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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

KONSTANTINOS KAVÁFIS

 

Konstantínos Kaváfis, no alfabeto grego: Κωνσταντίνος Πέτρου Καβάφης, (Alexandria, 29 de abril de 1863 — Alexandria, 29 de abril de 1933) foi um poeta grego, geralmente considerado o maior nome da poesia em idioma grego moderno. Por vezes, seu nome aparece creditado como Constantine P. Cavafy. Em sua poesia, 154 poemas reelaborados durante a vida inteira, unia citações eruditas à fala cotidiana.

Constantine P. Cavafy (Kavafis), nasceu em Alexandria (Egipto) em 1863. Ainda que tivesse nascido em terras egípcias, Kavafis era grego, pois pertencia a numerosa colônia helênica que floresceu nessa cidade mediterrânea. A condição de estrangeiro, na própria terra, pode ser realçada pelo fato de que conhecia muito pouco o árabe, língua materna da quase totalidade da população egípcia. Mas é sempre importante lembrar que a Alexandria, do período em que viveu Kaváfis, era cercada por um contexto social bem mais cosmopolita do que o que se apresenta em nossos dias, resultado da política de nacionalização empreendida, na década de cinqüenta do século XX, pelo, então, presidente egípcio Gamal Abdel Nasser.

O seu pai morreu em 1870, deixando a família em precária situação financeira. A sua mãe e os seus seis irmãos mudaram-se para Inglaterra dois anos depois. Devido a má administração dos bens da família por parte de um dos filhos, a família foi forçada a regressar a Alexandria, na pobreza.

Os sete anos que Kaváfis passou em Inglaterra foram importantes na formação da sua sensibilidade poética. O seu primeiro verso foi escrito em inglês (assinando 'Constantine Cavafy'), e o seu subsequente trabalho poético demonstra uma familiaridade substancial com a tradição poética inglesa, em particular as obras de William Shakespeare e Oscar Wilde.

Os anos que se seguiram, de regresso a Alexandria, representaram tempos de pobreza e desconforto, mas revelaram-se igualmente significativos no desenvolvimento da sensibilidade de Kavafis. Este escreveu os seus primeiros poemas — em inglês, francês e grego — durante este tempo, em que aparentemente também teve as primeiras relações homossexuais.

Tendo trabalhado durante trinta anos na Bolsa de Valores Egípcia, Kavafis permaneceu em Alexandria até sua morte, que ocorreu em 1933, por motivo de câncer de laringe.

Kaváfis era um cético e questionava a Cristandade, o patriotismo e a heterossexualidade. Publicou 154 poemas e cerca de mais uma dúzia permaneceram incompletos ou no esboço.

Kavafis em vida não publicou nenhum livro. Seus poemas eram distribuídos em feuilles volantes (folhas soltas) ou, então, publicados em algumas revistas literárias.

O mais próximo de um livro, foram dois opúsculos que imprimiu: o primeiro, em 1904, com dezesseis folhas e o segundo, em 1910, com vinte e quatro folhas.

Em 1935 publicou-se o livro póstumo com os 154 poemas. Esta editio princeps consistia basicamente em uma coletânea das diversas feuilles volantes que fizera o poeta greco-alexandrino. Os poemas da editio princeps acabaram por receber o nome de canônicos. Entretanto, havia outros: inéditos, inacabados, repudiados que não fizeram parte do livro de 1935. Esses poemas infelizmente não foram ainda traduzidos para o português em sua totalidade.    Fonte: wikipedia

 

KAVÁFIS, Konstantinos77 poemas de konstantinos kaváfis   traduzidos do grego por Théon Spanúdis. (segunda, revisada edição).  São Paulo, SP: Livraria Kosmos Editora, 1979.   96 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

         Muralhas

         Sem preocupação, sem dó, e sem pudor
grandes muralhas altas ao meu redor me levantaram.

         E agora aqui sentado perco a esperança.
Domina o meu pensamento este negro Fados

         Porque eu tinha muita coisa a fazer lá fora.
Ah, quando erguiam-se as muralhas, como que eu não o sentisse.

         Mas nunca ouvi um som, ruído dos pedreiros,
insensivelmente me fecharam fora deste mundo.

 

         As almas dos velhos

         Dentro dos corpos velhos, desgastados
ficam sentadas, as almas dos idosos.
Quão tristes, desoladas são as pobres
E como são enfadadas com a vida que elas levam.
estas contraditórias, confusas —
dentro das velhas peles enrugadas.

 

         Candelabro

         Num quarto oco e coto, quatro paredes só,
cobertas todas com os panos verde puro,
inflama um candelabro belo em plena orgia
e dentro cada chama sua arde intensa
a comoção dita anormal, um anormal desejo.

         Dentro do quarto singular que arde iluminado
com este fogo flâmeo do belo candelabro,
não é luz corriqueira que emana da sua alma.
Por corpos que não são bem arrojados
não é propício o fervor deste hedonismos.

 

         Introspecção

         Anos de juventude e hedonismo —
como clareia agora o seu sentido.

         Que arrependimentos tolos e vazios...

         Mas neste tempo não chequei a ver o seu sentido.

         Na relaxada vida de um jovem
formavam-se da minha poesia os voos,,
delineava-se a fronteira da minha arte.

         Por isto os arrependimentos não duravam.
E decisões de conter-me, de mudar-me
permaneciam ao máximo duas semanas.

 

         Emiliano Monái, Alexandrino
628-655 após Cristo

         Com logos, fisionomia e maneiras
farei uma excelsa armadura
e enfrentarei assim as vis pessoas
sem medo ou fraqueza.

         Desejarão prejudicar-me. Mas não saberá
ninguém daqueles que se aproximarão,
onde tenho feridas, vulneráveis membros,
debaixo das mentiras que me cobrirão.

         Dizeres gabadores de Emilianós Monái.
Será que ele jamais fez a armadura assim?
Em todo caso não a vestiu muito tempo.
Com vinte e sete anos em Sikelía morreu.

 

         Veio pra ler —

         Veio pra ler, e são abertos
dois, três livros de historiadores e poetas.
Mas quando leu mais ou menos dez minutos,
abandonou-os.  Agora no sofá
adormeceu. Entregue todo aos livros —
mas ele tem vinte três anos, e é tão belo
e hoje à tarde o eros apalpou-o
na sua carne ideal, nos seus lábios.
Na carne que é de imácula beleza
passou todo o calor do erotismo
sem o ridículo pudor pela forma do gozo...
 

 (Poesia homoerótica – homossexual

 

KAVÁFIS, Konstantinos. 60 poemas. Seleção e tradução Trajano Vieira.  Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2007.  159 p. 14 x 21 cm.   Projeto gráfico e capa TOMÁS Martins. Edição bilíngue Português – Grego. ISBN 978-85-7480-362-3   Ex. bibl. Antonio Miranda.     

“Esta coletânea  (...) busca oferecer ao leitor de língua português algo da sutileza coloquial do autor grego. Normalmente, o poeta é vertido em nossa língua de maneira prosaica, e tanto os efeitos de sua ironia quanto a caracterização requintada dos personagens que figuram em seus textos ficam obscurecidos pela dicção desatenta ao estilo original.”

 

         AS JANELAS

        No escuro do habitáculo eu passo
a depressão dos dias e meus passos
buscam janelas. Quando abrir-se uma
delas, peço ao fulgor que me consuma.
Mas janela não há, ou não consigo
vê-la. Que fique ausente, a sós, consigo!
Talvez a luz tão-só renove a dor.
Quem sabe a nova que ela irá me impor?

       
DESEJOS

        Feito os corpos que morrem juvenis e belos,
chorados à clausura de um mausoléu magno,
com pétalas à testas, com jasmim nos pés,
assim transcorrem os desejos que abortam,
alheios à voluta de uma noite única,
ao rútilo clarão do se amanhecer.

 

        FUI

        Não me retive. Abri-me inteiro e fui.
À voluptuosidade, real às vezes,
concretizada às vezes em meu cérebro,
fui, no luzidio pleno de uma noite.
Goles de vinhos encorpados, como sói ser
com quem desteme o prazeroso.

 

 

/Mais 57 poemas de Kaváfis no livro, disponível em livrarias físicas e virtuais.../       

 

 KAVÁFIS, K.   Poemas de K. Kaváfis.  Trad. Isis B. da Fonseca.  São Paulo: Odysseus Editora, 2006.    406 p.   14 x 21 cm.  ISBN S85-88023-79-2   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

ΤΕΙΧΗ

 

 

Χωρίς περίσκεψιν, χωρίς λύπην, χωρίς αιδώ
μεγάλα x"* υψηλά τριγύρω μου Εκτισαν τείχη.

 

Καί κάθομαι και άπελπίζομαι τώρα εδώ. "Αλλο δεν σκέπτομαι: τον νουν μου τρώγει αυτή ή τύχη*

 

διότι πράγματα πολλά Εξω νά κάμω εϊχον.
*Α δταν Εκτιζαν τά τείχη πώς νά μην προσέξω.

 

Αλλά δέν άκουσα ποτέ κρότον κτιστών ή ήχον.
Ανεπαισθήτως μ' Εκλεισαν άπό τόν κόσμον Εξω.

 

[1897]

 

 

1. MURALHAS

 

 

Sem consideração, sem piedade, sem pudor,

grandes e altas muralhas em torno de mim construíram.

 

E agora estou aqui e me desespero.

Outra coisa não penso: este destino devora meu espírito;

 

porque muitas coisas lá fora eu tinha que fazer.

Ah! quando construíam as muralhas, como não dei atenção?

 

Entretanto, jamais ouvi batidas ou rumores de pedreiros. Imperceptivelmente, encerraram-me fora do mundo.

 

 

 

ΕΠΙΘΥΜΙΕΣ

 

Σαν σώματα ώραία νεκρών πού δεν έγέρασαν
καί τακλεισαν, μέ δάκρυα, σέ μαυσωλείο λαμπρό,
μέ ρόδα στο κεφάλι καί στά πόδια γιασεμιά —
ετσ"* ή έπιθυμίες μοιάζουν πού έπέρασαν
χωρίς νά εκπληρωθούν χωρίς ν' άξιωθεί καμιά
της ηδονής μιά νύχτα, ή Ινα πρωί της φεγγερό.

 

[1904]        

        

 

16. DESEJOS

 

Como belos corpos de mortos que não envelheceram

e foram encerrados, com lágrimas, em magnífico mausoléu,

com rosas na cabeça e jasmins nos pés —

assim se lhes assemelham os desejos que passaram

sem se realizar, sem que nenhum

alcançasse uma noite de prazer, ou sua manhã luminosa. 

 

KAVÁFIS, Konstantinos.   Poemas.  Seleção, estudo crítico, notas e tradução direta do grego por José Paulo Paes.   Rio de Janeiro:  Nova Fronteira, 1982.    190 p. (Coleção Poiesis)   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

CANDELABRO

 

Quarto pequeno, vazio, quatro paredes somente,
com um tecido de cor verde recamadas;
a iluminá-lo todo, um candelabro refulgente;
ardendo em cada chama sua, se pressente
uma volúpia mórbida, um ímpeto lascivo.

 

O quarto minúsculo se abrasa no calor

do candelabro de luzes extremadas;

nada há de banal nessas luzes, nem se deve supor

que seja feito para corpos tímidos o ardor

desse prazer tão vivo.

 

 

 

O SOL DA TARDE

 

Este quarto, este quarto eu o conheço bem.
Agora está alugado, assim como o vizinho,
para fins comerciais: a casa toda ocupam
escritórios de câmbio e vendas, companhias.

 

Ah este quarto, como me é familiar.

 

Ali, ao lado da porta, ficava o divã

com um tapete turco à sua frente;

na estante perto, dois vasos amarelos.

À direita, não, defronte, um armário de espelho.

Bem no centro, a mesa onde escrevia

e as três grandes cadeiras de palha.

Debaixo da janela estava o leito

onde tantas vezes nos amamos.

 

Pobres móveis, hão de ainda existir nalgum lugar.

 

Debaixo da janela estava o leito;

o sol da tarde lhe chegava até a metade.

 

Foi de tarde, às quatro horas, que nós dois nos despedimos por uma semana só. . . uma semana,
ai de mim, que se fez eternidade.

 

 

 

KAVÁFIS, K.   ΚΡΥΜΜΕΝΑSegredos.   Trad. M. Sulis, M. Jolkesky, A. Nocolacópulos.  1ª. edição – 2ª tiragem (de 50 exemplares, ex. n. 01.  Desterro, SC:    Edições Nephelibata, 2009.  86 p.   Ex. bBibl. Antonio Miranda

 

ο ΣΕΠΤΕΜΒΡΗΣ ΤΟΥ 1903

 

Τουλάχιστον μέ πλάνες άς γελιούμαι τώρα
την άδεια την ζωή μου νά μή νιώθω.

 

Και ήμουνα τόσες φορές τόσο κοντά.
Και πώς παρέλυσα, και πώς δείλιασα*
γιατί νά μείνω μέ κλειστά τά χείλη*
και μέσα μου νά κλαίει ή άδεια μου ζωή,
καινά μαυροφορούν οί επιθυμίες μου.

 

Τόσες φορές τόσο κοντά νά είμαι
στά μάτια, και στά χείλη τά ερωτικά,
στ' ονειρεμένο, τό άγαπημένο σώμα.
Τόσες φορές τόσο κοντά νά είμαι.

 

         [1904]

 

SETEMBRO DE 1903

 

Que ao menos com ilusões eu me engane agora;
para não sentir minha vida vazia.

 

E estive tantas vezes tão perto.

E como me paralisei, e como me acovardei;

por que ficar com os lábios fechados;

e minha vida vazia a chorar dentro de mim,

e meus desejos a vestirem-se de preto.

 

Estar tantas vezes tão perto
dos olhos, e dos lábios eróticos,
do sonhado, amado corpo.
Estar tantas vezes tão perto.

 

[1904]

 

 

 

ΣΤΟ ΘΕΑΤΡΟ

 

 

Βαρέθηκα να βλέπω την σκηνή,

και σήκωσα τα μάτια μου στά θεωρεία.

Και μέσα σ' ένα θεωρείο είδα σένα

με τήν παράξενη έμορφιά σου, και τά διεφθαρμένα νιάτα.

Κι άμέσως γύρισαν στον νοΰ μου πίσω

όσα με είπανε τό άπόγευμα γιά σένα,

κ' ή σκέψις και τό σώμα μου συγκινηθήκαν.

Κ' ένώ έκοίταζα γοητευμένος

τήν κουρασμένη σου έμορφιά, τά κουρασμένα νιάτα,
τό ντύσιμο σου τό έκλεκτικό, σε φανταζόμουν και σε είκόνιζα, καθώς μέ είπανε τό άπόγευμα γιά σένα.

 

[1904]

 

 

NO TEATRO

 

Cansei-me de olhar a cena,

e levantei meus olhos aos camarotes.

E em um camarote vi a ti

com tua beleza estranha, e a juventude depravada.

E de imediato voltou a minha mente

tudo o que me disseram à tarde de ti,

e meu corpo e mente emocionaram-se.

E enquanto olhava encantado

tua beleza cansada, a juventude cansada,

teu vestir seleto,

imaginava-te e delineava-te

como me disseram à tarde de ti.

[1904]

 

 

VEJA TAMBÉM:
https://www.amazon.com.br/EU-KONSTANTINOS-KAV%C3%81FIS-ALEXANDRIA-ALEJANDR%C3%8DA-ebook/dp/B07GJM9XYL+

 

 

Página publicada em junho de 2018; ampliada e republicada em agosto de 2018. Ampliada em setembro de 2018.

 

 

 

 
 
 
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