POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
IVAN GOLL
Ivan Goll (nascido Isaac Lang ; 29 de março de 1891 - 27 de fevereiro de 1950) foi um poeta franco-alemão que era bilíngue e escreveu em francês e alemão. Ele tinha laços estreitos com o expressionismo alemão e com o surrealismo francês .
GOLL, Yvan. O Fruto de Saturno. Fruit from Saturn. Poemas de Yvan Goll. Introdução de Nan Watkins. Tradução de Márcio Simões. Edição bilíngue. Imagem da capa: Breno Xavier, a partir de uma ideia de Thomas Rain Crowe. Natal, RN: Sol Negro Edições, 2013. 94 p. ilus. Ex. 015/100.
Ex. bibl. Antonio Miranda
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O tema desses seis poemas é a incongruência do homem, orgulhoso e sozinho, num mundo de círculos, onde Saturno tem anéis e o olho do touro moribundo é redondo e o tempo se repete eternamente. O poeta percorre as diversas tentativas do intelecto para mitigar a incongruência: mitos e lendas, alquimia, magia hermética, os números místicos dos pitagóricos, os "sonhos algébricos" dos cabalistas, até o mais recente ramo da Arvore da Ciência. Tudo isso se encontra na repartição do círculo atómico — "o In-finito violentado em Alamogordo" — repare na gravura da página 67 mostrando um cabalista com as 10 emanações do Absoluto e veja como sem seus caracteres hebraicos ela bem poderia ilustrar uma exposição atual da teoria molecular:
O OLHO DOS OLHOS
a Claire
Corredor de monociclo ao redor de Mim Mesmo
Para superar a vantagem dos antepassados veteranos
Os primeiros em colidir com a morte
Pilotando a roda das rodas
Para vencer a corrida do zero ao redor de nada
A corrida do intelecto contra a Matéria Deus
No vórtice da tempestade cósmica
Alimentando luas novas E sóis antigos
Enquanto a carruagem quatrorrodas do tempo tomba
No horizonte domesticado
O aro lilás vai recolher-se
Ao olho aceso do homem?
Olho cravado sob a testa
Meu próprio olho com medo de mim
Ninfeia real emergida da recordação profunda
À lúcida superfície de minha face
Com o olhar valente dos lagos
Com o domínio de espelhos olhando
Por detrás do infinito
Teme o magnetismo da coruja
Os poderes do Cruzeiro do Sul
Demência e premonição
No olho do boi fermentado com o sangue do toureiro
Lanço nesse olho a pedra da culpa
E um milhão de anéis me envolvem em meu destino
Cercado por meus círculos
Aperto em vão as contas de oração
E atiro em vão a bola na roleta
Ainda assim me deixe girar a mais reluzente roda da fortuna
No olho sem par da criatura
Discos azuis de Diana discos pretos de faisões e serpentes
Ou arcos dourados de sapos
Mesmo o olho do inseto
Deve cintilar o veredito fosfóreo
Oh uvas de nebulosas doceamargo vinho
Redimam o orvalho dos campos nativos
Açoitem os relógios loucos contra o tempo
Açoitem os arcos da infância
Coroas de reis e anéis de namorados
Até o depósito do esquecimento
Painéis de rosas também
As rosas de Saadi
As rosas de todas as Nossas Senhoras
Acionados pelo amor solitário
Revolvam revolvam
Até que o átomo central se parta
E faça do meu olho o sol de todos os mundos
Página publicada em abril de 2019
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