POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
HESÍODO
Hesíodo (em grego: Ἡσίοδος, transl. Hēsíodos) foi um poeta oral grego da Antiguidade, geralmente tido como tendo estado em atividade entre 750 e 650 a.C., por volta do mesmo período que Homero. Sua poesia é a primeira feita na Europa na qual o poeta vê a si mesmo como um tópico, um indivíduo com um papel distinto a desempenhar. Autores antigos creditavam a ele e a Homero a instituição dos costumes religiosos gregos, e os acadêmicos modernos referem-se a ele como uma das principais fontes para a religião grega, as técnicas agriculturais, o pensamento econômico (chegou a ser referido, por vezes, como o primeiro economista), a astronomia grega arcaica e o estudo do tempo.
Hesíodo utilizou diversos estilos do verso tradicional, incluindo a poesia gnômica, hínica, genealógica e narrativa, porém não foi capaz de dominar todas com a mesma fluência; as comparações com Homero costumam lhe ser desfavoráveis. Nas palavras de um estudioso moderno de sua obra, "é como se um artesão, com seus dedos grandes e desajeitados, estivesse imitando, paciente e fascinadamente, a costura delicada de um alfaiate profissional. [Biografia completa na Wikipedia.]
HESÍODO. Os Trabalhos e os Dias. Tradução, estudo e notas: Luiz Otávio de Figueiredo Mantovaneli. São Paulo, SP: Odysseus Editora Ltda, 2011. 268 p. (Coleção Kouros) Capa: Geysa B. dos Santos. ISBN 978-85-7876-024-3 Ex. bibl. Antonio Miranda
Aqui apresentamos apenas uns fragmentos. A obra completa merece ser lida e está à venda em livrarias e pela internet: https://odysseuslojas.com.br/
(Fragmento:)
(...)
Trama o mal contra si mesmo quem trama o mal contra o outro:
o desejo do mal é ainda pior para quem deseja.
O olho de Zeus, que tudo vê e que tudo considera,
também vê isso, se quiser, e não ignora
que tipo de justiça, no interior da cidade, vigora.
Agora eu mesmo justo entre os homens não quereria ser
e nem meu filho, porque é um mal homem justo ser
quando se sabe que maior justiça terá o mais injusto.
mas espero isto não deixar cumprir-se o tramante Zeus.
Ó Perses, tu, então, guarda isto na mente:
escuta a Justiça e esquece a desmedida de vez!
Pois a Cronida dispôs aos homens a lei.
Aos peixes, à feras e às aves aladas,
que se devorem. Justiça não há entre eles.
Aos homens, sim, deu a Justiça, muito mais nobre.
Pois eu, que conheço o bem, te digo, Perses, grande tolo:
mui pronto o vício conquista multidões,
é muito fácil: seu caminho é plano e está logo ali.
Mas perante a virtude suor ordenaram os deuses
imortais. É longa e inclinada a subida até ele,
espinhosa no início, mas quando se chega ao topo
mais fácil se torna, ainda que seja difícil.
Eis o melhor: aquele que pensa tudo por si
e conjuga o que convêm agora com o fim.
É bom também quem ouve do bem e obedece,
mas não pensa por si, nem ouvindo o conselho
não o guarda na mente, este é um homem inútil.
(...)
Comentário de Antonio Miranda.:
Existem outras traduções desta obra de Hesíodo. A tradução de Luiz Otávio de Figueiredo Mantovaneli, que era doutorando em filosofia pela UFRJ, oferece, além de um texto introdutório indispensável para entender o processo criador daqueles tempos fundadores da poesia em nossa civilização, as “Notas de Tradução” para elucidar e justificar suas decisões no processo tradutório. A obra é indispensável para quem pretende não apenas conhecer o texto de Hesíodo, mas entender melhor o seu processo criativo e sua contribuição à poesia mundial.
Cada época e seus valores... Os Trabalhos e os Dias, do aedo Hesíodo, exemplo maior da poesia mítica grega, “construiu uma narrativa que não só não obedece a uma linearidade temporal nem espacial, como também, através destas inserções, conseguiu mostrar como estes episódios se inseriam e se articulavam em um conteúdo maior, isto é, a vida humana como um todo.” E declara que Hesíodo “é personagem de seus próprios poemas”(...), “na primeira pessoa do singular”, diferentemente dos versos épicos e heroicos, e mitológicos, de seus antecessores. E mais: nos diz que Hesíodo estabelece uma nova definição de homem, “situado entre o divino e o bestial.” Hesíodo: “bens estarão mesclados aos males”... “um saqueará a cidade do outro”; “É a lei do mais forte.” E mais: “o vício conquista multidões”!!!, como repetiria um vate contemporâneo... E cita, com certo senso de justiça, os excessos de poder dos aristocratas, mas fala de escravos com naturalidade. E adverte: “Que não te engane a mente mulher de anca insinuante/e gorjeio sedutor em busca dos teus bens: quem confia em mulher confia em ladrões.” Mas, mais adiante, atenua o discurso, sobre a mulher ideal: “Um homem não consegue nada melhor do que mulher / dedicada, nem há pior desgraça do que a má, / parasita, que o marido, por mais forte que seja, / consome sem fogo e à velhice precoce o condena.”
Mais, muito mais no livro...
Página publicada em junho de 2018
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