POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Hugh MacDiarmid at home with pipe in August 1972. PIC Hamish Campbell/TSPL.
HUGH MacDIARMID
(11 agosto de 1892 - setembro 9, 1978), conhecido por seu pseudônimo Hugh MacDiarmid ( / m ə k d ɜr m ɪ d / ), foi um poeta escocês, jornalista, ensaísta e figura política. Ele é mais conhecido por suas obras escritas em "Scots sintéticos", uma versão literária da língua escocesa que o próprio MacDiarmid desenvolveu. No entanto, o primeiro trabalho de Grieve - como Annals of the Five Sensesfoi escrito em inglês e, desde o início dos anos 1930, grande parte da poesia publicada sob o nome de MacDiarmid foi escrita em inglês, que foi complementada em graus variados pelos vocabularios científicos e técnicos.
O filho de um carteiro, MacDiarmid nasceu na cidade fronteiriça escocesa de Langholm , Dumfriesshire . Ele foi educado na Langholm Academy antes de se tornar um professor por um breve período na Broughton Higher Grade School, em Edimburgo . Ele começou sua carreira de escritor como jornalista no País de Gales, contribuindo para o jornal socialista The Merthyr Pioneer administrado pelo fundador do Partido Trabalhista Keir Hardie [2] antes de se juntar ao Royal Army Medical Corps no início do Primeira Guerra Mundial. Ele serviu em Salônica, Grécia e França antes de desenvolver a malária cerebral e, posteriormente, retornando à Escócia em 1918. O tempo de MacDiarmid no exército foi influente em seu desenvolvimento político e artístico.
Depois da guerra, ele continuou a trabalhar como jornalista, morando em Montrose, onde se tornou editor e repórter da Montrose Review , bem como um juiz de paz e um membro do conselho do condado. Em 1923, seu primeiro livro, Annals of the Five Senses, foi publicado às suas custas, seguido por 'Sangschaw' em 1925 e 'Penny Wheep' e 'A Drunk Man Looks the Thistle' em 1926. Um homem bêbado olha o Thistle , geralmente é considerado o trabalho mais famoso e influente de MacDiarmid.
Movendo-se para a ilha Shetland de Whalsay em 1933 com o filho Michael e a segunda esposa, Valda Trevlyn, MacDiarmid continuou a escrever ensaios e poesias, apesar de ter sido cortado dos desenvolvimentos culturais do continente durante grande parte da década de 1930. Ele morreu em sua casa Brownsbank, perto de Biggar , em 1978, aos 86 anos.
MacDiarmid foi durante sua vida um defensor do comunismo e do nacionalismo escocês , vistas que muitas vezes o colocam em desacordo com seus contemporâneos. Ele foi um membro fundador do Partido Nacional da Escócia (precursor do Partido Nacional Escocês moderno ) e foi candidato para o Partido Nacional Escocês em 1945 e 1950 e para o Partido Comunista da Grã-Bretanha em 1964.
Uma figura controversa enquanto está viva, o MacDiarmid é agora considerado uma das principais forças do Renascimento escocês e teve um impacto duradouro na cultura e na política escocesas. O poeta Edwin Morgan disse sobre ele: "O fantasma excêntrico e muitas vezes irritante que ele pode ser, mas MacDiarmid produziu muitas obras que, na única prova possível, continuam assombrando a mente e a memória e lançando sementes Coleridgean de insight e surpresa".
Source: more in https://en.wikipedia.org/wiki/Hugh_MacDiarmid
TEXTS IN ENGLISH - TEXTOS EM PORTUGUÊS
Extraído de
POESIA SEMPRE - Ano 6 – Número 9 - Rio de Janeiro - Março 1998. Fundação BIBLIOTECA NACIONAL – Departamento Nacional do Livro - Ministério da Cultura. Volume 9 sob a direção de Antonio Carlos Secchin. Ex. bibl. Antonio Miranda
Bagpipe Music
Let me play to you tunes without measure or end,
Tunes that are born to die without a herald,
As a flight of storks rises from a marsh, circles,
And alights on the spot from which it rose.
Flowers. A flower-bed like hearing the bagpipes.
The fine black earth has clotted into sharp masses
As if the frost and not the sun had come.
It holds many lines of flowers.
First faint rose peonies, then peonies blushing,
Then again red peonies, and, behind them,
Massive, apoplectic peonies, some of which are so red
And so violent as to seem almost black; behind these
Stands a low hedge of larkspur, whose tender apologetic
blossoms
Appear by contrast pale, though some, vivid as the sky above
them,
Stand out from their fellows, iridescent and slaty as a pigeon's
breast.
The bagpipes — they are screaming and they are sorrowful.
There is a wail in their merriment, and cruelty in their triumph.
They rise and they fall like a weight swung in the air at the end
of a string.
They are like the red blood of those peonies.
And like the melancholy of those blue flowers.
They are like a human voice — no! for the human voice lies!
They are like human life that flows under the words.
That flower-bed is like the true life that wants to express itself
And does... While we human beings lie cramped and fearful.
In the Fall
From In Memoriam James Joyce
Let the only consistency
In the course of my poetry
Be like that of the hawthorn tree
Which in early Spring breaks
Fresh emerald, then by nature's law
Darkens and deepens and takes
Tints of purple-maroon, rose-madder and straw.
Sometimes these hues are found
Together, in pleasing harmony bound.
Sometimes they succeed each other. But through
All the changes in which the hawthorn is dight,
No matter in what order, one thing is sure
— The haws shine ever the more ruddily bright!
And when the leaves have passed
Or only in a few tatters remain
The tree to the winter condemned
Stands forth at last
Not bare and drab and pitiful,
But a candelabrum of oxidized silver gemmed
By innumerable points of ruby
Which dominate the whole and are visible
Even at considerable distance
As flame-points of living fire.
That so it may be
With my poems too at last glance
Is my only desire.
All else must be sacrificed to this great cause.
I fear no hardships. I have counted the cost.
I with my heart's blood as the hawthorn with its haws
Which are sweetened and polished by the frost!
See how these haws burn, there down the drive,
In this autumn air that feels like cotton wool,
When the earth has the gelatinous limpness of a body
dead as a whole
While its tissues are still alive!
Poetry is human existence come to life,
The glorious energy that once employed
Turns all else in creation null and void,
The flower and fruit, the meaning and goal,
Which won all else is needs removed by the knife
Even as a man who rises high
Kicks away the ladder he has come up by.
This single-minded zeal, this fanatic devotion to art
Is alien to the English poetic temperament no doubt,
'This narrowing intensity' as the English say,
But I have it even as you had it, Yeats, my friend,
And would have it with me as with you at the end,
I who am infinitely more un-English than you
And turn Scotland to poetry like those women who
In their passion secrete and turn to
Musk through and through!
So I think of you, Joyce, and of Yeats and others who are dead As I walk this Autumn and observe
The birch tremulously pendulous in jewels of cairngorm
The sauch, the osier, and the crack-willow
Of the beaten gold of Australia;
The sycamore in rich straw-gold;
The elm bowered in saffron;
The oak in flecks of salmon gold;
The beeches huge torches of living orange.
Billow upon billow of autumnal foliage
From the sheer high bank glass themselves
Upon the ebon and silver current that floods freely
Past the shingle shelves.
I linger where a crack willow slants across the stream,
Its olive leaves slashed with fine gold.
Beyond the willow a young beech
Blazes almost blood-red,
Vying in intensity with the glowing cloud of crimson
That hangs about the purple bole of a gean
Higher up the brae face.
And yonder, the lithe green-grey bole of an ash, with is boughs Draped in the cinnamon-brown lace of samara.
(And I remember how in April upon its bare twigs
The flowers came in ruffs like the unshorn ridges
Upon a French poodle — like a dull mulberry at first,
Before the first feathery fronds
Of the long-stalked, finely-poised, seven-fingered leaves) — Even the robin hushes his song
In these gold pavilions.
Other masters may conceivably write
Even yet in C major
But we — we take the perhaps 'primrose path'
To the dodecaphonic bonfire.
They are not endless these variations of form
Though it is perhaps impossible to see them all.
It is certainly impossible to conceive one that doesn't exist.
But I keep trying in our forest to do both of these,
And though it is a long time now since I saw a new one
I am by no means weary yet of my concentration
On phyllotaxis here in preference to all else,
All else — but my sense of sny!
The gold edging of a bough at sunset, its pantile way
Forming a double curve, tegula and imbrex in one,
Seems at times a movement on which I might be borne Happily to infinity; but again I am glad
When it suddenly ceases and I find myself
Pursuing no longer a rhythm of duramen
But bouncing on the diploe in a clearing between earth and air Or headlong in dewy dallops or a moon-spa irged fernshaw
Or caught in a dark dumosity, or even
In open country again watching an aching spargosis of stars.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Música de gaitas
Deixem-me tocar melodias sem medida e sem fim,
Que nasceram para morrer sem ter o seu arauto,
Como um voo de cegonhas erguendo-se do pântano, circulando,
Para pousar no local de onde haviam se erguido.
Flores. Um canteiro de flores é como ouvir as gaitas.
A boa terra negra aglomerada em esguias massas
Como se a geada e não o sol tivesse vindo.
Contém muitas fileiras de flores.
De início róseas peônias pálidas, depois peônias rosadas,
Logo peônias vermelhas e, atrás delas,
Compactas, apopléticas peônias, algumas das quais tão rubras
E tão violentas que quase parecem negras; e por trás ainda,
Estende-se uma baixa sebe de esporas, cujos tenros brotos
apologéticos
Parecem por contraste pálidos, embora alguns, vívidos como o céu
acima deles,
Se destaquem dos demais, iridescentes e plúmbeos como o peito
de um pombo.
As gaitas de fole — estão gritando e estão tristonhas.
Há um lamento em sua alegria, e crueldade em seu triunfo.
Erguem-se e caem como um peso suspenso no ar pela ponta de
uma corda
São como o sangue rubro das peônias róseas.
E como a melancolia daquelas flores azuis.
São como a voz humana — não! pois essa voz engana!
São como a vida humana que flui sob as palavras.
O canteiro é como a vida real que deseja expressar-se
E o faz... enquanto os seres humanos jazem estáticos e medrosos.
Tradução de Ivo Barroso
No outono
De In Memoriam James Joyce
Que a única consistência
No curso de minha poesia
Seja como a do espinheiro
Que ao surgir da primavera explode
Em frescas esmeraldas, e após,
Pela lei da natureza, escurece,
Se adensa e adquire tons
Castanho-escuros, de garança e palha.
Às vezes tais matizes se encontram
Juntos, numa agradável harmonia.
Às vezes se sucedem uns aos outros. Mas
Em todas as mudanças de que o espinheiro se enfeita,
Não importa em que ordem, uma coisa é certa
— As drupas brilham ainda mais vermelhas!
E quando as folhas murcham
E restam apenas uns frangalhos
A árvore condenada ao inverno
Ergue-se afinal
Não nua, insípida e lamentável,
Mas como um candelabro de prata oxidado de gemas
Por inumeráveis pontas de rubis
Que dominam o conjunto e são visíveis
Mesmo a considerável distância
Como línguas flamejantes de um fogo vívido.
Que assim seja
Também com os meus poemas em última instância
É o que desejo.
Tudo o mais deve ser sacrificado a essa grande causa.
Não temo agruras. Avaliei os custos. Com o sangue
De meu coração, como o espinheiro com as drupas,
Que são adoçadas e polidas pelo cair da geada!
Vejam como essas drupas ardem, embaixo no caminho,
Ao ar deste outono que parece um capulho de algodão,
Quando a terra tem a gelatinosa lassidão de um cadáver
como um todo
Enquanto seus tecidos estão vivendo ainda!
Poesia é a existência humana feita vida,
A gloriosa energia de que uma vez se serviu
Transforma tudo o mais em criação irrita e nula,
A flor e o fruto, o sentido e o alcance,
Que venceram todas as demais carências extirpadas pela faca, Assim como o homem que subiu muito alto
Chuta fora a escada pela qual subiu.
O zelo ingênuo, essa fanática devoção à arte
É alheia ao temperamento poético inglês sem dúvida,
"Essa estreitante intensidade", como dizem os ingleses,
Mas eu a tenho como a tiveste, Yeats, meu amigo,
E a terei comigo, como a tiveste, até o fim,
Eu que sou infinitamente mais não-inglês que tu
E recorro à Escócia pela poesia como essas mulheres que
Em sua paixão se escondem e recorrem ao
Almíscar de maneira cabal!
Penso em ti, Joyce, e em ti, Yeats, e em outros que
estão mortos
Enquanto caminho neste outono e observo
A bétula a tremular seus pingentes de jóias de quartzo,
O salgueiro, o vimeiro, o chorão
Com seu dourado esbatido da Austrália;
O sicômoro com seu rico dourado de palha;
O olmo enramado de açafrão;
O carvalho salpicado de um ouro-salmão;
As imensas tochas das faias de um vívido laranja.
Vagas e vagas de folhagem outonal
Vindas da mais alta encosta refletem-se
Na corrente de ébano e prata que transborda livremente
Sobre os cercados de ripas.
Demoro-me ali onde um chorão se inclina sobre o arroio,
Suas folhas cor de oliva estriadas de ouro.
Acima do chorão uma faia ainda nova
Chameja quase sanguínea,
Competindo em intensidade com a brilhante nuvem rubra
Que se ergue junto ao tronco púrpura de uma cerejeira
Acima da face do barranco.
E mais além, o gracioso tronco verde-cinza de um freixo,
com seus ramos
Envoltos na renda cor de canela escura das sâmaras.
(Recordo como em abril sobre os talos secos
As flores vinham em rufos como os cachos não tosquiados
De um poodle francês, como uma pobre amoreira a princípio,
Antes das primeiras emplumadas frondes
De folhas longamente esperadas, finamente equilibradas, com
seus sete dedos)
— Até o tordo reprime o canto
Nesses dourados pavilhões.
Pode-se admitir que outros mestres escrevam
Até mesmo em dó maior
Mas nós — nós talvez tomemos o "florido atalho"
Para a fogueira dodecafônica.
Não são intermináveis essas variações de forma
Embora talvez seja impossível vê-las todas.
É decerto impossível conceber alguma que não exista.
Mas continuo tentando em nossa floresta fazer ambas
as coisas.
E embora haja muito que tenha visto uma nova
Não estou de maneira alguma saturado da minha concentração
Na filotaxia, que prefiro sobre tudo o mais,
Tudo— exceto um senso de curvatura!
A dourada franja de um ramo ao crepúsculo, sua forma
de calha
Compondo a dupla curva, tégula e ímbrex ao mesmo tempo, Parece às vezes um movimento no qual podia ser transportado Por sorte ao infinito; mas volto a alegrar-me
Quando ele de repente cessa e eu já não me encontro Perseguindo um ritmo de cerne
Mas saltando no díploe numa clareira entre a terra e o ar
Ou de cabeça para baixo em orvalhadas corredeiras ou numa
enluarada moita de avencas
Ou apanhado numa escura ramalhada ou ainda
Em campo aberto novamente observando uma dorida esparganose de estrelas.
Tradução de Ivo Barroso
Página publicada em janeiro de 2018 |