POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
LUCIAN BLAGA
Escritor, poeta e proeminente filósofo do Leste Europeu no período entre as duas Grandes Guerras. Nascido na Romênia, estudou teologia ortodoxa oriental, filosofia e biologia, tornando-se doutor nas duas últimas disciplinas pela Universidade de Viena. Dedicou-se à epistemologia, metafísica, estética, filosofia da cultura, antropologia filosófica, filosofia da história, filosofia da ciência e filosofia da religião. Em 1956, seu nome foi cogitado para o Prêmio Nobel de Literatura, possivelmente por indicação de Mircea Eliade, mas o governo comunista romeno protestou contra a nomeação. Dirigiu e escreveu para jornais e revistas locais. Por sua obra dramática e poética, foi premiado pela Academia Romena, de que se tornou membro ativo. Atuou como subsecretário de Estado no Ministério das Relações Exteriores (1936–1938) e ministro plenipotenciário da Romênia em Portugal (1938–1939).
Fonte da biografia: http://www.erealizacoes.com.br
TEXTOS EM ROMENO – TEXTOS EM PORTUGUÊS
BLAGA, Lucian. A grande travessia. Seleção, tradução e introdução de Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 2005. 112 p. (Poetas do Mundo) ISBN 85-230-0907-8 Ex. bibl. Antonio Miranda.
Este livro está disponível para venda pela internet na Loja Virtual da UnB: https://loja.editora.unb.br/
Adiantamos aqui 3 (três) poemas do livro:
Către cititori
Aici e casa mea. Dincolo soarele şi grădina cu stupi.
Voi treceţi pe drum, vă uitaţi printre gratii de poartă
şi aşteptaţi să vorbesc. - De unde să-ncep?
Credeţi-mă, credeţi-mă,
despre ori şi ce poţi să vorbeşti cît vrei:
despre soartă şi despre şarpele binelui,
despre arhanghelii cari ară cu plugul
grădinile omului,
despre cerul spre care creştem,
despre ură şi cădere, tristeţe şi răstigniri
şi înainte de toate despre marea trecere.
Dar cuvintele sunt lacrimile celor ce ar fi voit
aşa de mult să plîngă şi n-au putut.
Amare foarte sunt toate cuvintele,
de-aceea - lăsaţi-mă
să umblu mut printre voi,
să vă ies în cale cu ochii închişi.
(1924)
Aos leitores
Aqui é minha casa. Ali ficam o sol e o jardim com colmeias.
Vocês vêm pela trilha, olham da porta por entre as grades
e esperam que eu fale. ...Por onde começar?
Creiam em mim, creiam em mim,
sobre seja o que for pode-se falar quanto se queira:
sobre o destino e sobre a serpente do bem,
sobre ao arcanjos que lavram com o arado
ao jardins do homem,
sobre o céu para onde crescemos,
sobre o ódio e a queda, tristezas e crucifixões
e acima de tudo sobre a grande travessia.
Mas as palavras são as lágrimas de quem teria desejado
tanto chorar e não pôde.
São tão amargas as palavras todas,
por isso... deixem-me
passar mudo por entre vocês,
sair à rua de olhos fechados.
(1924)
Melancolie
Un vînt răzleţ îşi şterge lacrimile reci
pe geamuri. Plouă.
Tristeţi nedesluşite-mi vin, dar toată
durerea,
ce-o simt n-o simt în mine,
în inimă,
în piept,
ci-n picurii de ploaie care curg.
Şi altoită pe fiinţa mea imensa lume
cu toamna şi cu seara ei
mă doare ca o rană.
Spre munţi trec nori cu ugerele pline.
Şi plouă.
(1919)
Melancolia
Um vento só seca suas lágrimas frias
nas janelas. Chove.
Tristezas vagas me assolam, porém toda
a dor,
que sinto, não sinto, em mim,
no coração,
no peito,
mas sim nas gotas de chuva que escorrem.
E enxertado com minha vida o mundo imenso
com seu outono e sua noite
dói em mim como uma chaga.
Para os montes passam nuvens com úberes cheios.
E chove.
(1919)
Lumina de ieri
Caut, nu ştiu ce caut. Caut
un cer trecut, ajunul apus. Cît de-aplecată
e fruntea menită-nălţărilor altădată!
Caut, nu ştiu ce caut. Caut
aurore ce-au fost, ţîşnitoare, aprinse
fîntîni - azi cu ape legate şi-nvinse.
Caut, nu ştiu ce caut. Caut
o oră mare rămasă în mine fără făptură
ca pe-un ulcior mort o urmă de gură.
Caut, nu ştiu ce caut. Subt stele de ieri,
subt trecutele, caut
lumina stinsă pe care-o tot laud.
(1933)
A luz de ontem
Procuro, não sei o que procuro. Procuro
um céu passado, a véspera extinta. Meu rosto
vai tão baixo, que antes nos céu ia posto!
Procuro, não sei o que procuro. Procuro
auroras idas, que jorravam, inflamadas
fontes — hoje com águas presas derrotadas.
Procuro, não sei o que procuro. Procuro
a grande hora que em mim restou sem figura
como em um cântaro morto um fim de abertura.
Procuro, não sei o que procuro. Sob estrelas de ontem,
sob as que passaram, procuro
a luz apagada que ainda enalteço.
(1933)
POESIA SEMPRE. Minas Gerais. Número 22. Ano 1. Janeiro – Março 2006. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2006. ISSN 0104-0626. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
TRADUÇÃO DE LUCIANO MAIA
Morrendo os Deuses...
Morrendo os deuses deixam
atrás de si os templos,
assim como os caracóis
deixam os casulos vazios.
Por milhares de anos, por tempos sem fim,
eles os deixam,
para o consolo
da era de hoje e de depois.
Mas nenhum vestígio da era de ouro,
qualquer que seja a sua imagem,
vence a nossa tristeza
em face do tempo.
A Concha
Com um sorriso temerário contemplo a mim mesmo.
É o coração
eu o tomo na mão. Tremendo
aconchego o tesouro ao ouvido e escuto.
Parece-me
que seguro nas mãos uma concha
em que
prolongado e indecifrável
alenta o murmúrio de um mar desconhecido.
Oh, alcançarei
algum dia a margem
desse mar que hoje
sinto
mas não vejo?
Quarteto
A língua não é o verbo que recrias.
A única língua, tua de verdade
dona da escuridão e claridade
é a que conheces e em que silencias.
*
VEJA E LEIA outros poetas do MUNDO em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/poesiamundialportugues.html
Página publicada em julho de 2024
Página publicada em fevereiro de 2018
|