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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

B Y R O N

 

 

George Gordon Byron, 6º Barão Byron FRS (Londres, 22 de janeiro de 1788 — Missolonghi, 19 de abril de 1824), conhecido como Lord Byron, foi um poeta britânico e uma das figuras mais influentes do romantismo. Entre os seus trabalhos mais conhecidos estão os extensos poemas narrativos Don Juan, A Peregrinação de Childe Harold e o curto poema lírico She Walks in Beauty.

Byron é considerado um dos maiores poetas britânicos, e permanece vastamente lido e influente. Ele percorreu toda a Europa, especialmente Itália, onde viveu durante sete anos. No fim da vida, Byron juntou-se à Guerra de independência da Grécia contra o Império Otomano, motivo pelo qual muitos gregos reverenciam-no como um herói nacional. Morreu aos trinta e seis anos de idade de uma febre contraída em Missolonghi. Muitas vezes descrito como o mais extravagante e notório dos maiores poetas românticos, Byron foi tanto festejado quanto criticado em sua vida pelos excessos aristocráticos, incluindo altas dívidas, numerosos casos amorosos com homens e mulheres (como, por exemplo, com a meia-irmã da escritora Mary Shelley, Claire Clairmont), além de boatos de uma relação escandalosa com sua meia-irmã, auto-exílio e bissexualidade sendo também um dos primeiros escritores a descrever os efeitos da maconha.[carece de fontes]

Segundo consta, a causa da morte parece ter sido uremia, complicada por febre reumática[carece de fontes]. Sua filha, Ada Lovelace, colaborou com Charles Babbage para o engenho analítico, sendo considerada assim a mãe da ciência da computação.

[Fragmento de uma longa biografia disponível na Wikipedia.

 

 

***

 

"Versos Inscritos numa Taça Feita de um Crânio"
(Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos)

 

 

 

"Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito
Vê em mim um crânio, o único que existe
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.

Vivi, amei, bebi, tal como tu; morri;
Que renuncie a terra aos ossos meus
Enche! Não podes injuriar-me; tem o verme
Lábios mais repugnantes do que os olhos teus.

...

 

Onde outrora brilhou, talvez, minha razão,
Para ajudar os outros brilhe agora eu;
Substituto haverá mais nobre que o vinho
Se o nosso cérebro já se perdeu?

Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus
Já tiverdes partido, uma outra gente
Possa te redimir da terra que abraçar-te,
E festeje com o morto e a própria rima tente.

E por que não? Se as frontes geram tal tristeza
Através da existência -curto dia-,
Redimidas dos vermes e da argila
Ao menos possam ter alguma serventia."

 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS – TEXTO EM INGLÊS

 

 

31 POETAS, 214 POEMAS.  DO RIGVEDA A APOLLINAIRE. Uma antologia pessoal de poemas traduzidos, com notas e comentários de Décio Pignatari.  Capa: Silvia Massaro.  São Paulo: Companhia das Letras, 1996.  132 p.    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

 

FRAGMENTOS DE DON JUAN

 

 

I, 201

Tudo isso se explica mais adiante,
Segundo as leis do mestre estagirita,
Manual do sublime deslumbrante,
Que inspira o bom poeta... e a má escrita.
Dou-me bem com a rima — e que ela cante
O obreiro que co'a lima não se atrita!
Já tenho novas máquinas de mitos
E um mágico cenário para os ritos.

 

/, 213

Cabelo cinza aos trinta (com mais dez,

Como estará? Uma peruca austera

Se impõe). Sem viço o coração e a tez,

Gastei todo o verão na primavera.

Já não reage a alma que me fez

E o meu espírito não é o que era.

Joguei a vida, capital e juros,

No dia de hoje, inúmeros futuros!

 

/, 217

Perdeu-se a voz de Júlia nos suspiros,

Tempo não houve para uma conversa;

Golfavam lágrimas como reis Ciros

E eu lamentei esse lamento persa.

Motivos houve para tantos tiros?

Lutou um pouco, resistiu bastante,

Disse "Não dou!" — e deu (desconcertante).

 

I, 218

Que busca a fama, ao fim? Só ver inserto
Um certo trecho num jornal incerto.

 

I, 222

Saia, livrinho, desta solidão!

 

II,   67

Pela anatómica constituição,
Suporta vegetais sem muito agrado,
O homem, que só pensa em digestão
De carne... de carneiro, porco ou gado.

 

//, 152

Manhã — eu durmo; à noite, tão leais,
Estrelas e mulheres brilham mais.

 

///, 2

Amantes de perfumes colhem flores
E abrigam-nas no seio (mau lugar).
Assim pomos no peito alguns amores
— E este é o lugar mais tumular.

 

III,  3

No começo, a mulher ama o amante;
Finda a paixão, passa a amar o amor,
Que se transforma em hábito constante,
Como luva folgada de se pôr.
No início, um homem só já é bastante
(Como se prova sempre com quem for);
Depois, do que ela gosta é do plural,
Que uma adição enorme não faz mal.

 

///, 8

Petrarca, fosse Laura a companheira,
Faria sonetos uma vida inteira?

 

///, 11

 

Dizem que, em Beatriz, teologia,
Não uma amante, via Dante. Eu,
— Opinião sem muita apologia —
Comento que o cronista é fariseu,
Pois só se apoia em pura fantasia,
Não em fato real que conheceu.
Para mim, os geométricos poemas
Não passam de dantescos apoftegmas.

 

///, 36

Um dia de ouro na idade de ferro,

É com que sonha o homem no seu erro.

 

86 (12): A Grécia sem liberdade

Vinho de Samos nas crateras!
À sombra dançam as donzelas:
Fulgem, no olhar, as primaveras.
Mas vendo os olhos negros delas,
Com lágrimas os meus eu lavo:
No peito — o leite de um escravo.

 

///, 88

Palavra é coisa. Uma gota de tinta,
Caindo como orvalho numa ideia,
Faz florescer a mente de quem sinta
(Milhões, talvez). A palavra mais feia,
Vencendo a fala, é assim como uma cinta
Que liga as eras. E que o Tempo leia
O homem no papel — estes rabiscos
— Tumba pós-vida, seu legado em riscos.

 

///, 97

O mal da epopeia é sem remédio:
Seu principal ingrediente é o tédio.

 

IV, 24

Juan quis saber mais, mas ela amor-
Daçou-o com seus lábios, desse jeito
Desafiando a sina com ardor
E calando o receio no seu peito.
Por certo, não há método melhor.
Há quem prefira o vinho em vez do leito.
Eu já tentei os dois: dor de cabeça
Ou dor no coração — a escolha é essa.

 

IV, 100

Afilhado da Fama, à procura da essência,
No tempo e língua, o poeta proclama:
A vida é a menor parte da existência.

 

VI 16

"Não tem amigos?" "Tinha, pois, quis Deus,
Não me aborrecem muito, ultimamente.
Quanto a você, responda, quais os seus
Casos — ou de você ou de sua gente?"
Juan: "É a triste história de um adeus
E é muito longa". "Bem, se realmente
É assim, travar a língua é o que se deve:
Mais triste é um caso longo do que um breve".

 

VI, 2

Ela é coração... e ele, cabeça...

Mais outra coisa (mas só Deus sabe essa!).

 

VI, 5 (Antônio e Cleópatra)

Morrem — ele, aos cinquenta; ela, aos quarenta.
Pena não tenha sido aos vinte e aos quinze,
Quando tudo a um esporte se aparenta
— Riquezas, reinos, mundos, com afins e

Iguais. Eu lembro que vida opulenta

Ou mundos eu não tinha nos meus teens e

Dei o que tinha — o coração. Sem dó,

Dou hoje ao mundo o que ele vale — e é só.

 

VIII, 12

São trezentos canhões, chovem eméticos
E comprimidos — trinta mil fuzis —
Granizo de sangrentos diuréticos.
Ó Morte, a sua conta pede bis:
Pragas, miséria, hipócrates ascéticos
Porfiam dobrar a ação dos bisturis
Na dor humana, como fogo em palha,
Mas cedem ante as cenas de batalha.

 

IX,   20

Deus imortal, que é teogonia?

Homem mortal, que é filantropia?

Mundo atual, que é cosmogonia?

Alguns me acusam de misantropia,

Mas não sei mais que o pau — que agonia!—

Desta mesa. Mas, já, licantropia,

Sei o que é: sem mudar nada,

O homem vira lobo por um nada.

 

IX, 55, 56

Quem descreve essa entrada e essa saída,

Causa teterrima e ventral das lutas

Ou não se banha na fonte da vida

(pausa) e da morte? Assim, são vãs disputas

As de saber da queda-, proibida,

Viu-se a ciência sem primeiras frutas.

Mas desde então sua lei já se conhece

— De como o homem sobe e como desce.

 

"A pior causa das guerras", uns proclamam,
Mas eu acho a melhor, pois afinal
Vão a você até os que não amam
E de você vêm todos. Qual o mal,
Se o mundo arrasam, se as cidades clamam
Por você, provedora universal?
Com/sem você, tanto se salva ou peca,
Água da vida numa terra seca!

 

XII,  40

Agora, vou ser imoral, agora
Hei de mostrar as coisas como são,
Não como devem ser — já está na hora.
Sem saber que é o que, de fato, não
Se avança ou progride na melhora
Daquele arado que mal roça o chão
Da marga negra estercada com vício
Só pra manter do preço o benefício.

 

XIII, 6

Ódio é prazer comprido, vida e meia:
Ama-se às pressas, com vagar se odeia.

 

XIII, 40

Muita cautela, marujos novatos

Que se propõem cruzar o Mar Mulher;

Já os lobos do mar — lição dos fatos —

Busquem porto seguro — o Tempo o quer —

Antes que o SOS cinza aos atos

Humanos mostre o fim, com seu preté-

Rito "já era": vai-se o animus vitae

Entre a ânsia do herdeiro e a dor da artrite.

 

XIV, 26

Bem maldosa é a expressão "rabo-de-saia".
Mesmo quem vai atrás nega o seu mando,
Embora de mau grado (não se traia!)
Como quem come sapo. Mas, lembrando
Que sob a saia, aos trancos, nesta raia
Vital nascemos, eu pertenço ao Bando
Da Saia Mística — em mulher bonita
Ou não, ou pobre ou rica, em seda ou chita.

 

XIV, 73

Há uma coisa que nos faz perplexos
(Se Tirésias não formos, que provou,
Como em rodízio, os mais diversos sexos):
É não sabermos ser amados ou Amar:
o sensual vive de "ex-os", E o coração fiel diz:
"Eu não vou". Pois juntos formam um centauro arisco Que não se pode cavalgar sem risco.

 

XV,  1

A vida é interjeição, nega e não nega:

É um "oh" ou "ah!", de júbilo ou miséria;

É um "ra-ra-rá", um "pô", um tédio, um "chega

— E esta talvez é a ex-clamação mais séria.

 

XV, 8

Enquanto isso, Morte, poupe a pobre
Beleza, coisa rara e que falta
Não lhe faz, mesmo quando um erro encobre:
Farte-se embaixo, que a beleza é alta,
Magra gulosa — e que nação não sobre:
Seja civilizada em meio à malta,
Suprima alguns achaques de mulher
E leve os heróis todos que puder.

 

XV, 68

Boas aquelas trutas — e seguidas
De petits puits d'amour, um prato leve,
De vária culinária, com medidas
E temperos a gosto: cada um deve
Prová-lo sempre antes das mordidas
(Um olho na receita, ainda que breve).
Mesmo com contornos comezinhos,
Há muito degustar nesses pocinhos.

 

XV,  76

Às vezes vejo ouvidos nos olhares

Delas, ouvir que à toa se refuta.

Há sempre um eco em seus auriculares,

Sem que se saiba a fonte da permuta,

Tal música de esferas estelares,

Que é muito alta, mas ninguém escuta.

É incrível como ouvem, no ar suspensos,

Sem palavras, diálogos imensos!

 

XVI, 37

"Bem, na última vez..." "Por favor", disse

Adeline, que conhecia de cor

O cenho de Juan, chorasse ou risse,

Segura e certa de saber a cor

Certa de cada traço ou signo, "me si-

Ga ou largue, mas não zombe, por favor,

Que essa velha história já fez danos

E não melhora nada com os anos."

 

XVI, 58

Eu conheci um gótico moderno,
Pedreiro de babel — um arquiteto —
Que veio examinar o muro externo,
As paredes internas, mais o teto

Da abadia — e descobriu o inferno
Na cripta: não tardou o seu projeto
De atroz demolição-e-construção,
Também chamado de restauração.

 

XVI, 114

Som de dedos molhados sobre um vidro.

 

XVII,       11

Genial não sou — mas, às vezes, genioso;
Modesto — mas com certa segurança;
Mutável, sim — mas voluntarioso;
Paciente — sem querer perseverança;
Jovial — mas à lamúria tendencioso;
De boa paz — mas propenso à vingança.
Chego a pensar, se às vezes me concentro:
Sou dois por fora a cada um por dentro.

 

 

 

 

TEXTO EM INGLÊS

 

 

"Lines Inscribed Upon A Cup Formed From A Skull"

         (Lord Byron)

 

 

"Start not—nor deem my spirit fled:

In me behold the only skull

From which, unlike a living head,

Whatever flows is never dull.

 

I lived, I loved, I quaffed like thee;

I died: let earth my bones resign:

Fill up—thou canst not injure me;

The worm hath fouler lips than thine.

 

...

 

Where once my wit, perchance, hath shone,

In aid of others' let me shine;

And when, alas! our brains are gone,

What nobler substitute than wine?

 

Quaff while thou canst; another race,

When thou and thine like me are sped,

May rescue thee from earth's embrace,

And rhyme and revel with the dead.

 

Why not—since through life's little day

Our heads such sad effects produce?

Redeemed from worms and wasting clay,

This chance is theirs to be of use."

 

 

CLÁSSICOS JACKSON – VOLUME XXXIX  POESIA 2º. Volume. Seleção de ARY MESQUITA.  São Paulo, SP: W. M. Jacson Inc., 1952.  293 p.  encadernado.         14 x 21,5 cm         Ex. bib. Antonio Miranda 

       
PARISINA

    Fragmento

( Tradução de
MUCIO TEIXEIRA )


I
É o momento solene, a hora silenciosa
Em que dos rouxinóis a música saudosa
Soa no arvoredo.  É a hora indefinida
Em que os beijos de amor como que têm mais vida.
É a hora em que o som das virações das matas
Se casa à grande voz da queda das cascatas;
As tristezas de um sábio e os êxtases dum crente.
Adorna-se o azul de estrelas cintilantes,
Nas flores derramando as gotas cambiantes
Do orvalho, que parece o cristalino pranto
Das lágrimas do céu... É mais escuro o manto
Dos bosques; e do lago a superfície azul
Arrufa-se ao passar das virações do sul.
A luz crepuscular vasqueja, a estremecer,
Vendo por sobre um monte a lua aparecer.



II
Mas não é para ouvir a bulha das torrente,
Nem o leve rumor dos zéfiros plangentes,
Que Parisina desce a escadaria vasta
Do castelo feudal dos nobres D´Este: afasta
O portão do jardim, entra, assustada, incerta;
Não sabe o que fazer: — colhe uma flor aberta,
Escuta... mas não é a voz dos rouxinóis
Que ela deseja ouvir nus líricos bemóis;
Espreita... ouve um rumor que lhe fere o ouvido,
E empalidece: então, precípite, oprimido,
Sente com violência o coração pulsar;
ouve distintamente alguém pronunciar
O seu nome, estremece: e neste mesmo instante
Atira-se em delírio de carícias do amante,
Que lhe espalha no seio os seus próprios desejos
Ao sopro varonil de impetuosos beijos.
E as flores em redor ouviam os gemidos
Daqueles corações estreitamente unidos!...


III
Sentistes no peito acaso
A labareda que lavra,
Esse fogo que a palavra
Não consegue definir?
Um não sei quê indizível,
Um fluido misterioso
Que nos invade dum gozo
Que faz chorar e faz rir?

Sentires no peito acaso
Essa dormência suave
Que é fita de penas de ave
E de clarões de luar?
Isso que faz com que o homem,
Diante de todos, de tudo,
Fique inerte e fique mudo,
Sem nada ver, mesmo a olhar?

Sentistes no peito acaso
Essa fagulha esquisita,
Que irrompe, lavra e crepita,
A devorar-nos sem dor?
Ah! os que amaram, que digam
Se vão nas asas dos ventos
Os grandes deslumbramentos
Dum só instante de amor!...

Pergunto, aos que têm amado,
Se nesse momento amigo
Recuaram de um perigo,
Ou tremeram de pavor:
E no entanto é forçoso
Que, sem perder um instante,
Se afaste tão louco amante
Da amante — louca de amor!


IV

Trocando juramentos, entre beijos,
Deixam os dois o tálamo das flores,
— Onde mataram férvidos desejos
De criminosos, infernais amores!...

Abandonam o leito do adultério
Com aquele remorso concentrado
De quem esconde um crime no mistério,
Sem ver que a consciência anda a seu lado.

Ela, inquieta, nervosa, — e sempre linda —
Aperta-o contra os seios palpitantes;
E fugindo, a correr, — volve-lhe ainda
Os grandes olhos húmidos, brilhantes!

Ele, na embriaguez voluptuosa
Dos perfumes subtis da flor do crime,
Vendo-a fugir-lhe, tímida e medrosa,
Sente aquilo que o homem nunca exprime!...

Trocando olhares e atirando beijos,
Mil promessas e juras renovavam;
Loucos! ardendo em febre de desejos,
Era a última vez que se abraçavam!

— “Adeus!” — “Adeus!” — Indiferente e calma
A lua os viu, no trágico momento
Em que sentiram enroscada n´alma
A serpe de um fatal pressentimento!...

Como a sombra seguindo silenciosa
Atrás do corpo, e o cão junto do dono,
A consciência (mandando, imperiosa,
Que o remorso do crime agite o sono),

Não o deixa.  É a luz que bruxoleia
No silêncio das câmaras mortuárias;
É a fera, que à luz da lua cheia
Penetra nas cavernas solitárias.

   
V   

Hugo jaz no seu quarto, entregue às mil lembranças
Da entrevista de amor, aquele amor fatal
Que ameaça arrebatar-lhe as verdes esperanças
Na voragem do mal.

Enquanto, em turbilhões, os sensuais desejos
Assopram no seu peito as brasas da paixão,
Parisina, a sonhar, aperta alguém, aos beijos,
Contra o seu coração.

Mas a quem abraçava? o desgraçado esposo,
Que nada suspeitava; e o triste, ao despertar,
Recua de surpresa: e, atento, cauteloso,
Sustém o respirar.

Ironia da sorte! — escárnio da ventura
Lançado assim às cãs de um trêmulo ancião!
O pranto do carrasco! o riso da loucura!
O beijo da traição!...

 

VI

Parisina sonhava...  e assim beijava
Do nobre esposo, a fronte veneranda,
Fronte que ela de espinhos coroava;
Julgando que estreitava
Numa carícia branda
Bem contra o coração
O peito palpitante
Do seu robusto e juvenil amante.
Alto o luar boiava na amplidão.

Sonhava!...  E que tremenda punição
Veio cortar-lhe os os sonhos
Inefáveis, risonhos,
Onde se reproduzem as carícias,
O êxtase sem fim,
O gozo forte e as trêmulas delícias
Entre as flores e as sombras do jardim.

D´Aso desperta ao crepitar dos beijos
Que o vento dos desejos
Soprou nos lábios quentes, purpurinos,
Da esposa adormecida.

E ela... tão linda! de cabelos soltos,
Seminua, estendida
Por sobre a alvura dos lençóis revoltos...
Ele escutava os hinos,
Umas notas de músicas distantes:
Eram ais e suspiros repetidos,   
Uns soluços pungentes,
Uns estremecimentos, uns gemidos
Borrifados de brilhos palpitantes
De umas lágrima claras, opalinas.

Como se fossem pedras de brilhantes
Agitadas em taças cristalinas;
E um choro preso, histérico, teimoso
Num espasmo nevrálgico de gozo.
Mas, de volta com lânguido queixumes,
Soam frases de amor, entrecortadas,
Que expiram, esvaídas nos perfumes
Das tranças longas, negras, enroscadas.

D´Aso atento, anelante,
Vendo-a em tanta volúpia inda mais bela,
Vai beijá-la na boca... Neste instante
Descerram-se de manso aos lábios dela,
E o nome, não do esposo, mas do amante,
Soa, com a tremenda vibração
De uma eterna e terrível maldição!...

Em delírio, sem luz, sem ar, sem calma
O grande desgraçado
Recua, espavorido, aniquilado,
Sentindo um peso de montanhas n´alma!

Para pintar ao vivo horror tamanho,
Fora mister reproduzir o brilho
Do rápido olhar dele, no momento
Em que, para requinte do tormento,
Em vez dum inimigo, ou dum estranho,
Ouviu o nome — de seu próprio filho!...
.......................................

**

 

       INÊS

       Do CHILDE HAROLD

       ( Tradução de FRANCISCO OCTAVIANO )


Ai! não sorrias, não! Meu rosto macilento
Não pode responder a teu sorriso, Inês:
Afaste o céu piedoso de teus formosos olhos
As lágrimas de sangue que verto, em vão talvez!

E queres tu saber o íntimo quebranto,
Que surda e lentamente corrói os dias meus?
Ai! não te digo, não!  As penas de minh´alma
Não podem se delícias, nem pela mão de Deus!

Não foi amor descrido, não foi ódio revolto,
Não foi despeito baixo das lutas de ambição
Quem me arrancou da pátria, e me arrojou nos mares,
Quem me entranhou no peito tanta desolação.

Fadiga de prazeres, fadiga de desgostos,
Tédio fatal da vida, eis o martírio meu;
Gelou-se o coração, nem podem despertá-lo
Os olhos sedutores que Deus te concedeu.

Do criminoso hebreu, eterno peregrino,
Rodeia-me a tristeza, fatídica, sombria;
Quero encarar o mundo, e o mundo me horroriza,
Mas também me constrange pensar na laje fria.

Lustrando várias terras, que assim me coube em sorte
O ´spectro do passado sempre ante os olhos vi:
Sabes, acaso, Inês, qual é o meu consolo?
Que todo o mal que eu sofra, muito maior sofri.

Nem procurando exílio na zona a mais remota,
Posso escapar à sanha de meu feroz tormento:
Lá mesmo me acompanha, lá mesmo me persegue
Da vida esse domônio chamado Pensamento.

 

*

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