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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

 

LUCRÉCIO

 

Lucrécio (94-50 a.C. – 50 a. C)) foi um poeta e filósofo latino, autor do poema didático em seis volumes, "De Rerum Natura" (Da Natureza das Coisas), uma rigorosa exposição dos princípios filosóficos que ele foi buscar na obra do grego Epicuro.

 

Lucrécio (Tito Lucrécio Caro) nasceu provavelmente em Roma, Itália, no ano 94 a.C.  É o autor do poema “De Rerum Natura” (Da Natureza das Coisas), uma das mais importantes obras da Antiguidade Clássica, onde demonstra ser igualmente filósofo observador da natureza e um excelente escritor da língua latina, comparável a Virgílio. Lucrécio defendia algumas teses, que foram reafirmadas na ciência moderna. Lucrécio se antecipou a Darwin e Lamarck com uma teoria da evolução biológica, e a Lavoisier com o conceito da indestrutibilidade da matéria.

 

Como discípulo do grego Epicuro (341-270), Lucrécio reteve do mestre a noção do valor da realidade objetiva.  Na poesia, Lucrécio faz uma detalhada exposição de princípios filosóficos que ele foi buscar na obra do mestre. Na visionária concepção epicurista, o mundo – coisas, plantas, animais e até o homem – era constituído por pequenas partículas indestrutíveis que ele chamou de átomos.

 

Segundo Lucrécio, longe de ser o centro do universo, o homem seria apenas mais uma entre várias configurações da matéria possibilitadas pela reunião desses átomos. A alma, tal como o corpo, é feita de átomos e logo, se desfaz como a morte.  Única vida que é dada ao homem é esta, e ele deve aproveitá-la retirando-se da vaidosa agitação da vida pública para se dedicar à serena busca do prazer.

 

Com seu pensamento epicurista, a obra de Lucrécio era um corpo estranho para o pensamento que a Igreja professava na época em que o poema foi encontrado.   (Leia mais em www.ebiografia.com/lucr_cio/)

 

 

 

INVOCAÇÃO

 

Do Canto 1º.  Da Natureza das Coisas

 

Mimosa Vênus, mãe da eneide Roma,

Prazer de homens e numes!  Tu alentas

Os astros, que dos céus no âmbito giram,

As férteis terras, o naval oceano.

Por ti, todo o animal recebe a vida!

Logo ao nascer, na luz do sol atenta...

Assim que assomas, diva benfazeja,

Traja o céu galas, foge o vento e as nuvens.

Odores hábil cria a terra flores,

Ri-se o mar, e pacato o vasto olimpo

De puríssima luz enche o universo.

Mal que risonha a primavera brilha,

E, livre, voa o zéfiro fecundo,

Os habitantes do ar, n'alma sentindo

A gostosa influição do teu império,

Tua vinda descantam, grande diva!

Retouça ovante a grei no ameno prado,

E a nado corta arrebatados rios.

A série dos viventes, enlevada

Nos teus encantos, nas delícias,

Onde a diriges, ávida te segue.

No largo mar, nos empinados montes,

Nos torvos rios, nos virentes campos,

No opaco bosque, habitação das aves,

Todos os corações por ti se acendem

Do doce amor na irresistível flama.

 

Assim, à geração prazer unindo,
Gerais desejos instituis dela.

 

Da natureza assentas-te no trono.

Sem ti, nada recebe a luz dos astros,

Nada tem perfeição, nada se estima.

Por isso, ó deusa, vem! fulge em meu canto,

Que a natureza esplanará dos entes!

Ao Mémio nosso o sagro, a quem te aprouve

Dos teus mais nobres dons orná-lo sempre.

Vês quão merece; empenha-te, Acidália!

Tem jus varão tão grande a canto eterno.

 

No entanto, faze que pacato durma
Na terra e mar o horror da insana guerra.
Só tu tens o poder de, em paz tranquila,
Dar prazer aos mortais; que o grão Mavorte,
Deus que as batalhas a seu gosto rege,
Nos braços teus se lança e preso fica;
Punge-o de intenso amor ferida eterna.
O colo majestoso então inclina;
Sobre teu peito reclinando a face,
Pasmado embebe em ti, ó deusa, os olhos,
Que em êxtase de amor ávidos pascem,
Enquanto aos lábios teus a alma lhe pende.
Quando, ó diva, suave, o apertas todo,
Desfalecido em teus sagrados membros,
Com doce persuasão lhe ameiga as iras,
Alcança o bem da paz e adita Roma!
 

 

                            Tradução de António José de Lima Leitão

 

OROB0R0  revista de poesia e arteCuritiba, PR   Editores Eliana Borges e Ricardo Corona      N.  - set./nov. 2004.
Ex. bibl. de Antonio Miranda

 


        A NATUREZA DAS COISAS
                 
                  
Tradução de Mario Domingues

       
         
Vênus nutriz, volúpia de deuses e homens:
        sob os signos moventes do céu, mãe de Enéias,
        moras da terra fértil ao mar navegável.
        É dada por ti a origem e a prole dos seres
        vivos, que a luz do sol viram quando nascia:           5   
        com o teu advento, fogem as nuvens do céu,
        os ventos; a dedálea terra faz nascer
        leves flores; o mar gargalha vagas planas,
        o céu calmo por ti luze em lume difuso.

        Logo que a primavera do dia é vista,                     10 
       e o Favônio — gerível eflúvio — vige livre,
       os pássaros revelam antes tua vinda
       na força percutida nos seus cantos, diva:
       feras, rebanhos pulam por campos fecundos
       e cortam rios rápidos, a natureza —                      15
       toda vivaz — é presa de teu encanto e graça
       e ávida ela te segue pra onde quer que vás.
       Enfim por mares, montes, rios violentos,
       folhados ninhos de aves, campos verdecentes,
       brandindo o brando amor pelos pelitos de todos,    20
       tu propagas os séculos pelas espécies.     

        Reges a natureza das coisas sozinha,
       pois sem ti nada surge nem amável;
       Peço que sejas sócia nos versos que escrevo,        25
       nos quais tento compor o De rerum natura,
       que dedico ao meu Memmio — que tu, deusa, sempre
       quiseste que nos dotes excedesse a todos;
       Vênus: dá o mais eterno encanto a estas palavras.
       Faz por hora os ferozes trabalhos de guerra           30
       quietos, supurados, por terras e mares.
       Marte arma munido os ferozes trabalhos
       da guerra: o qual sempre repele teu seio
       vencido é por teu amor, infinita ferida.
       E suspeitando, curva sua nuca, a vista                 35
       ávida de ti, nutre-se de teu amor,
       tua boca suspende o ressupino espírito.
       Tu, Vênus, com teu corpo santo o embalsam,
       Deitando; pela boca difunde palavras
       doces, e pede a plácida paz aos romanos.            40
       Se a pátria está passando por tempos iníquos,
       não posso prosseguir com um ânimo equânime,
       nem Memmio deixaria a pátria em desamparo.

        De resto, ouve a doutrina com ouvidos livres,             
       pensamento sagaz e despreocupado,                   45
       e que não desdenhes das minhas palavras —
       ditas a ti com zelo — anates que tu as entenda.
       Vou te expor a alta essência do céu e dos deuses,
       desvendarei o princípio de todas as coisas
       que a natureza cria, nutre e faz crescer,               50
       e onde a mesmo, ao contrário, as dissolve, mortas.

        Chamamos tais princípio — segundo a doutrina —
       de corpos genitais, ou matéria ou semente
       das  coisas, e os chamamos também de primeiros
       corpos, porque o começo das coisas vem deles.     55
       [De fato os deuses deve, e é deles seu feitio,
       gozar o tempo eterno em absoluta paz,
       afastado e longe das coisas da vida;
       livres de toda a dor, privados de perigos,
       fortes por seu poder, sem dar por nossa falta         60
       nem por nossas ofertas, estão livres da ira.]

       Quando, odioso aos olhos, o humano jazia
       na terra, subjugado pela religião,
       que expunha uma cabeça no alto do céu —
       de terrível aspecto, ameaça aos mortais —            65   
       foi um grego o primeiro ousou encará-la
       nos olhos, o primeiro homem que lhe fez frente.
       Raios, fúria dos deuses, os roucos ruídos
       do céu: nada o conteve, animaram ainda
       mais seu vigor de espírito, e quis ele ser              70
       pioneiro ao romper portões da natureza.

       Convenceu pela força viva o intelecto,
       foi além das flamantes muralhas do mundo,
       e penetrou o imenso tudo, com mente e espírito,
       de onde nos ensinou o que nasce ou não nasce,    75
       o poder limitado das coisas, e o modo
       como estão no sistema, seu fim fixo do início.
       Porque a religião — revés — foi destruída
       com os pés, a vitória nos nivela no céu.

        Eu temo que tu julgues ir por partes ímpias da     80
       doutrina, e que eu aponto o caminho do crime.
       Pelo contrário: sempre foi a religião
       que cometeu os crimes ímpios e sacrílegos.
       Assim os chefes gregos — homens dos melhores —
       sujaram com o sangue de Ifigênia, em Áulis,        85
       o altar da virginal Diana, horrivelmente.
       Quando a faixa enrolada no cabelo virgem,
       pende igual, parte a parte, na maçãs da face,
       distinguiu seu pai triste, em pé, junto ao altar;
       os servos a esconder a espada, os cidadãos          90
       lágrimas derramando por sus aparência.
       Muda de medo, cai de joelhos por terra.
       Nem serviria à mísera àquela hora
       ser a primeira a dar ao rei o nome pai.
       Pois foi erguida, trêmula por mãos viris              95
       e arrastada ao altar, não para se casar
       nos rituais sagrados de Hymeneu famoso,
       mas para que caísse – impiamente virgem —
       morta, vítima triste do pai, dada aos deuses,
       para que dessem à frota um fim favorável.       100
       Pôde a religião provocar tais maldades!          
 

 *

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Página publicada em novembro de 2023.

 

 

 

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