POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
IOSSIF BRODSKI
— o nome do poeta aparece na internet também como Joseph Brodsky (na wikipedia) —
(1940 – 1996)
A 24 de Maio de 1940, nasceu, em Leninegrado, Ióssif Aleksándrovitch Brodski, um poeta, romancista, ensaísta, tradutor e dramaturgo russo, naturalizado americano, que escrevia em russo e em inglês.
Considerado um dos maiores poetas do século XX, Brodski abandonou os estudos no oitavo ano escolar. Exerceu muitas profissões, tais como fresador, técnico de Geofísica, auxiliar de enfermagem, fogueiro, fotógrafo e funcionário de morgue. Foi autodidacta na aprendizagem das línguas inglesa e polaca.
Em 1957, começou a escrever versos e a participar em saraus, onde os lia e em 1960, estreou-se na qualidade de tradutor. Não foi acolhido pela literatura oficial, mas todos os amantes de poesia conheciam os versos de Brodski e guardavam reimpressões dactilografadas, ainda que de má qualidade. Antes de deixar a URSS, foram publicados 11 poemas de Brodski na revista samizdat «Sintaxe» e várias traduções, incluindo algumas sob pseudónimo. Desde o início, Anna Akhmatova apreciou o talento do poeta e tornou-se sua mentora espiritual.
Brodski vivia de trabalhos ocasionais e viajava pelo país com grupos de geólogos. Em 1963, viu-se no epicentro da luta contra os "parasitas". Foram publicados os artigos jornalísticos "Um Zangão nos Arredores da Literatura" ("Окололитературный трутень") e "Presta-se homenagem ao Parasita" ("Тунеядцу воздается должное"). A 13 de Março de 1964, realizou-se o julgamento do poeta. Brodski foi condenado a cinco anos de exílio na Região de Arkhanguelsk, na aldeia de Norenskaia, "com chamada compulsória ao trabalho físico". Permaneceu no exílio até ao Outono de 1965 e foi libertado mais cedo devido aos protestos da comunidade mundial.
A 04 de Junho de 1972, Brodski deixou a URSS. Estabeleceu-se nos Estados Unidos e deu aulas em várias universidades. Desde o início da década de 1980, a sua poesia recebeu reconhecimento mundial. Brodski sonhava que "colectâneas de poesia se encontravam perto da cama, junto à aspirina e à Bíblia". Em 1987, apareceu a sua primeira grande publicação na terra natal. No mesmo ano, Ióssif Brodski foi agraciado com o Prêmio Nobel da Literatura. No seu discurso de aceitação, Brodski, entre outras coisas, disse: "Talvez a coisa mais sagrada que temos seja a nossa língua...". VLADIMIR I. PLIASSOV
Texto biográfico extraído de: www.uc.pt/fluc/depllc/CER/cerartigos/cerartigo43 / Universidade de Coimbra
POESIA SEMPRE. Ano 7 Número 10 abril 1999 – Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1999. Editor Geral: Antonio Carlos Secchin. A edição inclui uma seção especial de Poesia Russa, organizada por Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Eu abracei estes ombros e olhei
o que se revelou por trás das costas,
e vi que a saliente cadeira
fundia-se com a iluminada parede.
Havia na lâmpada uma especial incandescência,
desfavorável para os móveis triviais,
e por isso o sofá no canto resplandecia
com o couro marrom, como se fosse amarelo.
A mesa estava vazia, cintilava o parquete,
o fogão enegrecia, no caixilho cheio de pó
congelou-se a paisagem, e somente um bufê
pareceu-me então animado.
Mas uma borboleta pelo cômodo dava voltas,
e ela meu olhar do imóvel deslocou.
E se um espectro aqui outrora vivia,
então ele abandonou esta casa. Abandonou.
Uma lágrima vertida
do futuro trarei,
a colocarei no anelzinho.
Verás sozinha,
coloque-a no
dedo anular, naturalmente."
"Ah, as outras têm maridos,
aneizinhos de bronze,
brincos de madrepérola.
E eu tenho uma lágrima,
uma turquesa líquida
que seca ao amanhecer."
"Carregue os aneizinhos, enquanto
é visível de longe;
depois outro se encontra
e se cansará de guardar,
até que o deixe cair
à noite no fundo do poço."
Tradução de Leonardo Brescia de Sousa Henriques
Página publicada em abril de 2018
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