POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
JULES LAFORGUE
Jules Laforgue (Montevidéu, 16 de agosto de 1860 — Paris, 20 de agosto de 1887) foi um poeta inovador e romancista de idioma francês, muitas vezes tratado como um poeta simbolista, porém, mais frequentemente classificado como decadente. Críticos e comentaristas da sua obra também têm defendido uma influência do Impressionismo na sua poesia.
Biografia completa em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jules_Laforgue
Extraído de
UMDEGRAU –uma revista na margen d´arte. No. 0 – setembro 1989. São Luis, MA.:
Marinálida Oficina da Imaginação, 1989. Edição e produção: Hentique Bois,
Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, Solange Bayma, Zeca. Ex. bibl. Antonio
Miranda.
Poemas traduzidos por Paulo Melo Souza:
REVISTA DA ACADEMIA BRASILIENSE DE LETRAS. Direção: Antonio Carlos Osorio. Brasília. No. 10 – Março 1991. Ex. bibl. Antonio Miranda
NOËL SCEPTIQUE
Jules Laforgue
Noël! Noël! j'entends les cloches dans la nuit...
Et j'ai, sur ces feuillets sans foi, posé ma plume:
O Souvenirs, chantez! Tout mon orgueil s'enfuit,
Et je me sens repris de ma grande amertume.
Ah! ces voix dans la nuit chantant Noël! Noël!
M'apportent de la nef qui, là-bas, s'illumine,
Un si tendre, un si doux reproche maternel
Que mon coeur trop gonflé crève dans ma poitrine.
Et j'écoute longtemps les cloches, dans la nuit...
Je suis le paria de la famille humaine,
À qui le vent apporte en son sale réduit
La poignante rumeur d'une fête lointaine.
NATAL CÉPTICO
(Trad. de Anderson Braga Horta)
Natal! Ouço cantar os sinos noite afora...
Nestas folhas sem fé cai-me a pena insegura:
ó lembranças, cantai! Foi-se-me o orgulho embora,
vem de novo tomar-me uma antiga amargura.
Ah! Estas vozes a cantar Natal Natal!
Vêm-me, ó noite,
trazer, da nave que cintila,
Tão tema e tão sutil censura maternal
que o coração, a ansiar, no peito se aniquila.
Sinos, sinos que em meio à longa noite escuto...
Ai! Da família humana eu sou o pária errante
a quem o vento leva, em seu negro reduto,
o pungente rumor de uma festa distante.
ATLAS Almak 88. São Paulo: 1988. 144 p. 31x43 cm. Ilus. col. Capa: Arnaldo Antunes, Zeto Borges, Zaba Mareau. Editores: Arnaldo Antunes, Beto Borges, G. Jorge Jorge, João Bandeira, Sérgio Alli, Walter Silveira, Zaba Moreau. Inclui poesia visual, arte visual e gráfica de poetas e artistas do período, entre eles Arnaldo Antunes, Duda Machado, Augusto de Campos, Leon Ferrari, José Lino Grunewald, Décio Pignatari, Hélio Oiticica e muitos outros!!! Tiragem: 1500 exs. Capa dura. Ex. bibl. Antonio Miranda
COMPLANTE DU PAUVRE CORPS HUMAIN
L´Homme est as compagne sont serfs
De corps, tourbirllonants cloaques
Aux mailles de harps de nerfs
Serves de tour et que détraque
Um fier répertoire d´attaques.
Voyex l´homme, voyez!
Si ça n´fait pas pitié!
Popre est correct em ses ressorts,
S´assaisroonant des modes vaines,
Il s´admire, ce brave corps,
Et s´admire, ce brave corps,
Et s´endrimanche pour as peine,
Quand il a bien sué la semaine.
Es as compagne! Allons,
Ma bell´, nous nous valons.
Faydrait le voir, touchant et nu
Dans um décor d´oiseaux, de roses,
Ses tics réflexes d´ingénu.
Se pils pris de mondaines poses;
Bref, sur beau fond vert, as chlorose.
Voyez, l´Homme, voyez!
Si ça n´fait pas pitié!
Les Vertus et les Volupiés
Détraquant d´un rien sa machine.
Il ne vit que plur dispuster
Ce domaine à rents divines
Aux lois de mort qui le taquinent.
Et as campagne! Allons,
Ma bell´, nous nous valons.
Il se soutient de mets pleins d´art,
Se drogue, se tond, se parfume,
Se truffe tant, qu´il meurt trop tard;
Et la cusine se résume
En mille infectiosn posthumes.
Oh! ce couple, voyez!
Non, ça fait trop pitié!
Mais se microbe subversif
Ne compte pas pour la Substance,
Dans les déluges corrosifs,
Renoient vite pour l´Innocence
Ces fols germes de conscience.
Nature est sans pitié
Pous son petit dernier.
Tradução Régis Bonvicino:
LAMENTO DO POBRE CORPO HUMANO
O Homem e a fêmea são servos
Do corpo: cloaca basbaque
De malhas de harpas de nervos
Servos de tudo, de tais baques
De seu repertório de ataque.
Eis uma cantilena.
Ó não me causes pena!
Limpo e certo no seu contorno,
Decorado por modas vãs,
Ele se admira, bravo corpo,
E se endominga, pela manhã,
Após a semana de afã.
Vamos, sim, vamos, fêmea,
Ó esta é nossa cena!
Vejamo-la tocante e nu,
Num décor de folhas, virtuose;
Com três reflexos de Frufru,
Ais e us de mundanas poses;
Sobre um fundo verde: clorose.
Eis sua cantilena,
Ó não me causes pena!
As virtudes e seus Desejos
Baqueiam-lhe a engrenagem,
Vive tão só para o manejo
Das rendas da divina imagem,
À lei da morte: sabotagem.
Vamos, sim vamos, fêmea,
Nós somos alma gêmea!
Nutre-se de postas de arte,
Droga-se pinta-se perfuma,
Empanturra-se, morre tarde!
E a cozinha que se resuma
Em mais de mil infecções póstumas.
Eis sua cantilena,
Ó não me causas pena!
Mas o micróbio subversivo
Nada revela à Substância,
Cujos dilúvios corrosivos
Devolvem-no para a Inocência:
Germe louco da consciência.
A natura envenena,
Mata — e não tem pena!
Página publicada em junho de 2019; ampliada em julho de 2019; Página ampliada em outubro de 2020
|