vejo um outro,
lambido na rua por rubras línguas de fogo
e aquela madeira sensual atesta decididamente que
esta é uma outra China.
Deve-se considerar tudo isso como vestígios da "China".
Mas na feira, diante da banca de jornais ou em outros
lugares menos importantes - como por milagre -
uma convicção vital
põe em comunicação os súditos das duas Chinas;
numa delas há homens que trabalham costurando.
Apesar de não ler vossos diários
condeno vossas angústias
(cultivais as flores, falais demasiado)
a graça com a qual aquele que sobrevive denuncia a injustiça sofrida
compõe um veredicto sedutor:
"sintaxe, vigor de estilo",
mas não é mais que lama. Estou nauseado
da China que inventastes, país sórdido,
ligado por um trem lento,
reflexo de um espelho deformador, cada qual
em perigo, cada qual segundo a recompensa,
(o trem está chegando).
A dor local, ampliada pelos telescópios
no alto das montanhas e edifícios,
me faz mais violento que você - pela rua
faço birras, digo a um velho: dá-nos
o que dizes que já nos deste!
Dar? Sim, dar. O velho chefe,
como sempre realista, recusa
o compromisso e basta.
Diante de mim está sempre o que me falta
o estado, o controle, um dia
e a capacidade de liberdade.
Basta com a teoria do crepúsculo dos pardais!
A filosofia dos dinossauros que voam
deve poupar os chineses dos
anos Noventa, que não podem mais venerar o silêncio.
Traduzimos como quem se coça de urticária.
Somos necessariamente estrábicos,
mas igualmente atentos. Oh!, num misto de
aflição e incerteza estamos sentados na lama
diante de uma janela: as crianças
passam gritando: o silvo afiado do destino
controla seu crescimento. Antes de dormir
lê-se La comédie humaine.
Esta é uma outra China,
está aí só por existir.
Não é burocrática, aliás é antiburocrática.
Nossa vida se esconde
como nós, mas nosso
objetivo não é o de sofrer, nem tampouco
o de se inclinar murmurando
a seus botões "você, e você?"
Página publicada em fevereiro de 2019
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