| POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS Fonte:  www.poets.org   LAWRENCE  FERLINGHETTI    (Yonquers, Nova Iorque, 24 de março de 1919) é um poeta,  editor e pintor americano da Geração Beat, mais conhecido pela sua obra poética  e por ter sido o responsável pela divulgação em livro de todos os maiores  expoentes daquele movimento e suas maiores obras. (...)   Sendo Ferlinghetti considerado, por vezes um anarquista,  por vezes um social-democrata, é comum à sua poesia os temas sociais e políticos,  embora retratados de forma muito profunda e artística, explorando a função  poética da linguagem. Seu livro mais conhecido é “A Coney Island of the mind”.  Emprestando a plasticidade da pintura, seus poemas, apesar de forte influência  surrealista, permitem a visualização de cenas delicadas, via de regra cheias de  jogos de luz e cor. A delicadeza de seus poemas lembra um pouco os versos de  Apollinaire, inclusive pelo ritmo normalmente melodioso, mas alternando versos  longos e curtos, lembrando as modulações de ritmo do be bop. Estes, na maioria,  são distribuídos de forma não-linear, não se colocando um imediatamente abaixo  do outro. Em outros poemas do livro, a cadência dos versos muitos longos ou  apenas mais regulares em termos de extensão e alinhamento (comuns em outras  obras do autor) lembra a de Walt Whitman, ou a de um RAP. Apesar de sua feição  essencialmente moderna, pode-se dizer que, via de regra, todos os seus poemas  contém dois elementos que são constitutivos de um poema tradicional: ritmo e  imagem.   (fragmentos de Wikipedia)   
                    
                      
                        |  |  REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 3,  jan./jun. No. 5 – jan./jun. 2021. Editor: Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora  Cajuína, Opção editora, 2023. 168 p. ISSN 2674-8495                      TRADUÇÃO DE  MARCOS FREITAS   TRADUÇÃO DO INGLÊS 
 
    Nos bosques onde correm muitos rios
 Nos bosques onde correm  muitos rios
 entre as não curvadas colinas
 e campos da nossa infância
 onde pilhas de feno e arco-íris se  misturam na memória
    embora  nossos “campos” fossem ruas     Eu vejo  novamente aquela miríade de manhãs surgiremonde cada coisa viva
 lança sua sombra na eternidade
 e durante todo o dia a luz
 como o início da manhã
 com suas secas sombras sombreando
    um paraísoque eu mal tinha sonhado
 nem mal sabia pensar
 deste dia de barba por fazer
 com suas gralhas zombeteiras
 que se erguem acima das árvores secas
 e grasna e grita
 e questiona cada
 primavera e coisa
 
 
 Extraído de 
 alguma poesia. jornal.  Ano I – agosto/setembro de 1983. No. 1.  Rio de Janeiro, RJ. Direção de Carlos Lima -   Moacyr Félix.
   Tradução de Maria Moreira. 
                    Ele Ele é um dos  profetas que retornaEle é um dos profetas de longos cabelos que retorna
 Ele tinha uma barba no Velho Testamento
 mas  raspou-a em Paterson
 Ele tem um microfone em torno do pescoço
 numa  leitura de poemas
 e  ele é mais que um poeta
 e  ele é um velho homem perpetuamente escrevendo um poema
 sobre  um velho homem
 do  qual cada terceiro pensamento é Morte
 e  que está escrevendo um poema
 sobre  um velho homem
 do  qual cada terceiro pensamento é Morte
 e  que está escrevendo um poema
 Como  o desenho numa caixa de aveia Quaker
 que  mostra uma figura segurando uma caixa
 sobre  a qual está o retrato de uma figura
 segurando  uma caixa
 e  a figura cada vez menor
 e  cada vez mais distante
 um  retrato da própria realidade fugidia
 Ele é um dos profetas que retorna
 para  ver para ouvir para colher novos dados
 sobre  o presente estado
 do  mundo fugidio
 Ele tem ganchos em seus olhos
 com  os quais ele se lança
 a  cada metro da existência
 e  sobre cada mínimo ranger
 da  natureza do real
 E  seu olho se crava
 sobre  cada pessoa ou coisa eventual
 e  espera que se mova
 como  um gato com um rato branco morto
 suspeitando  que a coisa esconde
 alguma  pequena chave para a existência
 e  ele espera gentilmente
 que  a coisa revele sua essência
 ou  dela ou dele
 e  ele é manso como o cordeiro de Deus
 loucamente  cortado em postas
 E  ele colhe cada objeto suspeito
 e  ele colhe cada pessoa ou coisa
 a  examina e sacode
 como  um rato branco com um pedaço de linha
 que  pensa que a coisa está viva
 e  sacode para que fale
 e  sacode para que viva
 e  sacode para que fale
 Ele é um gato que se arrasta na noite
 e  adormece seu ar de Buda na hora violeta
 e  está atento par ao som de três mãos prestes a aplaudir
 e  lê o roteiro no alto de seu crânio
 seu  hieróglifo da existência
 Ele é um cu falante numa vara
 ele  é um walkie-talkie com duas pernas
 e  ele leva o fone ao ouvido
 e  ele leva o fone à boca
 e  ele fala com uma língua animal s
 e  o homem imaginou uma linguagem
 que  nenhum outro animal compreende
 e  sua língua vê e sua língua fala
 e  seu próprio ouvido ouve o que é dito
 e  cola em sua cabeça
 e ouve morte morte
 e  ele tem uma língua para dizer isto
 que  nenhum outro animal compreende
 Ele é uma raiz dupla que caminha
 com  um olho de madeira vazado no meio da sua cabeça
 e  seu olho gira para fora e para dentro
 e  vê e delira
 delira  e vê
 E ele é o olho delirante da quarta  pessoa do singular
 da  qual ninguém fala
 e  ele é a voz da quarta pessoa do singular
 na  qual ninguém fala
 e  a qual no entanto existe
 com  uma cabeça comprida e uma cara de papel
 e  o longo louco cabelo da morte
 do  qual ninguém fala
 E ele fala de si mesmo e ele fala da morte
 de  sua mãe morta e sua Tia Rosa
 com  seus longos cabelos e suas longas unhas
 que  crescem e crescem
 e  elas retornam em sua fala com unhas sem polir
 E ele retornou com seu cabelo negro
 e  seu olhos negro e seus sapatos negros
 e  o grande livro de suas anotações
 E ele é um grande pássaro negro com pé erguido
 para  volver o som da vida revelando sua essência
 na  concha de seus sentidos
 e  ele fala para cantar para sair de sua pele
 e  ele arranha com sua língua esta concha
 e  ele bate com seus olhos na concha
 e  vê luz luz e ouve morte morte
 da  qual ninguém fala
 Pois ele é uma cabeça com visões de cabeça
 e  seu é o olhar do lagarto
 e  sua visão sem trancas é a porta
 na  qual ele se detém e espera e ouve
 a  mão que bate e aplaude e aplaude e bate
 sua Morte Morte
 Pois ele é sua própria revelação e êxtase
 e  ele é a sua própria alucinação
 e  ele é sua própria fuga
 e  seu olho gira na fugidia cabeça do mundo
 e  escuta seu órgão falar Morte Morte
 uma  música de surdos
 Pois ele chegou ao fim do mundo
 e  ele é a carne fremente feita palavra
 e  ele fala a palavra que escutou em sua carne
 e  a palavra é Morte
                                                Morte  Morte                   Morte  Morte                                                                   Morte  Morte                                                Morte                        Morte   Morte                                                            Morte  Morte          Morte  Morte                                       Morte  Morte                                                              Morte   Morte                                                                                      Morte     Página publicada em junho de 2018     
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